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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Um Conto de Duas Mulheres: as esposas de Alexandre II - Primeira Parte

Maria Alexandrovna e Alexandre II
Na década de 1890, o último czar da Rússia e a sua esposa contrataram uma ama irlandesa para as suas filhas. Margaretta Eagar tinha um fascínio pelo sobrenatural e acreditava que o espírito da czarina Maria Alexandrovna assombrava o Palácio de Inverno. Assim que encostou a cabeça na almofada naquela noite, ouviu a voz de uma mulher, a chorar amargamente e queixar-se da infidelidade do marido. A czarina Alexandra disse-lhe que a cama onde ela dormia tinha sido a mesma onde a czarina Maria Alexandrovna tinha morrido e relacionou a história que a ama lhe contou com a avó do seu marido. Em várias ocasiões, a grã-duquesa Olga Nikolaevna, que tinha apenas três anos de idade na altura, disse à senhora Eagar que tinha visto uma senhora velha vestida de azul no seu quarto. A ama nunca viu nada. Depois, um dia, quando as duas passeavam pela Rotunda do primeiro andar do palácio, a criança apontou para um retrato de Maria Alexandrovna e disse que era aquela a senhora que tinha visto. Estas histórias demonstram que a ideia da infelicidade de Maria Alexandrovna já estava encrostada na memória da corte russa, que nunca a aceitou completamente no seu tempo.

Olga Nikolaevna
A vida de Maria Alexandrovna começou cedo a ser infeliz. A czarina tinha onze anos de idade quando a mãe morreu, passando a ser a única mulher na família, à excepção da sua cunhada que tinha acabado de chegar à corte de Hesse. Maria era uma jovem tímida, inteligente e baixa que levava a vida muito a sério: uma coisa tão simples como furar as orelhas deu-lhe pesadelos durante várias semanas e a operação teve de ser adiada até que ela ganhasse coragem para a enfrentar. Maria era muito chegada à mãe e corria o rumor (que era aceite pela maioria das pessoas) de que a grão-duque de Hesse não era o seu pai biológico. Esta história já foi contada tantas vezes que os factos e a ficção se cruzam inevitavelmente. Os seus pais, o príncipe Luís de Hesse e a princesa Guilhermina de Baden, eram primos direitos que se tinham casado em Karlsruhe em 1804, durante um pequeno período de paz das Guerras Napoleónicas. Guilhermina era uma jovem bonita e encantadora de quinze anos de idade, enquanto que Luís tinha vinte-e-seis e era tão tímido e reservado que a maioria das pessoas sentia que não conseguia comunicar com ele. Os primeiros anos do casamento desenrolaram-se num cenário de guerra: o seu primeiro filho, um rapaz, nasceu seis meses depois da Batalha de Austerlitz. Seguiram-se mais dois rapazes, um dos quais nasceu morto, e depois houve um período de onze anos em que o casal não teve filhos, até ao nascimento da princesa Isabel. Depois dela, Guilhermina deu à luz mais uma menina que nasceu morta. No ano seguinte, em 1823, Guilhermina teve outro filho: Alexandre. Maria era a mais nova e nasceu em Darmstadt a 8 de Agosto de 1824, tendo recebido os nomes de Maximiliana Guilhermina Augusta Sofia Maria.

Guilhermina de Baden, mãe de Maria Alexandrovna
A diferença de idades e personalidades seria suficiente para explicar os problemas no casamento de Guilhermina. Mas, além disso, durante cinco dos onze anos em que não tiveram filhos, Luís passava longos períodos de tempo longe de casa a liderar as tropas de Hesse no campo de batalha. Foi também devido a essas ausências que surgiu o rumor de que os três filhos mais novos de Guilhermina: Isabel, Alexandre e Maria, não eram filhos de Luís, mas sim do camareiro da corte, o barão Augustus Senarclens von Grancy. A ideia persiste até aos dias de hoje e, muitas vezes, é vista como um facto: muitos também acreditaram nela na altura, embora parece pouco provável que o pai de Luís, o grão-duque Luís I de Hesse, permitisse que a sua nora tivesse um caso aberto durante tanto tempo com um membro da corte sem que este perdesse o seu lugar, o que nunca aconteceu. Oficialmente, não havia dúvidas de que os três eram todos descendentes da família de Hesse-Darmstadt: os seus nomes aparecem nos volumes da época do Almanaque de Gota e, quando Alexandre nasceu, o seu tio, o czar Alexandre I da Rússia, foi um dos padrinhos, um sinal de aceitação ao mais alto nível.

