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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Realização de novos exames forenses aos corpos da família Romanov - Resumo


Em 2008, quando foi anunciado que se tinham localizado e identificado os restos mortais de Maria e Alexei, os únicos membros da família imperial que não se encontravam na vala comum descoberta em 1979, muitos pensaram que o mistério dos Romanov estava finalmente encerrado e que, em breve, os seus corpos se juntariam aos do resto da família na Fortaleza de Pedro e Paulo em São Petersburgo.

No entanto, sete anos e muitos contratempos depois, muitos foram apanhados de surpresa quando, em Setembro deste ano, surgiu a notícia de que um grupo de trabalho liderado por Dmitri Medvedev,  antigo presidente da Rússia, pretendia exumar os corpos da família Romanov com o objectivo de realizar novos testes forenses nos mesmos.

Túmulos dos Romanov na Fortaleza de Pedro e Paulo
Na altura houve muita especulação relativamente ao motivo que levou a governo russo a tomar esta decisão tanto tempo depois da descoberta dos primeiros corpos há mais de trinta anos, nomeadamente de que tinham havido erros nos primeiros testes e que, na verdade, os corpos que se encontram actualmente enterrados na Fortaleza de Pedro e Paulo pertencem a outras vítimas do regime comunista e não à família de Nicolau II. 

Embora esse rumor circule já há décadas, segundo o grupo de trabalho responsável por esta nova investigação, o único motivo que levou à reabertura do caso prende-se com o facto de a Igreja Ortodoxa Russa, apoiada por uma das actuais representantes da família Romanov, a grã-duquesa Maria Vladimirovna, nunca ter aceite a autenticidade nem dos corpos enterrados em 1998 nem dos descobertos em 2007 e, por isso, há vários anos que tem vindo a recusar dar seguimento aos procedimentos necessários para o enterro de Maria e Alexei. Uma vez que Nicolau II e a família são portadores da paz da igreja, um estatuto semelhante aos beatos da Igreja Católica, tornou-se necessário acabar de forma definitiva com qualquer dúvida existente relativamente à autenticidade dos corpos. 

Tal não significa que os cientistas, o governo russo e até alguns membros da Igreja Ortodoxa não reconheçam que os corpos encontrados são realmente os da família Romanov, no entanto, dada a sensibilidade do processo, é necessário dissipar qualquer dúvida e conseguir obter a aprovação da igreja para que seja possível avançar com o enterro dos dois corpos que faltam. O grupo espera que as inovações que se verificaram no campo da ciência forense ao longo destes últimos vinte anos possam ajudar a dissipar qualquer dúvida sobre a identidade dos corpos.

Maria, Alexei e Anastásia
Até ao momento, o grupo já completou as seguintes tarefas:

  • Exumação dos corpos de Nicolau II, Alexandra Feodorovna e dos filhos para recolha de amostras;
  • Exumação do corpo de Alexandre III com o mesmo objectivo;
  • Recolha de amostras do corpo da grã-duquesa Isabel Feodorovna que se encontra sepultado na Palestina;
  • Recolha de amostras de sangue do uniforme ensanguentado do czar Alexandre II.
Fotografia tirada durante o processo de exumação do corpo de Alexandre III que se realizou o mês passado em São Petersburgo
Não existem informações concretas, mas espera-se que sejam novamente recolhidas amostras de sangue de alguns descendentes próximos dos Romanov para ajudar à investigação. Na década de 1990, uma das pessoas que forneceu material genético aos cientistas russos e americanos foi o príncipe Filipe, duque de Edimburgo, consorte da rainha Isabel II do Reino Unido, que é sobrinho-neto da imperatriz Alexandra.

A informação mais recente relativamente à investigação é que esta ainda vai demorar algum tempo, mais uma vez para que todos os procedimentos sejam realizados com cuidado e de modo a evitar dúvidas futuras. Depois de os resultados serem divulgados e se confirmar a identidade dos corpos, será também necessário mais um período de espera considerável até que seja definida uma data de enterro para os corpos da grã-duquesa Maria e do czarevich Alexei.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

As visitas da imperatriz Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia) à Prússia

A imperatriz Alexandra Feodorovna, nascida Carlota da Prússia
No início de cada Verão, os parentes russos dos Hohenzollern faziam a sua peregrinação anual à Prússia, inundando Berlim e Potsdam com "uma cheia" de grã-duquesas russas e os seus empregados. Além das implicações políticas destas visitas, Vicky [Vitória, Pincesa Real do Reino Unido, filha da rainha Vitória e casada com o futuro kaiser Frederico III da Alemanha] andava sempre ocupada de um lado para o outro, entre Berlim e Potsdam, em paradas, lanches, jantares, bailes e recepções que, muitas vezes, a obrigavam a mudar de roupa seis vezes por dia. Até Fritz [futuro kaiser Frederico III] se queixava que as suas tias o obrigavam a ele, à esposa e a toda a corte prussiana a correr de um lado para o outro como se fossem "empregados". Vicky, cujos dias começavam quase sempre às 7 da manhã, hora em que apanhava o comboio para Potsdam, e acabavam muito depois da meia-noite, quando tinha finalmente permissão para sair das soirées nocturnas, andava a sofrer de dores de cabeça, pés inchados e ressentimento.

