Anastasia Manahan, mais conhecida como Anna Anderson, nascida no dia 22 de Dezembro de 1896, foi a mais famosa entre as várias pretendentes que, durante o século XX afirmaram ser a Grã-Duquesa Anastasia.
A maioria dos historiadores concorda que Anderson era realmente Franziska Shankowska, uma operária polaca. Logo durante os anos 20 esta versão tinha sido defendida por um detective privado e foi, durante os anos 90 confirmada por análises de ADN que a ligaram à família Schanzkowski e não à Romanov.
Franziska Schanzkowska
As declarações de Anna Anderson causaram controvérsia desde o inicio, em parte devido ao período conturbado que se seguiu à Revolução Russa e também devido às histórias contraditórias sobre o destino da família imperial que saiam da Rússia. Toda a família, incluindo Anastasia de 17 anos, tinha sido assassinada e as suas mortes verificadas e confirmadas por várias testemunhas. Yakov Yurovsky, a Checa e os comissários que chefiaram a execução garantiram que toda a família, incluindo Anastasia, estava morta. Nos anos que se seguiram à morte da família, apareceram também relatos que indicavam que um ou mais membros poderiam ter sobrevivido. Um desses relatos veio de Franz Syboda que vivia em frente da Casa Ipatiev e afirmou ter visto Anastasia ferida depois do assassinato da restante família. Contudo não existem provas que suportem estas afirmações a não ser o seu testemunho no tribunal. Thomas Hildebrand Preston, o Cônsul-Geral britânico em Ekaterinburgo em 1918, afirmou que o relato de Syboda era completamente falso.
Anastasia em 1917
A primeira declaração por parte de Anna Anderson afirmando ser a Grã-Duquesa Anastasia aconteceu depois da sua tentativa de suicídio falhada em Berlim em 1920, no entanto esta apenas se tornaria famosa em 1922. Mais tarde, ela explicou que tinha ido de comboio e caminhado por toda a cidade de Berlim para procurar a sua “tia”, a Princesa Irene, irmã da Czarina Alexandra. Assim que chegou ao palácio, ela disse ter medo que ninguém a reconhecesse ou, pior, descobrisse que tinha tido um filho fora do casamento. Com vergonha, ela tentou suicidar-se saltando de uma ponte para as águas gélidas do Canal de Landwehr.
Anna Anderson em 1920
Anderson foi resgatada por um guarda que estava de passagem e foi imediatamente internada num asilo em Dalldorf. De acordo com os seus médicos, a jovem mulher tinha meia-dúzia de feridas de bala e cortes, incluindo uma grande cicatriz atrás da orelha. Os médicos acreditavam que fora este ferimento que originara a sua falta de memória inicial. Os médicos também afirmaram que aquela mulher se tratava provavelmente de uma “refugiada Russa” devido ao seu sotaque de leste europeu. Também notada foi uma cicatriz em forma de triângulo no seu pé. Devido ao facto de ela raramente falar e se recusar a dar qualquer informação sobre si, as enfermeiras deram-lhe a alcunha de Fräulein Unbekannt (Senhora Desconhecida). Contudo ela confessou à enfermeira Thea Malinovsky em 1921 que era a Grã-Duquesa Anastasia. Anderson permaneceu no asilo durante dois anos até que Clara Peuthert, uma das outras pacientes, a reconheceu como sendo a Grã-Duquesa Tatiana, baseando-se em fotografias das Grã-Duquesas que vira numa revista.
Grã-Duquesa Tatiana em 1917
A Baronesa Sophie Buxhoeveden, uma antiga dama-de-companhia da Czarina Alexandra, foi a primeira a visitor o asilo para determiner se as declarações de Anderson tinham fundamento. Quando chegou, a baronesa tirou Anna Anderson da cama e disse que ela era “demasiado baixa para ser a Tatiana”. Abandonou o local acreditando que tudo não passava de uma farsa e nunca mudou de opinião. Mais tarde Anderson afirmou que nunca disse ser Tatiana, mas sim Anastasia.
