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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Biografia - Alexei Nikolaevich




Alexei Romanov era o filho mais novo de Nicolau II e Alexandra da Rússia, nascido a 12 de Agosto de 1904 no Palácio de Peterhof.

Alexei nos braços da mãe em 1904
Depois de quatro grã-duquesas, a chegada do tão esperado herdeiro ao trono foi comemorada de forma grandiosa.

Alexei foi baptizado no dia 3 de Setembro de 1904, na capela do Palácio de Peterhof. Os seus padrinhos foram a sua avó paterna e o seu tio-avô, o grão-duque Alexei Alexandrovich. Outros padrinhos incluíam a sua irmã mais velha Olga, o seu bisavô, o rei Cristiano IX da Dinamarca, o rei Eduardo VII do Reino Unido, o príncipe de Gales e o imperador Alemão Guilherme II. Estando a Rússia no meio de uma guerra com o Japão, todos os oficiais e soldados do exército e marinha russos foram padrinhos honorários.

Alexei com as suas irmãs Maria, Tatiana, Olga e Anastásia
O baptizado do novo Czarevich foi também a primeira cerimónia oficial na qual participaram alguns membros mais novos da família imperial, incluindo os filhos mais novos do grão-duque Constantino Konstantinovich , as irmãs mais velhas de Alexei, Olga e Tatiana e a sua prima, a  princesa Irina Alexandrovna . Para esta ocasião, os rapazes usaram uniformes militares em miniatura e as raparigas usaram uma versão mais pequena do vestido da corte. O sermão foi lido por São João de Konstadt e o bebé foi levado até ao altar pela princesa de Galtizine. Como medida de precaução, foram colocadas solas de borracha nos seus sapatos para evitar que escorregasse neles.

Tatiana e Olga vestidas para o baptizado de Alexei
"O Alexei era o centro das atenções desta família unida, o centro de todas as esperanças e afectos," escreveu o tutor Pierre Gilliard. "As irmãs veneravam-no. Ele sempre foi o orgulho e alegria dos pais. Quando ele estava bem, o palácio transformava-se. Tudo e todos que lá estivessem pareciam mergulhados na luz do sol." O rapaz era muito parecido com a sua mãe, Alexandra, segundo Gilliard. Era alto para a sua idade, com "com um rosto bem definido, feições delicadas, cabelo castanho-claro com um brilho ruivo, e grandes olhos azuis acinzentados, como a mãe."

Alexis tinha poucos meses de vida quando, depois de um fio de sangue começar a escorrer do seu umbigo, se descobriu que sofria de hemofilia.

Alexei com cerca de nove meses de idade
A hemofilia é uma doença hereditária que impede o corpo de controlar hemorragias tanto externas como internas.  A Hemofilia impede a coagulação sanguínea, logo, quando um vaso sanguíneo é danificado, um coágulo não se forma e o vaso continua a sangrar por um período excessivo de tempo. A  hemorragia pode ser externa, se a pele for danificada por um corte ou abrasão, ou pode ser interna, em músculos, articulações ou órgãos. Qualquer queda pode dar inicio a uma hemorragia interna que, por sua vez, pode levar à morte.

O gene que provoca a doença é normalmente transmitido de mãe para filho, uma vez que a fêmea pode ser portadora deste, mas não pode sofrer da doença. Alexei foi afectado pela sua mãe, que recebeu o gene da sua mãe, a princesa Alice do Reino Unido, que por sua vez, o recebeu da sua mãe, a rainha Vitória. Vários membros de famílias reais por toda a Europa que tinham ligações com a de Alexandra sofriam também da doença.

Alexei com a mãe em 1906
Apesar de ser inteligente e afectuoso, a educação de Alexei era frequentemente interrompida por ataques de Hemofilia e ele era bastante mimado, uma vez que os seus pais não conseguiam discipliná-lo devido à doença. Foram contratados dois marinheiros da Marinha imperial, Nagorny e Derevenko, para tomarem conta dele e, acima de tudo,  certificarem-se de que ele não se magoava. Ele estava proibido de andar de bicicleta sozinho ou de brincar demasiado. Devido ao facto de o seu sangue não coagular normalmente, qualquer inchaço ou nódoa negra podiam matá-lo. Apesar das restrições à sua actividade, Alexei era activo e mal comportado por natureza. Recusava-se a falar outra língua que não o russo (os filhos de Alexandra falavam inglês com a mãe e russo com o pai) e gostava de usar trajes tipicamente russos. Quando era mais novo gostava de, ocasionalmente, pregar partidas aos convidados dos pais.

