Catarina II da Rússia
(1729-1796) foi uma das governantes mais improváveis da História. Depois de se
casar e entrar para a família Romanov na Rússia, viu-se no centro de um golpe
de estado para retirar o seu marido do trono e coloca-la a ela no seu lugar. As
conquistas conseguidas durante o seu reinado, que durou trinta-e-quatro anos,
são muitas vezes ofuscadas pela sua vida pessoal que é vista como uma das mais
escandalosas da sua e de outras épocas. No entanto, por detrás dos rumores e
dos mexericos, encontra-se uma das governantes mais astutas e capazes da longa
e turbulenta História da Rússia. Agora, 250 anos depois de ter subido ao trono
a 9 de Julho de 1762, fique a saber algumas curiosidades sobre Catarina, a
Grande.
1. O nome de
Catarina, a Grande não era Catarina e ela nem sequer era russa.
A mulher que ficaria para
a História como Catarina, a Grande, a mulher que durante mais tempo governou na
Rússia, era na verdade a filha mais velha de um príncipe prussiano que estava
na miséria. Nascida em 1729, Sofia de Anhalt-Zerbst recebeu várias propostas de
casamento graças às origens nobres da sua mãe. Em 1744, quando tinha quinze
anos de idade, Sofia recebeu um convite da czarina Isabel, filha do czar Pedro,
o Grande da Rússia, que tinha subido ao trono três anos antes graças a um golpe
de estado, para a visitar na Rússia. Isabel, que era solteira e não tinha
filhos, tinha escolhido o seu sobrinho Pedro como herdeiro e estava agora à
procura de uma noiva para ele. Sofia, que recebeu uma educação excelente da sua
mãe e estava ansiosa por agradar os seus anfitriões, causou imediatamente um
grande impacto em Isabel, mas não no seu futuro marido. O casamento realizou-se
a 21 de Agosto de 1745 e a noiva teve de se converter à Igreja Ortodoxa Russa,
mudando de nome para Ekaterina, ou Catarina.
Catarina com o seu marido, o futuro czar Pedro III |
2. É provável que o filho
mais velho – e herdeiro – de Catarina fosse ilegítimo
Catarina e o seu novo
marido tiveram um casamento conturbado desde o início. Apesar de a jovem
princesa prussiana ter sido importada para dar à luz um herdeiro, passaram oito
anos sem que o casal tivesse filhos. Alguns historiadores acreditam que Pedro
não conseguiu consumar o casamento enquanto outros defendem que era infértil.
Profundamente infelizes na sua vida conjugal, Pedro e Catarina começaram a ter
casos amorosos com outras pessoas, ela com Sergei Saltykov, um oficial do
exército russo. Quando Catarina deu à luz um filho, Paulo, em 1754, surgiram
rumores de que o pai da criança era Saltykov e não Pedro. Nas suas memórias,
Catarina deu crédito a este rumor, chegando mesmo a afirmar que a imperatriz
Isabel a tinha ajudado a encontrar-se com Saltykov. Embora hoje em dia os
historiadores sejam da opinião que as afirmações de Catarina tinham como único
objectivo descredibilizar Pedro e que ele era realmente o pai biológico de
Paulo, existem poucas dúvidas relativamente aos restantes três filhos de
Catarina: acredita-se que nenhum deles era filho de Pedro.
3. Catarina chegou ao
poder num golpe de estado sem derramamento de sangue que, mais tarde, se tornou
mortal
Isabel morreu em Janeiro
de 1762 e o seu sobrinho sucedeu-a como Pedro III, tendo Catarina como
consorte. Ansioso por deixar a sua marca na nação, terminou imediatamente a
guerra que a Rússia estava a travar contra a Prússia, uma decisão que foi muito
mal recebida pela classe militar do país. O seu plano de implementar um
programa de reformas internas liberais que tinha como objectivo melhorar a
qualidade de vida das classes mais baixas da Rússia também prejudicava membros
da baixa nobreza. À medida que as tensões iam aumentando, surgiu o plano de
tirar Pedro do poder. Quando a conspiração foi descoberta em Julho de 1762,
Catarina movimentou-se rapidamente, conquistando o apoio do regimento militar
mais poderoso do país que conseguiu fazer com que o seu marido fosse preso. A 9
de Julho, apenas seis meses depois de se tornar czar, Pedro abdicou e Catarina
foi proclamada governante única. No entanto, aquele que tinha sido um golpe de
estado sem derramamento de sangue não demorou a causar vítimas. A 17 de Julho,
Pedro foi assassinado por Alexei Orlov, irmão do amante de Catarina, Gregory.
Apesar de não existirem provas de que Catarina soubesse do assassinato antes
deste acontecer, o acontecimento ensombrou o início do seu reinado.
4. Catarina enfrentou
mais de doze revoltas durante o seu reinado.
Entre as muitas revoltas
que ameaçaram o reinado de Catarina, a mais perigosa foi a que sucedeu em 1773,
quando um grupo de cossacos e camponeses armados liderados por Emelyan Pugachev
se revoltaram contra as condições sociais e económicas difíceis que viviam a
classe mais pobre da sociedade russa, os servos. Tal como aconteceu com muitas
das outras revoltas que Catarina enfrentou, a Revolta de Pugachev questionou a
validade do seu reinado. Pugachev, um antigo oficial do exército, dizia ser o
deposto Pedro III, que todos acreditavam estar morto, e, por isso, era ele o
herdeiro legítimo do trono. Um ano depois de dar início à sua campanha,
Pugachev já tinha conseguido juntar milhares de apoiantes e conquistado uma
parque significativa do território, incluindo a cidade de Kazan. Inicialmente,
Catarina preocupou-se com a revolta, mas não demorou a responder com força. Enfrentados
pelo grande exército da Rússia, os apoiantes de Pugachev acabariam por
abandoná-lo e ele acabaria preso e executado em público em Janeiro de 1775.
