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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Último Inverno em Czarskoe Selo - Robert K. Massie (Parte 2

Alexandra, Tatiana e Alexei em Czarskoe Selo
A morte de Rasputine abalou Alexandra, mas, agarrando-se à mesma crença interior que a iria manter viva durante os meses impiedosos que se seguiriam, não se deixou ir abaixo. Rasputine tinha-lhe dito muitas vezes: “Se eu morrer ou tu me abandonares, vais perder o teu filho e a tua coroa em seis meses”. A imperatriz nunca tinha duvidado dele. A morte de Rasputine retirou-lhe o salvador do seu filho e a sua ligação com Deus. Sem as suas rezas e conselhos, qualquer desastre era possível. O facto de o golpe ter partido de dentro da família imperial não a surpreendeu. Sabia o que pensavam e compreendia que tinha sido ela o verdadeiro alvo dos assassinos.


Alexandra com Dmitri Pavlovich, um dos assassinos de Rasputine
Após o assassinato, passou vários dias sentada em silêncio, com o rosto coberto de lágrimas, a olhar para o infinito. Depois recompôs-se e a cara que mostrava, até aqueles que viviam no palácio, era calma e decidida. Embora Deus lhe tivesse tirado o seu querido amigo, ela ainda estava viva. Enquanto ainda lhe restasse vida, iria perseverar na sua fé em Deus, na sua dedicação ao marido e à família, na sua resolução, encerrada agora com o martírio de Gregório, de manter a autocracia que Deus tinha dado à Rússia. Sentindo a mesma premonição de condenação na Terra que o seu marido sentia, preparou-se para os choques que estavam para vir. Desde aí e durante os meses de vida que lhe restavam, Alexandra nunca esmoreceu.

Foi a imperatriz quem assumiu o controlo. Desde o dia do assassinato que a caixa de correio de Anna Vyrubova se tinha enchido de cartas ameaçadoras. Por ordem da imperatriz, Anna mudou-se da sua pequena casa para aposentos no Palácio de Alexandra para sua segurança. Apesar de o czar viver no palácio, era a imperatriz que tinha mais influência nos assuntos políticos. O telefone mais importante do palácio não estava na secretária do czar, mas sim numa mesa do boudoir da imperatriz, debaixo de um quadro de Maria Antonieta. Os relatórios de Popov eram entregues tanto a Nicolau como a Alexandra, dependendo de quem estivesse disponível, às vezes eram até lidos pelos dois ao mesmo tempo. Além do mais, e com o conhecimento do marido, a imperatriz começou a ouvir as conversas oficiais do czar atrás das portas. Kokovtsov sentiu que algo parecido se estava a passar quando estava numa reunião com o czar: “Tive a sensação que a porta que dava acesso ao quarto-de-vestir do czar estava meia aberta, algo que nunca tinha acontecido antes, e que alguém estava de pé mesmo atrás dela,” escreveu ele. “Pode ter sido apenas impressão minha, mas foi uma sensação que permaneceu ao longo de toda a reunião”. Não foi apenas uma impressão, foi um estratagema temporário. Pouco depois, para maior conveniência, a imperatriz mandou construir uma escadaria de madeira que cortava pelas paredes do escritório e dava acesso a uma varanda com vista para a sala de reuniões do czar. Lá, escondida pelas cortinas, a imperatriz podia deitar-se num sofá e ouvir as conversas.

Alexandra com Nicolau e Alexei em 1916
A morte de Rasputine não mudou nada na forma como o governo era dirigido. Os ministros eram escolhidos e dispensados. Tropov, que tinha substituído Stumer como primeiro-ministro em Novembro, teve permissão para se despedir em Janeiro para ser substituído pelo príncipe Nicolau Golitsyn, um homem idoso que a imperatriz conhecia por ter sido presidente de uma das suas obras de caridade. Golitsyn ficou horrorizado com a sua nomeação e implorou ao czar que escolhesse outra pessoa, mas sem sucesso. “Se alguém tivesse usado a linguagem que eu usei para me descrever, tinha sido obrigado a desafia-lo para um duelo,” disse ele.

Nicolau e Alexandra
Fazia pouca diferença. O único ministro em quem Alexandra confiava completamente era Protopopov. O resto tinha pouca importância e Protopopov raramente se dava ao trabalho de estar presente em reuniões com os restantes ministros. Rodzianko até se recusava a falar com ele. Na recepção de ano novo, o presidente da Duma tentou evitar encontrar-se com o seu antigo deputado. “Reparei que ele me andava a seguir (…) por isso fui para outra parte da sala e fiquei de costas voltadas para ele. Apesar de tudo (…) Protopopov estendeu-me a mão. Respondi-lhe: ‘Nem aqui, nem nunca’. Protopopov (…) agarrou-me de forma amigável pelo cotovelo e disse: ‘Meu querido amigo, de certeza que conseguimos chegar a acordo.’ Tive nojo dele. ‘Deixe-me em paz. Para mim, o senhor é repelente.’”

Protopopov
Tal como Rasputine, o ministro do interior dependia unicamente do favor da imperatriz e, por isso, apressou-se a seguir as suas tendências espirituais. Tal como o monge tinha o costume de fazer, Protopopov telefonava para o palácio todos os dias às dez da manhã para falar quer com a imperatriz quer com Anna Vyrubova. Dizia que, por vezes, o espirito de Rasputine lhe aparecia à noite, que sentia a sua presença e ouvia a sua voz que lhe dava conselhos. Corria uma história por Petrogrado que dizia que Protopopov tinha caído de joelhos a mio de uma reunião com a imperatriz, dizendo-lhe: “Oh, Majestade, vejo Cristo atrás de si!”

Alexandra e Alexei
Apesar de imperatriz estar decidida, não gostava do seu trabalho. Todas as quintas-feiras, uma orquestra romena dava um concerto na sala de convívio do palácio. A cadeira da imperatriz era sempre colocada perto da lareira acesa e ela ficava sentada, absorvida pela música, a olhar para as chamas. Numa dessas noites, apenas duas semanas antes da Revolução, uma das suas amigas, Lili Dehn, sentou-se numa cadeira atrás dela. “A imperatriz parecia anormalmente triste”, escreveu, “sussurrei-lhe ao ouvido, preocupada: ‘Madame, porque está tão triste hoje?’ A imperatriz virou-se e olhou para mim (…) ‘Porque estou triste, Lili? (…) não sei porquê, mas (…) acho que tenho o coração partido.’”

Alexandra com Lili Dehn
Um visitante britânico que esteve com a imperatriz durante estas semanas ficou impressionado com o seu ar triste e resignado. Era o general Sir Henry Wilson, que visitou a Rússia durante uma missão dos Aliados, e tinha conhecido Alexandra quando ela ainda era uma criança em Darmstadt. Agora, “ao ser levado por uma longa passagem até ao boudoir da imperatriz – uma sala cheia de fotografias e bric-a-brac (…)” ele recordou-a “dos nossos jogos de ténis, nos bons velhos tempos em Darmstadt há trinta e seis anos (…) Ficou tão encantada com as recordações e relembrou-me nomes dos quais me tinha esquecido. Depois disso foi fácil. Disse que a sua família estava numa situação mais complicada do que a maioria porque tinham familiares e amigos na Inglaterra, Rússia e Alemanha. Falou-me das suas experiências e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Tinha um rosto bonito, mas muito, muito triste. É alta e graciosa, divide o cabelo a meio de forma simples e tem uma boa postura. O cabelo tem manchas cinzentas. Quando disse que a ia deixar em paz, já que ela devia estar cansada de ver estranhos e de fazer conversa, ela quase se riu e disse para ficar mais um pouco.”

Alexandra
Wilson ficou comovido com esta conversa. “Quanta tragédia há naquela vida”, escreveu ele. Apesar de tudo, quando deixou a Rússia uma semana depois, acrescentou: “Parece-me certo que o imperador e a imperatriz estão prestes a cair num precipício. Toda a gente – oficiais, mercadores, damas – fala abertamente da absoluta necessidade de se livrarem deles.”

Alexandra
Texto retirado do livro "Nicholas and Alexandra" de Robert K. Massie

3 comentários:

  1. Oi,Feliz Natal!!!!
    Muito Obrigada por todos os artigos sobre os romanov.

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  2. Eu é que agradeço pelo interesse! Feliz Natal!

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  3. Interessante ver que Alexandra possuia um quadro de Maria Antonieta e, tal como esta, teve um final muito semelhante (e tal como a rainha francesa, também não foi amada pelo povo).
    Susana Carvalho

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