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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Casar na Família (Parte 1)

A imperatriz Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia) rodeada pelas suas noras Maria Alexandrovna (esq) e Alexandra Iossifovna (dir).
Uma das soberanas que teve mais êxito na dinastia Romanov foi Catarina, a Grande que reinou entre 1762 e 1796. Deixou uma marca tão profunda na história do país que é fácil esquecer que a Rússia não era o seu país-natal. Atravessou a fronteira quando era ainda uma menina de catorze anos. Chamava-se Sofia de Anhalt-Zerbst e era alemã. Nas gerações que se seguiram, quase todas as noivas que se casavam com um Romanov eram estrangeiras: os membros da família tinham o dever de escolher uma companheira de origens reais, o que tornava este facto quase inevitável. Ano após ano chegavam estas princesas, retiradas das suas famílias, língua, cultura, religião e forçadas a aprender tudo novamente ao mesmo tempo que se adaptavam à vida de casadas. Até os nomes tinham de deixar. A transição nunca era fácil; para algumas era mesmo um pesadelo. As barreiras culturais tornaram-se ainda mais evidentes à medida que o século XIX avançava: por exemplo, na família do czar Nicolau I, os pais e filhos mais velhos falavam francês como língua principal enquanto os mais novos falavam russo. Este sentimento crescente de identidade nacional tornava a pressão cada vez mais forte. Contudo, as noivas Romanov provaram ser um grupo de senhoras inteligente que contribuiu de várias formas para o seu país adoptivo e influenciaram também a família Romanov.

Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia)
As duas representantes das gerações mais antigas das quais se conseguem encontrar fotografias: a imperatriz Alexandra Feodorovna, esposa do czar Nicolau I, e mãe do czar Alexandre II, que começou a sua vida com o nome Carlota da Prússia. Conheceu o grão-duque Nicolau Pavlovich, na altura irmão mais novo do czar Alexandre I, na corte do pai em Berlim quando ele tinha dezassete anos e ela quinze. Chegou à Rússia no verão de 1817, quando tinha dezoito anos, mudou de nome no seu baptismo ortodoxo, e casou-se na grande capela do Palácio de Inverno no dia em que completou dezanove anos. Tornou-se imperatriz em 1825 quando o seu marido sucedeu ao irmão. Alexandra Feodorovna pertencia a uma geração de mulheres de quem se esperava pouco além de um papel decorativo e dar à luz filhos e ela fê-lo na perfeição. O seu marido era atencioso e adorava-a. Alexandra presidia a corte, onde a vida era uma série de entretenimentos, com uma graciosidade natural. Lady Londonderry, que  visitou a Rússia em 1837, ouviu dizer sobre a imperatriz: "ela já nos deu tantas alegrias nestes vinte anos em que esteve no trono e nunca fez mal a uma alma".

Helena Pavlovna
A cunhada de Alexandra, a grã-duquesa Helena Pavlovna, nascida princesa Carlota de Württemberg. Depois de ter tido uma educação pouco convencional na Paris pós-revolucionária, o futuro de Carlota foi decidido pela sua família quando ela tinha quinze anos. Nunca tinha conhecido o grão-duque Miguel Pavlovich, irmão mais novo de Alexandre I e Nicolau I e ele não tinha qualquer interesse em casar. Apesar de tudo, um ano depois do noivado, o grão-duque recebeu-a na fronteira onde a princesa impressionou tudo e todos com a sua pose e inteligência. Os dois casaram-se em Fevereiro de 1824, mas foram miseráveis. Apesar de Helena ter dado à luz uma série de bebés, todas elas meninas, Miguel tratava-a com indiferença. Apenas o seu irmão mais velho viu o desespero da cunhada: "Temos de concordar que esta jovem e encantadora mulher foi sacrificada de forma muito graciosa e útil. A situação dela é assustadora." Helena tentou deixar a Rússia em 1827, mas a família imperial apenas permitiu uma separação temporária. Apesar de tudo, depois disto, a sorte dela mudou consideravelmente e a lista das suas conquistas na Rússia é formidável. As artes, música, instituições médicas, entre outras, receberam o seu patrocínio. Também foi ela a força por detrás da mudança política russa, encorajando os seus sobrinhos Alexandre II e Constantino a seguir o caminho da reforma.