Anna Anderson durante a sua estadia num asilo de Berlim
Depois deste episódio, seguiu-se uma série de eventos que mudariam a vida de Anderson para sempre. A Senhora Desconhecida passou a apelidar-se a si mesma Anastasia Tschaikovsky (ela confessou ás pessoas mais próximas que o seu último nome se devia ao soldado russo que a tinha salvo, casado com ela e, eventualmente, lhe tinha dado um filho e que se chamava Alexandre Tschaikovsky) e dizia ter sobrevivido ao massacre na cave da Casa Ipatiev que tinha morto a restante família. Ela contou que, quando o assassínio começou, desmaiou e, depois de cair ao chão, foi protegida das balas pelo corpo da sua irmã Tatiana. O desconhecido Tschaikovsky e o seu irmão, supostamente um dos membros do esquadrão que matou a família, repararam que ela ainda estava viva por entre os cadáveres depois da execução e conseguiram retirá-la do edifício e passar pelos guardas armados. Depois do salvamento, ela foi supostamente levada para Bucareste por Alexandre, pelo seu irmão Serge, pela sua irmã Verónica e pela sua mãe. Ela disse ter tido um filho com Alexandre e ambos se casaram em Bucareste. Foi aí, de acordo com as suas declarações, que o seu marido foi morto durante um motim de rua. De acordo com Greg King e Penny Wilson, autores do livro “Fate Of The Romanovs”, é agora possível nomear com exactidão os 10 homens que dispararam contra a família em Julho de 1918 na Casa Ipatiev. Nenhum deles se chamava Tschaikovsky, como garantia Anna Anderson e não existe qualquer prova que apoie as suas afirmações. Outros mantinham-se cépticos em relação às suas declarações devido ao facto desta nunca ter tentado contactar a prima directa da sua mãe, a rainha Maria da Roménia, durante a sua suposta estadia em Bucareste.
Sobre Anna Anderson, a tia de Anastasia, Grã-Duquesa Olga Alexandrovna, disse:
“Em 1918 ou 1919, a Rainha Maria teria reconhecido a Anastasia imediatamente… a Maria nunca se teria chocado com nada, e uma sobrinha minha saberia disso… A minha sobrinha saberia que a sua condição teria, de facto, chocado a Princesa Irene.”
Depois de ter recebido alta do asilo em Berlim, Anderson recebeu abrigo por parte do barão Von Kleist, um imigrante russo que acreditava nela, contudo Anderson sentiu que estava a ser utilizada por ele como um artigo em exposição e por isso fugiu e foi levada pelo inspector Grünberg.
Enquanto Anderson estava com o Inspector Grünberg, a irmã da Imperatriz Alexandra, a Princesa Irene de Hesse e Rhine, foi visitar a sua suposta sobrinha sem revelar quem era. Irene não a reconheceu como fazendo parte da sua família. Mais tarde o seu filho, o Príncipe Sigismund, enviou uma lista de perguntas que dizia apenas a verdadeira Anastasia saber responder. Diz-se que Anderson respondeu a todas correctamente. Contudo Irene não ficou impressionada.
“Vi imediatamente que ela não podia ser uma das minhas sobrinhas. Mesmo sem as ver durante 9 anos, as características faciais fundamentais não se poderiam ter alterado tanto, particularmente a posição dos olhos, as orelhas, etc… Num primeiro olhar, qualquer um poderia talvez detectar uma vaga semelhança com a Tatiana.”
Durante o jantar, a pretendente, segundo testemunhas, tinha simplesmente abandonado a mesa e ido para o seu quarto. Mais tarde Anderson afirmou que o facto de o ter feito não se deveu a pressão, mas sim por se sentir enganada: ninguém lhe tinha dito que a sua suposta tia estaria entre os convidados. A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna comentou sobre a visita da Princesa Irene:
“Foi uma reunião pouco satisfatória, mas os apoiantes da mulher disseram que a Princesa Irene não conhecia muito bem as sobrinhas e tudo isso.”
