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segunda-feira, 9 de março de 2015

Um Casamento Adequado - Primeira Parte

O príncipe Nicolau da Grécia e Dinamarca com a sua esposa, a grã-duquesa Helena Vladimirovna no dia do seu casamento
Quando terminava a educação dos membros da família imperial, chegava a altura do casamento. Os estatutos impostos pelo czar Paulo I faziam com que os seus descendentes fossem obrigados a contrair matrimónio com parceiros do mesmo estatuto social, o que limitava a sua escolha a membros de famílias reinantes da Europa. Também havia considerações sociais a ter em conta: a Igreja Ortodoxa Russa proibia o casamento entre primos direitos, uma prática comum noutras casas reais, e, até 1874, as princesas estrangeiras que se casavam com homens da família Romanov eram obrigadas a converter-se à religião ortodoxa. Esta regra continuou a ser aplicada à esposa do herdeiro ao trono.

Gravura do casamento do futuro czar Alexandre III com Maria Feodorovna
Por outro lado, as grã-duquesas russas nunca se converteram a outra religião. Permaneceram ortodoxas, independentemente do noivo escolhido e, até aos dias de hoje, ainda sobrevivem igrejas russas por toda a Europa mandadas construir pelas filhas e netas de czares que se foram espalhando pelas famílias reais do continente. Era raro ver uma noiva Romanov que se adaptasse bem ao seu país de acolhimento. Rodeadas por culturas completamente diferentes daquela onde tinham nascido, quase todas elas acabariam por permanecer profundamente ligadas à Rússia e com saudades do seu país natal.

Para os seus irmãos, as coisas eram ainda mais complicadas. Os jovens Romanov não eram protegidos da sociedade e era quase inevitável que as suas primeiras paixões surgissem por alguma dama-de-companhia ou dançarina, o que tornava difícil a sua adaptação a uma casamento "adequado" e, à medida que a família foi crescendo, foi-se tornando cada vez mais difícil encontrar princesas pela Europa. Esse foi o maior problema da família imperial à medida que atravessava os seus últimos anos de existência e o número de membros da família que se foi casando abaixo da sua posição foi aumentando com o passar dos anos.

O grão-duque Paulo Alxandrovich com a sua segunda esposa, a aristocrata Olga Karnovitsch , depois princesa Paley
A grã-duquesa Maria Alexandrovna era particularmente afeiçoada ao seu pai, o czar Alexandre II da Rússia: "Perdemos a nossa filha mais velha e queríamos tanto ter outra que, quando ela nasceu, foi uma alegria. (...) Quando ela tinha aulas, as nossas horas não coincidiam e era raro ela poder fazer-me companhia nas minhas caminhadas, mas aos Domingos tinha-a só para mim e iamos sempre caminhar juntos (...) ontem, quando chegou à hora em que costumávamos fazer isso, não pude evitar e tive de lhe enviar um telegrama a dizer-lhe que estava a pensar nela e nas nossas caminhadas". Quando Maria e o príncipe Alfredo do Reino Unido começaram a apaixonar-se, ambos os seus pais mostraram alguma preocupação. As relações diplomáticas entre a Rússia e Grã-Bretanha estavam cortadas, mas o casal estava decidido e a cerimónia acabaria mesmo por celebrar-se na Grande Capela do Palácio de Inverno em Janeiro de 1872. Maria Alexandrovna teve muitas dificuldades para se adaptar à corte britânica e apenas acabaria por se sentir realmente à-vontade quando o seu marido se tornou duque de Saxe-Coburgo-Gota.

A grã-duquesa Maria Alexandrovna e o seu marido, o príncipe Alfredo do Reino Unido


Maria Alexandrovna mostra o seu filho mais velho, o príncipe Alfredo. A fotografia foi tirada na Rússia, por volta de 1875.


















As filhas mais velhas de Maria Alexandrovna: Maria, futura rainha da Roménia, e Vitória Melita, futura grã-duquesa de Hesse e grã-duquesa da Rússia. Ambos os seus casamentos seriam fonte de desentendimentos na Rússia.









A grã-duquesa Olga Constantinovna (em baixo, com a mãe) ficou noiva do rei Jorge I da Grécia no início de 1867, quando tinha apenas quinze anos de idade. Diz-se que o seu encontro em casa dos pais dela foi acidental, mas parece mais provável que a irmã dele, a futura czarina Maria Feodorovna, teve alguma influência para que ele acontecesse. É sabido que persuadiu os pais de Olga, que não estavam muito convencidos do sucesso da união, a dar o seu consentimento. "Onde é que foste aprender a ser tão casamenteira, minha marota?" perguntou o pai dela, o rei Cristiano IX da Dinamarca, "Deves ter tido muito trabalho a convencer o teu tio e a tua tia que, antes, estavam decididamente contra uma união deste tipo". Olga casou-se no Palácio de Inverno em Outubro e partiu para a Grécia pouco tempo depois, quando era ainda pouco mais do que uma criança. Levou consigo as suas bonecas e brinquedos favoritos que lhe serviram de conforto quando a experiência se tornou demasiado esmagadora. Acabaria por se adaptar relativamente bem ao seu novo país e tornou-se uma rainha bastante popular, mas o seu coração foi sempre russo. 


