Java

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Hemofilia na Família Real (Segunda Parte)

Alexandra com o pai, Luís, as irmãs Isabel e Vitória, o cunhado Sérgio Alexandrovich, o irmão Ernesto e a sobrinha Alice (mãe de Filipe, duque de Edimburgo) por volta de 1886.
A imperatriz Alexandra tinha um ano quando Frittie morreu e doze anos quando o seu tio Leopoldo morreu da mesma doença. Nenhuma destas tragédias a afectou directamente. O seu primeiro contacto relevante com a hemofilia deu-se quando a doença foi diagnosticada a dois dos seus sobrinhos, filhos da sua irmã Irene e do marido, o príncipe Henrique da Prússia. Um dos rapazes, Henrique, o mais novo, terá morrido em 1904 devido a uma hemorragia quando tinha quatro anos de idade, pouco antes do nascimento de Alexei. Durante o seu curto tempo de vida, a sua doença não foi revelada ao público, provavelmente para esconder o facto de que a hemofilia tinha surgido na família imperial da Alemanha [Henrique era irmão do kaiser Guilherme II]. O irmão mais velho, o príncipe Valdemar, viveu até aos cinquenta-e-seis anos de idade, mas também morreu devido a uma hemorragia.
Alexandra com a irmã Irene, o cunhado Henrique da Prússia e o sobrinho mais velho, Valdemar.
Em circunstâncias normais, o facto de o seu tio, o seu irmão e os seus sobrinhos sofrerem de hemofilia deveria ter sido um indicador de que ela era também portadora do gene que provocava a doença. Há muito que se conhecia o padrão genético da hemofilia: tinha sido descoberto em 1803 pelo Dr. John Conrad Otto de Filadélfia e confirmado em 1820 pelo Dr. Christian Nasse de Bonn. Em 1865, o monge e botânico austríaco Gregor Johann Mendel formulou a sua lei genética, tendo por base um estudo de vinte-e-cinco anos recorrendo ao cruzamento de ervilhas caseiras. Em 1876, um médico francês chamado Grandidier declarou que "todos os membros de famílias com hemofilia devem ser aconselhados a evitar o matrimónio." E, em 1905, um ano após o nascimento de Alexei, o Dr. M. Litten, natural de Nova Iorque, adquiriu experiência suficiente com a doença para escrever que os rapazes hemofílicos deviam ser vigiados enquanto estivessem a brincar com outras crianças e que não deviam ser disciplinados com castigos físicos. "Os hemofílicos que tenham possibilidades económicas," acrescentou, "devem exercer uma profissão erudita; se estiverem na escola, os duelos estão proibidos."

Então, por que motivo foi um choque tão grande para Alexandra saber que o filho sofria de hemofilia?

Alexei Nikolaevich
Um dos motivos sugeridos pelo falecido geneticista britânico J. B. S. Haldane é o de que, embora o padrão genético já fosse conhecido entre a comunidade cientifica, esse conhecimento nunca chegou aos círculos fechados das cortes europeias: "É provável," escreveu Haldane, "que Nicolau soubesse que a sua noiva tinha irmãos hemofílicos, apesar de nunca referir esse facto em cartas ou diários. No entanto, devido à educação que recebeu, nunca deu grande importância a esse conhecimento. Não sabemos, e quase de certeza que isso nunca será descoberto, se o médico da corte o terá aconselhado a não seguir em frente com o casamento. Se um médico distinto que estivesse fora do circulo da corte eventualmente desejasse avisar Nicolau relativamente ao perigo da sua união, não creio que o tivesse conseguido, quer directamente, quer através da imprensa. Os reis são protegidos com muito cuidado das realidades desagradáveis. A hemofilia do czarevich foi um sintoma do divórcio entre a realeza e a realidade."


Nicolau II e Alexei
Tal como Haldane referiu, não existem provas de que Nicolau ou Alexandra alguma vez tivessem interpretado as leis da genética para determinar as suas próprias hipóteses de dar à luz um filho hemofílico. É quase certo que ambos tenham considerado que o mistério da doença, ou seja, quem seria afectado ou não, estava nas mãos de Deus. Também parece ter sido esta a atitude da rainha Vitória que, aparentemente, não compreendia o padrão hereditário da doença que se tinha espalhado a partir de si. Quando um dos seus netos morreu ainda criança, a rainha limitou-se a escrever: "a nossa família parece ser perseguida por esta doença horrível, a pior que conheço."