Em 1925, Anderson ganhou uma infecção no braço e foi novamente internada no hospital. Doente e perto da morte, ela perdeu muito peso. Foi durante este período que a Grã-Duquesa Olga Alexandrovna, irmã mais nova do Czar Nicolau II que tinha sobrevivido à revolução e vivia na Dinamarca viajou até Berlim para ver a mulher que dizia ser sua sobrinha. Ela passou vários dias com a paciente e ambas trocaram correspondência durante algum tempo. A escritora e ilustradora Harriet von Rathlef (autora de uma série de artigos intitulados “Anastasia, A Woman’s Fate as a Mirror of the World Catastrophe” publicados num jornal de Berlim em 1928), sugeriu que a Grã-Duquesa Olga Alexandrovna teve duvidas em relação ao facto de Anna Anderson ser uma fraude, assim como Pierre Gilliard e a sua esposa Alexandra Tegleva que tinha sido uma das amas de Anastasia. Contudo, de acordo com o Doutor Sergei Rudnev que estava a tratar de Anderson na altura, disse que Gilliard nunca tratou a jovem mulher por “Vossa Imperial Alteza” como Rathlef tinha defendido e acrescentou que era impossível a mulher que estava no hospital ser uma Grã-Duquesa. O facto de ela não saber falar nem escrever Russo, Inglês e Francês foi prova suficiente para Gilliard de que Anderson era uma impostora. O antigo tutor comentou sobre ela:
“A paciente tinha um nariz longo, muito levantado na ponta, uma boca enorme e lábios grossos; a Grã-Duquesa, pelo contrário, tinha um nariz pequeno e afiado, uma boca muito mais pequena e lábios finos. Retirando a cor dos olhos, não conseguimos encontrar nada que nos fizesse acreditar que esta era a Grã-Duquesa.”
Tanto a Grã-Duquesa Olga como Gilliard declararam mais tarde que sempre souberam que ela era uma fraude. Gilliard chegou mesmo a acusar Anderson de ser “uma psicopata golpista”. A irmã do Czar salientou também o facto de Anna Anderson parecer odiar Gilliard quando a sua sobrinha Anastasia tinha sido totalmente devota ao seu tutor. No entanto a Grã-Duquesa Olga sentia pena de Anderson e enviava-lhe pequenos presentes como pequenos álbuns de fotografias e xailes de lã. Sobre as suas acções, a Grã-Duquesa confessou numa carta:
“Fiz isto por pena. Não fazes ideia o quanto ela parecia desolada.”
De acordo com Coryne Hall, autor de “Little Mother of Russia”, Olga teve várias conversas sobre Anderson com a sua mãe, a Imperatriz Maria Feodorovna. O que foi dito, ninguém sabe, mas a Imperatriz deixou bem claro que não estava interessada e estava furiosa com a sua filha por ter ido até Berlim para se encontrar com ela.
“O que achas? exclamou ela, “Que eu ficaria aqui sentada e não correria para o lado da minha neta se soubesse que estava viva?
Na biografia autorizada de Olga, “The Last Grand Duchess” de Ian Vorres, a sua versão da história é contada:
“Quando Olga entrou no quarto, a mulher deitada na cama perguntou à enfermeira: “Ist das die Tant? [É esta a minha tia?]. “Isso”, confessou Olga, “afectou-me um pouco. Um pouco mais tarde lembrei-me que aquela mulher vivia na Alemanha há 5 anos e por isso seria natural que tivesse aprendido a língua, mas depois também me lembrei que quando a tiraram do canal em 1920, ela apenas falava alemão e isso era raro acontecer. As minhas sobrinhas não sabiam uma palavra de Alemão. A Senhora Anderson não parecia compreender uma única palavra de russo ou inglês, as duas línguas que as quatro irmãs tinham falado desde a infância. O francês veio um pouco mais tarde, mas nunca se falou alemão na família.”
