A imperatriz levantava-se cedo. Tinha seis criadas para a vestir, entre as quais a chefe, Madeleine Zanoty, uma italiana cuja família servia os Hesse já há muito tempo. Louise Toutelberg, conhecida por “Toutel”, a segunda na hierarquia, vinha do Bâltico e havia mais quatro. As criadas trabalhavam três dias, mas nenhuma delas alguma vez viu a imperatriz nua ou no banho. Levantava-se e ia tomar banho sem assistência, vestindo depois o seu robe de seda japonesa por cima da roupa interior quando estava pronta para arranjar o cabelo. A imperatriz era extraordinariamente simples na forma como se vestia, uma característica visivelmente vitoriana, e o seu quarto estava decorado ao estilo de Windsor e do Palácio de Buckingham de 1840. Não gostava de nada transparente nem teatral nem na roupa interior nem nas camisas de dormir. A sua roupa interior era feita do melhor linho, com lindos bordados, mas tirando isso era muito simples. O seu cabelo ruivo alourado nunca via ferros de encaracolar e normalmente estava sempre arranjado de forma muito simples, excepto quando participava em funções de estado.
Alexandra na Finlândia |
O quarto do imperador e da imperatriz era grande e tinha duas grandes janelas com vista para o jardim. Ficava no andar de baixo devido aos problemas de coração da imperatriz que tinha grande dificuldade em subir escadas. Havia um elevador no corredor que ligava o andar de baixo aos aposentos das crianças, mas durante a Revolução a água foi cortada e ele deixou de funcionar. Apesar de tudo a imperatriz insistia em subir e descer as escadas constantemente para tratar das grã-duquesas e eu acompanhava-a sempre, ajudando-a em cada degrau. Vinham-me lágrimas aos olhos quando via como ela estava doente, mas determinada a não perder uma única oportunidade de estar com os seus adorados filhos.
Alexandra com as filhas |
Havia uma grande cama dupla feita de madeira perto das janelas entre as quais ficava o toucador da imperatriz. Do lado direita da cama havia uma pequena porta na parede que dava para uma capela minúscula iluminada por candeeiros suspensos onde a imperatriz se fechava muitas vezes a rezar. A capela tinha uma mesa, um genuflexório no qual se encontravam uma bíblia e um ícone de Cristo. Esse ícone foi-me depois oferecido por Sua Majestade em memória dos tempos que passamos juntas em Czarskoe Selo e é um dos bens mais valiosos que tenho hoje.
Alexandra e Nicolau |
A mobília no quarto imperial estava coberta por mantos floridos e a alcatifa era de uma cor simples. O quarto de vestir do imperador encontrava-se separado do quarto de dormir pelo corredor e, do lado oposto, ficava o quarto de vestir da imperatriz e a casa de banho. Ora aqui estão as suas faladas extravagâncias! A casa de banho estava longe de ser luxuosa, tinha uma banheira antiquada em tijoleira negra e o gosto vitoriano da imperatriz pela arrumação fazia com que insistisse em ver a banheira coberta durante o dia com uma manta de cretone. Havia uma lareira no quarto de vestir e as criadas esperavam no quarto adjacente até que a imperatriz as chamasse. Os vestidos da imperatriz eram guardados lá e noutro quarto cheio de grandes armários que ficava a meio caminho para os aposentos das crianças e era utilizado sobretudo pelas criadas para passar a ferro e remendar as roupas de Sua Majestade.
Alexandra Feodorovna |
A imperatriz preferia sapatos longos e pontiagudos com o tacão muito baixo. Normalmente usava sapatos de camurça, bronze ou brancos, nunca de cetim. “Não aguento sapatos de cetim, preocupam-me”, costumava dizer. Os seus vestidos, excepto aqueles que usava em cerimónias públicas, eram muito simples: gostava de blusas e saias e era viciada em vestidos de chá. O seu estilo era tão refinado como o da rainha Maria de Inglaterra; tal como ela não gostava de modas exageradas e não esquecerei com facilidade de quando ela não gostou de me ver a usar uma saia hobble:
- Gosta mesmo dessa saia, Lili? – perguntou a imperatriz.
- Bem… Madame, - respondi eu sem saber o que havia de dizer – c’est la mode.
- Não cumpre função nenhuma de uma saia – respondeu ela. – Agora, Lili, prove-me que é confortável: corra, Lili, corra, e deixe-me ver a que velocidade corta mato com isso.
Escusado será dizer que nunca mais voltei a usar uma saia hobble.
Fotografia de noivado de Nicolau e Alexandra |
A imperatriz já foi acusada de ter uma demência por pedras preciosas. Nunca vi nenhum indício disso; é verdade que tinha a sua quota-parte de jóias magníficas, mas a maior parte pertencia à coroa e estavam em sua posse apenas porque era a imperatriz. Gostava de anéis e de pulseiras e usava sempre um anel com uma pérola enorme e uma cruz com jóias. Alguns escritores dizem que esta cruz era decorada com esmeraldas, mas não concordo. Tenho a certeza que as pedras preciosas eram safiras e como a via todos os dias tenho quase a certeza que estou correcta. A imperatriz tinha mãos macias e bem formadas, mas nunca tinha as unhas pintadas, já que o imperador detestava unhas demasiado arranjadas.
