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quinta-feira, 9 de março de 2017

[Notícias] - Descendente dos Romanov emociona-se ao recordar a morte da família

A princesa Olga Romanoff na série documental "The Royal House of Windsor"
A princesa Olga Romanoff, filha do príncipe André Alexandrovich da Rússia, sobrinho do czar Nicolau II, emocionou-se recentemente quando recordou a morte de vários membros da família entre 1918 e 1919 e o facto de o rei Jorge V do Reino Unido não os ter ajudado, recusando-lhes exílio em Inglaterra.
No primeiro episódio da série documental "The Royal House of Windsor", emitida pelo Channel 4 no Reino Unido, a princesa Olga Andreevna, de 66 anos de idade, recordou o seu avô, o grão-duque Alexandre Mikhailovich, afirmando "o meu avô tinha sido um dos conselheiros de Nicolau [II da Rússia] e acho que se ele tivesse ouvido os conselhos do meu avô, é possível que este desastre não tivesse acontecido", tendo-se emocionado de seguida.
Depois, Olga acrescentou que o seu pai, o príncipe André, "nunca, nunca culpou o Jorge [V do Reino Unido] por isso. Sempre disse que tinha sido por causa do primeiro-ministro, mas, pelos vistos, não foi o primeiro-ministro de todo, foi tudo culpa do Jorge. Fico aliviada por o meu pai ter morrido antes de encontrar aquela carta [onde Jorge afirmava que não era prudente receber Nicolau II e a família em Inglaterra] porque teria ficado muito transtornado."

Parte da família da princesa Olga Romanoff: os seus avós Alexandre Mikhailovich e Xenia Alexandrovna, o pai, o príncipe André, e a tia, a princesa Irina Alexandrovna.
Muitos criticaram a princesa Olga pelas suas palavras, uma vez que, embora não tenha permitido a ida de Nicolau II e da sua família mais próxima para o Reino Unido, mais tarde, em Dezembro de 1918, o rei Jorge V enviou um navio inglês, o HSM Marlborough, à Crimeia para salvar outros membros da família Romanov, incluindo a bisavó (Maria Feodorovna), avós (Alexandre Mikhailovich e Xenia Alexandrovna), o pai e os tios de Olga. Outros acrescentaram também que a reacção de Olga parece exagerada, tendo em conta que ela nasceu trinta anos depois da tragédia, em 1950.
No entanto, há também muitos que a defendem, recordando que a morte de 18 membros da família no espaço de alguns meses deixou para sempre as suas marcas nos sobreviventes e que foi nessa atmosfera que Olga foi criada. Também se destaca o facto de, apesar de ter salvo a família mais próxima de Olga, foi de facto a falta de acção de Jorge V relativamente ao resto da família que contribuiu directamente para as suas mortes.
Para saber mais sobre a forma como Jorge V do Reino Unido agiu para com a família Romanov, podem consultar a primeira e a segunda parte do artigo "Jorge V do Reino Unido e o exílio dos Romanov" neste blog.
O documentário está disponível online aqui, mas apenas no território do Reino Unido.



Quem é a princesa Olga Romanoff?


Nascida a 8 de Abril de 1950 em Londres, no Reino Unido, a princesa Olga Romanoff é a única filha do segundo casamento do príncipe André Alexandrovich da Rússia com Nadine Sylvia Ada McDougall, proveniente de uma família abastada de Inglaterra. Olga tem três meios-irmãos do primeiro casamento do pai, incluindo o actual chefe da família Romanov e presidente da Associação da Família Romanov, o príncipe André Andreyevich Romanov.

Durante a década de 1970, Olga chegou a ser considerada como uma possível candidata a noiva do príncipe de Gales, Carlos, mas acabaria por se casar em 1975 com Thomas Mathew com quem teve quatro filhos antes de os dois se separarem em 1989.

Olga é conhecida por participar em vários reality shows, nomeadamente o "Australian Princess", onde foi uma das mentoras e o "You Can't Get This Staff" onde apresentava os seus criados. Também um dos seus filhos, Francis Alexander Mathew participou na versão ucraniana do programa "The Bachelor" e noutro reality show chamado "Secret Princes".