Olga continuou,
“A minha adorada Anastasia tinha 15 anos quando a vi pela última vez no Verão de 1916. Ela teria 24 anos em 1925. Achei que a Senhora Anderson parecia muito mais velha do que isso. Claro que as condições de vida e de saúde prolongadas durante muito tempo poderiam ter ajudado. Mas mesmo assim as feições da minha sobrinha não se poderiam ter alterado para além de todo o reconhecimento. O nariz, a boca, os olhos, tudo era diferente.”
A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna salientou que as entrevistas se tornaram mais difíceis devido à atitude de Anderson. Ela recusava-se a responder a algumas perguntas e parecia zangada por estas serem feitas. Algumas fotografias dos Romanov foram-lhe apresentadas e, em algumas, ela não conseguiu reconhecer ninguém. Mais tarde a Grã-Duquesa Olga mostrou-lhe um pequeno ícone de São Nicolau, padroeiro da família imperial, mas Anderson tratou-o com indiferença, mostrando que aquilo não significava nada para ela.
“Aquela criança era como uma filha para mim. Assim que me sentei ao lado da cama do hospital soube que estava a olhar para uma estranha. Tinha deixado a Dinamarca com alguma esperança no coração, mas deixei Berlim com toda essa esperança extinta.”
Olga Alexandrovna ofereceu uma explicação e clarificação de uma das famosas “memórias” de Anderson:
“Os erros que ela cometia não poderiam de todo ser atribuídos a lapsos de memória. Por exemplo, ela tinha uma cicatriz num dedo e insistia perante toda a gente que ela tinha sido esmagado devido a um cocheiro que tinha fechado a porta da carruagem demasiado depressa. E então eu finalmente lembrei-me do incidente. Foi a irmã dela, Maria, que magoou bastante a mão e isso não aconteceu numa carruagem, mas sim no comboio imperial. Obviamente alguém, tendo ouvido algo sobre o acidente, tinha treinado a Senhora Anderson para contar uma versão distorcida.”
Olga Alexandrovna com as suas sobrinhas Tatiana e Olga
O Príncipe Cristóvão da Grécia comentou sobre a visita da sua prima Olga Alexandrovna a Anna Anderson,
“Mesmo quando a Grã-Duquesa Olga, a tia favorita dos filhos do Czar, foi levada para a ver, ela não mostrou qualquer sinal de a reconhecer e não se conseguia lembrar do nome do cão que sempre fora conhecido na família.”
Outro tutor imperial, Charles Sydney Gibbes, conheceu Anderson muito mais tarde em Paris e também a denunciou. Tinha a certeza de que era uma fraude, afirmando que “se aquela é a Grã-Duquesa Anastasia, então eu sou um chinês.” Mais tarde, Gibbes colocou a sua opinião de uma forma mais formal:
“Ela não se parece nem um pouco com a verdadeira Grã-Duquesa Anastasia que eu conheci. Estou bastante satisfeito que seja uma impostora.”
É curioso que Anna Vyruboya, uma amiga próxima e confidente da Czarina Alexandra nunca foi questionada sobre Anderson. Foi mencionado por Tatiana Botkin que, tendo sido ela uma “seguidora de Rasputin”, a sua associação com o monge não seria bem recebida, no entanto a razão mais provável prender-se-ia com o facto de ela se ter tornado uma freira Ortodoxa, logo o seu testemunho seria mais difícil de ser levado a sério pelos defensores de Anna Anderson, mesmo apesar de Vyruboya ser aquela que mais facilmente teria descoberto a fraude.
