O czar Alexandre II com a sua segunda esposa, Catarina Dolgorukov, e dois dos seus 3 filhos, Boris e Olga |
Alexandre II, o "czar libertador" parece não ter sido apenas liberal nas suas políticas. Além de ter trazido uma revolução às bases conservadoras que tinham sido deixadas no governo pelo seu pai Nicolau I, Alexandre também trouxe consigo uma revolução ao circulo fechado da família Romanov quando, em 1838 fez saber que tinha intenções de se casar com a filha mais nova do grão-duque Luís II de Hesse-Darmstadt e da princesa Guilhermina de Baden. O escândalo pode não ser perceptível imediatamente, mas torna-se mais claro quando se sabe que esta princesa, Maria de Hesse-Darmstadt, era, na verdade, filha do amante de longa data da sua mãe, o barão August von Senarclens de Gracy.
A mãe de Alexandre ficou profundamente chocada com a escolha do filho. Embora Maria tivesse direito a usar os títulos do marido da mãe, a certeza da sua verdadeira paternidade era tão clara que a princesa tinha passado a sua infância junto do seu irmão Alexandre, outro dos quatro filhos que Guilhermina deu à luz do seu amante, numa propriedade afastada de Hesse-Darmstadt e dos seus meios-irmãos legítimos. Mas Alexandre recusou-se a ouvir os conselhos da mãe. Estava decidido a casar-se com aquela princesa tímida e triste que tinha perdido a mãe ainda criança e se sentia excluída por uma Corte que a culpava pelos escândalos da princesa Guilhermina. Não é claro se estava verdadeiramente apaixonado. É provável que sentisse um afecto e amizade genuínos por Maria, mas o verdadeiro motivo que o levou a enfrentar a censura dos pais em relação a este matrimónio prendia-se com a pena que sentiu dela e a vontade de dar-lhe um lar onde ela se pudesse sentir realmente feliz.
O casamento realizou-se no dia 16 de Abril de 1841. Alexandre tinha 23 anos. Maria ainda não tinha completado 17.
Maria Alexandrovna, esposa de Alexandre II |
O casamento foi bastante feliz nos primeiros tempos, mas a adaptação de Maria à Rússia foi extremamente difícil. Era muito tímida e odiava festas, bailes ou até simples encontros com a família do marido, algumas das suas cunhadas recusavam-se a visitá-la ou a ter qualquer tipo de relação com ela devido ao baixo estatuto do seu pai biológico (um sentimento, de resto, partilhado por grande parte da Corte) e o clima rigoroso do país prejudicou ainda mais a sua já frágil saúde. O seu único refúgio era a vida familiar com o marido e, mesmo apesar de ter os dedos da Corte apontados contra si, Maria conseguiu cumprir a sua principal função como futura imperatriz, dando à luz oito filhos, a maioria do sexo masculino, durante os primeiros vinte anos de casamento.
No entanto Alexandre não ficou fascinado pela esposa durante muito tempo. Logo em 1844, menos de 3 anos depois do casamento, nascia o primeiro filho ilegítimo do futuro czar, uma menina chamada Charlotte von Behse, mas as infidelidades terão começado muito antes, talvez ainda antes do casamento. Muitas outras amantes e filhos ilegítimos ainda estavam para vir. No geral, Maria tinha conhecimento de todas e sofria com a falta de fidelidade do marido. Quando ele deixava mais uma amante, encontrava-se com a esposa, contava-lhe tudo o que tinha acontecido e pedia desculpa. Maria perdoava-o e alguns meses depois nascia um novo grão-duque ou grã-duquesa.
Este ciclo apenas chegaria ao fim na década de 1860. Depois de dar à luz o seu último filho, Paulo, os médicos proibiram Maria de voltar a ter relações sexuais por questões de saúde. Apenas quatro anos depois, em 1864, Alexandre conheceu Catarina Dolgorukov.
