Hesse Darmstadt, um Grão-Ducado alemão criado em 1806, tornou-se famoso entre os grandes nomes da realeza europeia quando a filha do Grão-Duque Luís II, lá nascida e criada se casou com o Czarevich da Rússia, Alexandre Nikolaevich, futuro Alexandre II.
A sua fama viria a aumentar quando, em Julho de 1862 o Grão-Duque Luís IV se casou com a segunda filha mais velha da rainha Vitória do Reino Unido, a Princesa Alice e ambos passaram a viver uma vida calma, quase de classe média, longe das atenções que outros membros da família de Alice recebiam. No entanto o azar sempre perseguiu esta família e muitos chegam mesmo a dizer que os seus membros eram vitimas de uma suposta maldição. Se estas afirmações são credivéis, é dificil de dizer, mas a verdade é que a maioria dos membros da família e dos seus descendentes teve um final trágico.
Os filhos de Luís IV de Hesse e Alice do Reino Unido em 191 |
A primeira tragédia que abalou a família aconteceu em finais de Maio de 1873 quando os irmãos Frederico de 2 anos e Ernesto de 5 brincavam no quarto da mãe. A certa altura Ernesto correu até outro quarto no lado direito e acenou pela janela para o seu irmão mais novo. Alice foi até ao quarto onde se encontrava o seu filho mais velho para o afastar da janela. Quando o fez, o pequeno Frederico subiu para uma cadeira que estava ao pé de uma janela aberta para ver melhor o seu irmão. A cadeira caiu e Frederico foi projectado, caindo a uma distância de cerca de 60cm até um arbusto. A queda não foi muito violenta, mas a Hemofilia tinha sido diagnosticada há poucos meses e ele acabou por morrer durante a tarde com uma hemorragia cerebral. Ernesto sofreu particularmente com a morte do irmão mais novo e, a partir desse dia, passou a ter um medo quase obsessivo de um dia vir a morrer sozinho.
Frederico morreu aos 2 anos de idade devido a complicações causadas pela Hemofilia |
A tragédia voltou a atingir a família em 1878. No dia 5 de Novembro toda a família estava reunida na sala quando a irmã mais velha, Vitória, começou a sentir a garganta irritada. Vitória contou o que sentia à mãe e ela pensou que a filha estava a sofrer de papeira dizendo que seria “cómico” se todos a apanhassem. Nessa noite ela sentiu-se suficientemente bem para ler “Alice No País Das Maravilhas” aos seus irmãos mais novos enquanto a sua mãe se sentava numa cadeira próxima a conversar com a sua amiga Katie Macbean que estava a substituir uma dama-de-companhia. Maria, a irmã mais nova, foi para o colo da mãe e implorou por mais uma fatia de bolo. As irmãs pediram a Miss Macbean para tocar piano para que pudessem dançar e foram dormir bem-dispostas.
Na manhã seguinte, Vitória foi diagnosticada com Difteria e às três da manhã do dia 12 de Novembro o mesmo aconteceu a Alix de 6 anos. A Princesa Alice ordenou que fosse levado um inalador de calor para o quarto da sua segunda filha mais nova (que estava gravemente doente) para impedir que ela sufocasse até à morte. Algumas horas mais tarde Maria de 4 anos, muito próxima da sua irmã dois anos mais velha, fugiu para o seu quarto, subiu para a cama dela e deu-lhe um beijo. Nessa tarde começou a sofrer os primeiros sintomas da doença com febre alta e manchas brancas na parte de trás da garganta. No dia seguinte foi a vez da sua irmã Irene ficar doente e no dia 14 de Novembro a doença foi diagnosticada ao seu irmão Ernesto e ao seu pai Luís. Alice e os médicos desdobraram-se em esforços para tratar de toda a família.
Na manhã do dia 16 de Novembro, Maria sufocou até à morte devido à membrana que lhe cobria a garganta. Alice sentou-se junto do corpo e beijou-lhe o rosto e as mãos tentando encontrar uma forma de dar a notícia ao seu marido doente. Depois observou o corpo da sua filha mais nova ser levado dentro de um caixão para o mausoléu da família.
Durante várias semanas Alice escondeu a morte de Maria dos seus irmãos que perguntavam frequentemente por ela e tentavam enviar-lhe brinquedos. A notícia foi apenas transmitida no inicio de Dezembro com grande pesar principalmente por parte de Alix e de Ernesto, com 10 anos na altura, que eram os mais próximos da irmã mais nova. Ernesto recusou-se a acreditar e teve um ataque de choro que foi acalmado pela sua mãe que o abraçou e beijou, apesar de saber do risco de infecção. No dia 7 de Dezembro Alice reconheceu os primeiros sintomas da doença e acabaria também por morrer uma semana mais tarde. A Princesa foi enterrada junto da sua filha mais nova e foi construída uma estátua na sua sepultura onde Alice está a segurar a pequena Maria nos braços.
Alice morreu poucas semanas depois da filha com a mesma doença |
Depois da morte da mãe os seus filhos desdobraram-se entre a Inglaterra e a Alemanha, mas o azar iria persegui-los a eles e aos descendentes.
A filha mais velha, Vitória, casou-se em 1884 com um príncipe menor alemão que tinha mudado de nacionalidade e vivia em Inglaterra. Durante o período de ódio alemão que ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial o seu marido, um alto oficial da marinha, foi forçado a abdicar do seu posto e dos seus títulos a pedido do rei e ambos viveram uma vida modesta a partir de então. O casal teve quatro filhos:
Alice – casada com o Príncipe André da Grécia, foi diagnosticada com Esquizofrenia e forçada a separar-se dos filhos até recuperar. Viveu grande parte da vida no exílio depois da queda da monarquia na Grécia. Um dos seus filhos foi o Príncipe Filipe, casado com a Rainha Isabel II.
Luísa – recebeu um pedido de casamento do Rei Manuel II de Portugal, mas recusou-o dizendo que nunca se casaria com um rei ou com um viúvo, no entanto acabou por fazer as duas coisas quando se casou com o Rei Gustavo da Suécia aos 34 anos. Era uma mulher excêntrica e, depois de quase ser atropelada por um autocarro em Londres, passou a andar sempre com um cartão que dizia: “Eu sou a rainha da Suécia”. Apenas teve uma filha que nasceu morta.
Jorge – era um brilhante matemático. Morreu aos 45 anos de Leucemia deixando dois filhos.
Luís – um alto Admiral e melhor amigo do rei Eduardo VIII. Casou-se com Edwina Ashley de quem teve duas filhas e acabou assassinado quando uma bomba colocada no seu barco pelo Exército Republicano Irlandês explodiu. Com ele morreram o seu neto, a sogra da filha mais nova e um ajudante.
Duas das filhas de Vitória viveram vidas excêntricas, um filho morreu de Leucemia e o outro foi assassinado |
A segunda filha, Isabel, casou-se também em 1884 com o rígido Grão-Duque Sergei Alexandrovich, filho do Czar Alexandre II. Viveu um casamento apático, sem filhos e viu o seu marido ser assassinado por revolucionários russos em 1905. Poucos anos depois juntou-se a um convento e acabaria por ser também ela assassinada por bolcheviques no dia 18 de Julho de 1918.
Isabel foi assassinada por bolcheviques em 1918 |
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