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terça-feira, 3 de março de 2015

A Importância de um Herdeiro (Segunda Parte)

Alexandra e Alexei
Tal como a rainha Vitória, a reacção natural de Alexandra foi a de proteger demasiado o seu filho. Na família da sua prima, a rainha Vitória Eugénia de Espanha, quando os dois filhos que sofriam de hemofilia (o príncipe das Astúrias, Afonso, e o irmão, o infante Gonçalo), iam brincar, vestiam-se com fatos acolchoados e as árvores eram protegidas com almofadas. A solução de Alexandra foi a de contratar dois marinheiros para vigiar o filho de perto de forma a poder segurá-lo antes de ele cair ou bater contra alguma coisa. No entanto, tal como Gilliard disse à imperatriz, esse tipo de protecção poderia entorpecer o espírito e criar ema mentalidade dependente, deformada e incapacitada. Alexandra respondeu de forma galante, permitindo que os dois guardiões se afastassem para deixar o filho cometer os seus próprios erros, tomar as suas próprias decisões e - se assim fosse necessário - cair e magoar-se. Mas foi ela que aceitou o risco desta decisão e que se sentia responsável quando havia acidentes.

Alexei, no mar, com as suas irmãs Maria e Anastásia e um dos marinheiros encarregue da sua protecção.
Para uma mãe, é uma tarefa difícil manter o equilíbrio entre o nível de protecção adequado e uma vida normal. Só é possível ter tempo de descanso quando a criança está a dormir. O fardo da imperatriz assemelhava-se à fadiga das batalhas; após longos períodos de alerta constante, as suas emoções ficavam esgotadas. Este sentimento era partilhado por muitos soldados em guerras e, quando tal acontecia, estes eram retirados da frente de batalha para descansar. No entanto, para a mãe de um filho com hemofilia, não há descanso possível. A batalha arrasta-se para sempre e todos os locais são um campo de batalha.

Alexandra e Alexei
A hemofilia causa grande solidão a uma mulher. Inicialmente, quando nasce um filho hemofílico, a reacção materna mais característica é a decisão de lutar vigorosamente contra a doença: de alguma forma, em algum lugar, tem de haver um especialista que possa declarar que houve um erro ou que se está prestes a descobrir uma cura. Um a um, são consultados todos os especialistas. Um a um, todos vão abanando tristemente a cabeça. A segurança emocional que os médicos normalmente transmitem desaparece. A mãe compreende que está sozinha.

Alexandra
Quando descobre e aceita esta realidade, começa a preferir que as coisas assim sejam. O mundo normal, que continua as suas rotinas, parece frio e insensível. Já que o mundo normal não a pode ajudar nem compreende a situação, a mãe prefere afastar-se dele. A família torna-se o se refugio. Com eles não é necessário esconder a tristezas, não se fazem preguntas, não há fingimentos. Este mundo interior torna-se a sua realidade. E foi isso que aconteceu com Alexandra no seu pequeno mundo de Czarskoe Selo. Alexandra, que tentava controlar os ataques de ansiedade e frustração que a atingiam com frequência, procurou respostas na igreja. A Igreja Ortodoxa Russa é profundamente emocional na qual se dá grande ênfase à ideia de que a fé e as preces têm um forte poder curativo. Assim que compreendeu que os médicos nada podiam fazer para ajudar o filho, virou-se para Deus à procura do milagre que a ciência lhe negava. "Deus é justo," declarou Alexandra e mergulhou numa série de novas tentativas para conquistar a Sua misericórdia através de preces fervorosas.

Alexandra
Rezava durante horas, numa pequena divisão no seu quarto ou na capela do palácio, uma câmara escura  com tapeçarias de seda. Para ter mais privacidade, construiu uma pquena capela na cripta da Feodorovski Sobor, uma igreja no parque imperial que era utilizada por criados e soldados da guarda pessoal do czar. Aí, sozinha no chão de pedra, iluminada apenas pela luz dos candeeiros a óleo, implorava pela saúde do filho.

Alexandra
Em períodos nos quais Alexei estava bem, Alexandra atrevia-se a sonhar. "Deus ouviu-me," dizia ela. Mesmo à medida que os anos iam passando e as hemorragias se iam seguindo umas atrás das outras, Alexandra recusava-se a acreditar que Deus a tinha abandonado. Em vez disso, decidiu que ela é que se tinha de esforçar para demonstrar que merecia um milagre. Sabia que a doença tinha sido transmitida ao filho através do seu corpo e, por isso, sofria com a sua culpa. Dizia a si mesma que, como era óbvio, se tinha sido o instrumento da tortura do filho, também se podia tornar no instrumento da sua salvação. Deus tinha rejeitado as suas preces; por isso, tinha de encontrar alguém mais próximo de Deus para interceder a seu favor. Quando Gregório Rasputine, o camponês siberiano, que diziam ter poderes milagrosos de cura através da fé, chegou a São Petersburgo, Alexandra acreditou que ele era a resposta às suas preces.

Gregório Rasputine
Para as jovens mães com filhos hemofílicos, rodeadas de medos corrosivos e ignorância, a esperança é escassa e a ajuda incerta. O maior apoio que podem ter neste tormento solitário é o amor e a compreensão do marido. Nesse aspecto, o contributo de Nicolau foi admirável. Nunca houve um homem mais gentil ou que mostrasse mais compaixão à sua esposa ou que passasse mais tempo com o filho sofredor. Por muito que se possam criticar as suas decisões como monarca, o seu papel como pai e marido era algo completamente aparte e ele desempenhou-o com uma nobreza de espírito inigualável. 

Nicolau, Alexandra e Alexei

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