Maria Alexandrovna
Maria Alexandrovna, Maria de Hesse-Darmstadt, tinha catorze anos e ainda usava o cabelo longo e solto da infância quando conheceu o futuro czar Alexandre II. Estava a comer cerejas quando foi chamada a aproximar-se e teve de cuspir as sementes para a mão antes de conseguir falar com ele. "Esta era a Maria, a nossa adorada Maria, que se tornou a felicidade do Sasha," escreveu a irmã do czar, Olga. "Os sentimentos dele despertaram assim que ela disse a primeira palavra. Não era uma boneca como as outras, não havia nada de convencido nela, nem ela esperava nada deste encontro." O noivado foi aprovado e os dois casaram três anos depois. Maria era inteligente e profundamente séria. Não foi capaz de se converter à religião ortodoxa antes de sentir que o queria realmente, acabando por se tornar ainda mais ortodoxa do que a maioria dos russos. Preocupava-se muito com o seu país e discutia com Alexandre, que respeitava muito a sua opinião, o seu trabalho. Também apoiou a educação das mulheres e a medicina. Maria Alexandrovna era adorada pela família, mas faltavam-lhe o à-vontade e os talentos sociais que tornaram outras imperatrizes populares.

Alexandra Iosifovna
A grã-duquesa Alexandra Iosifovna pertencia à família de Saxe-Altenburg e Nicolau I reparou nela em 1846, no dia em que ela completou dezasseis anos: no outono do mesmo ano, o seu segundo filho, Constantino, já estava em Altenburg. O efeito do seu primeiro encontro foi electrizante. "Não sei o que me aconteceu," escreveu Constantino de dezoito anos, "Sou uma pessoa completamente diferente. Há apenas um pensamento que me move, só tenho uma imagem perante os meus olhos: sempre e só ela, o meu anjo, a minha estrela. Acredito plenamente que estou apaixonado. Mas há quanto tempo a conheço? Só algumas horas e já me sinto a transbordar de amor." Constantino aguentou o seu entusiasmo até ao dia do casamento a 30 de Agosto / 11 de Setembro de 1848, e durante muitos anos depois. Alexandra sentia-se mais à-vontade na sociedade do que Maria e era menos dada a sentir saudades de casa. Segundo uma das suas damas-de-companhia, Anna Tiutcheva, a grã-duquesa não era esperta nem especialmente bem-educada: "adoptou o lugar de uma criança mimada na família e todos tratam a sua frequente falta de sensibilidade e mau-comportamento como brincadeiras engraçadas." Mas este comportamento apenas aconteceu nos seus primeiros anos. Com o passar do tempo, Alexandra tornou-se uma figura respeitada dentro da família.

Olga Feodorovna
A grã-duquesa Olga Feodorovna, princesa Cecília de Baden, nasceu em Karlsruhe em 1839. A história do seu primeiro encontro com o grão-duque Miguel Nikolaevich não foi registada, mas o casamento aconteceu por amor e Cecília teve sorte: dos quatro filhos do czar Nicolau I, apenas Miguel foi fiel durante todo o casamento. Cecília tinha dezasseis anos quando ficou noiva. Miguel disse à sua cunhada Maria Alexandrovna, que tinha escolhido o nome "Olga Fedorovna" porque não gostava de "Cecília". Os dois casaram-se no Palácio de Inverno a 16/28 de Agosto de 1857: "Rezei fervorosamente", escreveu Miguel no seu diário, "e agradeci a Deus com todo o meu coração por poder viver este dia." Os "Michels" eram um casal muito adorado no geral e a rainha Vitória achava-os "muito amáveis e amigáveis" e, sobre a grã-duquesa, disse: "tem muito bom humor, é alegre, muito encantadora - tão calma e gentil (...) Ficamos encantados com ele e ouvi dizer que, para onde quer que ele vá, todos os adoram, classes altas e baixas." A sua filha chamou-a "uma criatura de Deus em todos os sentidos".

Olga Feodorovna com o filho Sérgio

Em 1862, o grão-duque Miguel foi nomeado vice-rei do Cáucaso, uma posição que manteve durante quase vinte anos. O casal tinha a sua corte no Palácio de Tiflis e quatro dos seus sete filhos nasceram nesta região - Nesta fotografia, Olga Fedorovna pode ser vista com o seu quinto filho, Sérgio. Apesar de viver longe da capital, Olga adaptou-se completamente ao estilo de vida do país do marido e achava-se completamente russa.  A posição de vice-rainha permitia-lhe um certo nível de autonomia ao lado do marido e foi ela que abriu a primeira escola para meninas no Cáucaso, bem como um instituto técnico exclusivamente feminino. Também se envolveu em trabalhos médicos, principalmente durante a Guerra Russo-Turca de 1877-78. Gostava de saber o que se passava à sua volta e as suas observações eram reveladoras. Uma das suas damas-de-companhia descreveu-a mais tarde como "uma mulher anormalmente esperta, com um sentido crítico afiado. Alguns círculos sociais temiam-na profundamente devido aos seus comentários maldosos. Pessoalmente, não senti nada senão gentileza e consideração da parte dela (...)"

