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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Jorge V do Reino Unido e o exílio dos Romanov - Segunda Parte

As famílias reais do Reino Unido e da Rússia em 1910
Em Czarskoe Selo, os dias iam passando e a partida da família continuava a ser adiada. As conversas sobre Inglaterra começaram a desaparecer aos poucos.

Será que a presença de Nicolau em Inglaterra teria colocado o trono de Jorge em perigo? Olhando para trás, tendo em conta a forma como os eventos se desenrolaram, essa hipótese parece extremamente improvável. Era verdade que a Grã-Bretanha não tinha ficado imune às greves e motins que tinham rebentado por toda a Europa desde a Revolução Russa. Pequenos problemas levavam a greves repentinas. Em 1918, 12.000 trabalhadores de uma fábrica de aviões em Conventry abandonaram os seus postos de trabalho porque tinham ouvido rumores falsos de que seriam obrigados a juntar-se ao exército. Além disso, a Inglaterra, tal como o resto da Europa, tinha a sua quota-parte de pessoas que apregoava uma retórica de mudança, revolução e até uma república. Uma semana depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros retirar o convite ao czar, H. G. Wells escreveu no The Times que a Grã-Bretanha se devia livrar das "amarras antigas do trono e do ceptro", e propôs a criação de sociedades republicanas por todo o país. (Wells tinha já escrito um artigo célebre no qual descreveu o circulo de amigos de Jorge V como "uma corte de extraterrestres e sem inspiração", ao que o rei deu a sua única resposta bem-humorada da qual há conhecimento: "posso não ter grande inspiração, mas raios me partam se sou um extraterrestre"). No entanto, não havia, da parte da população, uma resposta relevante ao republicanismo revolucionário - nada, por exemplo, à escala das centenas de clubes republicanos que surgiram ao longo da década de 1870. De todas as populações civis envolvidas na guerra, os britânicos foram os que menos sofreram em termos de necessidades e mortes - as mortes de civis na Alemanha foram muito superiores do que as da Grã-Bretanha  - e eram os que estavam mais afastados dos campos de batalha. LLoyd George lidou com a agitação que encontrou de forma muito mais eficaz do que qualquer outro estadista na Europa. Apesar de o seu governo ser dominado pelos Conservadores, a grande popularidade que tinha e o seu historial de melhoramentos na vida social do país deram-lhe credibilidade junto dos grevistas, ao mesmo tempo que os seus instintos políticos o levaram a conseguir acordos com os revoltosos, ao contrário do que aconteceu noutros países, onde a solução encontrada foi uma forte e violenta repressão. Enquanto fazia tudo isto, dizia ao país que estava a defender a Liberdade - da forma como esta era vista no sistema britânico - e a destruir a casta militar alemã e a opressão que esta exercia sobre o povo alemão.

O rei Jorge V com membros da alta aristocracia
Se Lloyd George e outros políticos achassem mesmo que trazer o ex-czar para a Inglaterra fosse uma ameaça para a coroa e para a estrutura constitucional da Grã-Bretanha - algo que nenhum deles queria, então nunca teriam sequer aceite o pedido de asilo em primeiro lugar. Foi outra grande ironia que Jorge nunca compreendeu: Lloyd George, o homem que tinha ideais políticos completamente opostos aos dele, foi o homem que manteve o seu trono em segurança. Seria também o homem que iria encobrir o envolvimento de Jorge na rejeição dos Romanov, omitindo por completo o papel que teve no seu livro de memórias, intitulado "War Memoirs", e assumindo por completo a culpa que havia a assumir - apesar de ter alegado falsamente que a Grã-Bretanha nunca tinha retirado o convite, e ter dito, de forma mais verdadeira, que não havia garantias de que o governo provisório tivesse a capacidade de retirar o czar da Rússia. Buchanan também seria culpado por os britânicos não terem conseguido levar o plano adiante; passaria o resto da vida a tentar exonerar-se sem sucesso - também assumiu que a fonte da decisão para retirar o convite tinha sido LLoyd George.

