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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A nossa alegria desde que nasceu - Czarevich Nicolau Alexandrovich - Primeira Parte

Nicolau Alexandrovich
A emancipação dos servos foi a grande conquista de Alexandre II que também levou a cabo um impressionante número de reformas na educação, direito, governo e forças armadas do império russo. Fez todos os possíveis para satisfazer a onda de esperança que o tinha acompanhado desde a sua subida ao trono. No entanto, foi também durante o seu reinado que surgiu uma nova ameaça: grupos terroristas que queriam colocar os seus próprios programas para o império em vigor, escolheram o czar como alvo principal e a sua vida estava constantemente em perigo. Os sonhos começaram a morrer e a esperança a desvanecer. Alexandre hesitava entre a reforma e a repressão. Até o seu casamento, que tinha começado tão bem, e contribuído tanto para as conquistas positivas do seu reinado, também começou a falhar e a sua felicidade a escapar-lhe entre os dedos. Tudo aconteceu de forma gradual, mas um dos golpes mais duros que sofreu, embora poucos o tivessem visto na altura, foi a morte do filho mais velho do casal imperial, o czarevich Nicolau.

Nicolau Alexandrovich por Hau
"Se alguma vez encontrar algo tão belo quanto isto em qualquer outro país, ficarei a saber que as minhas viagens valeram a pena". Nicolau Alexandrovich, filho mais velho do czar Alexandre II e herdeiro do trono da Rússia, estava na varanda do Chalé de Peterhof no início do verão de 1864, a ver as florestas, o mar, e o reflexo distante do sol nos telhados de Kronstadt quando escreveu esta frase. No dia seguinte, iria partir para uma visita prolongada ao estrangeiro para terminar a sua educação e encontrar uma noiva.

Nicolau com a sua irmã mais velha, Alexandra.
Todos os relatos parecem indicar que o czarevich era um jovem excepcional. O poeta Tiutchev dizia que ele era "a nossa alegria desde que nasceu". Alto e magro, tinha herdado a postura e feitio do pai, com a beleza e inteligência da mãe, a czarina Maria Alexandrovna. Nasceu em São Petersburgo, a 20 de Setembro de 1843, e o acontecimento foi comemorado tanto como o nascimento de qualquer primeiro varão em linha de sucessão directa ao trono: "foi uma grande alegria para nós e para o império", escreveu o seu avô Nicolau I, "que Deus guarde esta criança tão preciosa para nós". Nicolau tornou-se herdeiro do trono quando tinha onze anos de idade, numa altura em que a Guerra da Crimeia estava a chegar ao fim. Juntamente com o seu irmão mais novo, Alexandre, o novo czarevich decidiu criar a sua pequena vingança do inimigo criando um mundo de fantasia chamado "Mopsopolis", desenhado a caneta com grande mestria e no qual os ingleses eram representados como cães pug.