Actualmente, Olga é uma das organizadoras do Baile de Debutantes Russas que se realiza todos os anos em Londres e está também a escrever um livro de memórias.

quarta-feira, 8 de março de 2017

A nossa alegria desde que nasceu - Czarevich Nicolau Alexandrovich - Segunda Parte

Nicolau Alexandrovich
No dia seguinte, Nicolau obrigou-se a levantar da cama e estava determinado a ver os tesouros do Palácio Pitti, mas o esforço foi demasiado grande e, quando regressou, teve de voltar para a cama onde ficou durante as seis semanas seguintes. Tinha um inchaço nas costas. Segundo os médicos, tratava-se de um abcesso e, enquanto era submetido a uma série de tratamentos dolorosos, a sua comitiva fazia os possíveis para o distrair. Sérgio de Leuchtenberg, o seu primo de quinze anos que estava a viver em Florença, ia visitá-lo todos os dias e falava-lhe sobre todas as maravilhas da cidade que ele nunca conseguiria ver. No dia de ano novo, o czarevich e a sua comitiva partiram para Livorno, onde a corveta Vitiaz os esperava para os levar por mar até Nice para junto da czarina. Tinham sido preparados aposentos no primeiro andar da Villa Diesbach. Um dos tios maternos de Nicolau, o grão-duque Luís III de Hesse estava a ocupar o rés-do-chão, por isso a sua comitiva teve de se alojar num hotel próximo.

Sérgio de Leuchtenberg, filho da grã-duquesa Maria Nikolaevna da Rússia.
As dores diminuíram, mas Nicolau tinha medo de voltar a sofrer tanto como nos meses anteriores. Sentia-se muito fraco e não conseguia endireitar as costas, por isso tinha de ser levado ao colo quando subia e descia as escadas. Os médicos franceses receitaram massagens e tratamentos com vapor. Nicolau também dava passeios de carruagem todos os dias e parava do lado de fora da Villa Bermond, para que a sua mãe pudesse sair e vê-lo. As pessoas que os viram comentaram que a relação entre mãe e filho era extremamente afectuosa. Sempre que via a mãe, Nicolau segurava-lhe a mão e beijava cada um dos seus dedos e nenhum deles conseguia esconder a preocupação que sentiam. Ao longo de toda a sua curta vida, Nicolau tinha aprendido a dominar as suas emoções. Um dia, quando caminhava no Vale das Flores, apoiado numa bengala e no braço de um amigo, disse que não se atrevia a falar sobre Dagmar porque a amava demasiado e, se pensasse nela, não se conseguiria controlar.

Nicolau Alexandrovich e Dagmar
Desde que o noivado tinha sido anunciado que o jovem casal trocava correspondência regularmente. Enquanto Nicolau enfrentava a sua doença, Dagmar estava a aprender a língua e os costumes russos que, dentro em breve, seria o seu país. Nesse inverno, quando contou a Nicolau que, agora, sentia que acreditava mais na Igreja Ortodoxa do que naquela que tinha sido a sua religião desde que nasceu, ele ficou particularmente feliz: as suas cartas mostram que era profundamente religioso e que estava desejoso por partilhar essa fé com a sua futura esposa. O casal fantasiava sobre os filhos que teriam e sobre como seria a sua vida juntos no Palácio de Anichkov, a residência onde normalmente vivia o herdeiro do trono e onde já estavam a ser preparados apartamentos para eles. No seu estado enfraquecido, eram estes sonhos que davam esperança a Nicolau.