Nicolau II (sentado) com a sua tia Alexandra do Reino Unido (sentada, ao fundo), a sua mãe, Maria Feodorovna (sentada,em frente), o seu primo, Jorge V (em pé) e a avó de ambos, a rainha Lusa da Dinamarca (em pé).
A verdade era que Jorge tinha-se tornado imensamente sensível às críticas dirigidas tanto a si como à monarquia - nesse aspecto estava, na altura, muito mais informado e atento à opinião pública do que qualquer dos seus primos. Qualquer sussurro deixava-o incomodado e profundamente deprimido. Um sinal claro da ansiedade que sentia ficaria para a História alguns meses depois, quando, em Julho de 1917, ficou de tal forma incomodado com algumas insinuações da parte da opinião pública de que a família real não era completamente leal à causa da guerra por terem o apelido alemão de Saxe-Coburgo-Gota, que decidiu mudá-lo para "Windsor". Jorge não estava errado ao assumir que a vinda do seu primo seria muito mal vista num país cujo o governo justificava a guerra como uma luta pela liberdade contra a autocracia. No entanto, é extremamente improvável que tal decisão lhe tivesse custado o trono. Entrou em pânico e colocou as suas preocupações acima das suas relações familiares, que sempre tinha defendido como essenciais, e acima do primo com quem dizia preocupar-se tanto. Foi o golpe final ao culto da família que a sua avó, a rainha Vitória, tinha defendido com toda a força. Foi também uma decisão que revelou uma monarquia ciente da necessidade de se vender aos seus súbditos para sobreviver.

A rainha Alexandra do Reino Unido, Jorge V, a grã-duquesa Xenia Alexandrovna, o príncipe Valdemar da Dinamarca, a princesa Thyra da Dinamarca, o príncipe Jorge da Grécia e Dinamarca, a princesa Maria da Grécia e da Dinamarca e o czar Nicolau II, na Dinamarca, em finais da década de 1880
A 16 de Julho de 1918, o dia em que o czar e a sua família foram assassinados, Jorge V foi assistir a um treino de balões da RAF em Roehampton. A notícia da morte do antigo czar foi dada oficialmente três dias depois. A 25 de Julho, Jorge decretou um mês de luto na corte e escreveu no seu diário que, na companhia da sua esposa Maria tinha estado presente "numa missa na igreja russa em Welbeck street, em memória do querido Nicky que, temo, foi morto a tiro o mês passado pelos bolcheviques. Adorava o Nicky, que era o homem mais gentil que conheci, um verdadeiro cavalheiro que amava o seu país e o seu povo". Três dias depois, escreveu que o vice-cônsul da Grã-Bretanha em Moscovo, Robert Bruce Lockhart, tinha reportado que "o querido Nicky" tinha sido morto a tiro pelo Soviete local de Ecaterimburgo. "Não foi nada mais que um homicídio brutal". Em finais de Agosto, escreveu: "soube da Rússia que há grandes probabilidades de que a Alicky, as quatro filhas e o menino tenham sido assassinados ao mesmo tempo que o Nicky. É demasiado horrível e mostra os demónios que esses bolcheviques são. Talvez tenha sido o melhor para a pobre Alicky. Mas para aquelas pobres crianças inocentes!".

