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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Xenia Alexandrovna no Exílio


Ao longo de toda a sua vida no exílio, a grã-duquesa Xenia fez os possíveis para manter certos aspectos da sua vida anterior. Começou a pintar novamente, vendendo alguns dos seus trabalhos a instituições de caridade. Agarrou-se aos seus criados russos, principalmente à lavadeira Anna Belousoff. A optimista Belousoff, que chegou a ter dez serventes e um cozinheiro, tinha sempre uma mala feita, pronta para um regresso iminente à Rússia. Tal como o príncipe Dmitri [filho de Xenia] recordou: "Ela costumava dizer: 'vamos regressar', e continuou a fazê-lo sempre até morrer com mais de noventa anos."

Xenia com a filha Irina
Mas a nostalgia que Xenia sentia pelo passado teve de se adaptar a assuntos mais urgentes, principalmente às suas finanças. Em 1921, o tutor dos seus filhos, Mr. Stewart, ajudou-a a abrir uma conta no banco Coutts, mas esta experiência começou mal: com mil libras de crédtico, Xenia gastou imediatamente noventa e oito no Harrods, uma soma equivalente a duas mil libras nos dias de hoje. Nesse mesmo ano, um encontro infeliz com um burlão americano custou-lhe dez mil libras. O homem tinha-lhe prometido milhões se ela investisse num inovador processo de impressão de fotografias. Foi preso depois de ter defraudado uma mulher e lhe ter ficado com o relógio, foi preso durante três meses e deportado para os Estados Unidos.

Xenia com a mãe Maria, a filha Irina e a neta Irina.
Nesta altura, o rei Jorge V decidiu intervir, tendo chegado a acordo para pagar duas mil e quatrocentas libras por ano à prima. Em 1925, decidiu também instala-la em Frogmore. A carta de agradecimento de Xenia é efusiva ao ponto de se tornar namorisqueira: "A sério Georgie, é muito bom e gentil da tua parte. Tive de te escrever imediatamente, mas estraguei muitas folhas de papel porque me sentia tímida! E não sabia bem o que estava a acontecer." Se soubesse que Jorge não tinha tentado salvar o czar, talvez Xenia não se sentisse tão agradecida.

O rei Jorge V do Reino Unido
Embora as suas necessidades práticas imediatas tivessem sido satisfeitas, Xenia teve ainda de enfrentar uma série de golpes inesperados. Após a morte de Lenine em 1924, os bolcheviques começaram a vender bens confiscados. Tesouros que tinham pertencido à família imperial começaram a aparecer em Inglaterra. A certa altura, um conhecido de Xenia mostrou-lhe uma caixa jade com uma coroa imperial estampada. "Tenho curiosidade em saber de quem seriam estas iniciais", disse ele. Quando Xenia respondeu: "São minhas," o homem, um coleccionador, voltou a colocar a caixa na janela e não disse nem mais uma palavra.

Xenia com o marido Sandro
Noutra ocasião, a rainha Maria apareceu com uma caixa cor-de-rosa onix Fabergé que servia para guardar cartas. Perguntou a Xenia o que achava dela. Xenia reconheceu-a imediatamente e disse: "Isso costumava estar em cima da minha escrivaninha". A partir daí, a rainha Maria passou a guardar a caixa num armário. Apesar de tudo, a rainha Maria não se sentiu minimamente mal por saber que a caixa de cartas pertencia a outra pessoa. A sua paixão por adquirir bens de outras pessoas era tão bem conhecida que os seus tesouros eram cuidadosamente escondidos dos seus convidados.

A rainha Maria do Reino Unido (Maria de Teck)
Em 1928, a dor de Xenia ao perder a mãe seria posta em segundo plano devido ao surgimento de uma campanha que apoiava uma mulher que dizia ser a sua sobrinha, a filha mais nova do czar, Anastásia. O processo que se seguiu, que foi o golpe final às já de si precárias finanças de Xenia, arrastar-se-ia ao longo de cinquenta anos. O problema da herança não se poderia resolver enquanto não se provasse que o czar, a esposa e os cinco filhos estavam mortos. Na década de 1930, Xenia visitou uma prima sua, a princesa Xenia Leeds, que acreditava na pretendente. A princesa tinha recebido 'Anastásia' na sua propriedade de Long Island durante vários meses e dizia que a sua suposta prima tinha reconhecido a voz do príncipe Dmitri do outro lado do campo de ténis.