Nicolau 

À medida que as semanas iam passando, Nicolau começou a sofrer dores de cabeça e enjoos frequentes. Os médicos diziam que tudo não passava de reumatismo, talvez com um ligeiro toque de malária, e a czarina queria acreditar, mas houve fortes discussões entre os médicos e o conde Stroganov e a tensão começou a aumentar. Tiveram de ser chamados dois especialistas franceses, Nélaton e Rayer, no final de Janeiro que confirmaram o diagnóstico de reumatismo, um grande alívio para os médicos que já o estavam a tratar. No entanto, o professor Burci, que o tinha tratado em Florença, enviou várias mensagens preocupantes através do cônsul russo a avisar que o abcesso que tinha detectado tinha todas as hipóteses de piorar caso se insistisse no tratamento actual, e que, naquele ponto, já podia estar a afectar a medula óssea. No entanto, ninguém ouviu os seus avisos. Os médicos oficiais estavam de tal forma confiantes que, em finais de Fevereiro, foi enviado um emissário a Copenhaga para tratar de um encontro entre Dagmar e a czarina e até para dar início aos preparativos para o casamento.


Nicolau Alexandrovich

Em Março, Nicolau piorou novamente e mostrava uma sensibilidade anormal ao som. Queixava-se que o barulho das ondas na praia não o deixava dormir, por isso foi levado para a Villa Bermond. A 11 de Março, o Journal de Nice publicou um boletim optimista do progresso do seu estado de saúde e, dois dias depois, esteve presente numa festa para os Chasseurs da Guarda Imperial, para fazer revista às tropas e distribuir prémios, mas não conseguiu sair da carruagem e teve de se esforçar para disfarçar as dores que sentia. Entretanto, passou mais um mês e, na Dinamarca, Dagmar começou a preocupar-se com a falta de cartas do seu noivo. A 7 de Abril, depois de passar quinze dias sem saber nada dele, enviou um pedido desesperado ao seu "querido Nixa", onde lhe relembrou que, com a chegada da primavera, o seu próximo encontro se estava a aproximar. A princesa não conseguia pensar em mais nada e estava desesperada por saber novidades. Numa das suas cartas brincava com ele com a possibilidade de que, talvez, se tivesse apaixonado por outra, uma carta que demorou dois dias a escrever. No entanto, quando chegaram finalmente notícias, não podiam ter sido piores. No domingo de Páscoa, o estado de saúde de Nicolau piorou subitamente: tinha febre e a sua visão estava turvada. Foi enviado um telegrama ao czar que pariu de São Petersburgo nessa mesma noite levando consigo o seu médico pessoal.

Dagmar da Dinamarca
Nessa mesma noite, Nicolau teve um ataque e ficou com o lado direito do corpo paralisado durante algumas horas, o que fez com que se instalasse o caos na Villa Bermond. Começaram também a juntar-se multidões silenciosas do lado de fora. A czarina recusava-se a deixar a cama do filho e as suas damas-de-companhia estavam a ficar de tal forma histéricas que o conde Stroganov perdeu a paciência e mandou sair todos os que não se conseguissem controlar. Na segunda-feira de Páscoa, a 18 de Abril, os criados vestiram o czarevich e colocaram-no numa cadeira para que ele recebesse a comunhão. A notícia da sua doença tinha atraído especialistas de toda a Europa e um deles, o professor Rehrberg de Viena, conseguiu apresentar o primeiro diagnóstico correcto: tratava-se de uma meningite bacteriana que lhe estava a afectar o cérebro e a coluna. Mas era tarde demais. Poucos dias depois, Nicolau começou a sofrer períodos de delírio durante os quais não conseguia reconhecer ninguém. Até esse momento, os únicos parentes adultos da czarina presentes eram o seu irmão Alexandre de Battenberg e a esposa dele, Júlia, mas a partir daí começaram a chegar membros da família de toda a Europa. Na quinta-feira, chegou o irmão mais novo de Nicolau, o grão-duque Alexandre. Nicolau ficou contente por ver o irmão que era criticado por todos menos por ele. Quando comparado com o czarevich, Alexandre sempre parecera desajeitado e pouco inteligente, e a maioria das pessoas ignorava-o. Dagmar chegou a Nice na sexta-feira acompanhada da mãe. Às 14:30 desse mesmo dia chegou o czar. A czarina acordou o filho para lhe dizer que o pai tinha chegado. Nicolau segurou-lhe a mão, beijou-lhe cada um dos seus dedos e perguntou-lhe o que faria ela sem ele. Era a primeira vez que falava da sua morte e o seu pai caiu de joelhos ao lado da sua cama, lavado em lágrimas.

