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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Maria Feodorovna no Exílio

Maria Feodorovna


A vida da imperatriz-viúva no exílio começou com uma aspereza adequada. Quando o grupo  [que viajou no Malborough] foi finalmente recebido pelo rei Jorge V e pela rainha Maria em Victoria Station, uma das criadas confundiu o rei com o czar. Enquanto os parentes trocavam cumprimentos, a criada agarrou-se ao joelho do rei. Segundo um amigo de Vassily [filho mais novo da grã-duquesa Xenia], a família nunca esqueceu a cena: “foi embaraçoso para a imperatriz e para Xenia. O Vassily achou aquilo atroz.


Maria Feodorovna com a bisneta Irina


Apesar de a imperatriz e a sua irmã Alix se terem mostrado muito emocionadas quando se reencontraram em Portsmouth, não demorou para se começarem a irritar uma à outra. Tentaram fazer as coisas resultar, viveram juntas em Malborough House e recebiam Xenia e os filhos para almoçar aos domingos. Xenia e os filhos estavam a viver numa casa de quatro andares em Chelsea. Mas a rainha Alexandra era vagarosa e estava a ficar surda e a imperatriz-viúva sofria de artrite, lumbago e de um rendimento incerto.

Maria Feodorovna com a irmã Alexandra em Inglaterra


A imperatriz-viúva estava revoltada com aquilo que considerava ser a indiferença britânica em relação ao sofrimento dos refugiados russos e também com os seus companheiros de exílio que, segundo ela, estavam a deixar os padrões do protocolo descer.

Apenas alguns meses depois da sua chegada, a imperatriz-viúva, descontente, tinha decidido que queria regressar ao seu país-natal: a Dinamarca. Em Agosto de 1919 já estava a caminho. Estas notícias terão sido recebidas com um certo alívio, já que Maria se tinha tornado persona non grata em certos círculos políticos. Ela também estava muito contente: “Sempre é melhor ser a pessoa mais importante em Hvidore [uma casa que tinha comprado com a irmã na Dinamarca] do que a segunda mais importante em Sandringham”, afirmou.


Maria a ser recebida pelo sobrinho Cristiano na Dinamarca

Infelizmente os seus problemas não acabaram na Dinamarca, onde achou que o se sobrinho Cristiano X era constantemente desagradável. A certa altura ele pediu-lhe que desligasse algumas luzes no Palácio de Amalienborg, onde estava hospedada, já que estava a gastar muita electricidade. Ofendida, Maria ordenou imediatamente aos criados que acendessem as luzes todas. Em 1920 desistiu da luta e decidiu ficar permanentemente em Hvidore, onde o seu estatuto de pessoa mais importante era uma compensação para as acomodações mais humildes.

Tinha pouca segurança financeira. Tinha-se agarrado às suas jóias, mas recusava-se a vendê-las, dizendo teimosamente à família que eles iam herdar tudo quando ela morresse. 

Maria com o sobrinho Cristiano


A imperatriz-viúva e a rainha Alexandra encontraram-se pela última vez quando Maria visitou a Inglaterra em 1923 para assistir ao casamento do segundo filho do rei, Alberto, duque de Iorque, com Elizabeth Bowes-Lyon na Abadia de Westminster. A imperatriz-viúva ficou doente durante a visita e foi obrigada a ficar em Inglaterra durante vários meses, algo que, sem dúvida, irritou ambas as irmãs.


Maria e Alexandra na Dinamarca


O problema de quem seria o herdeiro legítimo do trono russo aparecia ocasionalmente. A imperatriz-viúva, recusando-se a acreditar que o czar estava morto, não permitia qualquer discussão: “Até agora ainda não apareceu nenhuma informação de confiança sobre o destino do meu adorado filho e dos meus netos. Por isso, penso que ainda é prematuro escolher um novo imperador. Ainda posso ter uma última réstia de esperança.” Em 1921, tinha-lhe sido oferecido o trono russo pela Assembleia Monárquica de Todas as Rússias. Respondeu de forma muito simples: “Ninguém viu o Nicky morto.”


Maria com a cunhada Olga Constantinovna

Vários conhecidos deixaram testemunhos de conversas nas quais a imperatriz-viúva fazia referências obscuras ao czar. A condessa Mengden escreveu que Maria disse: “Quando olho para trás e revejo a minha vida e aquilo por que passei, só posso acreditar em fantasmas”; o capitão Daneilback, um membro da sua comitiva, disse que a ouviam dizer frequentemente: “Na Rússia até o mais improvável acontece.”

Maria a bordo do Polar Star em 1911


Mas, em 1924, o seu primo controverso, o grão-duque Cyril, teve a ousadia de se autoproclamar primeiro guardião do trono e depois, passado um mês, imperador de Todas as Rússias. Cyril já não era muito bem visto pela grande maioria dos Romanov por ter hasteado uma bandeira vermelha no telhado do seu palácio quando o czar ainda estava no poder.


Cyril Vladimirovich com a esposa Vitória Melita


A imperatriz-viúva ficou furiosa. Seguindo finalmente a filosofia de que o inimigo do meu inimigo meu amigo é, fez um apelo apaixonante a Nikolasha, pondo de lado as suas antigas zangas. Escreveu: “Fiquei profundamente magoada quando li o manifesto do grão-duque Cyril Vladimirovich onde ele se proclamava IMPERADOR DE TODAS AS RÚSSIAS.

“Até agora ainda não apareceram informações precisas no que diz respeito ao destino dos meus adorados filhos ou do meu neto e, por isso, considero a proclamação de um novo IMPERADOR prematura. Não há ninguém que me pode tirar a minha última réstia de esperança.


Nicolau Nikolaevich


“Temo que este manifesto vá criar divisão. Isto não vai melhorar a situação, muito pelo contrário: vai piorá-la, e a Rússia já tem demasiado com que se preocupar.

“Se o NOSSO SENHOR achou por bem, nos SEUS caminhos insondáveis, chamar os meus adorados filhos e o meu neto para SEU lado, então, sem que tenha o desejo de olhar para o futuro e ainda com a minha esperança inabalável na misericórdia de DEUS, acredito que SUA MAJESTADE O IMPERADOR deverá ser escolhido segundo as nossas leis básicas pela Igreja Ortodoxa em harmonia com o povo russo (…) estou cera de que o membro mais velho da CASA DOS ROMANOV, o senhor, tenho a certeza, partilha da minha opinião. Maria”


Maria Feodorovna em 1923 desenhada pela sua filha Olga


Maria morreu em 1928, na presença das suas filhas Xenia e Olga e de um dos filhos de Xenia. Segundo o marido de Xenia, Sandro, a imperatriz-viúva morreu segurando a sua bíblia dinamarquesa. Esta era a mesma bíblia que lhe tinha sido confiscada por marinheiros revolucionários na Crimeia e, segundo parece, foi-lhe devolvida em Copenhaga pouco antes da sua morte. O seu neto, o príncipe Dmitri Alexandrovich, acrescentou que tinha sido enviada por um diplomata dinamarquês que a tinha encontrado numa livraria em Moscovo.



Texto retirado do livro "The Russian Court at Sea" de Frances Welch

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