Olga, Anastásia, Alexei, Tatiana e Alexandra, no Palácio de Alexandre, no Outono de 1915
Parece que Jorge e Stamfordham concordaram tacticamente numa espécie de amnésia intencional. Também não demoraram a culpar o governo por não ter feito nada. No dia em que se realizou a missa fúnebre em honra de Nicolau, Stamfordham escreveu a Lord Esher, em tom ofendido:
Alguma vez terá havido um homicídio tão cruel e será que alguma vez este país mostrou uma indiferença de tal forma caluniosa a uma tragédia desta magnitude? O que significa tudo isto? Tanto quanto saiba, o primeiro-ministro nem sequer se fez representar por ninguém. Onde está a nossa compaixão, gratidão, decência comum nacional? Por que motivo é que o kaiser não fez da libertação do czar e da sua família uma condição no tratado de paz de Brest-Litovsk?
Maria com o pai, Nicolau II

Esta carta é um quanto dissimulada, uma vez que apenas três dias antes da missa, Stamfordham tinha dito a Balfour que Jorge não deveria estar presente, uma vez que temia irritar a opinião pública.

O filho mais velho de Jorge, o duque de Windsor, disse que o assassinato dos Romanov abalou profundamente a "confiança que [o pai] tinha na decência humana. Havia uma ligação muito verdadeira entre ele e o primo Nicky". O duque de Windsor afirmou que o seu pai "tinha planeado ir salvar o czar pessoalmente com um navio cruzador britânico, mas o plano acabou por ser bloqueado de alguma forma. De qualquer das formas, o meu pai ficou profundamente magoado por os britânicos não terem levantado uma mão para salvar o seu primo Nicky". Até ao fim da vida, o rei Jorge V costumava dizer "aqueles políticos! Se fosse um deles, tinham agido a tempo!".

Eduardo (futuro rei Eduardo VII e duque de Windsor), Nicolau II, Alexei e Jorge V em 1910

Texto retirado do livro "The Three Emperors - Three Cousins, Three Empires and the Road to World War One" de Miranda Carter


Reacção do rei Jorge V à morte dos Romanov, retratada na mini-série "The Lost Prince"

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Jorge V do Reino Unido e o exílio dos Romanov - Primeira Parte

Jorge V e Nicolau II
"Chegaram más notícias da Rússia," escreveu o rei Jorge V do Reino Unido no seu diário a 13 de Março de 1917, dois dias antes de o seu primo direito, o czar Nicolau II da Rússia, ter abdicado do trono, dando início à Revolução Russa, "praticamente que rebentou uma revolução em Petrogrado e alguns dos regimentos de guardas fizeram motins e mataram os seus oficiais. Este levantamento é contra o governo, não contra a guerra". A 15 de Março, já tinha recebido mais informações: "temo que a responsável por tudo isto seja a Alicky e o Nicky foi fraco (...) estou em desespero".

Era quase o único que se sentia daquela forma. Por todas as ruas do império, desde Moscovo até Tiflis, o fim da autocracia foi celebrado foi sinos, canções, vivas e bandeira. Os símbolos do poder imperial, as insígnias e estátuas, foram arrancados de edifícios e pedestais. Em França e na Grã-Bretanha, a queda do czar foi recebida com alívio. Os excessos do regime tinham-se tornado embaraçosos e havia a esperança de que, com uma democracia, a Rússia tivesse menos vontade de fazer acordos com a Alemanha. Os EUA, que tinham acabado de entrar na guerra, reconheceram o novo governo com entusiasmo logo uma semana depois da abdicação. Lloyd George [primeiro-ministro do Reino Unido], que se estava a esforçar por combater o cansaço da guerra com a ideia de que os sacrifícios da Entente eram a favor da grande causa da Liberdade e da Democracia, enviou um telegrama a dar os parabéns pela revolução, "a melhor coisa que o povo russo fez até agora na defesa da causa pela qual os Aliados estão a lutar". Demonstrava "a verdade fundamental de que esta guerra é, no fundo, uma luta pelo governo do povo, tanto como o é pela liberdade. Mostra que, ao longo da guerra, o princípio da liberdade, que é a única garantia de paz no mundo, já conquistou uma vitória arrebatadora". 