5. Ser amante de Catarina
dava grandes lucros.
É conhecida a fama de
Catarina ser fiel aos seus amantes, tanto durante a sua relação como depois de
esta terminar. Normalmente, Catarina terminava as suas relações nos melhores
termos com os seus parceiros, dando-lhes títulos, terras, palácios e até
pessoas – chegou a presentear um antigo amante com mais de 1000 servos, ou
escravos. Mas talvez aquele que mais lucrou tenha sido Estanislau
Poniatowski, um dos seus primeiros amantes e pai de um dos seus filhos. Membro
da nobreza polaca, Poniatowski envolveu-se com Catarina (que ainda não tinha
chegado ao trono) quando foi enviado para a embaixada britânica em São
Petersburgo. Mesmo quando um escândalo provocado em parte pela sua relação o
obrigou a deixar a corte russa, os dois continuaram próximos. Em 1763, muito
depois do final da sua relação e um ano depois de Catarina chegar ao trono, a
imperatriz apoiou Poniatowski financeira e militarmente no seu esforço para se
tornar rei da Polónia, o que acabaria por acontecer. No entanto, assim que
chegou ao trono, o novo rei, que Catarina e outros achava que seria um mero
fantoche para servir os interesses da Rússia, deu início a uma série de
reformas para fortalecer a independência do seu país. Aquela que foi outrora
uma ligação forte entre dois antigos amantes não demorou a azedar e Catarina
obrigou Estanislau a abdicar, sendo a Rússia o país que mais forçou a dissolução
da recém-criada República das Duas Nações.
6. Catarina via-se como uma governante iluminada
O reinado de Catarina
ficou marcado pela sua vasta expansão territorial, algo que contribuiu muito
para os cofres da Rússia, mas que aliviou pouco o sofrimento do seu povo. Até
as suas tentativas para implementar reformas governamentais eram muitas vezes
vetadas pela vasta aristocracia russa. No entanto, Catarina considerava-se uma
das governantes mais iluminadas da Europa e muitos historiadores concordam.
Escreveu vários livros, panfletos e materiais educativos que tinham como
objectivo melhorar o sistema educativo na Rússia. Apoiava as artes, tendo
mantido durante toda a vida correspondência com Voltaire e outros filósofos proeminentes
da época e criou uma das colecções mais impressionantes de arte do mundo no
Palácio de Inverno, em São Petersburgo (agora inserida no famoso Museu
Hermitrage) e até tentou compor uma ópera.
7. Ao contrário do mito popular, Catarina teve uma morte
bastante normal e nada de especial aconteceu.
Tendo em conta a reputação chocante da imperatriz, talvez
não seja de admirar que houvesse sempre rumores sobre ela, mesmo depois de
morta. Quando morreu a 17 de Novembro de 1796, os seus inimigos na corte
começaram imediatamente a espalhar vários rumores sobre os últimos dias da
imperatriz. Alguns diziam que a governante toda poderosa tinha morrido na
casa-de-banho. Outros levaram os rumores ainda mais longe e criaram um mito que
ainda se prolonga até aos dias de hoje: que Catarina, cuja vida luxuriosa era
um segredo aberto, tinha morrido enquanto praticava relações sexuais com um
animal que muitos acreditam ter sido um cavalo. Obviamente este rumor não tem
qualquer fundo de verdade. Apesar de os seus inimigos terem esperado por um fim
escandaloso, a verdade é que Catarina simplesmente sofreu uma apoplexia e
morreu calmamente na sua cama no dia seguinte.
Catarina, a Grande com a sua nora Maria Feodorovna e o filho, o futuro czar Paulo I |
8. O filho mais velho de Catarina teve o mesmo destino
macabro que o pai.
Era conhecida a relação conturbada de Catarina com o seu
filho mais velho, Paulo. O menino tinha sido retirado à mãe pouco depois de
nascer e foi criado em grande parte pela antiga czarina Isabel e uma série de
tutores. Depois de ter subido ao trono, Catarina, temendo que o seu filho se
vingasse dela pela deposição e morte do seu pai, manteve-o afastado dos
assuntos de estado, o que o tornou ainda mais isolado. A relação entre eles era
tão má que, às vezes, Paulo se mostrava convencido de que a sua mãe o planeava
matar. Embora Catarina nunca tivesse tido tais planos, era verdade que temia
que Paulo se tornasse um governante incompetente e procurou outras alternativas
para a linha de sucessão. Tal como a imperatriz Isabel tinha feito antes de si,
Catarina controlou a educação dos filhos mais velhos de Paulo e havia vários
rumores que diziam que era sua intenção nomear os seus netos herdeiros, passando
Paulo à frente na sucessão. De facto, acredita-se que Catarina pretendia tornar
esta decisão oficial em finais de 1796, mas morreu antes de o fazer. Temendo
que o testamento da mãe incluísse clausulas para tornar esse plano possível,
Paulo confiscou o documento antes deste se tornar público. Alexandre, o filho
mais velho de Paulo, sabia dos planos da avó, mas cedeu à pressão e não
enfrentou o seu pai. Paulo tornou-se czar, mas não demorou a tornar-se tão imprevisível
e pouco popular como a sua mãe tinha temido. Após cinco anos de reinado,
acabaria por ser assassinado e o seu filho, Alexandre, de vinte-e-três anos,
subiu ao trono como Alexandre I.
Tradução do artigo "8 Things You Didn't Know About Catherine the Great", escrito por Barbara Maranzani para o site do Canal História e publicado a 9 de Julho de 2012.