Alexei
Alexis costumava fazer troça de um dos marinheiros (Derevenko) que o protegiam e fazia questão de lhe lembrar que nem ele o conseguia manter quieto. "Olha para o gordo a correr!", gritava em público. Por vezes cumprimentava pessoas que lhe faziam vénia acertando-lhes com alguma coisa na cara ou pondo-lhes o nariz a sangrar. Os pais diziam às vítimas de Alexei que ele era "uma criança traquina". Com 7 anos envergonhou os pais durante um jantar de família. Provocou as pessoas que estavam na mesa, recusou-se a sentar na cadeira, não comeu a comida a lambeu o prato. O seu pai desviou o olhar e tentou ignorar o comportamento do filho. A sua mãe acabou por culpar a irmã Olga, que estava sentada ao pé dele, por não o ter controlado. Segundo o grão-duque Constantino Constantinovich , a reacção de Alexandra não fez sentido. "A Olga não consegue lidar com ele," escreveu no seu diário.

Alexei nos braços da irmã Olga, com Tatiana, Maria e o marinheiro Derevenko atrás
O tutor de Alexis, Pierre Gilliard, falou com os seus pais sobre o seu comportamento, acabando por os convencer de que a autonomia o ajudaria a desenvolver melhor o seu controlo. Com o tempo Alexei acabou por ganhar uma liberdade fora do comum e, associada à sua doença, acabaram por lhe dar mais consciência.

Alexei com a mãe
Durante as crises de Hemofilia, a sua única esperança era Gregório Rasputine, um monge da Sibéria que tinha o dom de, aparentemente, curar o Czaraevich. Com a sua presença, Alexis conseguia ter uma vida mais produtiva. Sempre que tinha uma crise, Rasputine era chamado ao palácio e curava-o. Quando tinha 8 anos, o herdeiro sofreu a sua pior crise de Hemofilia. Quando a família voltava a casa ainda no seu Iate Standart , após umas férias muito activas, Alexis magoou o joelho quando saltou para o barco depois de ir apanhar conchas. O médico da família, Botkin , estava com a família e examinou o rapaz. Tudo parecia normal e Alexis dizia que nada lhe doía. No entanto, apenas o terá dito para poder continuar a brincar com os amigos.

Alexei teve de ser levado ao colo durante as celebrações do Tricentenário dos Romanov em 1913 por estar ainda a recuperar do grave acidente que sofreu no ano anterior
Quando foi acordado na manhã seguinte por Derevenko, o marinheiro reparou que ele estava coberto de suor e parecia estar a sofrer. Quando Devenko lhe perguntou se estava a sentir alguma coisa, Alexis disse estar bem e então o marinheiro saiu do quarto. Cerca de 15 minutos mais tarde, o herdeiro saiu do quarto e a sua família já estava pronta para uma sessão fotográfica que tinha sido marcada para esse dia. Quando subiu ao convés, caminhava normalmente, apesar da dor.

Depois de tirar algumas fotografias no convés do barco, o fotografo sugeriu que a família se dirigisse à ponte para os fotografar lá. Nesta altura, Alexis começava a deixar de falar. Pierre Gilliard, que estava presente, reparou no inchaço na perna do aluno e associou-o a outros ataques de Hemofilia que tinha visto no herdeiro.

Enquanto os outros membros da família se dirigiam para a ponte, Alexei deixou-se ficar encostado à parede enquanto que a mãe lhe gritava para se despachar. Foi então que Gilliard pediu a Alexei para esperar, o que alertou Alexandra que foi ter com os dois. Receando ter de passar os dias que restavam do cruzeiro na cama, Alexei disse que estava bem e começou a correr até à ponte, no entanto a meio do caminho desmaiou e acabou por ferir também o cotovelo.

