Java

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Peterhof e Baptizado da Grã-Duquesa Maria

Alexandra, Maria, Nicolau, Tatiana e Olga
A cerca de seis ou oito quilómetros de Peterhoff encontra-se a Subswina Datcha (a minha villa), uma pequena casa rococó mobilada no estilo do Primeiro Império. Só a mobília daria uma fortuna muito considerável se fosse vendida em Londres. É muito bonita. Há muitos quadros valiosos e porcelanas do mais bonito possível, incluindo grandes jarras da bela porcelana de Dresden. A casa é rodeada por parques e jardins cheios de árvores e bem tratados, entre os quais se incluía um belo jardim de rosas. Foi construída por ordem do czar Nicolau I e foi lá dado um baile em honra do décimo-primeiro aniversário do seu filho. Os convidados dançaram na grande ponte de madeira que se ergue sobre a estrada.

Uma das coisas que as crianças mais gostavam de fazer era ir lá passar a tarde e tomar chá, principalmente durante a época do feno, quando escorregavam pelos montes de feno e corriam para cima e para baixo nas encostas cobertas de relva. Outra coisa de que gostavam muito era visitar a quinta, ver as vacas a ser ordenhadas, alimentar as galinhas, recolher os ovos e encher cestos de maçãs. Há dois anos atrás, a esposa do agricultor, uma mulher muito simpática, estava a criar quatro gatinhos cuja mãe tinha sido morta. Quando as pequenas grã-duquesas passavam por lá de manhã nos seus póneis ou de bicicleta, os gatinhos eram sempre trazidos cá para fora e quatro biberões eram entregues, um para cada criança. Com um gatinho numa mão e o biberão na outra, as meninas iam dar uma volta pelo quintal enquanto os alimentavam.

Olga, Tatiana, Maria e Anastásia em Peterhof
Quando a grã-duquesa Maria era bebé, fomos passar um dia a Robshai. Estavam a haver manobras militares na altura e nas quais participaram o imperador e a imperatriz e, um dia, entramos numa carruagem puxada por quatro cavalos lado-a-lado e, duas horas depois, chegamos a Robshai. O palácio era grande, mas pouco ocupado e tinha jardins bonitos. Algum tempo depois, passamos alguns dias em Krasnow Selo, onde também decorriam manobras militares. Krasnoe Selo significa “cidade bonita”, um termo impróprio, se alguma vez tal existiu. A cidade é uma colecção miserável de cabanas de madeira sujas, cada uma delas erguendo-se um pouco antes da estrada e com uma poça de água parada antes delas. Não havia sinais de um jardim, nem sequer de uma couve à vista. Há um pequeno parque bonito com várias sorveiras e era lá que costumávamos caminhar todas as manhãs.

Quando a Maria tinha duas semanas de idade, foi baptizada na igreja do Grande Palácio em Peterhoff. A cerimónia, que foi muito imponente, durou duas horas ou mais. A imperatriz tinha feito preparativos para que eu entrasse na igreja por uma porta particular e para regressar pela mesma. Portanto, no dia marcado, metida dentro de um vestido branco de seda, ocupei o meu lugar na carruagem e fui levada para a igreja. O cossaco que estava de guarda não estava a permitir a passagem da carruagem. Eu não falava russo e pensava que talvez recebesse permissão para entrar a pé. Por isso saí da carruagem. Mas não! O homem baixou a baioneta e bloqueou-me o caminho. Ali estava eu, no meu vestido branco, no meio da estrada, com uma multidão a olhar para mim. Não sabia o caminho por outra porta, mas finalmente vi um oficial que conhecia do palácio. Fui até ele, falei em francês e contei-lhe o meu dilema. O oficial foi extremamente simpático e passamos pelos guardas até entrar na igreja onde os padres e bispos já estavam reunidos. Estavam ocupados a escovar os longos cabelos. Um deles veio ter comigo e numa maravilhosa mistura de línguas perguntou-me a que temperatura deveria estar a água. Respondi-lhe em francês e inglês, mas não pareceu que ele tivesse percebido. Depois mostrei-lhe o número de graus com os meus dedos e um grupo de padres interessados e entusiasmados começaram a preparar a pia para a criança. Pouco depois começaram a entrar os convidados: embaixadores e as suas esposas, todos com os vestidos das suas cortes. Uma mulher chinesa pequena parecia muito simpática e inteligente. Tinha um quimono de seda azul vestido e um chapéu redondo pequeno na cabeça, uma flor vermelha em cada orelha e uma branca em cima delas. A igreja católica foi representada por um cardial com o seu chapéu vermelho e batina, e o chefe da Igreja Luterana na Rússia também estava presente, vestindo uma batina preta com rendas branca. Os polacos são maioritariamente católicos e os finlandeses luteranos ou da igreja reformadora. Também estavam presentes membros de várias cortes. A imperatriz-viúva e a imperatriz tinham quinhentas damas que pertenciam à corte – “Demoiselles d’honneur”, como eram chamadas. Estas damas vestiam-se todas de forma semelhante nestas ocasiões, com mantos de veludo vermelho bordados a ouro com anáguas de cetim branco. As senhoras mais velhas, “Les dames de la cour”, levavam vestidos verde-escuros bordados a ouro.