Alexandre II |
Catarina viu Alexandre pela primeira vez aos 12 anos, quando o czar visitou a propriedade do seu pai. Na altura ele viu-a apenas como uma menina e esqueceu-se do encontro. Após a morte do pai, que deixou a família na miséria, Catarina e a irmã foram mandadas para a Escola de Smolny Para Jovens Senhoras Nobres em São Petersburgo. Era o próprio czar que pagava as mensalidades da escola de Catarina e dos seus irmãos. Foi durante uma visita oficial a esta escola no Outono de 1864 que Alexandre se voltou a encontrar com Catarina, na altura já com 16 anos, e sentiu-se imediatamente atraído por ela. As visitas começaram rapidamente a tornar-se cada vez mais frequentes, com Alexandre a levar a adolescente a passear a pé e de carruagem. Catarina tinha opiniões liberais, algo que o atraía, e teve o seu apoio para formar um partido liberal na sua escola. Quando ela terminou os estudos, Alexandre deu-lhe uma posição no palácio como dama-de-companhia da sua esposa que na altura começava a mostrar os primeiros sintomas de tuberculose.
Catarina gostava do czar e de estar na sua companhia, mas não tinha intenções de se tornar em mais uma das suas muitas amantes, mesmo apesar da sua mãe e da directora da escola a encorajarem a aproveitar essa oportunidade para melhorar as condições da família. No entanto esta relação apenas foi consumada em Julho de 1866. Catarina sentiu pena do czar pelo seu sofrimento após a morte do seu filho Nicolau e de uma tentativa de assassinato que tinha sido dirigida contra ele. A mãe da jovem tinha também morrido dois meses antes e esta sentia que Alexandre podia ser a sua única oportunidade de não cair na miséria. Nas memórias que publicou pouco antes da sua morte, Catarina recordou que nessa noite o czar lhe disse: “Agora és a minha esposa secreta. Juro que se algum dia estiver livre, caso contigo.”
Catarina Dolgorukov |
O czar queria ter Catarina e os filhos que tiveram juntos por perto e via-os pelo menos três ou quatro vezes por semana, quando a família era levada até aos seus aposentos privados no Palácio de Inverno pela guarda. Além destas visitas, os dois escreviam cartas um ao outro todos os dias, às vezes até mais do que uma vez, nas quais falavam frequentemente do prazer que sentiam em fazer amor um com o outro. Numa carta de 28 páginas que Catarina lhe escreveu quando estava grávida, pedia-lhe que ele lhe fosse fiel, pois “sei que és capaz de te esquecer num momento que apenas me queres e desejas a mim.”
Apesar de tudo o czar tentava ser discreto. Nenhum dos dois assinava estas cartas com os seus nomes verdadeiros e usavam a palavra “bingerle” para se referirem ao acto sexual. No entanto Catarina não gostava de se esconder e, por isso, quando entrou em trabalho de parto para dar à luz o seu terceiro filho do imperador, Boris, em Fevereiro de 1876, insistiu em ser levada para o Palácio de Inverno e teve a criança nos aposentos do czar. Alexandre insistiu que o bebé não podia ficar no palácio e por isso ele foi enviado para a residência de Catarina enquanto esta permaneceu nos aposentos de Alexandre a recuperar. O bebé apanhou uma constipação e morreu algumas semanas depois.
Esta relação foi muito mal vista pela família do czar e pela Corte. Catarina foi acusada de conspirar para se tornar imperatriz e de influenciar Alexandre nas suas políticas liberais. Alguns membros da família temiam mesmo que os filhos de Catarina viessem a ultrapassar os filhos legítimos do czar na linha de sucessão. Mas Alexandre escreveu numa carta à sua irmã Olga Nikolaevna que estas criticas não tinham fundamento, uma vez que Catarina tinha abdicado da sua vida social para se dedicar inteiramente a ele e aos seus filhos.