Lloyd George
Jorge V odiou o telegrama e não conseguiu compreender que este tinha sido escrito tanto para consumo interno como para o novo governo russo (que, como se viria a constatar, incluía um número significativo de novos membros que eram muito mais favoráveis às tradições políticas britânicas do que qualquer pessoa do regime czarista). Stamfordham [secretário particular do rei] recebeu instruções para se queixar que o telegrama era "um pouco forte", principalmente tendo em conta que vinha de um governo monárquico. Lloyd George recordou o secretário do rei que a própria constituição britânica tinha surgido graças a uma revolução - a revolução sem sangue de 1688.

Jorge decidiu então enviar a sua própria mensagem de apoio a Nicolau: "os eventos da semana passada deixaram-me profundamente perturbado. Estou sempre a pensar em ti e serei sempre um verdadeiro e dedicado amigo tal como sabes que já fui no passado". O ministro dos negócios estrangeiros do governo provisório, Pavel Miliukov, um antigo membro da Duma que reverenciava Sir Edward Grey [ministro dos negócios estrangeiros do Reino Unido entre 1905 e 1916] e admirava as tradições liberais da Grã-Bretanha, disse a Buchanan [embaixador do Reino Unido na Rússia] que a carta não podia ser entregue ao destinatário. O novo Soviete começava a mostrar uma vontade preocupante de executar o czar. O clima político em Petrogrado era de tal forma instável que o telegrama de Jorge apenas serviria para piorar a situação. A única solução que Miliukov via era retirar o czar da Rússia o mais rapidamente possível. Quando, a 21 de Março, Buchanan avisou que "qualquer violência exercida sobre o imperador e a sua família teria um efeito deplorável e chocaria a opinião publica neste país", Miliukov perguntou-lhe se a Grã-Bretanha estaria disposta a dar asilo aos Romanov. Quando reportou o pedido do ministro dos negócios estrangeiros, Buchanan acrescentou a sua opinião de que o pedido deveria concedido.

Sir George Buchanan, embaixador da Grã-Bretanha na Rússia
Nesse mesmo dia, o antigo imperador e a família foram colocados em prisão domiciliária. Os soldados tinham chegado a Czarskoe Selo uma semana antes, tinham cercado o palácio e cortado o fornecimento de água. Alexandra não soube nada de Nicolau durante três dias. Alexei estava com sarampo e em grande sofrimento. A czarina quase desmaiou quando soube da abdicação, depois reagiu com o seu fatalismo característico: "é o melhor. É a vontade de Deus. Deus vai garantir que a Rússia fica a salvo. É só isso que interessa". O governo provisório disse aos seus prisioneiros que aquela medida era apenas uma precaução para os manter em segurança. Disseram-lhes que o plano era levá-los até à fronteira marítima da Finlândia, que ficava a apenas algumas horas de distância, e colocá-los a bordo de um navio britânico, onde viajariam até à Inglaterra. Nicolau, que recebeu permissão para deixar Stavka antes de regressar a Czarskoe Selo, disse ao representante militar britânico que tinha a esperança de se retirar para a Crimeia, mas que, "se isso não for possível, prefiro ir para a Inglaterra do que para qualquer outro sítio".

Nicolau, Alexandra e as filhas Anastásia, Olga e Maria por volta de 1916-17
Lloyd George não gostava muito da ideia de dar abrigo ao autocrata de todas as Rússias que tinha perdido todo o crédito, mas, quando pediu a opinião do antigo conselheiro do rei Eduardo VII, Sir Charles Hardinge, e a Stamfordham, concordou que "a proposta (...) não pode ser recusada". Stamfordham acrescentou que Buchanan devia "dar a entender" que o governo russo deveria atribuir um rendimento ao ex-czar para ele viver. Quando Lloyd George sugeriu (sem dúvida de forma provocatória) que o rei [Jorge V] podia emprestar "uma das suas casas", o ministro respondeu rispidamente que o rei "não tem casas, excepto Balmoral", que não tinha quaisquer condições. 


