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terça-feira, 11 de julho de 2017

O Almirante General - Grão-Duque Constantino Nikolaevich - Segunda Parte


Na posição de vice-rei, o grão-duque tinha feito todos os possíveis para agradar aos polacos, mas o que eles queriam realmente era autonomia e não reformas e tiveram a oportunidade de colocar em marcha os seus planos bem formulados para um levantamento quando Constantino implementou um imposto para o recrutamento militar em 1863. O motim que se seguiu colocou um ponto final abrupto no governo de Constantino, que foi obrigado a regressar a São Petersburgo com a família e a voltar ao trabalho de reforma na marinha russa, principalmente na necessidade de possuir uma frota no Mar Negro. A abolição dos castigos corporais em Abril de 1863 tinha facilitado o seu trabalho, e os relatórios oficiais do Ministério da Marinha começaram a registar casos de oficiais disciplinados e dispensados por crueldade nos postos mais baixos. Em reconhecimento pelos vários serviços que tinha prestado ao país, Alexandre II elevou a posição de Constantino para presidente do Consílio de Estado.

Constantino Nikolaevich
Em meados da década de 1860, os seus filhos estavam a crescer. Em 1867, Olga ficou noiva do rei Jorge da Grécia, cuja irmã, a princesa Dagmar, se tinha casado com o czarevich Alexandre Alexandrovich no ano anterior, tornando-se a czarevna Maria Feodorovna. Maria esforçou-se ao máximo para conseguir assegurar o noivado do irmão, mesmo sabendo que os Constantinovich estavam contra ele: de alguma forma, a jovem conseguiu fazê-los reconsiderar o assunto. A sua hesitação era compreensível. Olga tinha apenas quinze anos de idade, ainda era uma criança, e o casamento realizou-se algumas semanas depois de ela completar dezasseis anos. A jovem partiu para a Grécia com todas as suas bonecas e brinquedos e considerou a sua chegada a Atenas avassaladora. Até a língua era estranha. Antes de uma recepção, Olga desapareceu e, depois de uma longa busca pelo palácio, os criados encontraram-na a chorar debaixo das escadas, enquanto se abraçava a um dos seus ursos-de-peluche favoritos. Com o passar do tempo, Olga acabaria por se habituar à sua nova vida, mas nunca perdeu o seu amor pela Rússia e regressava sempre que podia. Em Julho de 1868, nasceu o seu primeiro filho e ela deu-lhe o nome de Constantino, em homenagem ao pai.

Constantino e Alexandra com a sua filha Olga
Constantino e Alexandra deveriam ter conseguido entrar na nova fase das suas vidas como avós com alegria, mas o início de uma nova geração da família coincidiu com uma crise na sua. Por volta de 1866, no ano em que Alexandre II começou a sua relação com Catarina Dolgorukaya, Constantino começou a seduzir uma jovem bailarina da Conservatória de São Petersburgo. Anna Kousnetsova era vinte anos mais nova do que ele e resistiu aos seus avanços durante vários anos, mas Constantino sabia como conseguir aquilo que queria. Em 1873, Anna deu à luz o seu primeiro filho, a quem chamou Sergei. Iriam seguir-se mais quatro e o grão-duque mantinha uma casa independente para a sua amante e filhos dentro da propriedade de Pavlovsk e na Crimeia. Corriam até rumores de que ele tinha pedido autorização ao czar para se divorciar da sua esposa, mas que ele tinha recusado.

Anna Kousnetsova, amante de Constantino
Para Alexandra, este foi um golpe amargo. Tinha sido feliz com Constantino e era uma mulher orgulhosa. A partir do momento em que soube do caso do marido, começou a ter cada vez mais cuidado com a sua aparência. Havia um tom de desafio e até um pouco de tristeza quando começou a comparar-se insistentemente com a imperatriz da Áustria, que, na altura, tinha a reputação de ser a mulher mais bela da Europa: muitos enviados estrangeiros ficavam sem palavras quando ela o fazia, com medo de a ofender com uma resposta sincera. Há rumores de que, nos seus últimos anos de vida, Alexandra usava corpetes e sapatos na cama para manter a sua cintura fina e os seus pés pequenos. Ao contrário de Maria Alexandrovna, não estava preparada para amar de forma calada e sacrificada: quando foi confrontada com a traição de Constantino, afastou-se dele e da corte, refugiando-se na companhia dos seus filhos mais novos.