Nicolau com os seus irmãos mais novos: Alexandre (futuro czar Alexandre III), Vladimir e Alexei.
Nicolau tinha cinco anos quando a sua irmã mais velha, Alexandra, morreu. Os seus companheiros de infância mais próximos foram os seus irmãos e os seus primos Leuchtenberg, filhos da irmã do pai, a grã-duquesa Maria Nikolaevna. Eram todos crianças felizes e normais. Anna Tiucheva, uma dama-de-companhia da czarina, descreveu uma briga entre Nicolau e os irmãos que aconteceu algumas semanas depois de o seu pai subir ao trono. Os rapazes estavam a falar sobre o pai quando 
"o pequeno grão-duque Nicolau disse, com um ar de importância: 'o papá agora anda tão ocupado que vai adoecer de exaustão. Quando o avô estava vivo, o papá ajudava-o, mas ninguém ajuda o papá. O tio Constantino está demasiado ocupado com a sua área e os tios Nix e Misha ainda são muito novos. Eu também ainda sou pequeno demais para o poder ajudar'. Quando ouviu isto, o seu irmão Alexandre levantou-se cheio de vontade: 'o problema não é seres pequeno demais, é seres estúpido demais'. O herdeiro protestou enfurecido: 'isso não é verdade, eu não sou estúpido. Sou só pequeno demais'. 'Não, não, és só estúpido'. O herdeiro perdeu a paciência com estas acusações desrespeitosas. Agarrou numa almofada e atirou-a às costas do irmão. O grão-duque Alexei decidiu que era um momento oportuno para escolher um lado e começou a gritar o mais alto que conseguia: 'és estúpido, só isso: estúpido'. Começou então uma briga e as amas tiveram de intervir e restaurar a paz. O herdeiro afastou-se, profundamente ofendido com a falta de confiança que os seus irmãos tinham na sua capacidade de ajudar na gestão do país".
Nicolau (dir) com os seus irmãos Alexandre, Alexei e Vladimir.
Nicolau foi educado para o trono, independentemente do que os irmãos poderiam pensar, e seguiu um programa rigoroso e intensivo de estudos que tinha sido criado especialmente para ele. Ambos os seus pais o adoravam, mas, embora o seu pai pudesse ser severo, a sua mãe dedicou-se exclusivamente a ele, quase esquecendo os seus outros filhos. Nicolau desenvolveu-se rapidamente, mostrando ter uma inteligência rápida e interesse em questões importantes que impressionavam e, por vezes, até preocupavam as pessoas responsáveis pela sua educação. O seu governante, o conde Stroganov, referiu que a maturidade de pensamento e da expressão do czarevich pareciam quase pouco saudáveis para alguém tão jovem. Um dos seus tutores tinha uma visão mais optimista: "se conseguir formar um estudante igual a Nicolau Alexandrovich a cada dez anos," escreveu o professor Soloviev, "ficarei com a sensação de que cumpri a minha vocação para o ensino".

Nicolau Alexandrovich
Parece tudo perfeito, mas existe uma imagem bastante diferente do czarevich nas memórias de um dos seus contemporâneos. Uma vez por semana, por insistência da mãe que achava que lhe faria bem estudar com outros rapazes, Nicolau tinha aulas de álgebra no Corps des Pages. Entre esses rapazes encontrava-se o príncipe Peter Kropotkin que recordou que o czarevich passava grande parte das aulas a desenhar - muito bem - e a fazer piadas com os amigos. O príncipe acrescentou que Nicolau era bem humorado e gentil, mas que tinha uma atitude extrema com tudo. Todos os esforços para o educar foram em vão e ele acabaria por chumbar no exame final que se realizou em Agosto de 1861. Podia estar a falar-se de uma outra criança, mas o testemunho de Kropotkin deve ser lido com cuidado. Quando escreveu as suas memórias, o príncipe estava exilado, depois de ter sido condenado à prisão na Rússia e na França devido às suas actividades revolucionárias. Não tinha motivos para gostar da família imperial, mas a sua descrição acaba mesmo por mostrar um lado mais humano do czarevich. Os desenhos e o humor fazem lembrar a sua criação de "Mopsopolis" e é possível que Nicolau visse esta sala-de-aulas como uma pausa do palácio, onde era o único aluno de uma equipa de tutores extremamente respeitada e exigente. Afinal, não deixava de ser uma criança, ainda que prodigiosa.

Nicolau Alexandrovich
Tal como tinha acontecido com o pai, quando Nicolau deixou a sala-de-aula, foi fazer uma viagem por todo o império russo que durou três anos. Nesta altura, já estava a começar a pensa no futuro. Em 1860, tinha comprado ou foi-lhe oferecida uma fotografia da princesa Dagmar da Dinamarca. Na altura, ela tinha apenas doze anos e ele dezassete, mas é possível que já lhe tivessem falado da importância do casamento para alguém na sua posição. Não há duvidas de que começou a ver Dagmar como uma forte candidata. A sua colecção de fotografias dela cresceu e, em Agosto de 1863, quando estava a visitar as cidades do sul da Rússia, garantiu à mãe que já não conseguia apaixonar-se por mais ninguém. As suas cartas mostram um jovem que sabia perfeitamente que tinha sido impulsivo no passado e que estava desesperado para ser levado a sério. Não sabia se alguma vez iria conhecer Dagmar, mas escreveu: "deixo isso nas mãos de Deus, uma vez que se trata de um assunto sagrado, um sacramento (...) estimo de tal forma estes sentimentos que seria doloroso se me dissesses que não passam de uma ilusão, que podem mudar mil vezes e por aí fora. Se assim fosse, por que motivo haveriam de durar três anos? E porque é que estão a aumentar e não a diminuir?". Em Junho de 1864, Nicolau deixou a Rússia na companhia do conde Stroganov e de uma grande comitiva.