Nicolau com o seu irmão mais velho, Alexandre
Nicolau passava cada vez mais tempo a dormir, apesar de acordar com todos os pequenos sons. No domingo, viu Dagmar a entrar no quarto e perguntou à mãe num suspiro: "não é bonita?". Dagmar passou muito tempo ao lado dele nesse dia, a ajeitar-lhe as almofadas e a segurar-lhe a mão enquanto lhe falava docemente. Alexandre também esteve algum tempo ao lado do irmão, a segurar-lhe a outra mão. Mais tarde, criou-se a lenda de que Nicolau tinha juntado as mãos dos dois e que lhes pediu para se casarem um com o outro quando ele morresse, mas não há qualquer relato de que tal tenha acontecido, pelo menos nos testemunhos mais antigos. O fim chegou na noite de domingo, dia 24 de Abril. Lá fora brilhava o sol do início da primavera e guardas franceses e russos faziam uma vigília silenciosa. O quarto de Nicolau estava cheio de pessoas, entre parentes, comitivas e médicos enquanto padres iam cantando orações. Nicolau já não conseguia falar, mas, antes de morrer, deixou cair uma lágrima.

Gravura a representar a morte de Nicolau Alexandrovich
Dois dias depois, o corpo foi levado numa procissão de velas para a Igreja Ortodoxa na Rue de Longchamps. O corpo de Nicolau seria levado para casa a bordo do Alexander Nevsky, com os navios Oleg, Vitiaz e Almaz como escolta, e estavam marcadas cerimónias solenes para cada paragem da procissão até o caixão ser colocado em segurança a bordo do navio. Apenas o conde Stroganov se lembrava de uma manhã, cerca de três meses antes, quando Nicolau estava a ver um esquadrão a navegar pela sua janela e ficou numa espécie de transe. Quando voltou a si, disse: "pensei que estava a bordo do Alexander Nevsky e que ia começar uma longa viagem..."

Nicolau no seu leito de morte
A viagem foi longa e difícil. O Alexander Nevsky quase se perdeu devido aos ventos fortes que se faziam sentir na costa de Portugal. O esquadrão teve de parar em Lisboa durante algum tempo antes de seguir viagem para Plymouth, onde os navios britânicos Liverpool e Royal Adelaide dispararam uma salva de vinte-e-uma balas e padres russos ortodoxos de Londres foram a bordo do navio para dar uma missa. Na costa dinamarquesa havia um nevoeiro espesso e o navio quase foi contra as rochas em Skaggerrak antes de chegar a águas mais calmas para um encontro triste com a família real dinamarquesa. A 2 de Junho, o Alexander Nevsky chegou finalmente a Kronstadt, o porto que Nicolau tinha admirado da sua janela um ano antes. Agora, com grande solenidade, o seu caixão foi levado para o convés do iate Alexandria para a sua última viagem pelo Neva até à Catedral de São Pedro e São Paulo. A 6 de Junho, o czarevich Nicolau, que nasceu para governar a Rússia como czar Nicolau II, foi sepultado. "Não foi só um homem que nos deixou", escreveu o seu tutor, o historiador Stassioulevich, "foi a juventude, a beleza, o primeiro amor, acabado de despertar (...) Foi um jovem que personificava todas as esperanças que um milhão de homens corajosos tinham no futuro. Foi a nobreza, a bondade, a amizade, o espírito de justiça e de igualdade. Foi o símbolo de tudo o que é amado e sagrado para nós neste planeta".