O boudoir da Imperatriz, conhecido como “Le Cabinet Mauve de l’Imperatrice” era uma sala maravilhosa onde o amor da imperatriz por todos os tons de malva era bem visível. Na primavera e no inverno, o ar era perfumado por grandes quantidades de lilás e lírios do vale que chegavam todos os dias da Riviera. As paredes estavam cobertas de fotografias, incluindo um retrato da falecida mãe da imperatriz, a princesa Alice de Inglaterra, grã-duquesa de Hesse-Darmstadt, que estava entre um quadro da Anunciação e outro de Santa Cecília.
A mobília era malva e branca, em estilo Heppelwait e era fácil encontrar muitos “cantinhos acolhedores”. Havia uma grande mesa onde se encontravam várias fotografias da família, com especial destaque para uma da rainha Vitória que ocupava um lugar de honra.
A imperatriz sempre teve um diário, mas acabou por me calhar a mim queimar todos os seus diários, bem como os da princesa Sofia Orbeliani e da Anna Vyrubova. Depois tive também de queimar todas as cartas que o imperador lhe tinha enviado desde o noivado até aos primeiros dias da Revolução.
A mobília era malva e branca, em estilo Heppelwait e era fácil encontrar muitos “cantinhos acolhedores”. Havia uma grande mesa onde se encontravam várias fotografias da família, com especial destaque para uma da rainha Vitória que ocupava um lugar de honra.
Alexandra no seu boudoir |
A outra sala-de-estar privada era muito maior, decorada e estofada em tons de verde e a imperatriz tinha construído num canto uma espécie de escadaria com pequenos degraus e uma varanda que estava sempre cheia de violetas na primavera. Nesta sala havia fotografias dela e do imperador e algumas miniaturas maravilhosas das grã-duquesas pintadas por Kaulbach. A da Maria era particularmente bonita.
Havia livros por todo o lado; a imperatriz era uma leitora ávida, mas dedicava-se acima de tudo a literatura formal e sabia a bíblia de uma ponta à outra. A biblioteca ficava ao lado da sala-de-estar verde e era aí que todos os livros e revistas novos eram colocados em cima de uma mesa redonda e eram constantemente reorganizados pela data de publicação.Alexandra com a filha Anastásia |
A Imperatriz gostava muito de escrever cartas e fazia-o sempre que lhe apetecia. A sua mesa de escrever estava na sala ao lado do seu quarto, mas via-a muitas vezes a escrever cartas num bloco apoiado no seu colo e usava sempre uma caneta-tinteiro. Antes da guerra escrevia todos os dias a uma grande amiga que tinha deixado na Alemanha e lia-me sempre as cartas que essa senhora lhe enviava. Os seus artigos de papelaria, como tudo o resto, eram simples, mas tinham sempre o selo imperial.
A propósito do seu gosto por lilás e lírios do vale, posso também referir que a imperatriz adorava todo o tipo de flores, principalmente lilás, magnólias, glicínia, rododendros, frísias e violetas. Um amor por flores costuma ser sempre acompanhado por um amor por perfumes e a imperatriz não fugia à regra. Normalmente usava o “Rosa Branca” de Atkinson que era, como ela dizia, um perfume “limpo” e “infinitamente doce”. A sua eau-de-toilette preferida era Verveine.Quando conheci a Imperatriz ela não fumava, mas durante a Revolução começou a fazê-lo. Penso que seria porque era a única coisa que a acalmava.
Quanto mais leio, mais revoltada fico, com o que fizeram a esta familia...
ResponderEliminarDentro de toda a riqueza a que tinha acesso, eram pessoas extremamente simples, e fruto da época e do vasto império que governavam (ou não!),completamente alheadas da realidade que existia fora dos muros do palácio. Alexandra não merecia de todo a ingratidão e humilhação e todas a criticas de que foi alvo na Corte Russa. Casou por amor, amava a sua nova pátria, mas não ostentava como as restantes mulheres da corte, devido à sua educação vincadamente inglesa. E toda essa modéstia e descrição bem como o sentido de reserva, foram encarados como má vontade, antipatia ou desinteresse...Lamentável!!
Ola
ResponderEliminarMeu nome é Raoni Pontes, sou um historiador brasileiro.
Seu blog é muito interessante e cheio de informações muito uteis.
Também tenho um blog, que mostra minha coleção de leques , a segunda maior do Brasil, gostaria que visitasses.
http://pontescollection.blogspot.com/
Até logo
Raoni Pontes
A Czarina Alexandra, só errou quando aceitou Rasputin na Corte. É verdade que ela estava desesperada por causa da hemofilia de Alexei, e isso abalou-a emocionalmente a ponto de não descobrir que Rasputin era um oportunista e feiticeiro, o qual lançou uma maldição sobre eles em uma última carta que dirigiu ao Czar.
ResponderEliminarNesta carta, ele pronunciou que se fossem membros da realeza á mata-lo, ninguém da Família Real sobreviveria por mais de 2 anos.
Bom!
ResponderEliminarBom!
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