A rainha Vitória com a neta, a futura imperatriz Alexandra da Rússia
Alexandra estava rodeada de parentes hemofílicos antes de se casar, mas essa era uma realidade partilhada pela maioria das princesas europeias. A prole da rainha Vitória era de tal forma numerosa - nove filhos e trinta-e-quatro netos - que o gene defeituoso se espalhou por todos os cantos do continente. Quando se casavam e tinham filhos, os membros da realeza viam já a hemofilia como uma das doenças com as quais se iriam ter de preocupar, juntamente com a difteria, pneumonia, varíola e a escarlatina. Os príncipes reais, mesmo quando estavam destinados a herdar um trono, não excluíam uma possível candidata a noiva só por esta ter um historial de hemofilia na família. O príncipe Alberto Vítor de Inglaterra que, se tivesse vivido tempo suficiente,teria reinado em vez do seu irmão mais novo, Jorge V, tinha tentado casar-se com Alix antes de Nicolau a conquistar. Se esse casamento tivesse realmente acontecido, a hemofilia teria surgido na família real britânica. O kaiser Guilherme II estava rodeado de hemofilia por todos os lados. Tanto ele como os seus seis filhos escaparam, mas o seu tio e dois dos seus sobrinhos não tiveram a mesma sorte. O próprio kaiser tinha-se até apaixonado por Ella, irmã mais velha de Alexandra antes de ambos se casarem com outras pessoas. Se Ella se tivesse casado com Guilherme em vez de escolher o grão-duque Sérgio Alexandrovich, também é possível que tivessem dado à luz um herdeiro hemofílico.

Alexandra (2.ª da esquerda) com vários membros da família real britânica, incluindo o príncipe Alberto Vítor (1.º da esquerda). 
Naquela época, todas as famílias, incluindo as famílias reais, tinham vários filhos e era esperado que um ou mais perdessem a vida antes de chegar à idade adulta. A morte de uma criança nunca era uma experiência trivial, mas raramente significava mais do que uma interrupção temporária na rotina familiar. Apesar disso, no caso de Alexandra, só a ameaça de morte do seu filho mais novo levava tudo de si e colocou em causa o destino de toda uma dinastia.

Alexandra e Alexei

Texto retirado do livro "Nicholas & Alexandra" de Robert K. Massie.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Hemofilia na Família Real (Primeira Parte)

A rainha Vitória e a sua família no casamento da sua filha mais velha, Vitória.
O caso mais conhecido de mutação espontânea de hemofilia aconteceu na família da rainha Vitória. A mulher de baixa estatura e indominável, que reinou em Inglaterra durante sessenta-e-quatro anos e que era avó de grande parte da realeza europeia era, sem o saber, portadora de hemofilia quando se casou. O seu filho mais novo, o príncipe Leopoldo, duque de Albany, sofria de hemofilia. Duas das suas cinco filhas, a princesa Alice e a princesa Beatriz, eram portadoras de hemofilia. Quando as filhas de Alice e Beatriz - as netas da rainha Vitória - se casaram nas casas reais da Rússia e de Espanha, os seus filhos, os herdeiros desses tronos, nasceram com hemofilia.


A princesa Alice, o príncipe Leopoldo, a princesa Luísa e a princesa Helena com John Brown.

Quando soube que o seu próprio filho sofria de hemofilia, a rainha ficou abismada. Aturdida, protestou, afirmando que "esta doença não existe na nossa família," e, de facto, nunca se tinha manifestado até então. Tinha ocorrido uma mutação espontânea, quer no material genético da própria Vitória ou no cromossoma X, que lhe foi transmitido pelo pai, o duque de Kent, na altura da concepção. Fosse como fosse, pouco tempo depois do nascimento de Leopoldo em 1853, era impossível não reconhecer os sintomas da doença que surgiam sob a forma de inchaços e nódoas negras. Quando tinha dez anos de idade, foi-lhe dada a tarefa, durante um casamento, de tomar conta do seu sobrinho Guilherme de quatro anos que era tão teimoso quanto ele. Quando Guilherme se impacientou e Leopoldo o reprimiu, o futuro kaiser da Alemanha deu um pontapé na perna do tio. Leopoldo não ficou ferido, mas a rainha Vitória ficou furiosa.