Nicolau Alexandrovich
Esta tragédia mudou para sempre o futuro da dinastia, mas os seus efeitos imediatos foram sentidos em especial por dois jovens que estavam presentes na Villa Bermond: a princesa Dagmar e o grão-duque Alexandre Alexandrovich. Dagmar não esteve presente no funeral de Nicolau. Juntamente com o irmão mais velho, teve um encontro privado com o czar e a czarina em Heiligenberg, onde os russos ficaram a descansar durante a viagem de regresso a casa, mas o príncipe-herdeiro Frederico foi o único membro da família real dinamarquesa a seguir viagem até São Petersburgo. Com apenas dezassete anos de idade, Dagmar ficou esgotada física e psicologicamente pelas experiências que tinha vivido nos últimos meses e os seus pais queriam protegê-la de mais sofrimento.

A princesa Dagmar de luto por Nicolau.
Mas havia também planos sobre os quais ninguém queria falar de momento e que poderiam ser postos em causa caso fossem propostos na altura errada. Tanto o czar e a czarina como os pais de Dagmar queriam um noivado entre ela e Alexandre, que tinha agora de ocupar o lugar de Nicolau. A czarina insistiu de forma demasiado insistente e rápida na ideia que tinha todas as possibilidades de falhar. Ainda não tinha passado sequer um mês desde a morte de Nicolau quando a mãe de Dagmar, a rainha Luísa, pediu cuidado. Disse que também que o melhor era dar espaço a Alexandre para se habituar à sua nova posição e chegar às suas próprias conclusões sem pressões desnecessárias. Por seu lado, a rainha Luísa sabia que a sua filha iria sentir-se repelida e magoada se começassem imediatamente as negociações para um novo casamento. Nicolau ainda era a única pessoa que lhe ocupava a cabeça. Algumas semanas depois, a rainha Luísa recusou um convite feito pela corte russa para que Dagmar fizesse uma visita a São Petersburgo. Disse que seria demasiado doloroso fazer uma peregrinação até à campa do seu falecido noivo e as conversas especulativas que iriam surgir caso uma visita desse género fosse feita só podiam ser prejudiciais. Luísa conseguia ver como a situação seria interpretada e queria proteger a filha de invejas e boatos maldosos.

A rainha Luísa da Dinamarca com a sua filha Dagmar.
Mas a czarina tinha bons motivos para a sua pressa quase indecente uma vez que, após a morte de Nicolau, ela e o marido ficaram com um czarevich muito hesitante e infeliz nas mãos. Alexandre ficou destroçado com a morte do irmão. Com menos de dois anos de diferença de idades, os irmãos eram extremamente unidos. Mesmo quando estava na Dinamarca a comemorar o seu noivado, Nicolau não conseguia deixar de pensar em Alexandre. "Tenho muitas saudades do Sasha", escreveu ele à sua mãe, "gostava muito que ele estivesse aqui". No caso de Alexandre, o seu afecto tinha também um toque de respeito e, até certo ponto, dependência. Alguns meses após a morte de Nicolau, Alexandre escreveu no seu diário que ainda se sentia triste e só desde que ficou "sem o meu amigo de quem gostava mais do que qualquer outra pessoa no mundo". Recordou como partilhava tudo com o seu irmão mais velho, como não escondia nada dele e como sabia que Nicolau fazia o mesmo. Apesar de continuar a ter os seus irmãos mais novos Vladimir, Alexei, Sérgio e Paulo, Alexandre sentia que nenhum deles poderia ocupar o mesmo lugar de Nicolau na sua vida.

Nicolau Alexandrovich (Nixa) com o seu irmão mais novo Alexandre (Sasha, futuro czar Alexandre III)
Alto, com uma constituição forte e desastrado, Alexandre nunca teve as muito admiradas boas maneiras do irmão nem se sentia tão à vontade na companhia de outros. Não era tão inteligente, nem atraente: as pessoas achavam-no grosseiro e ele não fazia nada para as convencer do contrário - apesar de o seu diário mostrar que era um jovem inesperadamente sensível e que se exprimia de forma notável. No entanto, Alexandre tinha noção e sentia-se intimidado pela sua falta de talento, e, pouco depois de se tornar czarevich, um primo encontrou-o a chorar amargamente devido à mudança do seu destino. Alexandre queria ser apenas o irmão mais novo e, para piorar ainda mais a situação, estava apaixonado.