Alexandra Petrovna
A duquesa Alexandra de Oldemburgo pertencia a uma família alemã, mas tinha crescido em São Petersburgo. O seu pai era neto do czar Paulo I. Alexandra casou-se com o grão-duque Nicolau Nikolaevich em 1856, tornando-se grã-duquesa Alexandra Petrovna, e o primeiro filho do casal nasceu antes do final do ano. Alexandra Petrovna era uma artista de talento. Não tinha tempo para a vida da corte e não se interessava por roupas - algo que não agradava ao marido. A medicina fascinava-a:  o grão-duque ofereceu-lhe um hospital e ela dedicou todo o seu tempo a trabalhar lá. Criou um instituto técnico para enfermeiras em São Petersburgo ao mesmo tempo que o marido seguiu o exemplo dos irmãos e arranjou uma amante. Esta fotografia, tirada na década de 1870, mostra-a com o seu uniforme de enfermeira. No final desta década, Alexandra mudou-se para Kiev, onde abriu um convento que tinha o seu próprio hospital e clinica para dar tratamento gratuito aos pobres. Entrou no convento, adoptando o nome "Irmã Alexandra" e tornou-se abadessa: hoje em dia, a sua campa nos jardins do convento ainda é cuidada pelas freiras que lá trabalham.

Texto retirado do livro "The Camera and the Tsars" de Charlotte Zeepvat

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Maria Feodorovna no Exílio

Maria Feodorovna


A vida da imperatriz-viúva no exílio começou com uma aspereza adequada. Quando o grupo  [que viajou no Malborough] foi finalmente recebido pelo rei Jorge V e pela rainha Maria em Victoria Station, uma das criadas confundiu o rei com o czar. Enquanto os parentes trocavam cumprimentos, a criada agarrou-se ao joelho do rei. Segundo um amigo de Vassily [filho mais novo da grã-duquesa Xenia], a família nunca esqueceu a cena: “foi embaraçoso para a imperatriz e para Xenia. O Vassily achou aquilo atroz.


Maria Feodorovna com a bisneta Irina


Apesar de a imperatriz e a sua irmã Alix se terem mostrado muito emocionadas quando se reencontraram em Portsmouth, não demorou para se começarem a irritar uma à outra. Tentaram fazer as coisas resultar, viveram juntas em Malborough House e recebiam Xenia e os filhos para almoçar aos domingos. Xenia e os filhos estavam a viver numa casa de quatro andares em Chelsea. Mas a rainha Alexandra era vagarosa e estava a ficar surda e a imperatriz-viúva sofria de artrite, lumbago e de um rendimento incerto.

Maria Feodorovna com a irmã Alexandra em Inglaterra


A imperatriz-viúva estava revoltada com aquilo que considerava ser a indiferença britânica em relação ao sofrimento dos refugiados russos e também com os seus companheiros de exílio que, segundo ela, estavam a deixar os padrões do protocolo descer.

Apenas alguns meses depois da sua chegada, a imperatriz-viúva, descontente, tinha decidido que queria regressar ao seu país-natal: a Dinamarca. Em Agosto de 1919 já estava a caminho. Estas notícias terão sido recebidas com um certo alívio, já que Maria se tinha tornado persona non grata em certos círculos políticos. Ela também estava muito contente: “Sempre é melhor ser a pessoa mais importante em Hvidore [uma casa que tinha comprado com a irmã na Dinamarca] do que a segunda mais importante em Sandringham”, afirmou.


Maria a ser recebida pelo sobrinho Cristiano na Dinamarca

Infelizmente os seus problemas não acabaram na Dinamarca, onde achou que o se sobrinho Cristiano X era constantemente desagradável. A certa altura ele pediu-lhe que desligasse algumas luzes no Palácio de Amalienborg, onde estava hospedada, já que estava a gastar muita electricidade. Ofendida, Maria ordenou imediatamente aos criados que acendessem as luzes todas. Em 1920 desistiu da luta e decidiu ficar permanentemente em Hvidore, onde o seu estatuto de pessoa mais importante era uma compensação para as acomodações mais humildes.

Tinha pouca segurança financeira. Tinha-se agarrado às suas jóias, mas recusava-se a vendê-las, dizendo teimosamente à família que eles iam herdar tudo quando ela morresse. 