Alexandra Feodorovna com o vestido da corte
Quando estavam todos reunidos, a pequena heroína foi levada para a igreja pela princesa Galitzin, a senhora mais antiga da corte. A princesa levava uma almofada de pano de ouro, na qual repousava a pequena Maria Nikolaevna, na glória plena do seu vestido de renda cor-de-rosa e com um pequeno chapéu na cabeça à sua medida. O imperador, a imperatriz-viúva, os outros padrinhos e todos os grão-duques e duquesas e membros da realeza estrangeira surgiram a seguir. Segundo a lei da Igreja Ortodoxa Russa, os pais não podem ficar na igreja durante o baptismo, por isso o imperador, depois de receber os parabéns dos seus parentes, retirou-se da igreja, voltando depois para a Confirmação e para entregar a Ordem de Santa Ana à sua pequena filha. A bebé foi depois despida até ficar só de camisa interior, a mesma que o imperador tinha usado no seu baptismo. Infelizmente a mesma foi roubada da igreja nesse mesmo dia e nunca mais voltou a aparecer. Depois a bebé foi mergulhada três vezes na pia, o seu cabelo foi cortado em quatro sítios em forma de cruz. O que foi cortada foi enrolado em cera e atirado para a pia. Segundo a superstição russa, o bem ou o mal do futuro da criança depende se o cabelo flutuar ou se afunda. O cabelo da pequena Maria comportou-se de forma ortodoxa e afundaram todos imediatamente, por isso não há necessidade de nos preocuparmos com o seu futuro. A criança foi depois levada para trás de um painel onde foi vestida com roupas novas de prata e a missa continuou. Depois foi levada novamente para a igreja e ungida com óleo. O seu rosto, olhos, ouvidos, mãos e pés foram tocados com uma escova fina mergulhada em óleo. A seguir foi levada pela imperatriz-viúva para dar três voltas à igreja, apoiada em cada lado pelos seus padrinhos. Dois pajens seguravam o manto da imperatriz. O imperador, que tinha voltado a entrar na igreja depois de a cerimónia acabar, chegou-se à frente e investiu-lhe a Ordem com diamantes e depois a procissão retirou-se pela mesma ordem em que tinha entrado na igreja. A bebé foi levada para a igreja numa carruagem dourada de vidro puxada por seis cavalos brancos como a neve, cada um deles conduzido por um cavalariço vestido numa libré branca e escarlate com uma peruca, e foi escoltada por um guarda dos Cossacos. 