Alexei e Alexandra no dia em que Alexei sofreu uma das suas crises de Hemofilias mais graves
Nessa noite Alexis teve de ser atado à cama e amordaçado para que a tripulação do navio não ouvisse os seus gritos. Quando chegaram ao cais na Polónia, receberam imediatamente um telegrama de Rasputine e Gilliard foi o primeiro a lê-lo. O monge dizia que sabia que o herdeiro estava doente e alertou contra o uso de morfina (administrada para que Alexei não sentisse dor), uma vez que ele era alérgico à mesma. Gilliard correu até ao quarto de Alexei e leu-o a todos os presentes. No fim do telegrama, Rasputine também dizia que ele ficaria bem muito brevemente e que não era preciso haver preocupação. Na manhã seguinte, diz-se que Alexis estava bem. Esta história nunca foi confirmada.

Alexei com o tutor Pierre Gilliard
Em Setembro de 1912, após a celebração pública do centenário da derrota de Napoleão, houve uma gala em Bordino . Nesta festa estiveram presentes a família real, a corte principal (Gilliard , Botkin , Derevenko ...) e muitos dignitários estrangeiros. Durante a noite, Alexei e um amigo encontraram alguns copos cheios de vodka, então decidiram experimentá-los e poucos minutos mais tarde ficaram tocados pelo álcool. Pierre Gilliard falou com eles durante alguns momentos e percebeu o que tinha acontecido. Então dirigiu-se à mãe de Alexei e contou-lhe o que viu. Ela não acreditou nele, por isso o tutor apontou para o lugar onde eles estavam. Alexei e o amigo estavam a rir-se e a comportar-se de uma forma estranha. Alexandra foi ter com eles e levou-os para longe dos olhares dos convidados. Nada aconteceu devido a este incidente, mas tanto Alexei  como o amigo não conseguiram sair da cama no dia seguinte.

Alexei com a mãe Alexandra e a irmã Olga

A vida de Alexei seguiu calmamente nos dois anos seguintes. Aproveitava todos os momentos que tinha livres e tentava corresponder às expectativas que cada um tinha dele, mas também passou ainda por algumas crises de Hemofilia que ficaram cada vez mais raras à medida que crescia, dando esperança de que a previsão de Rasputine de que, se o herdeiro chegasse aos 17 anos, não sofreria mais crises, talvez se realizasse.

Durante estes dois anos ocorreram as celebrações do tricentenário da Dinastia Romanov que duraram meses, com festas sem fim e muitos eventos públicos nos quais a família tinha de participar. Também durante este período, Alexei juntou-se a uma organização de escuteiros americanos que operava na Rússia onde adquiriu pratica em liderança que precisava para ser czar.

Alexei Nikolaevich
Quando rebentou a Primeira Guerra Mundial, Alexei viveu durante algum tempo com o pai no Quartel-General do exército russo, o que herdeiro gostou imenso.

Em Dezembro de 1916, o General britânico John Hanbury Williams recebeu a notícia de que o seu filho tinha morrido ao combater com o exército britânico em França. Nicolau II mandou o seu filho de 12 anos sentar-se junto do General de luto. "O papa disse-me para me vir sentar consigo porque pensou que o senhor se podia sentir sozinho esta noite," disse Alexei ao general. Tal como todos os homens Romanov, Alexis cresceu a usar uniformes de marinheiro e a brincar às guerras desde que começou a dar os primeiros passos, O seu pai começou a prepará-lo para o seu futuro como czar, convidando-o a sentar-se ao pé de si em reuniões com os ministros.

Alexei com o pai durante a Primeira Guerra Mundial
O Coronel Mordinov, que conviveu bastante com Alexis durante a Primeira Guerra Mundial disse sobre o czarevich:

Ele tinha aquilo a que nós russos chamamos um 'coração dourado'. Ligava-se facilmente às pessoas, gostava delas e tentava fazer o seu melhor para as ajudar, principalmente quando, a seu ver, essa pessoa tinha sido magoada injustamente. O seu amor, tal como o dos seus pais, era muito piedoso. O czarevich Alexis Nikolaevich era um rapaz muito preguiçoso, mas com muitas capacidades (acho que era preguiçoso exactamente por conhecer as suas capacidades). Compreendia facilmente tudo, era pensativo e tinha uma maturidade muito superior à sua idade. Apesar do seu bom carácter, ele prometia vir a ser um Czar firme e independente.