A princesa Dagmar da Dinamarca por volta de 1860
Nesse verão, a Dinamarca estava em guerra contra a Prússia e as fronteiras estavam fechadas, por isso o primeiro destino da comitiva foi Bad Kissingen, onde a czarina estava a fazer tratamento num spa acompanhada de algumas das mais importantes figuras políticas da época. O imperador e a imperatriz da Áustria também lá estavam, assim como o grão-duque de Mecklemburgo-Schwerin e Nicolau ficou tempo suficiente para se tornar amigo do rei Luís II da Baviera de dezoito anos. Depois, viajou até Weimar, a convite de um primo do seu pai, o duque Carlos Alexandre. Nicolau ficou impressionado com as semelhanças que encontrou entre aquela capital de um pequeno estado alemão e a Rússia. Tal devia-se ao facto de, em 1804, a sua tia-avó, a grã-duquesa Maria Pavlovna da Rússia, ter ido viver para Saxe-Weimar como noiva do futuro grão-duque e a sua influência estava em todo o lado. Nicolau adorou a visita e não demoraram a surgir rumores de que tinha ficado noivo da filha de quinze anos do duque, a princesa Maria, que chegou mesmo a conhecer a czarina em Schwalbach. No entanto, Nicolau tinha outras ideias. De Weimar viajou até à Holanda onde passou várias semanas em Scheveningen, a tomar banhos de sol e mar. Outra prima do seu pai, a rainha Sofia dos Países Baixos, e a rainha-viúva Ana Pavlovna, sua tia-avó, ficaram encantadas por o conhecer, mas, logo que pôde, Nicolau apressou-se a chegar à Dinamarca para o encontro que tanto tinha antecipado. Em Copenhaga, foi recebido pelo príncipe-herdeiro e pelo irmão do rei, e, na manhã seguinte, chegaram as carruagens reais que os levaram numa viagem de três horas até Fredensborg: o rei e toda a sua família esperavam-nos na escadaria principal.

Dagmar da Dinamarca e Nicolau Alexandrovich (em pé, à esquerda) com a família real dinamarquesa no verão de 1864.
Dagmar não o desiludiu. As filhas da rainha Luísa da Dinamarca eram conhecidas pela sua simplicidade e a princesa cumprimentou o seu possível futuro noivo enquanto estava a usar um vestido de verão leve com um bibe preto por cima e o cabelo preso num puxo arranjado que lhe caía pelo pescoço. Segundo Feodor Oom, o secretário do Gabinete do Czarevich, a quem Nicolau tinha mostrado a fotografia de Dagmar várias vezes "ela brilhava com a frescura dos seus dezasseis anos de idade". Mas, inicialmente, a atmosfera era tensa e desconfortável. Apaixonar-se por uma fotografia era muito mais fácil do que conhecer uma jovem de carne e osso - sempre sob o olhar atento dos seus parentes. Durante vários dias, ninguém sabia o que dizer, e era o rei quem se sentia mais inibido entre todos. Nicolau gostou do rei Cristiano, reagindo bem à sua abertura e franqueza, mas teve algumas hesitações relativamente à sua futura sogra: numa longa carta que escreveu à mãe a 5 de Setembro, elogiou o rei, mas recusou-se a fazer comentários sobre a rainha, dizendo que se sentia demasiado feliz para estar a criticar alguém. Havia bons motivos para a sua felicidade, uma vez que Nicolau estava finalmente a ganhar coragem e a fazer progressos a sério. Ficou encantado com a atmosfera rural do palácio e encontrava uma escapatória nos jogos com os irmãos mais novos de Dagmar: Tira e Valdemar. Com a ajuda do seu ajudante-de-campo, o coronel Richter, conseguiu abordar pela primeira vez o assunto que o tinha levado até à Dinamarca através do irmão mais velho de Dagmar, o príncipe-herdeiro Frederico: será que uma proposta de casamento seria geralmente bem vista no país, e será que Dagmar sentia o mesmo por ele? A resposta para ambas as perguntas terá sido positiva.

