André Vladimirovich, filho mais novo do grão-duque Vladimir Alexandrovich |
Nesta entrada do diário de André Vladimirovich, primo direito do czar Nicolau II, o grão-duque descreve uma visita que Alexandra Feodorovna fez à sua mãe, a grã-duquesa Maria Pavlovna, na companhia de Olga e Tatiana.
Alexandra, Helena Vladimirovna, Maria Pavlovna e Nicolau II |
Petrogrado, 19 de Setembro de 1915
Há alguns dias a Alix e as duas filhas mais velhas foram tomar chá com a mamã em Czarskoe Selo. Há que notar que foi a primeira vez em vinte anos que a Alix foi visitar a mamã sozinha sem o Nicky. Mas o mais interessante de tudo foi a conversa.
Alexandra, Olga e Tatiana em 1915 |
A Alix queixou-se amarguradamente que tudo o que faz é criticado, principalmente em Moscovo e Petrogrado. Toda a gente está contra ela e, por isso, está com as mãos atadas. “Ainda agora,” disse ela, “soube que as irmãs da Cruz Vermelha alemã me querem visitar. Pelo bem da causa devia recebê-las, mas não posso fazer isso sabendo que acabará por ser usado contra mim.” A mamã perguntou se era verdade que ela e a corte estavam a pensar mudar-se para Moscovo. “Oh, até a senhora já ouviu falar disso! Não, não tenho intenções de me mudar, mas “eles” estavam com esperanças que o fizesse para que pudessem vir “eles” para aqui.” (É claro que com “eles” a imperatriz queria dizer o grão-duque Nicolau Nikolaevich e as montenegrinas [esposa e cunhada do grão-duque]) “Mas,” prosseguiu a imperatriz, “felizmente soubemos disto a tempo e foram tomadas as medidas necessárias. Ele [o grão-duque Nicolau] agora vai para o Cáucaso. Já não é possível aguentar isto. O Nicky não sabia nada sobre o que se estava a passar na guerra. “Ele” não lhe dizia nada, nunca lhe escrevia. O poder do Nicky estava a ser-lhe roubado por todos os lados. Tiraram-lhe tudo o que havia para ser tirado. É intolerável. Estamos numa altura em que é preciso que haja uma mão forte e segura no meio desta autoridade desgovernada. Implorei ao Nicky que não dispensasse o Goremykin desta vez. É um homem honesto e leal, com convicções firmes e princípios sólidos. Não é correcto afastá-lo das pessoas que lhe são devotas, que ficariam com ele até ao fim.”
Grão-duque Nicolau Nikolaevich |
No que diz respeito ao facto de o Nicky ser o chefe supremo do exército, a imperatriz disse que agora o marido se encontra muito bem-disposto. Saber o que está a acontecer deu-lhe uma nova vida e um novo entusiasmo.
Este episódio na vida da nossa família é muito importante porque nos dá a oportunidade de compreender a Alix. Desde que ela está connosco [na Rússia], sempre se escondeu numa espécie de névoa impenetrável através da qual a sua personalidade se tornou obscurecida. Ninguém a conhecia realmente ou sequer a compreendia e isto explica os quebra-cabeças e palpites que se foram transformando em lendas à medida que o tempo passava. Quem tem razão, é difícil dizer. É uma pena, pois a personalidade da imperatriz devia ser adorada por toda a Rússia, ela devia ser vista e compreendida. Não sendo assim, fica no pano de fundo e perde a tão necessária popularidade. Claro que a conversa de que falo acima com a minha mãe não pode remediar tudo o que aconteceu nestes últimos vinte anos, mas devo dizer que para nós, pessoalmente, foi muito importante. Conseguimos vê-la noutra perspectiva; vemos que muitas das lendas que se formaram em torno dela não são verdadeiras, vemos que ela está no caminho certo. Se ela não disse mais nada, se fez o que fez, devemos assumir que o fez com bom senso. Mas era mais do que evidente que ela fervilhava de dor e tinha necessidade de confessar alguma dela com a minha mãe.
Sem comentários:
Enviar um comentário