Maria com o sobrinho Cristiano


A imperatriz-viúva e a rainha Alexandra encontraram-se pela última vez quando Maria visitou a Inglaterra em 1923 para assistir ao casamento do segundo filho do rei, Alberto, duque de Iorque, com Elizabeth Bowes-Lyon na Abadia de Westminster. A imperatriz-viúva ficou doente durante a visita e foi obrigada a ficar em Inglaterra durante vários meses, algo que, sem dúvida, irritou ambas as irmãs.


Maria e Alexandra na Dinamarca


O problema de quem seria o herdeiro legítimo do trono russo aparecia ocasionalmente. A imperatriz-viúva, recusando-se a acreditar que o czar estava morto, não permitia qualquer discussão: “Até agora ainda não apareceu nenhuma informação de confiança sobre o destino do meu adorado filho e dos meus netos. Por isso, penso que ainda é prematuro escolher um novo imperador. Ainda posso ter uma última réstia de esperança.” Em 1921, tinha-lhe sido oferecido o trono russo pela Assembleia Monárquica de Todas as Rússias. Respondeu de forma muito simples: “Ninguém viu o Nicky morto.”


Maria com a cunhada Olga Constantinovna

Vários conhecidos deixaram testemunhos de conversas nas quais a imperatriz-viúva fazia referências obscuras ao czar. A condessa Mengden escreveu que Maria disse: “Quando olho para trás e revejo a minha vida e aquilo por que passei, só posso acreditar em fantasmas”; o capitão Daneilback, um membro da sua comitiva, disse que a ouviam dizer frequentemente: “Na Rússia até o mais improvável acontece.”

Maria a bordo do Polar Star em 1911


Mas, em 1924, o seu primo controverso, o grão-duque Cyril, teve a ousadia de se autoproclamar primeiro guardião do trono e depois, passado um mês, imperador de Todas as Rússias. Cyril já não era muito bem visto pela grande maioria dos Romanov por ter hasteado uma bandeira vermelha no telhado do seu palácio quando o czar ainda estava no poder.


Cyril Vladimirovich com a esposa Vitória Melita


A imperatriz-viúva ficou furiosa. Seguindo finalmente a filosofia de que o inimigo do meu inimigo meu amigo é, fez um apelo apaixonante a Nikolasha, pondo de lado as suas antigas zangas. Escreveu: “Fiquei profundamente magoada quando li o manifesto do grão-duque Cyril Vladimirovich onde ele se proclamava IMPERADOR DE TODAS AS RÚSSIAS.

“Até agora ainda não apareceram informações precisas no que diz respeito ao destino dos meus adorados filhos ou do meu neto e, por isso, considero a proclamação de um novo IMPERADOR prematura. Não há ninguém que me pode tirar a minha última réstia de esperança.


Nicolau Nikolaevich


“Temo que este manifesto vá criar divisão. Isto não vai melhorar a situação, muito pelo contrário: vai piorá-la, e a Rússia já tem demasiado com que se preocupar.

“Se o NOSSO SENHOR achou por bem, nos SEUS caminhos insondáveis, chamar os meus adorados filhos e o meu neto para SEU lado, então, sem que tenha o desejo de olhar para o futuro e ainda com a minha esperança inabalável na misericórdia de DEUS, acredito que SUA MAJESTADE O IMPERADOR deverá ser escolhido segundo as nossas leis básicas pela Igreja Ortodoxa em harmonia com o povo russo (…) estou cera de que o membro mais velho da CASA DOS ROMANOV, o senhor, tenho a certeza, partilha da minha opinião. Maria”


Maria Feodorovna em 1923 desenhada pela sua filha Olga


Maria morreu em 1928, na presença das suas filhas Xenia e Olga e de um dos filhos de Xenia. Segundo o marido de Xenia, Sandro, a imperatriz-viúva morreu segurando a sua bíblia dinamarquesa. Esta era a mesma bíblia que lhe tinha sido confiscada por marinheiros revolucionários na Crimeia e, segundo parece, foi-lhe devolvida em Copenhaga pouco antes da sua morte. O seu neto, o príncipe Dmitri Alexandrovich, acrescentou que tinha sido enviada por um diplomata dinamarquês que a tinha encontrado numa livraria em Moscovo.



Texto retirado do livro "The Russian Court at Sea" de Frances Welch

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

300 Fotos Raras dos Romanov Leiloadas em Genebra

Cerca de 300 fotos raras da família Romanov serão brevemente leiloadas em Genebra. O álbum onde estas fotos foram encontradas pertencia a Ferdinand Tormeyer, tutor suíço do grão-duque Miguel Alexandrovich e da grã-duquesa Olga Alexandrovna. A maioria das fotos mostra Alexandre III, a sua esposa Maria Feodorovna e a sua família.