Alexandra Iosifovna
Alexandra estava a preparar-se para viajar para o casamento da sua filha mais nova, Vera, em 1874, quando descobriu que faltavam três diamantes valiosos de um ícone que lhe tinha sido oferecido pelo seu sogro, o czar Nicolau I, e que ela tinha no quarto. Um outro ícone estava danificado. Alexandra mostrou o que tinha acontecido a Constantino e foi chamada a polícia enquanto ela partiu para Estugarda, onde Vera, de vinte anos, se ia casar com um primo afastado, o duque Guilherme Eugénio de Wuttenberg. Dois dias depois, os diamantes foram encontrados na posse do capitão Varpakhovsky, ajudante-de-campo do grão-duque Nicolau Constantinovich. O chefe da polícia, o conde Schouvalov, informou Constantino de que o ladrão era o seu filho.

Alexandra Iosifovna com o seu filho Nicolau e a filha Olga
Vinte anos de adoração dos pais tinham transformado Nicolau Constantinovich no pior tipo de príncipe aristocrata possível. Atraente, culto e inteligente, gostava de se fazer passar por revolucionário liberal, mas, na verdade, não queria saber de ninguém a não ser ele próprio. Contava muitas vezes histórias sobre a severidade sem sentido, quase brutalidade, com a qual tinha sido criado, mas todos os que o tinham visto crescer lembravam-se de um adolescente mimado fora do controlo de todos, que era capaz de fazer a vida negra a qualquer tutor de quem não gostasse. Não respeitava os padrões normais do comportamento: quando tinha dezasseis anos, Marie von Keller viu-o a torturar um cordeiro que tinha atado a uma árvore, e a rir-se quando ele morreu. O sexo tornou-se uma obsessão e a tentativa da sua mãe de o tentar acalmar através de um casamento com a filha da sua irmã, a princesa Frederica de Hanôver, falhou porque Nicolau já estava envolvido com várias amantes. Agora, quando foi interrogado pelo seu pai e pelo conde Schouvalov, Nicolau não mostrou medo nem arrependimento. Acabou por se descobrir que aquele roubo tinha sido apenas mais um entre muitos e ambos os homens ficaram chocados com a atitude dele. Com a bênção do czar, Nicolau foi declarado louco e colocado sob vigilância médica. A nível privado, tal como Constantino escreveu no seu diário: "para castigar o Nikola, vamos fechá-lo numa cela sob vigilância apertada, e as suas medalhas e epaulettes vão ser retiradas. Apenas nós sabemos disto, e não o público".


O grão-duque Nicolau Constantinovich

Mas mesmo na prisão, Nicolau continuava a causar problemas. Enviado inicialmente para Oreanda na Crimeira, onde a vigilância não era tão apertada quanto o seu pai tinha esperado. Uma jovem, Alexandra Demidov-Abaza, teve acesso ao grão-duque e, quando escreveu ao czar a afirmar que estava grávida e a pedir o reconhecimento legal do seu filho, Nicolau foi enviado para a Ucrânia, depois de volta para a Crimeia, sendo sempre seguido pela sua amante. Quando a encontraram, Nicolau foi enviado novamente para outro local, mas, em Setembro de 1876, descobriram novamente a sua amante a viver nos seus aposentos e, desta vez, estava grávida novamente. O general responsável por vigiar o grão.duque pediu a demissão e, em Maio de 1877, o conde Rostovtsev chegou para o substituir, levando Nicolau para um novo local de exílio em Orenburg. Nicolau nunca mais voltou a ver Alexandra nem os seus filhos.



Nicolau Constantinovich
Em Orenburg, Nicolau começou a mostrar um lado diferente da sua personalidade. Interessou-se profundamente pela Ásia Central e passou várias horas a ler e a pesquisar seriamente sobre o assunto. No outono de 1878, organizou a primeira de várias expedições de investigação e, depois, escreveu artigos para jornais científicos. A sua grande paixão tornou-se o melhoramento da vida no Turquestão, principalmente através da introdução de sistemas de irrigação funcionais, mas isso não significou que as suas outras paixões tivessem ficado para segundo plano. O czar ficou exasperado quando soube que, a 15 de Fevereiro de 1878, Nicolau se tinha casado em segredo com Nadejda Dreyer, filha do chefe de polícia local. Para o fazer, tinha utilizado o nome de Coronel Volinsky, o seu herói da infância. Nicolau tentava passar a imagem de que era um revolucionário e que as pessoas se iriam revoltar e reunir à volta dela: não é de admirar que o seu pai e o tio tenham perdido a paciência e parece ter sido por esta altura que o seu nome foi removido das listas públicas da família imperial. Oficialmente, o grão-duque Nicolau Constantinovich deixou de existir.