Maria com a mãe, Alexandra
Quando quis regressar pelo mesmo caminho pelo qual tinha vindo, os soldados não me deixaram passar e fui obrigada a regressar para a igreja. Não podia ficar lá, por isso fui pelo caminho pelo qual tinha passado a procissão, pelas grandes salas de estado e tive a sorte de encontrar alguém do palácio. Expliquei o meu dilema e fui entregue aos cuidados de uma senhora idosa respeitável que depois vim a descobrir tratar-se de uma das criadas do palácio e o meu guia disse-me que ia fazer um telefonema para me arranjar uma carruagem. Contudo, a carruagem não chegou e regressar a pé estava fora de questão porque, por um lado, a distância era muita e não sabia falar russo suficiente para perguntar o caminho a um polícia. Cerca das três e meia da tarde, a mulher foi procurar alguém que me pudesse ajudar. Pouco depois regressou com um homem que me disse: “Eu não falar inglês, eu falar alemão”. Expliquei-lhe que não sabia falar nem russo nem alemão. No entanto, problema da língua não preocupou o bom samaritano que chamou uma izvochik, o nome pelo qual são chamadas as carruagens na Rússia, colocou-me dentro dela e mandou-me para o sítio que pensava ser a minha casa. Fui levada primeiro para o palácio da imperatriz-viúva por erro e quando consegui finalmente regressar a casa, tinha estado desaparecida durante várias horas e sentia-me muito cansada e cheia de fome.

Margaret Eager com as quatro grã-duquesas
Na manhã seguinte chegou a notícia de que o czarevich Jorge Alexandrovich tinha morrido. Este pobre jovem sofria de tuberculose há muitos anos. Tinha vivido no Egipto durante algum tempo e tinha também experimentado muitos outros climas, mas só sentiu que conseguia respirar em Abbas Turman, no Cáucaso. A sua vida lá foi solitária e triste. A sua mãe e as suas irmãs, as grã-duquesas Xenia e Olga, bem como os seus sobrinhos da primeira costumavam visitá-lo todos os anos depois da Páscoa e ficavam até o tempo ficar demasiado quente para elas, uma vez que o clima é quente e a viagem longa e difícil, principalmente para crianças. Nesse ano, devido ao nascimento da pequena Maria, a viagem tinha sido adiada para um pouco mais tarde do que o costume e o pobre grão-duque esperava a chegada delas impacientemente. Numa carta escrita pouco antes da sua morte, ele disse que tinha saudades de ouvir o som da voz de uma mulher, o toque da mão de uma mulher e implorou que a sua mãe fosse ter com ele o mais depressa possível depois do baptismo. Ficou também muito desiludido pela Maria não ter sido um rapaz, pois sentia que o fardo da sua responsabilidade era quase intolerável.

Por erro, o imperador tinha-o nomeado czarevich em vez de herdeiro-aparente. Na Rússia este título nunca pode ser retirado, excepto quando aquele que o tem se torna imperador. Após a sua morte, o imperador nomeou o seu irmão mais novo, Miguel, herdeiro-aparente que tem usado este título com muita dignidade e honra, mas ficou muito feliz quando deixou de o ter após o nascimento do pequeno herdeiro, o grão-duque Alexei a 12 de Agosto de 1904.

O grão-duque Jorge Alexandrovich
Na manhã a seguir ao baptismo, o czarevich Jorge tinha-se levantado mais cedo do que o costume. Sentia-se melhor e mais animado e, apesar dos avisos do seu criado particular, decidiu dar uma volta de bicicleta. Desceu uma encosta e, quando chegou ao fundo, caiu de repente da bicicleta. Uma velha camponesa que estava a caminho da casa dele para lhe levar leite, acompanhada do seu neto, foram as únicas testemunhas do acidente. A mulher correu para o ajudar e viu que tinha sangue a escorrer-lhe da boca. Mandou o neto à casa dele para ir buscar ajuda e estava sentada no chão com a cabeça do jovem grão-duque no colo, mas poucos minutos depois ele morreu. Foi assim, ao lado da estrada, com os cuidados de uma velha camponesa, que morreu o herdeiro do trono russo. Cumpriu o ditado sobre os Romanov, que nenhum deles vai morrer deitado numa cama. Até onde sei, apenas o czar Nicolau I foi o único a conseguir esse feito. Morreu de pneumonia alguns dias após a queda de Sevastopol. Apesar de Alexandre III ter tido também uma morte natural, estava sentado numa cadeira na varanda quando tal aconteceu.