O príncipe Leopoldo
Leopoldo cresceu e tornou-se um príncipe alto, inteligente, afectuoso e teimoso. Ao longo da sua infância e adolescência, a sua obstinação levava muitas vezes a hemorragias e o jovem acabaria por ficar com o joelho afectado para sempre. Em 1868, o British Medical Journal relatou uma das suas hemorragias: "Sua Alteza Real, que, até agora, gozava de uma saúde excelente e de um nível de actividade normal, sofreu, ao longo de toda esta semana uma hemorragia acidental grave. O príncipe ficou reduzido a um estado de exaustão extrema e perigosa devido à perda de sangue." Em 1875, quando Leopoldo tinha vinte-e-dois anos, o mesmo diário registou: "A capacidade peculiar do príncipe para sofrer hemorragias graves, das quais sempre padeceu, é essencialmente um caso de vigilância médica e cuidados atentos. Está nas mãos daqueles que o vigiam desde o berço e que estão armados com a experiência especial da sua constituição, assim como do comando vasto de recursos profissionais."


O príncipe Leopoldo
A rainha reagiu da forma mais típica no que diz respeito a pais de filhos com hemofilia. Afeiçoou-se de forma atípica a este filho, preocupava-se com ele, protegia-o demasiado e o resultado das suas constantes advertências para que ele tivesse cuidado foi uma relação pautada por discussões frequentes. Quando ele tinha quinze anos, a rainha presenteou-o com a Ordem da Jarreteira, mais cedo do que aos outros irmãos "porque está mais avançado e porque desejo dar-lhe este encorajamento e prazer, já que tem sofrido tantas privações e desilusões." Quando Leopoldo tinha vinte-e-seis anos, a sua mãe contou ao primeiro-ministro, Benjamin Disraeli, que Leopoldo não a poderia representar na abertura da exposição na Austrália, como Disraeli lhe tinha pedido. Recorrendo a um discurso na terceira pessoa, a rainha escreveu: "a rainha não pode consentir o envio do seu filho que padece de um estado muito delicado e já esteve às portas da morte quatro ou cinco vezes e que raramente passa mais do que alguns meses sem ter de ficar de cama, para tal distância, para um clima com o qual não está familiarizado e expô-lo a perigos que ele talvez não possa evitar. Mesmo que ele não sofresse, o nível de ansiedade ao qual a rainha seria exposta faria com que não fosse capaz de realizar os seus deveres em casa e poderia colocar a sua saúde em risco."


Leopoldo com as irmãs, as princesas Luísa e Helena, a cunhada, a princesa Alexandra de Gales, os sobrinhos (Alberto Eduardo, Jorge e Luísa) e a mãe, a rainha Vitória.
Constantemente frustrado pelas tentativas da mãe para o proteger, Leopoldo procurou algo para fazer. O seu irmão mais velho, o príncipe de Gales, sugeriu dar-lhe o comando dos Voluntários de Balmoral, uma companhia militar colocada perto do castelo real na Escócia. A rainha, preocupada com o joelho de Leopoldo, recusou a sugestão e, a partir de então, Leopoldo recusou voltar a Balmoral. Quando a rainha tentou prender o filho num andar superior do Palácio de Buckingham, Leopoldo fugiu para Paris durante duas semanas. Aos vinte-e-nove anos, para grande surpresa da mãe, Leopoldo encontrou uma noiva alemã, a princesa Helena de Waldeck, que não tinha medo da doença e estava disposta a casar com ele. Os dois viveram felizes durante dois anos e tiveram uma filha. Helena estava grávida pela segunda vez quando, durante uma estadia em Cannes, Leopoldo caiu, sofreu um pequeno golpe na cabeça e morreu, aos trinta-e-um anos de idade, de hemorragia cerebral. A sua mãe sofreu por si e pela família, mas escreveu no seu diário: "não há nada que lamentar em relação ao querido Leopoldo. Havia nele um desejo inquietante por aquilo que não podia ter que parecia aumentar cada vez mais, em vez de diminuir."


Leopoldo com a sua esposa, a princesa Helena de Waldeck
O príncipe Leopoldo era tio [e padrinho] da imperatriz Alexandra. A sua doença significava que todas as suas cinco irmãs poderiam ser portadoras do gene, mas apenas Alice e Beatriz o transmitiram aos seus filhos. Dos oito filhos de Alice, duas das meninas - Alexandra e Irene - eram portadoras. Um dos seus filhos, Frederico, irmão mais velho de Alexandra, a quem todos chamavam Frittie, era hemofílico.  Quando tinha dois anos de idade, um corte que fez no ouvido sangrou durante três dias. Certa manhã, quando tinha três anos, Frittie e o seu irmão mais velho, Ernesto, entraram a correr pelo quarto da mãe quando ela ainda estava na cama. As janelas que iam até ao chão estavam abertas. Frittie desequilibrou-se e caiu a uma altura de cerca de seis metros no terraço de pedra que ficava em baixo. Não partiu nenhum osso e, inicialmente, parecia que tinha ficado apenas assustado e com algumas negras. No entanto, a hemorragia cerebral já tinha começado e, nessa mesma noite, Frittie morreu.