Dagmar, a sua irmã Tira, o czarevich Nicolau Alexandrovich e a rainha Luísa da Dinamarca.
O tempo passou a correr e a conhecida boa disposição da família real dinamarquesa fez com que a timidez de Nicolau desaparecesse rapidamente. O grupo saía em passeio para locais interessantes, organizavam-se chás e jantares informais nos quais se conversava livremente, faziam-se corridas, jogos e riam sem parar - foi um tempo de alegria para os dinamarqueses que tinham acabado de sair de uma guerra. Nicolau ficou encantado com Dagmar, mas garantiu à sua mãe que tinha tido o cuidado de não falar do assunto do casamento, principalmente com ela, e que tinha apenas perguntado aos seus pais se poderia regressar. Sabendo que o seu filho tinha grandes esperanças para o encontro, a czarina aconselhou-o a conter os seus sentimentos. Antes de mais, tinha de se encontrar com os pais e obter a sua permissão antes de fazer a proposta de casamento oficial.

Nicolau Alexandrovich
Nicolau viajou da Dinamarca para sul para se juntar aos pais em Heiligenberg, a casa do seu tio materno a sul de Darmstadt. Passou a sua primeira noite lá sozinho com a mãe enquanto o resto da família estava no teatro. O czar e a czarina tiveram todo o gosto em aceitar os planos do filho e ele mostrou-se ansioso por regressar à Dinamarca para fazer o pedido de casamento, mas, antes disso, teria de passar pela Prússia para assistir a um dia inteiro de manobras militares juntamente com o pai. No caminho para lá, pararam em Estugarda para visitar outra tia, a rainha Olga de Wuttemberg, e Nicolau comemorou o seu 21.º aniversário na Alemanha. É provável que não tivesse grande vontade de saudar o exército que tinha acabado de derrotar de forma humilhante os dinamarqueses e que temesse que aquele compromisso fosse mal visto na Dinamarca. Pior ainda, na noite antes das manobras, o czarevich sofreu de dores fortes nas costas, mas esforçou-se por participar de qualquer das formas. Depois de passar onze horas em cima de um cavalo, ficou exausto e foi esse o primeiro sinal de que algo se passava. Infelizmente, ninguém lhe deu atenção.

Nicolau Alexandrovich
Assim que pôde, Nicolau viajou novamente para a Dinamarca e juntou-se à família real em Bernstorff. Teve imediatamente uma conversa com o rei que, posteriormente, explicou o motivo da visita de Nicolau com muita calma à sua visita e juntou o casal. Os dois foram depois dar um passeio pelo parque, com o rei e a rainha a caminhar um pouco mais à frente e um dos irmãos de Dagmar um pouco mais atrás. Tanto Nicolau como Dagmar se sentiram tímidos e apreensivos: "Queria que a Terra me engolisse", contou Nicolau à mãe. Mas esforçou-se por expressar os seus sentimentos e, com alívio, descobriu que eles eram recíprocos: Dagmar aceitou o seu pedido e os dois beijaram-se e deram aos mãos. "Mal conseguia falar", escreveu ele, "e apesar de ser um dia frio de outono, sentia-me a arder como se estivesse dentro de um forno". O noivado foi anunciado oficialmente nessa mesma noite, a 28 de Setembro, e, nos dias seguintes, houve trocas de presentes e visitas. O jovem casal teve também permissão para falar a sós pela primeira vez.  Nicolau mostrou a Dagmar as fotografias suas que tinha juntado ao longo de cinco anos e ela surpreendeu-o ao revelar que já pensava nele antes de se conhecerem e que tinha prometido a si mesma que não se casaria com mais ninguém. Existe a ideia de que os casamentos entre realeza nesta época eram sempre assuntos políticos, mas se era esse o caso com Nicolau e Dagmar, nenhum deles se sentia dessa forma. Nicolau garantiu à mãe que ninguém tinha falado de casamento com Dagmar anteriormente. Era importante saber que a atracção de Dagmar também tinha crescido lentamente e em privado. Mas ele foi ainda mais longe. O czarevich tinha reparado que havia muitos na Dinamarca que viam o casamento como uma aliança política e ele tinha tido o cuidado de não os encorajar. Pelo menos para ele, tratava-se de um assunto absolutamente privado.
 