Luís II de Hesse-Darmstadt, pai de Maria Alexandrovna
Isabel morreu de escarlatina em Lausana em 1826, quando tinha cinco anos de idade. Foi sepultada no mausoléu da família Hesse, em Rosenhoe, Darmstadt, e toda a família fez luto, mas os rumores conseguem persistir mesmo perante as provas mais convincentes. É possível que Luís tenha sabido dos rumores e que se tenha, ele próprio, questionado sobre a verdadeira origem das crianças. Por isso, ou por qualquer outro motivo, parece ter havido realmente um curto período de afastamento entre ele e Guilhermina. A czarina-viúva, Maria Feodorovna referiu esse facto numa carta dirigida à sua filha em 1827, mas disse também estar do lado de Guilhermina. Em 1828, a corte de Hesse (ou, segundo algumas pessoas, a própria Guilhermina) comprou a propriedade de Heiligenberg e Guilhermina mudou-se para lá com Alexandre e Maria. O escândalo ganhou asas e todas as cortes europeias ficaram intrigadas, mesmo apesar de, no ano seguinte, Guilhermina e Luís terem celebrado as suas Bodas de Prata em aparente harmonia.

Maria Alexandrovna na sua adolescência
Mas, verdadeiros ou falsos, os rumores espalharam-se, deixando um rasto de miséria. Maria passou grande parte da sua infância em Heiligenberg e, quando a sua mãe morreu de tuberculose em 1836, a jovem sentiu-se dolorosamente só. Não estava habituada à corte do pai e as pessoas que tinham espalhado boatos contra a sua mãe também foram desagradáveis com ela. Adorava os seus irmãos mais velhos, mas eles já eram adultos com família e o seu único companheiro na família era Alexandre. Os dois irmãos foram criados juntos, mas, na década de 1830, Alexandre passou a ser considerado demasiado velho para partilhar a sala de aula com uma menina. Por isso, após a morte da mãe, Maria passou a ser educada e cuidada por uma dama-de-companhia chamada Mademoiselle von Grancy, irmã do barão que diziam ser o seu pai biológico, e continuou a passar grande parte do seu tempo em Heiligenberg, onde se sentia mais à vontade.

Maria Alexandrovna
Quando o czarevich Alexandre fez a sua paragem não programada em Darmstadt em Março de 1839, ficou sensibilizado com esta jovem triste de catorze anos, que estava a usar as pérolas da mãe. Sem querer, Maria tinha chamado a atenção de um dos prémios mais prestigiantes da Europa - para tristeza de muitas princesas mais velhas - e as más línguas dispararam. Os velhos escândalos foram ressuscitados, principalmente em Berlim, onde os Hohenzollern tinham velhos ressentimentos contra a família de Hesse e nunca perdiam uma oportunidade para os criticar, e é provável que a czarina Alexandra, a mãe do czarevich, que era também uma Hohenzollern, tivesse o mesmo preconceito. O czar sabia as histórias que se contavam sobre as origens de Maria, mas tinha uma visão muito realista das mesmas. O embaixador da Áustria em São Petersburgo informou o seu país natal em Abril de que Nicolau I "sabe bem o que se diz sobre o nascimento dela mas (...) se o grão-duque de Darmstadt optou por ignorar as histórias, ele também não encontra obstáculos de momento. Apesar de só ter passado um dia em Darmstadt, o filho dele sente-se muito atraído pela princesa por ela não ser muito bem tratada, e o imperador compreende o motivo pelo qual esse facto pode ter aumentado o interesse que o filho já tinha nela; disse também que sentiria o mesmo se estivesse no lugar do filho".

Alexandre II
Maria sentia-se impressionada e aterrorizada com a viragem dos acontecimentos. Gostava de Alexandre o suficiente para aceitar o pedido de casamento dele, mas se Darmstadt já parecia grande para ela, como é que conseguiria lidar com São Petersburgo? Em Junho de 1840 encontrou-se pela primeira vez com Nicolau I e Alexandra Feodorovna em Frankfurt e, dois meses depois, viajou com eles para a Rússia, onde, durante um ano, iria aprender russo e preparar-se para se converter à Igreja Ortodoxa Russa. Tinha dezasseis anos quando teve de fazer tudo isto. Reconhecendo a timidez da jovem, o czar convidou o irmão dela para a acompanhar, o que acabava por ser uma certa tradição na família. Vários anos antes, uma tia-avó de Maria e Alexandre, a princesa Guilhermina de Hesse, tinha também viajado para a Rússia como noiva e também foi acompanhada pelo irmão. A mademoiselle von Grancy também foi para a Rússia com Maria.

