Java

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Maria Feodorovna por A. A. Mossolov


A imperatriz viúva, Maria Feodorovna, princesa da Dinamarca, descendia em parte da linha colateral dos príncipes de Schleswig-Holstein. O ambiente de Holstein era bastante patriarcal e profundamente “provinciano”, pelo que a imperatriz tinha aprendido a não dar demasiada atenção a questões de etiqueta e a dar muita importância aos defeitos daqueles que a rodeavam. Maria Feodorovna achava que a sua principal função como imperatriz era a de encantar todos que conhecesse e tinha todas as qualidades para o conseguir, sendo venerada pela corte e pelo povo.

Maria Feodorovna com a irmã Alexandra e o marido Alexandre na Dinamarca

A imperatriz era muito tolerante com os seus criados. Lembro-me de um episódio em que o cocheiro dela estava tão bêbado que acabou por adormecer no seu posto de trabalho, deixando os cavalos a correr desgovernadamente e foi incrivelmente difícil fazê-los parar. Maria Feodorovna apenas se preocupou em garantir que o incidente não chegava aos ouvidos do marido, tratando tudo com muito humor.

Ia muito frequentemente a Copenhaga, tendo o iate Polar Star à sua disposição e os seus criados tinham muito o hábito de comprar bens estrangeiros.
Maria Feodorovna com o marido Alexandre III

Trazer bens do estrangeiro era proibido pelos aduaneiros e pela corte. Em certa ocasião, quando o iate estava a regressar à Rússia, Freedericksz mandou revistar todas as malas. Havia principalmente cigarros, cartas de jogar e sedas, mas nenhum destes bens foi confiscado ou sequer foi exigido aos infractores que pagassem uma multa: Maria Feodorovna, com o seu encantador sorriso, declarou que queria que todas as multas e obrigações fossem pagas a partir da sua conta pessoal. A conta pessoal da imperatriz era gerida por Freedericksz, por isso teve de ser ele mesmo a pagar o valor que tinha exigido aos criados.



A imperatriz não conseguia recusar nada aos membros da sua comitiva e o czar Nicolau II não conseguia recusar nada à sua mãe.

A consequência desta cadeia era a de que grande parte das nomeações na corte era feita através da imperatriz Maria e da sua comitiva. Uma das suas damas-de-companhia, Madame Flotow, era responsável pelo cuidado das jóias e do guarda-roupa da imperatriz, mas tinha também conseguido obter grande influência. Logo que o nome de Madame Flotow aparecesse nos papéis de alguém que estivesse a pedir uma posição na corte, já todos sabiam que o czar o iria nomear, mesmo se estivesse mais inclinado para o rejeitar.

De alguma forma, não sei bem como, Madame Flotow sabia sempre de todas as decisões do soberano, algumas vezes até antes de elas serem escritas oficialmente!



A imperatriz intervinha directamente nos assuntos de estado? No que diz respeito a política estrangeira, creio que, no inicio, terá dado alguns conselhos ao filho que provavelmente o influenciaram, visto que Maria Feodorovna era irmã da rainha Alexandra do Reino Unido. Depois descobri que Nicolau II consultava muito a mãe em assuntos de política estrangeira. De qualquer forma, a imperatriz não tinha qualquer ambição, senão a de ser amada e admirada.

Maria Feodorovna com a irmã Alexandra

Quanto à política interna, posso ser muito mais preciso. Mesmo quando ela estava no trono ao lado do seu marido Alexandre III, a imperatriz nunca teve oportunidade nem desejo de se envolver nas questões mais complexas da política interna russa. Achava que não tinha pelo que o fazer; como senhora da realeza, ocupava-se apenas com as funções mais básicas que chegavam a alguém na sua posição. Coisas como problemas agrários, a Duma ou as finanças do país simplesmente não lhe interessavam.

A imperatriz começou quase imediatamente a fazer as suas visitas a Copenhaga que se foram prolongado cada vez mais e muito antes de o seu filho chegar ao trono, a sua influência sobre assuntos de estado já tinha sido reduzida a nada.


A. A. Mossolov foi chanceler da corte russa entre 1900 e 1916