Dagmar de mãos dadas com Nicolau Alexandrovich, rodeados de três dos irmãos de Dagmar (Valdemar, Tira e Frederico) e da sua mãe, a rainha Luísa.
A 12 de Outubro, Nicolau teve de partir para se juntar à sua família em Darmstadt. Estava intensamente feliz, bombardeando a sua mãe com histórias sobre a ingenuidade da sua noiva, a sua beleza e a gentileza dos seus olhos enquanto rezava com toda a sinceridade para que o seu futuro juntos fosse feliz. Ficou encantado quando soube que Dagmar iria escolher o nome da mãe dele, Maria, quando se convertesse para a Igreja Ortodoxa Russa. Um dos objectivos da sua viagem tinha sido cumprido, mas ainda faltavam várias visitas culturais antes de Nicolau poder regressar à Rússia com a sua noiva.

Nicolau Alexandrovich e Dagmar
A viajar com pequenas paragens por toda a Alemanha e Áustria, o czarevich e a sua comitiva chegaram a Veneza a 30 de Outubro. Passaram duas semanas a visitar museus, igrejas e teatros antes de avançarem para Milão onde foram recebidos por Humberto, o príncipe-herdeiro da Itália. Nicolau queria saber mais sobre o sistema político italiano, mas ficou desiludido com as respostas que príncipe-herdeiro deu às suas perguntas. Humberto disse que Nicolau, na categoria de herdeiro de uma monarquia absoluta, provavelmente seria obrigado a saber tudo sobre direito e sobre a constituição, mas que ele próprio preferia deixar esses assuntos nas mãos dos políticos. No entanto, os italianos ficaram impressionados com o nível de conhecimento que o czarevich tinha sobre os mais variados assuntos. Em comparação com os príncipes que tinham, ele parecia estar extremamente bem informado e as suas perguntas eram pertinentes e perspicazes. Na verdade, Nicolau recebia boletins diários com notícias do seu gabinete em São Petersburgo que lia sempre atentamente. O objectivo da viagem era impressionar a Europa com o homem que, um dia, iria governar a Rússia. Nicolau encontrou-se também com o rei Vítor Emanuel II num jantar de gala dado em sua honra em Turim e, a 11 de Novembro, partiu para Génova com a sua comitiva. O primeiro vislumbre que tive da cidade, com a luz outonal e o mar Mediterrâneo a toda a volta, fizeram-no lembrar com nostalgia a costa do Mar Negro e a sua casa. Nesse dia, estava um esquadrão naval russo ancorado no porto de Génova e o almirante foi cumprimentar Nicolau na estação de comboios. O czarevich ficou tão contente por ver homens em uniformes russos que convidou todos os oficiais do esquadrão para jantar no seu hotel.

Nicolau Alexandrovich
Nicolau estava com saudades de casa e decidiu fazer uma pausa do seu programa oficial para visitar a mãe. Nesse outono, a czarina teve uma crise de tuberculose particularmente grave e, da última vez que a tinha visto, a sua mãe estava a ser transportada numa maca para a estação de comboios de Darmstadt de onde viajou para Nice. Naquele momento, estava hospedada na Villa Bermond, que, embora tivesse o nome de Villa, era, na verdade, uma vasta propriedade numa colina, conhecida pelos seus pomares e campos de violetas de Parma. O parque tinha cinco casas, três das quais se encontravam ocupadas pela czarina e pela sua comitiva. Nicolau viajou por mar, a bordo de uma corveta russa chamada Vitiaz e com o nome falso de "Comte du Nord", o mesmo nome que o seu bisavô, o czar Paulo I, utilizava mais de meio século antes. Quando chegou a Nice, Nicolau ficou alojado na Villa Diesbach e passou alguns dias com a mãe antes de a corveta Vitiaz o levar de volta a Itália, desembarcando desta vez em Livorno. Grande parte da comitiva estava à sua espera em Florença, onde estava planeado um programa preenchido de actividades. No entanto, quando o comboio parou na estação, Nicolau queixou-se de dores nas costas de tal forma fortes que os seus companheiros quase tiveram de o carregar para os quartos que tinha reservado no Hotel Itália. 

Nicolau Alexandrovich
Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat

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