Outras pessoas que conheciam bem a jovem Anastasia como a ama de infância, Alexandra Tegleva não reconheceram Anna Anderson. Tegleva, acompanhada pelo seu marido, Gilliard, visitou-a em 1925 e confirmou que o defeito no pé era idêntico ao da Grã-Duquesa. “Ela tem, de certa forma, o corpo parecido com o de Anastasia”, declarou ela. Anderson perguntou a Shura para lhe esfregar a testa com perfume, um ritual que ela se lembrava partilhar com Anastasia durante a sua infância quando ela queria que a sua ama “cheirasse como uma flor”. Shura, como muitos outros, nunca apoiou oficialmente Anderson. Contudo, a amiga da Imperatriz, Lili Dehn chegou a identificá-la como Anastasia.
A antiga princesa alemã, Cecília também a visitou em 1925 e comentou:
“Era virtualmente impossível comunicar com esta pessoa. Ela permaneceu completamente calada e isso não se devia nem à sua persistência nem ao facto de estar completamente confusa.”
O Príncipe Cristóvão da Grécia, primo directo de Nicolau II, escreveu sobre ela nas suas memórias:
“Dezenas de pessoas que tinham conhecido a Grã-Duquesa Anastasia foram levadas para ver a rapariga na esperança de que a pudessem identificar, mas nenhum deles conseguiu chegar a qualquer conclusão definitiva. A pobre rapariga era uma figura patética na sua solidão e fraca saúde e era mais do que compreensível que muitos dos que a conheciam deixassem a sua pena sobrepor-se à sua lógica de pensamento. Mas ao mesmo tempo havia muito poucas provas ou substância na sua história. Ela era incapaz de reconhecer pessoas com quem a Grã-Duquesa Anastasia se tinha relacionado intimamente.”
Gleb Botkin e a sua irmã Tatiana Botikina, sobrinho e sobrinha de Serge Botkin, que era na altura chefe da sociedade de emigração russa em Berlim e filho e filha do médico particular da família, o Doutor Eugene Botkin e que foi morto juntamente com os Romanov na Casa Ipatiev em 1918, foram dois dos maiores apoiantes de Anna Anderson. Gleb e Tatiana Botkin passaram grande parte da sua infância e adolescência perto da família imperial. O tio de Gleb e Tatiana, como presidente dos exilados russos na Alemanha veio em defesa de Anderson. Tem havido muita especulação sobre o facto de terem sido os Botkins que fabricaram toda a história de Anna Anderson, ajudando-a com as memórias em troca de fama e lucro. Ambos os irmãos escreveram livros sobre Anderson. Outros, incluindo Peter Kurth, autor de “Anastasia: The Riddle Of Anna Anderson” acreditam que os Botkins eram sinceros nas suas crenças em relação a Anderson. Frances Welch, autor do livro “A Romanov Fantasy: Life at the Court of Anna Anderson” descreve os Botkins como genuinos, no entanto enganados pela sua esperança/crença de Anna Anderson era a sua perdida companheira Anastasia.
Gleb Botkin nos anos 60
O Doutor Von Berenberg-Gossler, advogado de acusação no julgamento de Anderson nos anos 50, acredita que, apesar de o desejo dos emigrantes russos de encontrar a sua Grã-Duquesa viva ter tido uma grande importância para o caso, a principal motivação por detrás da luta de Anderson era o dinheiro: a suposta fortuna perdida do czar estava avaliada em 80 milhões de dólares.
“Penso que foi no inicio dos anos 30 que uma empresa (Grandanor) apareceu”, diz ele, “e vendia certificados em proporção aos rublos de ouro do Czar, alegadamente guardados no Banco de Inglaterra e tinha a intenção de os tornar válidos no caso de Anderson “herdar” os seus fundos. Estes papéis não valiam nada. Serviram apenas para fazer a empresa enriquecer.”
Gleb Botkin conheceu Anna Anderson em Maio de 1927 e declarou imediatamente que ela era Anastasia. Mais tarde decidiu levá-la com ele para Nova Iorque onde escreveu artigos sobre Anderson que vendeu a vários jornais. Num esforço para atrair atenção para Anderson, Botkin atacou as irmãs de Nicolau II em particular e a família Romanov em geral.