O príncipe Frederico (Frittie) de Hesse-Darmstadt

Texto retirado do livro "Nicholas & Alexandra" de Robert K. Massie

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Filme - Rasputin (2013)


Este filme pouco conhecido foi uma produção conjunta entre a França e a Rússia. Falado em russo, é mais uma versão cinematográfica da vida de Rasputine que, como não podia deixar de ser, inclui várias dramatizações da vida da última família imperial russa. O filme destaca-se principalmente por dois grandes nomes do cinema francês que participaram neste projecto: Gérard Depardieu no papel de Rasputine e Fanny Ardant no papel de Alexandra.

É também de destacar o facto de muitas das cenas terem sido filmadas no Palácio de Alexandre e outros locais frequentados pela família imperial que são retratados de forma extremamente fiel.

O filme é falado em russo. 

Imagens do Filme:



O grão-duque Nicolau Nikolaevich


O escritório de Nicolau II no Palácio de Alexandre




Nicolau II e Maria Feodorovna



Anna Vyrubova

Felix Yussupov

Irina Alexandrovna

Dmitri Pavlovich

Yakov Yurovsky


Filme completo:


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Anastásia Nikolaevna por Helen Rappaport

Anastásia Nikolaevna, por volta de 1912
Logo aos quatro anos de idade, Anastásia era "uma macaquinha muito vigorosa, sem medo de nada". De todos os filhos do casal imperial, Nastasya ou Nastya, como lhe chamavam, era a que tinha um aspecto menos russo. Tinha cabelo louro escuro como Olga e tinha herdado os olhos azuis do pai, mas as suas feições assemelhavam-se muito à família da sua mãe, os Hesse-Darmstadt. 


Anastásia com a mãe em 1913

Também não era tímida como as irmãs. Na verdade, era muito frontal, até com os adultos. Podia ser a mais nova das quatro irmãs, mas era sempre a que chamava mais a atenção. Tinha o dom do humor e "sabia como pôr um sorriso na cara de qualquer pessoa". Certo dia, pouco depois do nascimento de Alexei, Margaretta Eager apanhou Anastásia a comer ervilhas com as mãos: "Repreendi-a, dizendo-lhe muito séria que nem o bebé comia ervilhas com as mãos, ao que ela respondeu: 'come sim, até as come com os pés!'". 

Anastásia, por volta de 1906.

Anastásia recusava-se a fazer qualquer coisa à qual fosse obrigada; se lhe dissessem para não subir para cima das coisas, era precisamente isso que fazia. Quando lhe disseram para não comer as maçãs colhidas no pomar e que seriam servidas assadas ao jantar, a grã-duquesa empanturrou-se delas de propósito. Quando foi reprimida, sem mostrar qualquer sinal de arrependimento, disse a Margaretta Eager em forma de provocação: "Não sabe como aquela maçã que comi no jardim me soube bem!". Foi preciso proibi-la de ir ao pomar durante uma semana para que Anastásia prometesse finalmente que não voltaria a roubar maçãs.

Anastásia e Alexei por volta de 1906

Com Anastásia, tudo era uma batalha. Era uma aluna impossível, distraída, negligente, sempre desejosa por sair da cadeira e fazer outra coisa que não a obrigasse a ficar quieta. No entanto, apesar de não ser uma intelectual, tinha um dom instintivo para lidar com pessoas. Quando era castigada por mau-comportamento, dava sempre a volta por cima: "podia sentar-se e avaliar as consequências de qualquer coisa que iria fazer e aceitar o castigo como um soldado", como Margaretta Eager recordou. Mas esse facto nunca a impediu de ser a maior encorajadora de maus comportamentos e conseguia escapar de mais castigos do que qualquer uma das irmãs. Em certas ocasiões, à medida que foi crescendo, chegou mesmo a tornar-se bruta e até vingativa quando brincava com outras crianças. Arranhava-as e puxava-lhes o cabelo, o que levava os seus primos a acusá-la de ser "desagradável, ao ponto de ser má" quando as coisas não corriam à sua maneira.