Alexandre Alexandrovich, futuro czar Alexandre III
Era normal que um grão-duque - ou qualquer príncipe - se afeiçoasse a uma das muitas jovens atraentes e de boas famílias com quem se cruzava na corte. Tinha acontecido o mesmo ao czar Alexandre II quando era mais novo, por isso ele sabia bem que tal podia acontecer e até o aceitava até certo ponto. A princesa Maria Elimovna Mescherskaya era uma das damas-de-companhia mais jovens da czarina e particularmente bonita: "toda ela tinha algo de oriental, principalmente nos seus olhos escuros e aveludados que deixavam todos fascinadas", recordou um amigo. Maria conseguia despertar o lado mais gentil de Alexandre e ele conseguia falar facilmente com ela: a relação entre eles parecia durar já há algum tempo e estar sólida na altura em que Nicolau morreu. Além de todos os outros deveres que herdou, foi-lhe também transmitido que teria de contrair um casamento adequado - com Dagmar, que tinha conhecido pela primeira vez no leito de morte do irmão. Em inícios de Julho, quando os seus pais estavam a pressionar os dinamarqueses para enviar Dagmar para uma visita, Alexandre decidiu cortar todos os laços com Maria, uma decisão que foi extremamente difícil para ele. A ausência da dama-de-companhia magoou-me porque ele estava habituado a vê-la todos os dias. Gostava das conversas que tinham e ansiava por elas: tendo em conta o facto de não se sentir à vontade perto de outras pessoas, devia ser particularmente difícil encontrar alguém com quem conseguisse falar facilmente e com prazer. No entanto, apesar de tudo, esforçou-se por se habituar à ideia de que se teria de casar com Dagmar.

Maria Elimovna Mescherskaya
No entanto, alguns meses depois, Alexandre perdeu a coragem. Era difícil evitar Maria e o amor que sentiam um pelo outro tornou-se ainda mais forte ao longo da primavera e outono de 1865. À medida que o ano de luto obrigatório chegava ao fim, Alexandre sabia que teria de tomar uma decisão. O seu pai já o tinha avisado de que, assim que o período de luto terminasse, ele teria de viajar até à Dinamarca e que já estavam a decorrer os preparativos para o casamento. Em inícios de Abril, Alexandre escreveu novamente no seu diário que teria de interromper as visitas a Maria. "Vou-me despedir da M.E. que amei como nunca amei mais ninguém até hoje e a quem estou agradecido por tudo o que fez por mim: o bom e o mau". Alexandre tinha a certeza daquilo que sentia, mas não sabia o que pensava a sua amada, mas recordava as suas longas conversas a sós e as dificuldades que tinham passado com saudade e nostalgia. No entanto, bastaram apenas algumas semanas para Alexandre se aperceber novamente que não se conseguia separar dela e, em finais de Maio, prestes a partir para a Dinamarca, tomou uma decisão muito difícil. Queria libertar-se das paredes que se fechavam à sua volta. Não conseguia sentir nada por Dagmar e começava a achar que a única solução era renunciar dos seus direitos ao trono. "Não me sinto capaz de governar. Tenho pouco respeito pelas pessoas e farto-me de tudo o que está relacionado com a minha posição". Alexandre queria viver novamente a vida despreocupada de um irmão mais novo e queria casar-se com Maria Elimovna.

Alexandre Alexandrovich
Não se sabe bem como, mas os jornais ficaram a saber desta história e foram publicados artigos sobre o romance entre Alexandre e a princesa Mescherskaya na Dinamarca, onde, compreensivelmente, causaram alguma preocupação. O czar mandou chamar o filho e perguntou-lhe se havia verdade nos rumores. Confrontado com uma pergunta tão directa, Alexandre admitiu que não queria casar-se com Dagmar. O czar deu-lhe um dia para pensar. A 31 de Maio, quando a sua partida para a Dinamarca estava eminente, Alexandre foi dar um passeio com os pais, passou algum tempo sozinho com a mãe e depois foi enfrentar o pai a quem anunciou que não iria à Dinamarca. Quando o czar lhe perguntou os motivos para ter tomado essa decisão e o questionou sobre o que sentia por Maria, Alexandre confessou sem rodeios que tinha decidido abdicar dos seus direitos ao trono.