Lloyd George (esq.) com o rei Jorge V e o futuro rei Eduardo VIII
Nicolau chegou a Czarskoe Selo nesse mesmo dia, fazendo o seu caminho da desgraça por entre as divisões cheias de soldados curiosos que, agora, não tinham qualquer motivo para se colocar em formação ou fazer a saudação. Quando chegou aos aposentos privados da família, perdeu a compostura e começou a chorar. Um cortesão disse que ele parecia "um velho". Quando tentou sair para ir dar uma volta a pé, foi cercado por seis soldados que o mandaram afastar-se com a ponta das suas espingardas. "Não pode ir para aí, Gospodin Polkovnik [Sr. Coronel]", disseram eles. "Afaste-se quando o mandam, Gospodin Polkovnik". Nicolau deixou-se ficar, pequeno, em silêncio e sem qualquer expressão no rosto. Mais tarde, nessa mesma noite, chegaram três carros armados cheios de soldados demasiado entusiasmados de Petrogrado que anunciaram que iam levar o ex-czar para a fortaleza de São Pedro e São Paulo - outro sinal que mostrava como o controlo que o governo provisório tinha sobre os soldados era ténue. Eventualmente, conseguiram convencer os soldados a ir embora, com a condição de que poderiam ver o czar. Pouco depois da meia-noite, outro grupo de soldados assaltou a campa de Rasputine no parque imperial, exumaram o corpo e queimaram-no.


Nicolau II no verão de 1917, no Palácio de Alexandre
Miliukov garantiu a Buchanan que o governo russo iria pagar o exílio do czar, mas pediu-lhe que não revelasse que o pedido de santuário tinha vindo da parte do governo, uma vez que temia enfurecer a opinião pública e o Soviete de Petrogrado. Parecia claro que levar a família às escondidas para a Finlândia não seria tão simples como parecia. Entretanto passou uma semana. A Inglaterra e Jorge ocupavam claramente os pensamentos da família imperial. Nicolau escreveu no seu diário que estava a planear começar a escolher as coisas que levaria consigo para Inglaterra, Alexandra começou a falar constantemente das memórias que tinha de Osborne e os seus filhos começaram a perguntar aos tutores como seria a sua vida em Inglaterra.

Tatiana e Anastásia com soldados no verão de 1917
Em Londres, Jorge começou a ter sérias dúvidas se seria boa ideia trazer o seu primo para Inglaterra. A 30 de Março, Stamfordham escreveu ao antigo primeiro-ministro, Arthur Balfour, que Lloyd George tinha escolhido para ministro dos negócios estrangeiros:
"O rei tem pensado muito na proposta do governo para que o imperador e a família venham para Inglaterra. Como, sem dúvida, sabe, o rei tem uma amizade pessoal muito profunda com o imperador e, por isso, teria todo o prazer em fazer qualquer coisa para o ajudar nesta crise. No entanto, Sua Majestade não consegue evitar certas dúvidas, não só no que diz respeito aos perigos da viagem, mas também, de um modo mais geral, em termos de conveniência, se seria aconselhável a família real passar a residir neste país".
Balfour enviou uma resposta sem compromissos. Miliukov tinha acabado de enviar outro telegrama a pedir que o czar deixasse a Rússia de uma vez e o antigo primeiro-ministro era da opinião que "embora os ministros de Sua Majestade compreendam as dificuldades aludidas na sua carta (...) são da opinião que, a não ser que haja uma mudança de posição, neste momento já não é possível retirar o convite que foi enviado, e, por isso, esperam que o rei concorde com o convite original, que foi enviado seguindo o conselho dos ministros de Sua Majestade".

A 3 de Abril, duas das damas-de-companhia de Alexandra, Lili Dehn e a odiada Anna Vyrubova, foram presas e levadas para Petrogrado para serem interrogadas. O casal imperial recebeu também ordens para viver em separado enquanto a questão da traição de Alexandra era investigada. 