Olga Constantinovna e Alexandra Iosifovna
A rainha Olga com os seus filhos mais velhos, Constantino, herdeiro do trono grego, (à direita, sentado) e Jorge. Constantino nasceu em Agosto de 1868, antes de a sua mãe chegar aos dezassete anos de idade, e o seu nome foi escolhido por uma multidão que o entoou por baixo da varanda do palácio na noite do seu nascimento. Foi uma reviravolta curiosa: o primeiro Constantino da família imperial russa, o grão-duque Constantino Pavlovich, tinha recebido esse nome porque a sua avó, a czarina Catarina, a Grande, desejava criá-lo para que ele subisse um dia ao trono grego que era na altura ocupado pelo imperador otomano. Agora, quase um século depois, um dos seus descendentes, ainda para mais um com o mesmo nome, estava em linha directa para herdar o trono.

Olga Constantinovna com os seus dois filhos mais velhos
O rei Jorge e a rainha Olga em 1881 (abaixo). O rei e a rainha visitavam a Rússia e a Dinamarca, país natal do rei, com muita frequência. Na Dinamarca também se encontravam quase todos os outonos com Maria Feodorovna, Alexandre III e a sua família. Ambas as famílias foram sempre muito chegadas.

Jorge e Olga em 1881
A grã-duquesa Vladimir, Maria Pavlovna, com o seu irmão, o grão-duque hereditário Frederico Francisco de Mecklenburg-Schwerin em 1878 (abaixo). Maria Pavlovna também recorreu à sua posição de mulher casada para ajudar a arranjar o casamento dos seus irmãos solteiros. Apesar de ter uma personalidade gentil e quase santa, Frederico Francisco era o que precisava mais de ajuda. Sofria de uma forma grave de asma assim como ataques espaçados de uma doença de pele pouco atraente. Maria Feodorovna deixou-nos uma descrição bastante gráfica: "sofre de uma doença asquerosa, uma erupção cutânea que lhe afecta todo o pescoço e as orelhas de tal forma que ele teve de usar uma espécie de manto a semana inteira para não se ver. É uma tragédia para ele, coitado. É quase errado que ele se case". Mas Maria Pavlovna tinha quase tanto jeito como a cunhada para que as coisas acontecessem à sua maneira e reparou que uma prima do marido, a grã-duquesa Anastásia Mikhailovna de dezassete anos, poderia ser uma boa noiva para o irmão. Frederico Francisco fez uma visita a São Petersburgo e sentiu-se tão atraído por Anastásia que tomou imediatamente a iniciativa de escrever uma carta à mãe da sua futura esposa. "Pode imaginar como fiquei nervosa", escreveu Maria Pavlovna ao seu pai, "porque o futuro do meu irmão e o bem-estar do nosso amado estado de Mecklenburg-Schwerin depende disto."

Maria Pavlovna com o irmão, Frederico Francisco
Anastásia Mikhailovna em 1879 (abaixo), num retracto que faz justiça à descrição que Maria Feodorovna deixou dela no seu dia de casamento: "tão doce, delicada como uma rosa, bonita como uma fada". De forma característica, a futura czarina descreveu o noivo de forma perversa: "parecia alguém que tinha despertado do mundo dos mortos ou alguém que se esqueceram de enterrar". Mas Anastásia acabaria mesmo por o amar já que, de acordo com vários relatos, ele era uma pessoa muito amável - "o homem mais querido à face da Terra", segundo dizia a princesa de Pless. Foi com o estado de Mecklenburg-Schwerin que Anastásia teve problemas. Antes de se casar, a grã-duquesa esforçou-se verdadeiramente por estudar o estado que a ia receber, mas acabou por nunca se conseguir adaptar a ele. Detestava aquele lugar e os seus súbditos acabariam por sentir o mesmo em relação a ela. Não demorou muito até que Anastásia e Frederico compreendessem que apenas poderiam ser felizes como um casal longe do estado que ele estava destinado a reinar.

Anastásia Mikhailovna em 1879
Texto retirado do livro "The Camera and the Tsars" de Charlotte Zeepvat

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