Alexandre Alexandrovich
Esta notícia apanhou o czar num momento vulnerável. Algumas semanas antes, Alexandre II tinha escapado por pouco a uma tentativa de assassinato que o deixou abalado. Havia várias coisas que o preocupavam: morte do filho mais velho, a esposa completamente entregue à sua dor, e uma obsessão que durava já há quase um ano pela princesa Dolgorukaya que, na altura, ainda resistia aos seus avanços. Talvez noutras circunstâncias Alexandre tivesse compreendido, mas, naquele dia, perdeu completamente o controlo e disse ao filho que também ele ocupava uma posição que nunca tinha desejado. Tanto ele como o filho tinham de colocar o dever em primeiro lugar. O czar já não estava disposto a ter paciência e a pena que sentia pelo filho estava por um fio, por isso ordenou-lhe que fosse até à Dinamarca e deixou bem claro que a princesa Mescherskaya já não estaria na corte quando ele regressasse. Talvez fosse a culpa que ele próprio sentia que intensificaram a raiva do czar. Alexandre não teve sequer oportunidade de se defender, foi simplesmente dispensado a sentir-se miserável.

Alexandre (esq) com o pai e os irmãos Alexei e Vladimir
No dia seguinte, Alexandre embarcou no iate imperial com destino à Dinamarca, juntamente com o seu irmão Vladimir. Seria difícil imaginar circunstâncias menos favoráveis do que estas, mas, alguns dias depois de chegar, Alexandre enviou uma carta com boas notícias para casa: afinal achava que, com o tempo, iria conseguir gostar de Dagmar. Como já tinha acontecido noutras ocasiões, Alexandre não tinha a certeza dos seus sentimentos, o que o deixava preocupado, mas agora estava preparado para seguir em frente com esperança. O ponto essencial para esta mudança de opinião parece ter sido o amor e dor que tanto ele como Dagmar sentiam pela perda de Nicolau e também a sensação de que ela já fazia parte da família. Foram precisos mais alguns dias para Alexandre ganhar coragem e falar de casamento, mas, quando o fez, os dois compreenderam-se imediatamente. Alexandre ainda mal tinha acabado de falar quando Dagmar o abraçou e os dois começaram a chorar. Nesse momento, todos os seus pensamentos e palavras foram para Nicolau. Alexandre garantiu-lhe que o seu irmão ficaria feliz por eles e perguntou-lhe se era capaz de o aceitar como substituto dele. Dagmar disse-lhe que os iria amar sempre aos dois e, depois, o novo casal abraçou-se e ficou a falar sobre Nicolau, a trocar memórias que tinham dele e que ainda estavam frescas nas suas mentes.

Alexandre e Dagmar
O noivado foi anunciado e Alexandre regressou à Rússia. Inicialmente o casamento estava planeado para a primavera seguinte, mas o czar e a czarina mudaram rapidamente de ideias, insistindo que Dagmar devia mudar-se para a Rússia no outono para que o casamento se realizasse em Novembro. Talvez sentissem que a determinação do filho iria esmorecer se Dagmar não estivesse com ele ou que ele poderia sentir a falta da sua antiga vida se estivesse sozinho na Rússia. Mas talvez a sua maior preocupação fosse o facto de Alexandre não se conseguir adaptar à sua nova posição pública. Qualquer que fosse o motivo, Dagmar deixou a Dinamarca a 22 de Setembro, fazendo a sua entrada oficial em São Petersburgo ao lado do irmão a 29 de Setembro. Teve um mês para se preparar para a sua cerimónia de conversão à Igreja Ortodoxa Russa sob a orientação do arcebispo da Grande Capela do Palácio de Inverno e tudo isto não deve ter sido fácil uma vez que a jovem era constantemente confrontada com aquela que poderia ter sido a sua vida junto de Nicolau. Os aposentos dele no palácio e em Czarskoe Selo foram preservados tal como ele os tinha deixado, o seu rosto surgia em milhares de molduras e o corpo dele estava sepultado do outro lado do rio Neva, à vista do palácio. Muitos anos depois, Dagmar ainda chorava quando falava do seu primeiro noivo. Durante aquelas primeiras semanas, decidiu gastar todas as suas energias em festas e bailas, até receber um aviso gentil do pai de que tanta actividade lhe podia fazer mal à saúde.