Guilhermina de Hesse-Darmstadt, tia-avó de Maria e Alexandre e primeira esposa de Paulo I
Os primeiros meses foram um tormento. Maria tinha saudades de casa e estava desorientada com a nova corte. Anos mais tarde, contou a uma dama-de-companhia que teve de esconder as lágrimas tantas vezes que até descobriu uma técnica para isso: abria uma janela, colocava a cabeça de fora e deixava que o ar gélido do inverno russo lhe tirasse a vermelhidão dos olhos. Tão tímida como o pai, sentia-se demasiado tensa para causar uma boa impressão na corte, onde ser social era extremamente importante. Felizmente, encontrou uma aliada compreensiva na tia do marido, a grã-duquesa Helena Pavlovna, e as duas ficariam amigas para o resto da vida. Apesar de terem uma diferença de idades de dezassete anos, as duas tinham personalidades muito semelhantes e a mesma atitude perante a vida.

Maria Alexandrovna
Mas, pelo por um lado, Maria teve muito mais sorte do que a sua nova amiga. O czarevich era tudo o que ela podia desejar num marido e, depois do casamento, Maria e Alexandre tornaram-se companheiros além de amantes. A jovem aprendeu russo extremamente depressa - algumas pessoas diziam que tinha aprendido a língua tão depressa como a imperatriz Catarina, a Grande - e partilhava com o marido o sonho de levar a cabo reformas palpáveis no país. Era inteligente e instrospectiva, e Alexandre confiava nas suas decisões. Juntos, criaram o seu próprio círculo de amigos e, tal como Alexandre precisava de Maria para o seu trabalho, Maria precisava dele para a orientar na sociedade, e dar-lhe confiança. O historiador russo Tatichev descreveu estes primeiros anos como "anos de felicidade sem problemas para a família (...) havia convívios quase todos os dias na jovem corte (...) lia-se em voz alta, toca-se música, jogava-se às cartas (...) o anfitrião e a anfitriã encantavam todos com as suas personalidades".

Maria Alexandrovna e Alexandre II nos seus aposentos privados
O jovem casal recebeu apartamentos no bloco sudeste do Palácio de Inverno e outros aposentos na asa Zuboc do Palácio de Catarina em Czarskoe Selo; foi lá que nasceu a sua primeira filha, Alexandra, em 1842. A família cresceu depressa. Para assinalar cada um dos nascimentos, Alexandre e Maria plantavam um carvalho no seu jardim privado em Czarskoe Selo, onde mandaram colocar  brinquedos, baloiços e escorregas para as crianças. Um par de mastros de um navio tornaram-se um local de escalada para os rapazes que também tinham uma linha férrea em miniatura, uma quinta e uma horta. Maria importou lírios do vale e prímulas da sua terra natal na Alemanha e tratava deles com cuidado. Dentro de casa, tocava piano com os filhos, tecia tapetes e até se dedicava à decoração de interiores. Pensa-se que um tecto no Palácio de Inverno que está coberto de flores azuis claras e folhagem verde foi obra sua.


Maria Alexandrovna com o seu filho mais velho, Nicolau
Foi a época mais feliz das suas vidas, mas mesmo assim foi marcada por problemas. Maria dava muita importância ao facto de ter o seu irmão por perto. O príncipe Alexandre tinha-se tornado num homem alto, bonito e inteligente; dava-se bem com o czarevich e a sua irmã venerava-o. O príncipe prestou um bom serviço militar no exército russo na campanha do Cáucaso. Costumava dizer à irmã que "é muito importante para um soldado enfrentar a morte tantas vezes. Uma pessoa sente que tem mais direito de usar o uniforme". Com a amizade do czar e uma carreira brilhante à sua frente, chegou-se até a falar numa possível união entre Alexandre e a grã-duquesa Catarina Mikhailovna, filha da grã-duquesa Helena Pavlovna, mas todos os planos caíram por terra quando ele se apaixonou por uma das damas-de-companhia da irmã, Julie Hauke. Nicolau I não lhe deu permissão para continuar a viver na Rússia caso se casasse morganaticamente, por isso, em 1851, Alexandre demitiu-se da sua comissão e foi-se embora. Eventualmente, acabaria por se mudar para Helligenberg com a sua esposa Julie, que se tornou princesa de Battenberg, mas Maria sentiu muito a sua falta.