Vitória, Princesa Real do Reino Unido, pouco depois da sua chegada à Prússia
No Verão de 1859, Vicky foi a única responsável pelas honras sociais a prestar aos Romanov, uma vez que Augusta [de Saxe-Weimar, sua sogra] se encontrava em Weimar, de visita à sua mãe, a grã-duquesa Maria Pavolovna da Rússia, que estava muito doente e prestes a falecer. Durante a sua visita, as senhoras russas tentaram convencer o seu sogro a não declarar guerra contra Napoleão III. Embora nem a irmã de Guilherme [futuro Guilherme I da Alemanha], Carlota, nem a sua cunhada pró-russa, a rainha Isabel [esposa do rei Frederico Guilherme IV da Prússia] tivessem conseguido convencer Guilherme a mudar de opinião, Vicky nunca mais conseguiu voltar a confiar nos parentes russos do marido.

Maria Pavlovna da Rússia, mãe da futura imperatriz Augusta da Alemanha e cunhada da imperatriz Alexandra Feodorovna
Em 1860, a viagem anual da imperatriz-viúva Alexandra da Rússia para assinalar o aniversário da morte do seu pai, o rei Frederico Guilherme IV da Prússia, coincidiu com as últimas semanas da segunda gravidez de Vicky. Com tudo pronto para o nascimento da bebé, Vicky teve ainda de lidar com os russos que apareceram em Potsdam um mês antes da data prevista para o parto. Embora lhe tivessem sido oferecidos aposentos em outros dois palácios, um dos quais tinha sido recentemente restaurado e redecorado para ela, a imperatriz Alexandra (viúva do czar Nicolau I), insistiu em ficar no Neues Palais, ocupando os aposentos que ficavam mesmo por baixo dos de Vicky.

Alexandra Feodorovna (Carlota da Prússia)
De todos os visitantes russos, a imperatriz-viúva era a mais venerável. Alta, magra e erecta, a antiga czarina de sessenta-e-um anos andava, de dia, sempre vestida de petro com um lenço de renda preto no cabelo e, à noite, vestia-se de branco e cobria-se com cascatas de pérolas. No Verão anterior, a imperatriz-viúva tinha mostrado a sua colecção de jóias a Vicky, uma colecção pela qual os Romanov eram muito conhecidos. "As tuas são mais bonitas", Vicky tinha garantido numa carta à mãe. "As dela são coisas enormes e de uma variedade tal que quase parece magia - safiras, esmeraldas, pérolas, rubis, etc., mas a qualidade não é muito boa - excepto os diamantes que são magníficos."

Alexandra Feodorovna, vestida de luto
A imperatriz-viúva viajava sempre com "um grande número de criados" que incluía quatro damas-de-companhia (que usavam vestidos negros de caxemira), que, por sua vez, possuíam várias criadas cada uma. Os criados russos dormiam sempre no chão, e era considerado necessário retirar toda a mobília dos quartos e redecorá-los após cada visita imperial.

Alexandra Feodorovna nos seus últimos anos de vida
"O barulho mesmo debaixo de mim não tem fim e não é nada agradável," queixou-se Vicky à mãe. "O que mais se ouve é o barulho de portas a bater e passos no chão que está sem carpetes - depois também se ouve os criados russos a conversar e a fumar (...) Ela sabe quanto tempo falta para me deitar [entrar em trabalho de parto] e onde ficam os meus aposentos, porque esteve aqui o ano passado. (...) É difícil não pensar que esta atitude não é a mais considerável, viver com uma multidão de gente na nossa casa. (...) Enfin, não me incomodo muito com isto, mas tenho pena dos nossos criados quando estes russos sujos estão cá."
Vicky
O pior de tudo era que o quarto onde os russos estavam a pensar reunir-se para chorar o aniversário da morte de Frederico Guilherme III era a sala-de-estar privada de Vicky, de onde se tinha retirado toda a mobília e cujas paredes tinham sido cobertas de papel-crepe negro. Um aspecto deprimente que durou toda a visita.

O Neues Palais em Potsdam, onde Vicky vivia e a imperatriz Alexandra ficou hospedada em 1860
O momento de irritação final aconteceu quando Vicky recebeu um convite formal da parte da rainha Isabel [da Baviera, esposa de Frederico Guilherme IV] para estar presente no Neues Palai no dia sete de Julho, data em que se assinalava a morte de Frederico Guilherme III. "Acho que se pode considerar um abuso ser convidada a estar presente na minha própria sala (...)", escreveu Vicky à mãe. Para mostrar o seu desagrado, Vicky enviou convites da sua parte a todos os que tinham sido convidados pela rainha para a cerimónia "para que pelo menos saibam quem é a dona da casa!" - e depois recusou estar presente. Acabou por ser uma boa decisão, uma vez que a tia mais conservadora de Fritz, a princesa Alexandrina da Prússia, tinha anunciado que nunca iria pôr os pés no Neues Palais enquanto a liberal Vicky lá estivesse. Furiosa, a princesa escreveu à mãe: "Pode ficar com a grande satisfação de lá ir no dia 7, já que eu não vou lá estar para a irritar com a minha presença."

Alexandra Feodorovna
Texto retirado do livro "An Uncommon Woman - The Empress Frederick" de Hannah Pakula

Notas:

A imperatriz Alexandra Feodorovna nasceu a 13 de Julho de 1798 como princesa Carlota da Prússia. Era filha do rei Frederico Guilherme III da Prússia e da princesa Luísa de Mecklenburg-Strelitz, o que a tornava irmã do rei Frederico Guilherme IV da Prússia e do primeiro imperador da Alemanha unida, Guilherme I da Alemanha. Casou-se em 1817 com o czar Nicolau I da Rússia de quem teve dez filhos, incluindo o czar Alexandre II. Morreu poucos meses depois da visita descrita acima, no dia 1 de Novembro de 1860.