Apesar de não ter havido nenhuma declaração por parte da família em relação às declarações de Anderson, a saga continuou. Os Romanov acreditavam que Gleb Botkin e os seus cúmplices procuravam dinheiro que não possuíam. A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna comentou:
“A minha opinião é que tudo isto começou com algumas pessoas sem escrúpulos que pensaram conseguir ganhar pelo menos uma parte na fabulosa fortuna Romanov que, na verdade, não existe.”
A opinião de Olga era apoiada pelo facto de a Imperatriz Maria Feodorovna depender de uma pequena pensão que recebia do seu sobrinho, o rei Jorge V e da sua irmã Xenia viver numa casa que conseguira graças à bondade do rei de Inglaterra. Eles acreditavam que os Botkins queriam usar o dinheiro para os seus próprios projectos e apenas usavam Anna Anderson como um fantoche. A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna comentou:
“Os rumores mais maliciosos sobre aquela “fortuna” começaram a aparecer pouco depois da Senhora Anderson aparecer em Berlim em 1920. Ouvi dizer que tudo tomou figuras astronómicas. Era tudo fantástico e terrivelmente vulgar. A minha mãe teria aceitado uma pensão do rei Jorge V se tivéssemos dinheiro em Inglaterra? Nada disto faz sentido para mim.”
O Grão-Duque André Vladmirovich, primo de Nicolau II que teve algum contacto com Anastasia antes da revolução, encontrou-se com Anderson em 1928 antes de ela partir para Nova Iorque com Botkin. Ele escreveu à sua prima Olga:
“Para mim não existem dúvidas; ela é a Anastasia.”
Anna Anderson em 1927
Pouco depois de Gleb Botkin escrever a sua famosa carta, o Grão-Duque André escreveu a Tatiana Botkin:
“Ele tem a noção do que fez? Ele arruinou tudo!”
Tatiana Botkin escreveu,
“O Grão-Duque André também salientou que o caso se está a começar a transformar numa intriga pela fortuna do Czar (…) Isto irrita profundamente o Grão-Duque e ele não deseja ver o seu nome envolvido.”
O Principe Felix Yussopov, marido da Princesa Irina da Rússia, filha da Grã-Duquesa Xenia, escreveu ao Grão-Duque André sobre Anna Anderson,
“Digo categoricamente que ela não é a Anastasia Nikolaevna, mas apenas uma actriz aventurosa, doente, histérica e assustada. Simplesmente não consigo compreender como pode alguém duvidar disto. Se tu a tivesses visto estou convencido de que ficarias horrorizado com o pensamento de que aquela criatura assustadora poderia ser filha do nosso Czar. Estas fingidoras têm de ser reunidas e enviadas para um lugar bem longe.”
A antiga empregada do Czar, casada com o Grão-Duque André depois da revolução, Mathilde Kschessinska conheceu Anna Anderson no final da sua vida por curiosidade.
Algumas pessoas (neste caso o Capitão Felix Dassel) questionava-a com afirmações enganosas como “A sala do bilhar ficava no segundo andar” e Anderson respondia, “Não te lembras de nada. O bilhar estava no primeiro andar.” O Príncipe Cristóvão da Grécia comentou sobre o suposto conhecimento de Anderson em relação às residências imperiais que Anastasia conhecia extremamente bem:
“As descrições dos quartos em diferentes palácios e outros lugares familiares a qualquer um dos membros da família imperial eram frequentemente incorrectos.”
Felix Yussopov, a sua esposa Irina e a filha de ambos
Ernesto Ludwig, irmão da Czarina Alexandra, contratou um detective privado, Martin Knopf, para investigar o passado obscuro de Anna Anderson. Acreditava-se que Anderson era a operária desaparecida chamada Franziska Schankowski, que tinha sido ferida por deixar cair uma granada na fábrica de munições onde trabalhava. Anderson dizia que os seus ferimentos eram o resultado da execução.