Julie Hauke e Alexandre de Hesse-Darmstadt, príncipes de Battenberg
Houve também outros desgostos. A morte da pequena Alexandra Alexandrovna em 1849 não se tornou tão pública como a do seu irmão Nicolau alguns anos mais tarde, mas foi um golpe devastador para os pais. Vinte-e-quatro anos depois, quando Maria estava de visita à esposa do seu sobrinho, a princesa Alice do Reino Unido, que tinha acabado de perder o seu filho Frederico, a sua dor ainda era bem visível: "a tia Maria mostrou grande compaixão, foi muito maternal e carinhosa; fiquei muito comovida", contou Alice à sua mãe, a rainha Vitória. "Nestes momentos mostra-se particularmente doce e feminina e também ama os filhos com grande ternura. Chorou muito e contou-me da morte triste da filhinha mais velha dela (...)"

Maria Alexandrovna e Alice do Reino Unido
A resposta de Maria perante a dor foi isolar-se e procurar consolo na religião que fora forçada a adoptar quando se casara. Não fazia parte da sua personalidade converter-se apenas como formalidade: Maria aceitou a fé ortodoxa com todo o seu coração e com uma intensidade que confundia muitos que tinham nascido ortodoxos. Além da religião, Maria tinha também um fascínio cada vez maior pelo país que a tinha recebido e pela sua cultura. É irónico o facto de terem sido Maria e a sua sobrinha-neta, a imperatriz Alexandra Feodorovna, as duas czarinas estrangeiras que mais amaram a Rússia quando se casaram, e as que mais foram rejeitadas pela sociedade. No entanto, dentro da família, as coisas eram diferentes, pelo menos para Maria. Depois de Alexandre subir ao trono, começou a convocar toda a sua família para uma refeição no palácio todos os domingos, o que acabou por se tornar numa tradição. O objectivo inicial tinha sido o de mostrar à sua família o lado gentil e amistoso da sua esposa. No entanto, fora do circulo familiar, as pessoas achavam que Maria era demasiado séria e confundiam a ser reserva, achando-a fria e distante. Nunca foi muito popular.

Maria Alexandrovna
No entanto, continuava a ser czarina e podia pelo menos ajudar o marido com o programa de reformas que os dois já discutiam há anos. Uma testemunha descreveu a sua coroação na Catedral da Assunção em Moscovo a 26 de Agosto de 1856. Alexandre tomou a coroa e colocou-a na cabeça e, depois, "foi a vez da imperatriz Maria Alexanrovna que se ajoelhou perante o imperador. Este retirou a sua coroa e tocou com ela levemente na cabeça de Maria; depois colocou a coroa mais pequena na cabeça da esposa e colocou-lhe a capa e a corrente de diamante da Ordem de São André nos ombros." Os dois desceram a Grande Escadaria do Kremlin, e "não há descrição que faça justiça à solenidade daquele momento quando, rodeados pelos monumentos da Rússia Antiga (...) aquelas duas cabeças, com as suas coroas a reflectir os raios de sol como um símbolo externo e visível da sua grandeza, se curvaram perante o amor e confiança do estado. O canhão disparou e já não era possível ouvir o som dos sinos com o clamor da multidão".

Maria Alexandrovna na coroação do marido
O fim da servidão e outros abusos eram causas partilhadas pelo casal, mas, com o apoio da grã-duquesa Helena Pavlovna, Maria também utilizou a sua posição como czarina para desenvolver um programa de reformas seu. Interessava-se particularmente pelas causas das mulheres, principalmente pela sua educação e saúde, e teve um papel activo na criação de muitas escolas para meninas. Também se interessava pelos serviços médicos e, inspirada pelo trabalho que a grã-duquesa Helena tinha começado durante a Guerra da Crimeia, em 1877, Maria fundou a Cruz Vermelha da Rússia com o mote "A força não está no poder, mas sim no amor".