Alexandra com a sua dama-de-companhia Lili Dehn e a filha Tatiana
A 6 de Abril, Stamfordham escreveu a Balfour a insistir para que o convite fosse retirado:
"A cada dia que passa, o rei preocupa-se cada vez mais com a questão da vinda do imperador e da imperatriz para este país. Sua Majestade recebe cartas de pessoas de todas as classes sociais, pessoas que lhe são ou não conhecidas, nas quais lhe dizem que o assunto está a ser muito discutido, não só nos clubes, mas também pelos trabalhadores, e que os membros do partido trabalhista na Câmara dos Comuns estão-se a mostrar adversos à proposta (...) tenho a certeza que sabe como tudo isto será estranho para a nossa Família Real, que tem relações de parentesco tão próximas tanto com o imperador como com a imperatriz (...) o rei quer que lhe pergunte se, depois de se reunir com o primeiro-ministro, não devermos contactar Sir George Buchanan, no sentido de pedir ao governo russo que arranje outro local para estabelecer a futura residência de Suas Majestades Imperiais?"
Algumas horas depois, enviou outra carta: 
"O rei pede-lhe que faça ver ao primeiro-ministro que, tendo em conta tudo aquilo que ele tem ouvido e aquilo que lê na imprensa, o público iria ressentir fortemente a vinda para este país do ex-imperador e imperatriz e, sem dúvida alguma, iria comprometer a posição do rei e da rainha, de quem, de um modo geral, as pessoas já acham que veio o convite. (...) Buchanan tem de receber instruções para dizer a Miliukov que a oposição à vinda do imperador e da imperatriz para este país é tão forte que temos de retirar o consentimento que foi dado à proposta do governo russo inicialmente".
O rei Jorge V, acompanhado da mãe, a rainha Alexandra, a tia, a imperatriz Maria Feodorovna, e a esposa, a rainha Mary do Reino Unido
A 10 de Abril, Stamfordham encurralou LLoyd George em Downing Street para "lhe transmitir a opinião do rei de que o imperador e a imperatriz da Rússia não deveriam vir para este país e que (...) seria muito injusto para o rei se Suas Majestades Imperiais viessem para aqui quando o sentimento popular contra eles é tão pronunciado". Depois voltou a queixar-se a Balfour, dizendo-lhe que tinha visto um telegrama de Buchanan que "evidentemente achou que a vinda do imperador e da imperatriz estava garantida e que era apenas uma questão de tempo". O rei era da opinião que Buchanan já deveria ter retirado o convite.  

Os argumentos de Stamfordham tiveram efeito no governo. LLoyd George sabia que proteger os Romanov não seria bem visto na Grã-Bretanha e não queria fazer nada que afastasse o governo russo que ia ficando cada vez mais instável. Temia que acabassem por sair da guerra de repente, deixando a frente ocidental vulnerável a um ataque alemão em larga escala. Balfour achava que o rei estava "numa posição complicada". Ninguém iria acreditar que o convite não tinha sido feito pela corte. Talvez fosse melhor enviar os Romanov para o sul da França? O Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado: "o governo de Sua Majestade não irá insistir na oferta de hospitalidade que colocou anteriormente à família imperial". Balfour enviou um telegrama a Buchanan e disse-lhe para não falar mais no convite. O embaixador obedeceu com era seu dever. Miliukov já não referia o assunto há alguns dias, parecia óbvio que a questão se estava a tornar numa batata quente para o governo russo e, obviamente, se houvesse "algum perigo de criar um movimento anti-monárquico", então a Inglaterra não era o melhor lugar para colocar o czar e era melhor pedir a opinião dos franceses. Mas, em casa, segundo a sua filha, era óbvio que o embaixador estava profundamente perturbado.

Anastásia e Nicolau rodeados de soldados no parque de Alexandre no verão de 1917
Texto retirado do livro "The Three Emperors - Three Cousins, Three Empires and the Road to World War One" de Miranda Carter