Xenia Leeds, filha do grão-duque Jorge Mikhailovich, uma das únicas  Romanov que deu crédito a Anna  Anderson
Nos anos que se seguiram, as tragédia foram-se misturando com pequenas preocupações à medida que Xenia lutava para conseguir pagar sanitas, utensílios de cozinha e um serviço de água quente do governo britânico. As contas seguiam primeiro para o tesouro do estado, de onde eram posteriormente enviadas para o palácio real. "Uma vez que a grã-duquesa é muito pobre," explicou o gerente da fortuna privada do rei de forma severa, "o rei tem vindo a adquirir o hábito de pagar-lhe alterações e melhoramentos."

Xenia com dois dos seus netos
O rei Jorge V tinha tentado conter os gastos de Xenia durante vários anos, mas, em 1934, um surto de febre escarlate em Frogmore fez com que o seu sucessor, Eduardo VIII, sugerisse que Xenia se mudasse para Wilderness House, em Hampton Court. Os médicos tinham ficado alarmados quando encontraram mais de vinte convidados em Frogmore.

Xenia com a mãe Maria e o filho Rostislav
Foi construída uma capela ortodoxa na sala-de-estar de Wilderness House e Xenia instalou-se de forma satisfatória, não partilhando nenhuma das opiniões de Capability Brown que achava que a casa tinha "quartos desconfortáveis, uma cozinha ofensiva e escritórios maus."

Em 1938, o ambiente russo da casa de Xenia foi apimentado com a chegada de uma mística russa chamada Mãe Marta. "É uma freira (...) o Bertie e a Elizabeth conhecem-na," escreveu Xenia, de forma breve, numa carta dirigida à rainha Maria. A Mãe Marta tornou-se uma "figura controversa na família", como disse mais tarde um dos netos de Xenia, Alexandre. As pequenas princesas inglesas, Isabel e Margarida, tinham ficado muito surpreendidas com a sua parente russa, cantando a música "Volga Boat Song" [A Canção do Barco do Volga], sempre que passavam pela casa de Xenia. Agora ficaram ainda mais surpreendidas com a Mãe Marta, reparando principalmente nos seus pés grandes. Ambas as irmãs achavam que ela era um homem.

Isabel II e a irmã Margarida
James Pope-Hennessey, que visitou Xenia em finais da década de 1950, confirmou a opinião das duas irmãs, dando uma descrição elaborada do aspecto da Mãe Marta. "Usava uma touca de linho desarranjado e até mesmo amassado, cor de chá, atado na nuca com duas fitas. Tem a cara de um velho poderoso". Depois de terem passado pouco mais de vinte minutos juntos, Pope-Hennessey e Xenia foram interrompidos pela Mãe Marta, que tentou acabar com o encontro. Pope-Hennessey comparou imediatamente a grã-duquesa a um "pássaro selvagem excessivamente nervoso... encurralado". O facto de Xenia sentir pena desta freira melancólica pode ter sido um sinal da sua generosidade  ou da sua ingenuidade, que, segundo a grã-duquesa, estava "reduzida a esta existência, a saúde arruinada, os nervos abalados e eu sento-me e olho para ela, com o coração partido e mais preocupada do que as palavras podem descrever, acabando também por me sentir mal".


Xenia com a filha Irina e alguns dos seus netos
Xenia morreu em Hampton Court a 20 de Abril de 1960, rodeada pelos seus adorados netos. Segundo uma biografia: "A Mãe Marta apareceu carregando uma caixa com uma etiqueta a dizer 'véus negros de luto' que tinha sempre preparada para qualquer eventualidade". Depois do funeral desapareceu.

Xenia deixou 117,272.16 libras em testamento. Foi enterrada em Roquebrune, perto de Nicem ao lado do seu marido Sandro. No fim, o seu desejo de ser enterrada em Ai-Tudor, mas, segundo o seu filho Dmitri, Roquebrune foi escolhida por ser tão parecida com a Crimeia. 

Xenia em Inglaterra


Texto retirado do livro "The Russian Court at Sea" de Frances Welch.

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