Maria Alexandrovna
Mas isso seria apenas muitos anos depois, e, à medida que o novo czar e czarina se preparava para enfrentar os seus novos deveres públicos, surgiu uma nova ansiedade na sua vida pessoal. À medida que a década de 1850 se aproximava do fim, a saúde de Maria começou a deteriorar-se. Tal como a mãe, também ela sofria de tuberculose, uma doença que, aos doze anos de idade, quase a tinha matado. O efeito do clima húmido e frio de São Petersburgo juntamente com as suas muitas gravidezes seguidas enfraqueceram-lhe o corpo. Era cada vez mais frequente estar demasiado doente para aparecer em público, e estava a perder cada vez mais peso. Alexandre preocupava-se com ela e consultou vários médicos. Nove meses depois da coroação, em Maio de 1857, Maria deu à luz o seu sétimo filho, o grão-duque Sérgio Alexandrovich. O czar escreveu ao seu irmão Constantino, pouco depois do nascimento: "a Maria recuperou completamente, graças a Deus, mas os médicos vão mandá-la para Kissingen, e penso que vou com ela". 

Maria com a sua filha Maria, o filho Sérgio e uma das suas amas
Esta foi a primeira de muitas viagens a spas europeus, que pouco fizeram para ajudar a travar o lento declínio da saúde da czarina, mas pelo menos deram-lhe a oportunidade de voltar a ver o seu país natal. A 28 de Junho desse ano, Maria e Alexandre partiram na companhia dos seus três filhos mais novos. Primeiro visitaram Darmstadt, depois Wildbad e Kissingen; em Bad Bruckenau, foi com grande alegria que Maria se reencontrou com o seu adorado irmão Alexandre e com a família dele. A filha mais velha do príncipe Alexandre, a princesa Maria de Battenberg, que na altura tinha cinco anos de idade, contou mais tarde à sua neta que tinha vagas memórias de "um hotel ou kurhaus; e do rosto sério e gentil de uma mulher majestosa que todos tratavam por 'Majestade'".

Maria Alexandrovna
Esta foi só a primeira de uma série de reuniões familiares nas quais era possível ver o lado mais alegre da czarina, e os registos fotográficos que sobreviveram dos encontros em Heiligenberg têm grande valor porque mostram uma Maria Alexandrovna muito diferente da figura trágica que é recordada na Rússia. Em Julho de 1864, quase quatro anos depois do nascimento do grão-duque Paulo Alexandrovich, o seu filho mais novo, os médicos voltaram a aconselhar uma viagem à Alemanha, para fazer um tratamento com águas termais em Schwalbach. O jovem e excêntrico rei da Baviera também estava lá e gostou tanto de Maria que resolveu enviar-lhe ramos de flores todos os dias. A 23 de Agosto, no meio de uma tempestade, o seu comboio chegou à estação de Bickenbach, perto de Heiligenberg, e a czarina saiu na companhia dos seus três filhos mais novos e de treze carruagens de empregados e bagagem. Os donos da casa que alugaram em Heiligenberg ficaram apertados numa das alas para poder dar espaço à visitante real e a maioria dos empregados teve de dormir em Jugenheim, uma aldeia próxima. Uma semana depois, chegou o czar com os seus filhos Alexandre e Vladimir. Três dias depois, o príncipe Luís de Hesse, a sua esposa Alice e a sua filha Vitória juntaram-se a eles, e o grupo ficou completo quando o czarevich Nicolau chegou na companhia do seu irmão Alexei. Nicolau tinha acabado de ficar noivo da princesa Dagmar da Dinamarca e a sua chegada foi motivo para fazer uma comemoração.

Maria Alexandrovna, Alexandre II, Sérgio e Maria (centro) numa das reuniões de família na Alemanha
O noivado de Nicolau e Dagmar não foi o único motivo para comemorações. O aniversário do czar, a 11 de Setembro, foi também celebrado com uma missa ortodoxa, um jantar e jogos. No dia seguinte, as crianças da família Battenberg decidiram mostrar aos primos um dos locais mais bonitos da zona. Partiram todos montados em burros, mas, a meio da viagem, caiu um aguaceiro que os obrigou a procurar refúgio na cabana de um habitante local, que lhes deu comida, café e roupas secas. "O czar, a czarina e o resto do grupo já estavam na mesa quando regressámos, e todos se fartaram de rir quando nos vieram receber no pátio. Foi uma festa maravilhosa". As férias acabaram em grande quando ambas as famílias decidiram comemorar os bons tempos que tinham passado. "Antes do pequeno-almoço, fomos até à grande bétula que fica na estrada a caminho de Felsenberg para a rebaptizarmos com o nome 'Bétula do Czar'". Foi colocada uma tabuleta branca no tronco da árvore onde estava escrito: "Bétula do Czar, 14 de Setembro de 1864". "Demos as mãos e dançámos à volta da árvore três vezes. Depois regressámos a casa para beber café".

Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat

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