A imperatriz Alexandra Feodorovna, nascida Carlota da Prússia |
No início de cada Verão, os parentes russos dos Hohenzollern faziam a sua peregrinação anual à Prússia, inundando Berlim e Potsdam com "uma cheia" de grã-duquesas russas e os seus empregados. Além das implicações políticas destas visitas, Vicky [Vitória, Pincesa Real do Reino Unido, filha da rainha Vitória e casada com o futuro kaiser Frederico III da Alemanha] andava sempre ocupada de um lado para o outro, entre Berlim e Potsdam, em paradas, lanches, jantares, bailes e recepções que, muitas vezes, a obrigavam a mudar de roupa seis vezes por dia. Até Fritz [futuro kaiser Frederico III] se queixava que as suas tias o obrigavam a ele, à esposa e a toda a corte prussiana a correr de um lado para o outro como se fossem "empregados". Vicky, cujos dias começavam quase sempre às 7 da manhã, hora em que apanhava o comboio para Potsdam, e acabavam muito depois da meia-noite, quando tinha finalmente permissão para sair das soirées nocturnas, andava a sofrer de dores de cabeça, pés inchados e ressentimento.
Vitória, Princesa Real do Reino Unido, pouco depois da sua chegada à Prússia |
No Verão de 1859, Vicky foi a única responsável pelas honras sociais a prestar aos Romanov, uma vez que Augusta [de Saxe-Weimar, sua sogra] se encontrava em Weimar, de visita à sua mãe, a grã-duquesa Maria Pavolovna da Rússia, que estava muito doente e prestes a falecer. Durante a sua visita, as senhoras russas tentaram convencer o seu sogro a não declarar guerra contra Napoleão III. Embora nem a irmã de Guilherme [futuro Guilherme I da Alemanha], Carlota, nem a sua cunhada pró-russa, a rainha Isabel [esposa do rei Frederico Guilherme IV da Prússia] tivessem conseguido convencer Guilherme a mudar de opinião, Vicky nunca mais conseguiu voltar a confiar nos parentes russos do marido.
Maria Pavlovna da Rússia, mãe da futura imperatriz Augusta da Alemanha e cunhada da imperatriz Alexandra Feodorovna |
Em 1860, a viagem anual da imperatriz-viúva Alexandra da Rússia para assinalar o aniversário da morte do seu pai, o rei Frederico Guilherme IV da Prússia, coincidiu com as últimas semanas da segunda gravidez de Vicky. Com tudo pronto para o nascimento da bebé, Vicky teve ainda de lidar com os russos que apareceram em Potsdam um mês antes da data prevista para o parto. Embora lhe tivessem sido oferecidos aposentos em outros dois palácios, um dos quais tinha sido recentemente restaurado e redecorado para ela, a imperatriz Alexandra (viúva do czar Nicolau I), insistiu em ficar no Neues Palais, ocupando os aposentos que ficavam mesmo por baixo dos de Vicky.
Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia) |
De todos os visitantes russos, a imperatriz-viúva era a mais venerável. Alta, magra e erecta, a antiga czarina de sessenta-e-um anos andava, de dia, sempre vestida de petro com um lenço de renda preto no cabelo e, à noite, vestia-se de branco e cobria-se com cascatas de pérolas. No Verão anterior, a imperatriz-viúva tinha mostrado a sua colecção de jóias a Vicky, uma colecção pela qual os Romanov eram muito conhecidos. "As tuas são mais bonitas", Vicky tinha garantido numa carta à mãe. "As dela são coisas enormes e de uma variedade tal que quase parece magia - safiras, esmeraldas, pérolas, rubis, etc., mas a qualidade não é muito boa - excepto os diamantes que são magníficos."
Alexandra Feodorovna, vestida de luto |
A imperatriz-viúva viajava sempre com "um grande número de criados" que incluía quatro damas-de-companhia (que usavam vestidos negros de caxemira), que, por sua vez, possuíam várias criadas cada uma. Os criados russos dormiam sempre no chão, e era considerado necessário retirar toda a mobília dos quartos e redecorá-los após cada visita imperial.
Alexandra Feodorovna nos seus últimos anos de vida |
"O barulho mesmo debaixo de mim não tem fim e não é nada agradável," queixou-se Vicky à mãe. "O que mais se ouve é o barulho de portas a bater e passos no chão que está sem carpetes - depois também se ouve os criados russos a conversar e a fumar (...) Ela sabe quanto tempo falta para me deitar [entrar em trabalho de parto] e onde ficam os meus aposentos, porque esteve aqui o ano passado. (...) É difícil não pensar que esta atitude não é a mais considerável, viver com uma multidão de gente na nossa casa. (...) Enfin, não me incomodo muito com isto, mas tenho pena dos nossos criados quando estes russos sujos estão cá."
O pior de tudo era que o quarto onde os russos estavam a pensar reunir-se para chorar o aniversário da morte de Frederico Guilherme III era a sala-de-estar privada de Vicky, de onde se tinha retirado toda a mobília e cujas paredes tinham sido cobertas de papel-crepe negro. Um aspecto deprimente que durou toda a visita.
O Neues Palais em Potsdam, onde Vicky vivia e a imperatriz Alexandra ficou hospedada em 1860 |
O momento de irritação final aconteceu quando Vicky recebeu um convite formal da parte da rainha Isabel [da Baviera, esposa de Frederico Guilherme IV] para estar presente no Neues Palai no dia sete de Julho, data em que se assinalava a morte de Frederico Guilherme III. "Acho que se pode considerar um abuso ser convidada a estar presente na minha própria sala (...)", escreveu Vicky à mãe. Para mostrar o seu desagrado, Vicky enviou convites da sua parte a todos os que tinham sido convidados pela rainha para a cerimónia "para que pelo menos saibam quem é a dona da casa!" - e depois recusou estar presente. Acabou por ser uma boa decisão, uma vez que a tia mais conservadora de Fritz, a princesa Alexandrina da Prússia, tinha anunciado que nunca iria pôr os pés no Neues Palais enquanto a liberal Vicky lá estivesse. Furiosa, a princesa escreveu à mãe: "Pode ficar com a grande satisfação de lá ir no dia 7, já que eu não vou lá estar para a irritar com a minha presença."
Alexandra Feodorovna |
Texto retirado do livro "An Uncommon Woman - The Empress Frederick" de Hannah Pakula
Notas:
A imperatriz Alexandra Feodorovna nasceu a 13 de Julho de 1798 como princesa Carlota da Prússia. Era filha do rei Frederico Guilherme III da Prússia e da princesa Luísa de Mecklenburg-Strelitz, o que a tornava irmã do rei Frederico Guilherme IV da Prússia e do primeiro imperador da Alemanha unida, Guilherme I da Alemanha. Casou-se em 1817 com o czar Nicolau I da Rússia de quem teve dez filhos, incluindo o czar Alexandre II. Morreu poucos meses depois da visita descrita acima, no dia 1 de Novembro de 1860.
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