Jorge Alexandrovich
Foi construída uma igreja no local onde Jorge Alexandrovich faleceu. A imperatriz-viúva e a família viajaram para a Crimeia para acompanhar o seu corpo que foi levado para São Petersburgo para repousar na igreja da Fortaleza de Pedro e Paulo. A sua sepultura é cuidada por mãos carinhosas, com flores e plantas frescas sempre por perto e todos os anos se celebra uma missa em sua honra. Esta missa vai continuar a celebrar-se enquanto houver membros da família vivos, uma vez que este é um costume da igreja russa. Diz-se que o grão-duque Jorge se casou com a rapariga do telégrafo. Esta história é completamente infundada. O grão-duque vivia sozinho na sua casa no Cáucaso com os seus criados e a única excepção dava-se quando era visitado pela mãe e pela família.

Alguns dias depois do funeral, o encouraçado Alexandre III foi baptizado. O imperador, a imperatriz, a imperatriz-viúva e outros membros da família estiveram presentes na cerimónia. Segundo a tradição russa, todos se vestiram de luto branco, uma vez que ninguém participa numa cerimónia na Rússia vestido de peto. Começou uma tempestade súbita e um raio atingiu o navio, ferindo sete ou oito pessoas. O navio tinha o nome do marido da imperatriz-viúva que ficou muito perturbada com este acontecimento e disse que o navio se afundaria na sua primeira missão. 

Maria Feodorovna
Texto retirado do livro "Six Years at the Russian Court" de Margaret Eager.






quarta-feira, 8 de agosto de 2012

As Primeiras Lições na Corte - Pierre Gilliard

Pierre Gilliard

No dia marcado para a minha primeira lição, uma carruagem real veio para me levar para a Casa de Alexandria, onde o czar e a família estavam a viver. No entanto, apesar do uniforme do cocheiro, do brasão imperial nos painéis e das ordens que tinham sido dadas em relação à minha chegada que, sem dúvida, tinham sido dadas, aprendi rapidamente que entrar na residência de Suas Majestades não era fácil. Mandaram-me parar no portão do parque e houve uma discussão de vários minutos antes de receber permissão para entrar. Quando viramos numa curva, não demorei até ver dois edifícios pequenos de tijolo interligados por uma ponte escondida. Se a carruagem não tivesse sido parada, nunca teria pensado que tinha chegado ao meu destino.


Fui levado para uma sala pequena, mobilada de forma simples em estilo inglês no segundo andar. A porta abriu-se a czarina entrou, segurando as suas filhas Olga e Tatiana pela mão. Depois de fazer alguns elogios, sentou-se na mesa e convidou-me a fazer o mesmo do lado oposto ao dela. As crianças sentaram-se nas outras duas pontas da mesa.


Olga e Tatiana na altura em que começaram a receber lições de francês de Gilliard

A czarina ainda era uma mulher bonita nesta altura. Era alta e magra e tinha um porte soberbo. Mas tudo isto deixou de contar quando a olhei nos olhos, aqueles olhos azuis-acinzentados que falavam e mostravam as emoções de uma alma sensível.

Olga, a grã-duquesa mais velha, era uma menina de dez anos, muito loira e com uns olhos brilhantes e marotos e um nariz ligeiramente retoussé. Examinou-me com um olhar que me pareceu procurar um ponto fraco na minha armadura desde o primeiro momento, mas havia algo de tão puro e honesto na criança que uma pessoa gostava imediatamente dela.

A segunda menina, Tatiana, tinha oito anos e meio. Tinha cabelo castanho-avermelhado e era mais bonita do que a irmã, mas dava a impressão de ser menos transparente, honesta e espontânea. 


A lição começou. Fiquei espantado, até embaraçado, pela simplicidade de uma cena que tinha esperado ser muito diferente. A czarina seguiu tudo o que eu disse muito atentamente. Senti de forma distinta que não estava a dar uma aula, mas sim a ser avaliado. O contraste entre o que tinha antecipado e a realidade deixou-me muito confuso. Para aumentar ainda mais o meu desconforto, tinha a ideia de que as minhas alunas estavam muito mais avançadas do que realmente verifiquei. Tinha escolhido certos exercícios, mas estes acabaram por ser demasiado complicados para elas. A lição que tinha preparado não serviu de nada e tive de improvisar e contar com outros materiais. Finalmente, para grande alívio meu, o relógio bateu as horas e marcou o final do meu sofrimento.