Anastásia em Darmstadt

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Maria Nikolaevna por Helen Rappaport

Maria com o pai em 1910
A terceira irmã, Maria, era uma criança tímida que, mais tarde, viria a sofrer por estar no meio das suas irmãs mais velhas e dos irmãos mais novos. A sua mãe fez um par com ela e a irmã mais nova, Anastásia, apelidando-as de "o pequeno par", mas, à media que o tempo foi passando, Maria sentia-se por vezes afastada de Anastásia e Alexei - que podem até ser considerados o "pequeno par" mais natural - e que não recebia o amor e afecto que desejava.

Maria em 1910

O seu físico forte fazia com que parecesse bastante deselegante e tinha a reputação de ser desastrada e rude. No entanto, para aqueles que conheciam a família, Maria era de longe a mais bonita com as suas feições rosadas, o seu cabelo castanho volumoso e uma personalidade russa nata que mais nenhuma das irmãs possuía; toda a gente elogiava os seus olhos que brilhavam "como lanternas" e o seu sorriso sincero.

Maria com o irmão, Alexei, e o pai, Nicolau

Maria não era particularmente inteligente, mas tinha muito talento para a pintura e o desenho. Mashka, como as suas irmãs lhe chamavam muitas vezes, era a que menos se deixava afectar pela sua posição. "Apertava a mão a qualquer mordomo ou criado do palácio e trocava beijos com criadas de quarto ou camponesas que conhecia. Se um criado deixasse cair alguma coisa, ela corria logo para a apanhar". 

Maria numa aula de pintura

Uma vez, quando estava a ver um regimento a marchar por baixo da sua janela, no Palácio de Inverno, exclamou: "Oh, como gosto destes soldados tão queridos! Gostava de os beijar a todos!". De todas as irmãs era a mais aberta e sincera e sempre foi muito atenciosa com os pais. Margaretta Eager achava que ela era a filha preferida de Nicolau que se sentia comovido com o seu afecto nato. Em certa ocasião, quando Maria admitiu que tinha roubado um biscoito de um prato à hora do chá, Nicolau ficou aliviado já que "tinha medo das asas que lhe estavam a crescer". Ficou contente por ver que ela "era apenas uma criança humana normal".

Maria, por volta de 1910
Com uma personalidade tão complacente, talvez fosse inevitável que Maria fosse completamente ofuscada pela personalidade dominadora da sua irmã mais nova, Anastásia, já que a grã-duquesa mais nova da família era uma força da natureza cuja presença não deixava ninguém indiferente.

Maria e Anastásia

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Tatiana Nikolaevna por Helen Rappaport

Tatiana em 1905
Aos oito anos de idade, Tatiana tinha pele de marfim, era mais delgada, tinha cabelo mais negro e olhos mais acinzentados do que o tom azul marinho das irmãs. Tinha uma beleza cativante, "era uma cópia viva da sua linda mãe", com um olhar naturalmente imperial, realçado pela sua excelente estrutura óssea e olhos 'orientais'. À primeira vista, parecia ser uma menina muito confiante, mas, na verdade, era muito reservada e cautelosa com as suas emoções, tal como a mãe. 

Tatiana, por volta de 1910

Nunca se deixou dominar pelo seu temperamento, como Olga e, ao contrário da irmã mais velha - que teve uma relação volátil com a mãe à medida que foi crescendo - não havia dúvidas de que Tatiana lhe era completamente dedicada; era sempre em ela que Alexandra confiava e se abria. Era sempre a mais educada e atenciosa à mesa e acabaria por se tornar numa organizadora nata com uma mentalidade metódica e uma conduta humilde que as suas irmãs nunca conseguiram igualar. Não é de admirar que as suas irmãs a apelidassem de "a governanta". 

Tatiana com a mãe

Enquanto Olga tinha um ouvido para a música e tocava muito bem piano, Tatiana tinha grande talento para trabalhos com agulhas, como a mãe. Era também muito altruísta e sensível ao que os outros faziam por ela. Quando descobriu que a sua ama e Margaretta Eagar eram pagas pelos seus serviços porque não tinham  dinheiro próprio e precisavam de ter uma profissão para o ganhar, Tatiana dirigiu-se até à cama de Eager na manhã seguinte, enfiou-se debaixo dos cobertores e abraçou-a, dizendo: "Seja como for, não é paga para fazer isto".