Alexei (2º da direita) com o seu tutor e cadetes durante a Primeira Guerra Mundial
Numa ocasião, quando o navio onde ele e o pai seguiam estava a regressar ao porto, Nicolau e o Capitão foram até à costa para discutir estratégias com alguns generais. O navio deveria permanecer escondido. Estava a chover e a visibilidade era pouca. Com o Comandante e o czar em terra, Alexei foi o comandante do navio. Enquanto estava a brincar com os amigos na sala de reuniões, foi chamado à sala de comandos e informado de que um navio desconhecido se aproximava. Sabendo bem que a guerra continuava em força e que podiam estar em perigo, decidiu colocar a tripulação a interceptar o navio e a carregar as armas. Quando as armas estavam carregadas, não hesitou em ordenar a tripulação para dispararem. O navio inimigo foi atingido e então prepararam-se para responder ao ataque. Sabendo disto, Alexei ordenou manobras evasivas. O navio inimigo respondeu ao ataque, mas falhou o alvo. Quando o navio se aproximou, a tripulação apercebeu-se que se tratava do Polar Star (o navio da sua avó). Então Alexei ordenou que fosse hasteada a bandeira branca e que o seu navio se encostasse ao da avó para tratar dos feridos.

Este acidente foi muito divulgado, mas o herdeiro acabou por não ser castigado, uma vez que tinha feito o que qualquer um faria na sua situação.

Alexei em 1916
Alexei  acabou por regressar a casa depois de, durante uma visita a um hospital público, descobrir que pré-adolescentes e mesmo crianças estavam a lutar na guerra e teve uma longa discussão com o pai por causa disso. Então Nicolau achou melhor que ele não continuasse na frente.

Em Março de 1917 o seu pai abdicou do trono e a família foi exilada.

Alexis com a irmã Olga a bordo do navio "Rus" que os levou de Tobolsk para Ecaterimburgo. Esta é a última fotografia conhecida dos irmãos

Durante o exílio em Tobolsk , Alexei queixou-se no seu diário da monotonia da sua vida actual e pediu misericórdia de Deus. Tinha autorização para brincar ocasionalmente com Kolya, o filho de um dos seus médicos e com um ajudante de cozinha chamado Leonid Sednev (em quem se inspirou o livro The Kitchen Boy"). Quando foi crescendo, Alexei parecia magoar-se de propósito. Em Tobolsk deslizou com um trenó pelas escadas abaixo e feriu-se gravemente. Foi exactamente esse ferimento que impediu as suas irmãs Olga, Tatiana e Anastasia de acompanharem os pais e a irmã Maria quando estes foram enviados para Ecaterimburgo . Também devido a este ferimento, Alexei teve de ficar preso a uma cadeira-de-rodas durante as semanas que lhe restavam de vida.

Na noite de 17 de Julho de 1918, Alexis foi morto juntamente com o resto da sua família por bolcheviques.

Inverno de 1917

Embora poucos, apareceram alguns rumores sobre a sua possível sobrevivência e mesmo pessoas que se fizeram passar por ele.

Quando os corpos do resto da família foram encontrados, tanto a equipa de cientistas americanos como a russa concluíram que o seu corpo era um dos que faltava, juntamente com o da sua irmã Maria ou Anastasia.

Alexei de cadeira-de-rodas em 1917
Após a descoberta de restos mortais numa área próxima do local onde tinham sido descobertos os restantes corpos da família, no dia 27 de Agosto de 2007, duas equipas de investigadores (uma americana e outra russa), passaram 8 meses a analisá-los procurando provas para garantir que aqueles se tratavam dos restos mortais de Alexis e da sua irmã Maria.

A confirmação chegou durante uma conferência de imprensa no dia 30 de Abril de 2008 que deu como encerrado o mistério, provando que os dois últimos filhos de Nicolau II tinham, de facto morrido com a restante família.



Alexis morreu na madrugada de 18 de Julho de 1918, duas semanas antes de completar 14 anos.

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