Nas semanas que se seguiram, a czarina esteve sempre presente nas lições das crianças, pelas quais se interessava visivelmente. Muito frequentemente, depois de as suas filhas deixarem a sala, a czarina discutia comigo sobre os melhores métodos de ensinar línguas modernas e ficava sempre espantado pelo bom senso das suas opiniões.

Alexandra
Desses primeiros dias, guardei na memória uma lição que dei um dia ou dois antes do problema do Manifesto de Outubro em 1905 que acabaria na criação da Duma. A czarina estava sentada numa cadeira baixa, perto da janela. Reparei imediatamente que estava distraída e preocupada. Apesar de tudo que podia fazer, o seu rosto traía-a e mostrava uma agitação interior. Esforçava-se obviamente para se concentrar em nós, mas não demorava a mergulhar novamente num estado de melancolia no qual se acabaria por perder. O seu trabalho escorregou-lhe dos dedos para o colo. Tinha as mãos apertadas e o seu olhar, que seguia os seus pensamentos, parecia perdido e indiferente às coisas que aconteciam à sua volta.

Quando a lição acabou, fechei o meu livro e esperei que a czarina se levantasse, um sinal de que me poderia retirar. Desta vez, apesar do silêncio que seguiu o fim da lição, ela estava tão perdida dos seus pensamentos que não se mexeu. Os minutos passavam e as crianças começam a ficar inquietas. Abri o meu livro novamente e continuei a ler. Só um quarto-de-hora depois, quando as grã-duquesas foram ter com a mãe, é que a czarina se apercebeu das horas.

Alexandra
Alguns meses depois, a czarina nomeou uma das damas-de-companhia, a princesa Obolensky, para a substituir durante as minhas lições. Assim acabou o período de uma espécie de avaliação à qual tinha sido submetido. Devo admitir que a mudança foi um alívio. Sentia-me muito mais à vontade com a presença da princesa Obolensky e, além do mais, ela ajudava-me muito. No entanto, desses primeiros meses, preservei uma memória vívida do grande interesse que a czarina, uma mãe com grande sentido de responsabilidade, tinha pela educação dos seus filhos. Em vez da imperatriz fria e altiva de quem ouvi falar tanto, e fiquei espantado por estar na presença de uma mulher completamente dedicada às suas obrigações maternas.

Também foi nesta altura que comecei a aperceber-me de certos sinais de reserva que tantas pessoas tinham levado a mal e lhe tinham valido tantos inimigos, eram na verdade sinais de uma timidez natural e, como tal, uma máscara para esconder a sua sensibilidade.


Alexandra Feodorovna


Vou dar um pormenor que ilustra o interesse da czarina na educação dos seus filhos e a importância que dava a estes mostrarem respeito pelos seus professores mostrando aquele sentido de decoro que é o primeiro elemento das boas maneiras. Enquanto esteve presente nas minhas lições, quando eu entrava na sala, encontrava sempre os livros e os cadernos empilhados de forma organizada nos lugares das minhas alunas na mesa e nunca tive de esperar um momento. O mesmo continuou a acontecer depois. Ao longo do tempo, às minhas primeiras alunas, Olga e Tatiana, juntaram-se a Maria, em 1907, e a Anastásia, em 1909, anos em que, respectivamente, completaram 9 anos de idade.

A saúde da czarina, que tinha já sofrido pela sua ansiedade devido à ameaça que havia sobre o czarevich, foi impedindo-a de seguir a educação das filhas. Na altura não me apercebi qual seria a causa da sua aparente indiferença e senti-me inclinado a censura-la, mas não demorou muito até que os acontecimentos me mostrassem que estava errado.

Alexei e Pierre Gilliard
Texto retirado do livro "Thirteen Years at the Russian Court" de Pierre Gilliard.