Para ver se esta história era verdadeira, o embaixador dinamarquês Zahle, um grande apoiante de Anna Anderson (a Grã-Duquesa Olga Alexandrovna comentou sobre Zahle: “Ele nunca conheceu a minha sobrinha, mas era uma espécie de intelectual e toda a história parecia-lhe o maior puzzle histórico do século e ele estava determinado a resolvê-lo”) e outra grande apoiante, Harriet von Rathlef, arranjaram um encontro entre Anderson e o irmão de Franziska Schankowski, Felix. Quando Felix viu Anderson e lhe perguntaram quem ela era, ele respondeu, “Esta é a minha irmã Franziska”. Apenas quando lhes foi permitido que falassem em separado é que Felix, depois de lhe pedirem que assinasse um documento que provava as suas declarações, sem explicar porquê, mudou de ideias. “Não vou assinar isso. Aquela não é defenitivamente a minha irmã.” Depois apontou várias diferenças entre aquela mulher e a sua irmã. Nesse mesmo ano Anderson encontrou-se com outros membros da família Schankowski. Gertude Schankowski levantou-se da mesa e gritou:
“Tu és a minha irmã! És a minha irmã! Eu sei que és! Deves-me reconhecer!”
Mais tarde o seu irmão Felix disse à sua filha:
“Deixámo-la em paz para a “carreira” dela como Anastasia.”
Em 1938, o advogado de Anderson iniciou um processo nos tribunais alemães para reclamar uma herança aos parentes europeus da Imperatriz Alexandra que tinham declarado toda a família morta. Os advogados de Anderson declararam que a Grã-Duquesa Anastasia ainda estava viva. Os seus apoiantes lutaram a seu lado pelos seus direitos.
Foram chamados especialistas para comparar as feições de Anna Anderson com as de Anastasia. Um especialista, Moritz Furtmayr, declarou que a sua orelha era igual em 17 pontos anatómicos à de Anastasia. A sua escrita foi declarada pela Doutora Minna Becker como sendo idêntica à da Grã-Duquesa. Os argumentos de defesa e acusação foram bem articulados. Os tribunais alemães ouviram um número infinito de especialistas e testemunhas, documentos e fotografias que, de ambos os lados, pareciam provar exactamente o oposto do dia anterior. Os opositores de Anderson incluíam o primo de Anastasia, Lord Mountbatten, sobrinho da Czarina Alexandra e Grão-Duque de Hesse, que lutou até ao exaustação para provar que ela era Franziska Schanzkowska.
Logo em 1928, 24 horas após a morte da Imperatriz Maria Feodorovna, foi assinada uma declaração por 12 membros da família Romanov e 3 da família de Alexandra onde estes deixavam bem claro que não acreditavam nem apoiavam Anna Anderson como sendo a Grã-Duquesa Anastasia. O documento foi apresentado várias vezes durante o julgamento que só seria encerrado em 1970 quando o tribunal decidiu que não podia provar que Anna Anderson era Anastasia nem o contrário.
Nos anos 60, Anderson mudou-se para os Estados Unidos e continuou a viver com amigos até se fartar e se mudar para um hotel. Pouco depois casou-se com um milionário/historiador americano chamado John “Jack” Manahan. Ambos viveram juntos em Charlottesville, Virginia até à morte de Anna Anderson em 1983.
Vários anos após a sua morte, um tecido do seu corpo deixado no hospital de Charlottesville foi utilizado para fazer análises de ADN na mesma altura em que os primeiros corpos da família real apareceram em 1991. Comparando os resultados com o ADN dos Romanov e com o sobrinho-neto de Franziska Schanzkowska chegou-se à conclusão que Anna Anderson não tinha qualquer ligação com a família imperial, mas sim com a família Schanzkowska, encerrando-se assim o mistério que a rodeava.
campa de Anna Anderson em Charlottville, Virginia
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