Dagmar da Dinamarca
A 24 de Outubro, a princesa converteu-se e deixou os seus nomes de infância, passando, a partir desse dia, a chamar-se Maria Feodorovna. No entanto, a família preservou a sua alcunha, Minny. O casamento realizou-se catorze dias depois. Pouco depois do meio dia foi disparada uma salva de tiros e, dentro do palácio, começaram as procissões. O czar e a czarina lideraram o cortejo que atravessou a capela até chegar à cúpula  de luz do altar, onde o arcebispo metropolitano de Novgorod e São Petersburgo estava à espera para os receber, a segurar um crucifixo que cada um deles beijou. Alexandre ia logo a seguir aos pais, depois vinha a sua noiva, depois o princesa de Gales e as princesas-herdeiras da Prússia e da Dinamarca. Atrás deles vinham os irmãos mais novos e a irmã de Alexandre, assim como outros membros da família imperial. Quem observou a cerimónia, reparou que o arcebispo teve um cuidado especial com as crianças, baixando-se para as ajudar a beijar a cruz. O esplendor deve ter sido quase avassalador e, quando o dia chegou ao fim, o ministro do interior, Peter Valuyev, escreveu no seu diário que tinha visto Maria cansada pela primeira vez e que tinha, por momentos, perdido a força de vontade que a tinha levado até ali.

Maria Feodorovna e Alexandre (futuro Alexandre III)
No entanto, Maria recuperou rapidamente a sua energia e a sua capacidade de encantar todos aqueles que a conheciam. Desde o início que tanto ela como Alexandre mostraram o afecto que sentiam um pelo outro em público, assim como não escondiam de ninguém quando estavam irritados um com o outro. O pai de Maria, o rei Cristiano, comentou com agrado que, depois de um desentendimento, os dois mostravam-se ainda mais felizes um com o outro. O facto de os dois se entenderem bem em privado foi excelente uma vez que Alexandre teve sempre dificuldades em aceitar o seu papel público. Não gostava de ter de aparecer em público, mesmo perante pessoas simples que viajavam vários quilómetros só para o ver passar ao longe. Quando era obrigado a aparecer em público, muitas vezes recusava-se e ficava amuado e difícil, ficando de mau humor no final da tarefa. No entanto, Maria Feodorovna possuía o talento social que faltava ao marido e, felizmente, mesmo quando o mau humor dele a magoava, parecia compreendê-lo profundamente, ajudando-o a ultrapassar as suas dificuldades. Com o passar do tempo, a força que ela mostrava em todas as situações começou a ajudá-lo a adaptar-se. Na verdade, o facto de ele se ter tornado num dos czares mais admirados da Rússia deveu-se tanto a Maria quanto a ele. No final de 1866, um ano que tinha sido tão monumental para ambos, Alexandre escreveu no seu diário que ainda não se sentia digno da sua esposa, mas que estava determinado a melhorar para se sentir adequado. Compreendia tudo aquilo que ela tinha feito por ele e estava ansioso por aumentar a sua felicidade. A rápida sucessão dos acontecimentos que o tinha atirado para a segunda posição mais importante do império, como herdeiro do trono, e o tinham levado a casar com a mulher que o seu irmão tinha amado ao longo de vários anos ainda o deixavam assombrado: "acho difícil que alguém tenha passado pelas mesmas mudanças que passei".

Alexandre III e Maria Feodorovna
Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat