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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Biografia - Olga Nikolaevna (2ª parte)

Tatiana e Olga
Quando Gilliard conheceu as suas alunas melhor, reparou que Olga possuía um cérebro extraordinariamente rápido, tinha um bom raciocínio e também era muito independente nos seus pensamentos. “Causou-me alguns problemas no início, mas os nossos olhares de fúria foram rapidamente substituídos por uma relação franca e cordial. Ela compreendia tudo extremamente depressa e conseguia sempre dar um reviravolta original aquilo que aprendia.”


Apesar de Olga ser, sem dúvida, a mais inteligente das irmãs, acabou por desiludir o seu professor no final. “A Olga Nikolaevna não cumpriu as esperanças que eu tinha depositado nela. A sua inteligência falhou ao tentar encontrar os elementos necessários ao seu desenvolvimento. Em vez de progredir, ela começou a recuar. As irmãs dela nunca tinham tido muito gosto em aprender, uma vez que os seus talentos se prendiam mais com coisas práticas."

De toda a família (incluindo o czar), Olga era talvez a que estava melhor informada sobre a situação política da Rússia devido às amizades que mantinha com pessoas fora do palácio e ao seu hábito diário de ler o jornal no escritório do pai. A sua mente inteligente juntava rapidamente as peças e, por causa disso, tornou-se na companheira preferida do pai nos seus últimos anos. Nicolau e a sua filha mais velha costumavam dar longas caminhadas pelo parque do palácio ou ficar sentados no escritório a discutir os problemas mais complicados da Rússia. Ao contrário do  czar, Olga tinha uma grande força de vontade e não era fácil fazê-la mudar de opinião depois de ter o seu próprio ponto de vista em determinados assuntos.

Olga com o seu pai e dois oficiais por volta de 1916
Olga era também a mais sensível das irmãs. Desde a infância que sofria com as pessoas que sentiam raiva ou dor. Enquanto estava na Polónia, viu como as pessoas se ajoelhavam na estrada sempre que a carruagem das crianças passava. A pequena grã-duquesa costumava olhar para eles com os olhos cheios de lágrimas e implorava à ama para lhes dizer para não o fazerem. Durante a Guerra Russo-Japonesa de 1904, quando Olga tinha nove anos, disse uma vez à ama que gostava que todos os japoneses fossem mortos pelos russos sem que sobrasse ninguém. A ama explicou-lhe que eles tinham mulheres e filhos como os russos e respondeu às inúmeras perguntas da grã-duquesa sobre o país desconhecido. No final, Olga disse: “Não sabia que os japoneses eram pessoas como nós, pensava que eram só macacos.” A partir desse dia nunca mais voltou a dizer uma palavra contra eles e evitava estar perto de pessoas que falassem do assunto.

Quando cresceu, Olga passou a sacrificar a sua pequena mesada para ajudar aqueles que precisassem de uma forma anónima para não chamar as atenções. Quando completou vinte anos e começou a utilizar o seu próprio dinheiro, a primeira coisa que fez foi pedir autorização à mãe para pagar o tratamento de uma criança que tinha conhecido nas ruas de São Petersburgo.

Quando Olga completou dezasseis anos era já considerada uma adulta e foi organizado um grande baile em sua honra no Palácio de Livadia. Como presente de aniversário recebeu dos pais um anel de diamante e um colar de diamantes e pérolas. O seu primeiro vestido de baile era cor-de-rosa e translúcido e a grã-duquesa passou o dia entusiasmada com as festividades. O seu cabelo loiro foi levantado pela primeira vez e ela aguentou-se como figura central com grande modéstia e dignidade, para o orgulho dos pais.

A festa no dia do seu aniversário foi apenas a primeira de uma série de festejos nos quais Olga e a sua irmã mais nova Tatiana participaram. Além do baile dado em Livadia, houve outros celebrados em Czarskoe Selo. Dois deles foram organizados pelos grão-duques Pedro e Jorge e elas divertiram-se tanto que imploraram por um novo baile antes do Natal.

Olga a dançar com o pai na festa do seu 16º aniversário
Como filha mais velha do homem mais rico do mundo, Olga era uma das noivas mais desejadas da Europa. Os casamentos estrangeiros eram, no entanto, complicados devido ao problema da religião. Além disso os pais de Olga não aceitavam um casamento sem amor para a sua filha. Alexandra escreveu: “Penso com angústia no futuro delas – tão desconhecido! Bem, tudo deve ser posto nas mãos de Deus com confiança e fé. A vida é uma adivinha, o futuro está escondido atrás de uma cortina e quando eu olho para a nossa Olga crescida, o meu coração enchesse de emoção e de perguntas sobre o que está reservado para ela – com quem se irá casar?”


Houve uma vaga esperança de que Olga se pudesse vir a casar com o príncipe Eduardo de Gales (chamado de David entre a família e futuro rei Eduardo VIII). Quando ela tinha quinze anos, um grupo de guardas que seguia a bordo do iate imperial brincou com ela dando-lhe um retrato do príncipe que tinham cortado de um jornal como presente para o seu Dia do Nome. “A Olga riu-se muito,” escreveu uma Tatiana ofendida à sua tia Olga Alexandrovna, “e nenhum dos guardas deseja confessar quem o fez.” Também houve rumores de que Olga tinha ficado noiva do grão-duque Dmitri Pavlovich, mas acabaram rapidamente quando ele se envolveu no assassinato de Rasputine. 

Olga (dir.) com as suas irmãs e o grão-duque Dmitri Pavlovich (2º da esq.) Fonte.
Nos inicio de 1914, Olga recebeu a sua primeira proposta de casamento formal. O seu protagonista foi o príncipe Cristóvão da Grécia, filho da grã-duquesa Olga Contantinovna, que estava de visita a familiares e ficou encantado com o charme e beleza da jovem de dezanove anos. O príncipe (de vinte-e-cinco anos) era conhecido pela sua natureza impulsiva e decidiu pedir a mão de Olga ao seu pai. Nicolau riu-se e respondeu que a sua filha era demasiado nova para pensar em casamento.

Na verdade, o czar tinha já planos definidos para a sua filha mais velha. A sua vontade era vê-la casada com o príncipe Carlos da Roménia (futuro rei Carlos II). Nicolau e Alexandra já tinham convidado os pais dele para visitar Czarskoe Selo e, apesar de nem Carlos nem Olga mostrarem grande interesse um pelo outro, o czar não perdeu a esperança. Em 1914 a Família Imperial fez uma visita à Roménia a bordo do Iate Imperial. Durante esta visita, Olga fez os possíveis para se manter longe do príncipe e pouco falou com ele. A mãe de Carlos, a rainha Maria da Roménia, também não ficou impressionada com Olga, achando-a demasiado brusca e a sua cara demasiado redonda e “não muito bonita”. A razão principal pela qual Olga rejeitou um possível casamento com Carlos, como mais tarde contou a Gilliard, foi pelo facto de desejar ficar na Rússia e não ter intenções de mudar de religião.


Olga com a irmã Maria, a mãe Alexandra e a rainha da Roménia
Outra das razões que podem ter levado Olga a recusar um casamento tão cedo pode ter sido um guarda chamado Pavel Voronov pelo qual ela se tinha apaixonado durante o cruzeiro de Verão de 1913. Ela sabia que era um romance sem futuro, mas mesmo assim ficou magoada quando ele se casou alguns meses depois de ambos se terem conhecido. No dia do seu casamento, ela escreveu no diário: “Que Deus te conceda muita felicidade, meu adorado. É triste, incomodativo.

Assim que chegou à idade adulta, as propostas de casamento aumentaram. A grã-duquesa Maria Pavlovna, tia do czar, quis que Olga se casasse com o seu filho Boris, 18 anos mais velho do que ela. Fez uma proposta oficial quando a família estava de férias em Peterhof, mas Alexandra sabia bem a reputação dele, conhecido por se movimentar em círculos duvidosos de Paris e, com o apoio de Nicolau, recusou a proposta. Maria Pavlovna nunca os perdoou por rejeitar a proposta do filho e considerava as aventuras do filho simples impulsos naturais de um homem solteiro.


Quando a Primeira Guerra Mundial rebentou em Agosto de 1914, a vida de Olga e da família mudou completamente. A czarina Alexandra sempre se viu como a mãe da nação, por isso sentiu necessidade de abrir e financiar vários hospitais para soldados por toda a cidade. Além disso, juntamente com as duas filhas mais velhas, tirou o curso da Cruz Vermelha e as três tornaram-se enfermeiras. Quando chegavam os feridos do campo de batalha, não lhes era poupado quase nada. Para a sensível Olga era difícil assistir à dor e desperdício da guerra. Nos primeiros tempos assistiu a operações, tratou dos feridos e tentou ajudá-los a esquecer a dor depois dos tratamentos. No entanto, ela era demasiado frágil e não estava preparada para a vida caótica de um hospital. Numa carta ao seu pai, a irmã mais nova de Olga, Maria, contou que ela tinha partido três vidros de uma janela com um guarda-chuva durante um ataque de fúria. No dia 19 de Outubro de 1915 foi-lhe entregue trabalho de escritório no hospital, uma vez que estava demasiado cansada e nervosa para continuar o trabalho prático. Durante este período foram-lhe dadas injecções de arsénio, o tratamento da época para depressões ou esgotamentos. A partir daí passou apenas a supervisionar o trabalho, uma vez que, segundo relatos de colegas enfermeiras, “ela trabalhou até não ter forças e acabou por ficar nervosa e anémica.

Olga no seu uniforme de enfermeira
Apesar do trabalho no hospital ser esgotante, também foi nessa altura que Olga viveu um dos períodos mais felizes da sua vida. De acordo com Valentina Chebotareva (uma enfermeira no mesmo hospital), a grã-duquesa apaixonou-se por um dos soldados feridos, chamado Dmitri Chakh-Bagov. A enfermeira acrescentou também que o amor que Olga sentia por ele era “puro, ingénuo e sem espernaças” e fez os possíveis para esconder os seus sentimentos de outras pessoas. Olga falava frequentemente com ele ao telefone, ficou deprimida quando ele saiu do hospital e saltava de entusiasmo quando recebia uma carta dele. O soldado adorava-a e dizia muitas vezes que era capaz de matar Rasputine por ela quando ela quisesse. Para além de Dmitri havia um outro soldado (Volodia Volkomski) que se tinha apaixonado por ela.

Olga em 1916
Em finais de Fevereiro de 1917, Olga e o seu irmão mais novo, Alexei, foram os primeiros a sofrer de um ataque de sarampo que contraíram de um dos amigos do czarevitch. Olga tinha febre alta (à volta dos 39.9º) e rapidamente teve complicações no seu estado de saúde. Devido à sua doença, Olga perdeu o contacto com o mundo exterior e apenas podia adivinhar o que acontecia. No dia 13 de Março de 1917, onze dias depois do pai ter abdicado do trono da Rússia, um grupo de rebeldes de São Petersburgo decidiu avançar até Czarskoe Selo e ela ouviu os tiros, perguntando à dama-de-companhia da mãe o que se passava. Ela respondeu que não sabia e disse que devia ser só o gelo a estalar. Olga não ficou convencida e disse: “Mas tens a certeza, Lili? Até a mamã parece nervosa, estamos tão preocupados com o coração dela. De certeza que se está a cansar demais. Diz-lhe para descansar.”

Quando Olga começou a recuperar era tarde demais e a revolução que ela há muito temia que acontecesse estava já numa fase avançada. A família foi condenada a prisão domiciliária no Palácio de Alexandre e, ao contrário das irmãs que se divertiam a trabalhar no jardim, Olga sabia que a situação era delicada. Tentou ser paciente e apoiou-se na religião e na família para ultrapassar os tempos difíceis. Durante este período, a grã-duquesa perdeu a sua beleza e tinha sempre uma expressão preocupada no rosto. Em apenas alguns meses ela envelheceu e perdeu tanto peso que, perto do final, parecia uma mulher de meia-idade.

Olga, por volta de 1915
Depois de a família ser levada para Tobolsk, Alexandra escreveu a uma das suas amigas: “Elas cresceram todas. A Maria está muito mais magra, a quarta está gorda e baixa. A Tatiana ajuda toda a gente em todo o lado, como de costume. A Olga é preguiçosa, mas todas elas são apenas uma em espírito.” Diz-se que pouco antes de abandonar o Palácio de Alexandre, Nicolau deu um pequeno revolver a Olga que ela escondia na bota. Antes de ser transferida para Ecaterimburgo, o Coronel Kobylynsky que se tinha tornado amigo da família, implorou a Olga para que deixasse a arma uma vez que iria, de certeza, ser inspeccionada na nova prisão. Ela seguiu o conselho, mas ficou ainda mais assustada por estar desarmada.

A viagem até Ecaterimburgo foi tudo menos pacífica. Durante a primeira noite, os soldados bêbados entraram na cabina das grã-duquesas e provocaram-nas, inspeccionando as suas coisas e gritando palavrões. No dia seguinte, Olga viu um soldado a magoar o pé e tentou ajudá-lo, explicando-lhe que tinha sido enfermeira durante a guerra. Ele recusou, mas mesmo assim ela seguiu-o de perto para se certificar de que ele estava bem.

Alexei e Olga a bordo do Rus, o navio que os levou para Ecaterimburgo. É a última fotografia conhecida dos dois.
Da vida de Olga em Ecaterimburgo existem apenas os relatos dos guardas. Um deles escreveu nas suas memórias:

“A mais velha, Olga Nikolaevna, estava, como o irmão, pálida e tinha um aspecto doente, mas isso não a impedia de ser energética junto da família. Os olhos dela, na maioria das vezes, pareciam tristes e cansados. Durante os passeios ela afastava-se das irmãs e fixava tristemente a distância. Tocava piano com mais frequência do que elas e, quando o fazia, escolhia sempre uma peça triste e melancólica.”

Outro disse: “A filha mais velha ficava a maioria do tempo afastada das irmãs mais novas e comportava-se como a arrogante da mãe. Perto do fim era só pele e osso.”


Olga (dir.) com as irmãs no quarto que partilhavam em Tobolsk
Durante a sua estadia na Casa Ipatiev, Olga afastou-se completamente de toda a gente, sabendo bem qual era o verdadeiro objectivo dos bolcheviques. Lia muito, principalmente a Bíblia e um livro que a sua tia Irene lhe tinha oferecido quando era mais nova. Dentro de um outro livro sobre Napoleão, Pierre Gilliard encontrou duas orações escritas por Olga. Uma delas dizia:

"Dai-nos, Senhor, a paciência, neste ano de dias de tempestade e cheios de trevas, para conseguirmos sofrer a opressão popular e as torturas dos nossos carrascos. Dai-nos a força, ó Senhor da justiça, para perdoarmos o mal dos nossos irmãos e para carregar a Cruz tão pesada e sangrenta, com a tua humildade. Nos dias em que os inimigos nos roubam, que consigamos suportar a vergonha e a humilhação, Cristo, nosso salvador, ajuda-nos. Mestre do mundo, Deus e do Universo, abençoa-nos com rezas e dá às nossas almas o humilde descanso nesta hora terrível  e insuportável. No limiar da nossa sepultura, respira para os lábios dos teus humildes escravos força maior do que a força humana - para rezar pelos nossos inimigos."

Olga em 1913
Olga foi forçada a assistir à morte da sua adorada irmã Tatiana (que se encontrava ao seu lado) antes de ela própria ser morta juntamente com o resto da família, na noite de 17 de Julho de 1918.

Já depois da sua morte, Gleb Botkin, filho do médico da família que morreu com eles, escreveu sobre Olga nas suas memórias:

“Era uma leitora ávida e uma poetiza de talento considerável. Apesar da diferença de idades, a grã-duquesa Olga era particularmente próxima do meu pai, com quem se sentia livre para discutir qualquer coisa que lhe interessasse. Ela dizia sempre que o meu pai era ‘um poço cheio de ideias profundas’ e até começava as cartas que lhe eram dirigidas por ‘Querido Poço’. A Olga e eu estávamos a trabalhar seriamente na nossa poesia e ela ficou muito interessada nos meus versos. O seu interesse, naturalmente, fez com que eu me aplicasse mais e, partir daí, passei a enviar-lhe todos os poemas que escrevia e ela analisava-os com muito cuidado, dando-me muitos conselhos valiosos e trocava opiniões sobre rimas, ritmos e outros problemas que ocupam as mentes dos poetas. Foi assim que comecei a apreciar o verdadeiro carácter da Olga. Era uma pensadora por natureza e, mais tarde, pareceu-me ser a única que compreendia a situação complicada da revolução, talvez até melhor do que os próprios pais. Pelo menos deu-me a impressão de que tinha poucas ilusões para o futuro que lhe estava reservado e, por isso, estava muitas vezes triste e preocupada. Mas havia uma doçura nela que impedia qualquer outro de ficar afectado pelos seus pensamentos, mesmo quando se sentia deprimida.”


Olga morreu aos 22 anos de idade

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