Tatiana, a bordo do Standard com um oficial

Texto retirado do livro "Four Sisters - The Lost Lives of the Romanov Grand Duchesses" de Helen Rappaport

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sondagem

Hoje gostaríamos de saber um pouco mais sobre os nossos leitores. Criamos uma pequena sondagem para saber qual o período da família Romanov que gostariam de ver mais abordado no blog. Há alguma personagem em particular que gostariam de ver mais explorada? Uma época? Um acontecimento? Livros? Filmes? Digam da vossa justiça!

O questionário destina-se apenas a ter uma ideia geral da época mais desejada, mas, se tiverem um pedido em específico, não hesitem em deixar um comentário ou enviar uma mensagem com as vossas sugestões!

Desde já agradecemos a todos!


Olga Nikolaevna por Helen Rappaport

Olga Nikolaevna, por volta de 1905

Em 1905 e quase a completar dez anos de idade, Olga estava já ciente da sua posição como filha mais velha e adorava dar saudações militares aos soldados que estavam em guarda enquanto ela passava. Até ao nascimento de Alexei, algumas pessoas tinham o hábito de a chamar a sua "pequena imperatriz" e Alexandra acentuou esse facto, pedindo às suas damas-de-companhia que beijassem a mão de Olga em vez de expressarem o seu afecto de formas mais "efusivas". Apesar de, por vezes, ser rude com as irmãs, Olga já mostrava um lado mais sério. Possuía um certo carácter honesto e íntegro que lhe teria sido muito útil se alguma vez tivesse chegado a ser czarina. Desde cedo, Alexandra colocou em Olga um certo nível de responsabilidade que lhe relembrava constantemente em pequenas notas: "A mama dá um beijo muito carinhoso à sua menininha e pede a Deus para que a ajude a ser sempre uma criança cristã bondosa e amorosa. Sê simpática para todos, sê gentil e amorosa e todos vão gostar de ti", escreveu em 1905.

Olga com a mãe, Alexandra.

Margaretta Eagar viu desde cedo que Olga tinha herdado o espírito altruísta da mãe e da avó Alice. Era muito sensível aos problemas dos mais infelizes. Certo dia, quando passeava de carruagem por São Petersburgo, viu um polícia a prender uma mulher por embriaguez e desacatos e implorou a Margaretta que a soltassem. Quando viu os camponeses pobres a cair de joelhos na berma da estrada na Polónia enquanto a família imperial passava, também ficou perturbada e pediu a Margaretta que lhes dissesse para 'não fazer aquilo'. Pouco depois do Natal certo ano, quando estava a passear pela cidade, viu uma menina a chorar na estrada. 'Veja,' exclamou ela, muito exaltada, 'o Pai Natal não devia saber onde ela morava' e atirou imediatamente a sua boneca que tinha consigo pela carruagem fora, gritando: 'Não chores, menina, toma uma boneca'".

Olga, por volta de 1904,1905

Olga era curiosa e tinha muitas perguntas. Uma vez, quando uma ama a repreendeu por estar mal-disposta, dizendo que ela 'tinha saído da cama com o pé errado', na manhã seguinte, Olga perguntou de forma pertinente qual era o pé certo para sair da cama para que 'o pé errado não me faça portar mal hoje'. Conseguia ser irritável, desdenhosa e difícil e os seus ataques de raiva revelavam um lado negro que, por vezes, era difícil de controlar, mas Olga também era uma sonhadora. Em certa ocasião, quando estava a brincar aos espiões com as filhas, Alexandra reparou que 'a Olga lembra-se sempre do sol, das nuvens, no céu, na chuva ou algo relacionado com o paraíso e explica-me que fica muito feliz quando pensa nestas coisas'". Em 1903, com oito anos de idade, confessou-se pela primeira vez e, pouco tempo depois da morte trágica da sua prima [Isabel de Hesse] nesse mesmo ano, começou a fascinar-se com o paraíso e a vida depois da morte. "A prima Ella já sabe, já está no paraíso, sentada a falar com Deus e Ele está a explicar-lhe como e porque fez isto", disse Olga a Margaretta Eager quando as duas conversavam sobre o sofrimento de uma mulher cega.


Olga com a sua prima Isabel, o tio Ernesto Luís de Hesse e o pai, Nicolau II.

Texto retirado do livro "Four Sisters - The Lost Lives of the Romanov Grand Duchesses" de Helen Rappaport