Em 1880 Alexandre decidiu levar Catarina e os filhos para o terceiro andar do Palácio de Inverno, temendo que estes se pudessem tornar alvos para os terroristas que o tentavam assassinar. A mudança foi um escândalo e muitos criados começaram a espalhar histórias, dizendo que a imperatriz, que estava gravemente doente, era forçada a ouvir os filhos ilegítimos do marido no andar superior. Apesar de tudo, Alexandre e Maria ainda continuavam bons amigos e a imperatriz chegou mesmo a pedir para conhecer os filhos de Catarina. Alexandre levou-lhe os dois mais velhos, Olga e Jorge, e Maria abençoou-os e beijou-os entre lágrimas.
Maria morreu a 8 de Julho de 1880. Alexandre casou-se com Catarina menos de um mês depois, o que enfureceu os seus filhos. O czar explicou-lhes que se tinha casado tão depressa porque tinha medo de ser assassinado antes e, se tal acontecesse, Catarina seria deixada sem nada.
Alexandre foi duramente criticado por não mostrar qualquer sinal de tristeza pela morte da sua primeira esposa. Segundo o grão-duque Alexandre Mikhailovich, o czar "comportava-se como um adolescente sempre que estava ao pé de Catarina." A sua segunda esposa não se tornou imperatriz, mas sim princesa, mas a família temia que o czar a quisesse legitimar como co-governante da Rússia a qualquer momento. Pouco antes da sua morte, Alexandre chegou a considerar seriamente a hipótese de tornar os seus filhos com Catarina grão-duques e colocá-los na linha de sucessão em frente dos seus irmãos, mas a ideia nunca se chegou a concretizar. Os castigos normalmente dados a membros da família Romanov por casamentos morganáticos não se concretizaram no caso de Alexandre simplesmente porque um czar não se podia exilar a si mesmo.
No dia 13 de Março de 1881, menos de um ano depois do casamento, Alexandre viria a ser assassinado quando um grupo de revolucionários atirou duas bombas à sua carruagem. Quando Catarina soube que o seu marido tinha sido ferido mortalmente correu até à sala do Palácio de Inverno para onde ele tinha sido levado ainda de camisa de dormir e assistiu aos seus últimos minutos de vida rodeada da família dele. No dia do funeral Catarina e os filhos tiveram de assistir à cerimónia do lado de fora da igreja. No dia seguinte houve uma missa especial para eles.
Depois da morte do marido, Catarina teve de sair do Palácio de Inverno com os filhos, mas passou a receber uma pensão anual de 3,4 milhões de rublos. Saiu da Rússia e instalou-se na França, vivendo entre Paris e a Riviera onde, durante os restantes anos da sua vida, foi ignorada por praticamente todos os membros da família Romanov. O czar Alexandre III tinha mesmo agentes secretos da polícia a vigiá-la e a controlar os seus gastos. O único filho de Alexandre II que mantinha contacto com ela era o grão-duque Aleksei Alexandrovich. Viria a morrer 41 anos depois do marido, quase na miséria.
Filhos
Jorge Alexandrovich Yurievsky
Alexandre nasceu em 1872. Chegou a fazer parte da marinha russa, mas o seu desempenho foi tão desastroso que acabou transferido para a cavalaria. Casou-se com Alexandra von Zanekau, uma filha do casamento morganático do duque Constantino de Oldemburgo. Juntos tiveram um filho chamado Alexandre e os seus descendentes chegam até ao dia de hoje.
Olga Alexandrovna Yurievskaya
Casou-se com o conde Jorge Nicolau de Meremberg, um filho do casamento morganático do príncipe Nicolau Guilherme de Nassau com Natália Alexandrovna Pushkina, filha do poeta Pushkin.
Catarina Alexandrovna Yurievskaya
Casou-se primeiro com o príncipe Alexandre Vladimirovich Baryatinsky de quem teve dois filhos. Após a morte dele voltou a casar-se com Serge Obolensky que a viria a trocar por outra mulher poucos anos depois. Depois da Revolução Russa tornou-se numa cantora bastante conhecida na época.
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