Nicolau com a sua mãe, Alexandra, e a irmã Vera.
No entanto, em privado, como não podia deixar de ser, continuou a ser um problema com o qual a família tinha de lidar. Os responsáveis pela sua guarda, envergonhados, tentaram atirar as culpas uns para os outros, mas no outono de 1880, a vida em Orenburg tinha-se tornado insuportável. Nicolau recusou-se a receber mais ordens do conde Rostovtsev e um representante enviado pelo czar mostrou alguma compreensão pela sua posição. Em Novembro, foi enviado para uma pequena propriedade perto de São Petersburgo e a vigilância à sua volta foi relaxada.

Nicolau Constantinovich
Em inícios de Fevereiro de 1879, a grã-duquesa Alexandra Iosifovna estava a caminhar numa galeria em Pavlovsk quando viu uma aparição aterrorizante: uma dama vestida de branco a flutuar na direcção dela. A grã-duquesa acreditou que se tratava de um mau-presságio e os seus medos foram confirmados no dia seguinte quando o seu filho mais novo, Viacheslav, adoeceu. Acabaria por morrer em menos de uma semana. Agora, Alexandra estava mais só do que nunca, e via com tristeza e raiva a forma como o marido e o irmão se dedicavam cada vez às suas amantes. Ficou zangada com Constantino por este apoiar o caso amoroso do czar com Catarina e furiosa quando o seu filho ilegítimo, Georgi, recebeu uma casa temporária em Pavlovsk, no verão de 1872. A 22 de Maio/3 de Junho de 1880, a czarina Maria Alexandrovna morreu sozinha no seu quarto do Palácio de Inverno. O czar viúvo tomou medidas quase imediatas para cumprir a promessa que tinha feito a Catarina de se casar com ela. O czar explicou à sua irmã Olga, rainha de Wuttenberg, a sua decisão: "Nunca me teria casado antes de fazer um ano de luto se não fosse pelos tempos perigosos em que vivemos. (...) A Catarina Dolgorukova preferiu recusar todos os prazeres e alegrias da sociedade que dizem tanto a uma jovem da idade dela, para dedicar a vida dela a amar-me a cuidar de mim. Por isso, terá todo o direito ao meu amor, carinho e gratidão". Alexandre esperava que a sua família o compreendesse e aceitasse, mas a maioria, principalmente as mulheres, ficou horrorizada. Alexandra Iosifovna recusou-se a sequer conhecer Catarina, desafiando assim uma ordem imperial. Constantino tentou conversar com ela, mas de nada lhe valeu e Alexandra só acabaria por ceder à última da hora porque uma das filhas de Catarina adoeceu e, na altura, a situação parecia grave. No entanto, apesar de tudo, manteve-se sempre fiel à memória da czarina, que tinha sido sua amiga.

Alexandra Iosifovna com a sua filha Olga.
Não teria de aguentar a situação durante muito tempo. Pouco depois do meio-dia de domingo, dia 1/13 de Março de 1881, Alexandre II saiu do Palácio de Inverno para participar numa parada militar que se realizava todas as semanas na Escola de Cavalaria de Mikhailovsky, ignorando as ameaças terroristas que agora faziam parte da sua vida. Respondia-lhes com a mesma coragem resoluta que tinha mostrado perante o seu neto Nicolau na Capela Gótica em Peterhof. Além disso, nesta ocasião, o seu sobrinho Dmitri Constantinovich, iria cavalgar ao seu lado como ajudante-de-campo pela primeira vez, e a última coisa que Alexandre queria era desiludi-lo ao cancelar a parada. Quando terminou, o czar foi visitar a sua prima, a grã-duquesa Catarina Mikhailovna, no Palácio de Mikhail. Estava já de regresso a casa quando duas explosões ensurdecedoras abalaram a cidade. No silêncio que se seguiu, uma multidão abalada e assustada reuniu-se à volta do Palácio de Inverno para saber o que tinha acontecido. O czar tinha sido atingido com uma bomba de fabrico manual no cruzamento do Canal de Catarina e, apesar de o seu irmão Miguel ter corrido para o seu lado para o ajudar, e de o czar ter sido transportado ainda com vida para o Palácio de Inverno, os seus ferimentos eram muito graves. Acabaria por morrer poucas horas depois e esta tragédia dividiu profundamente a sua família.

Alexandre II no seu leito de morte, rodeado da família.
No seu último ano de reinado, Alexandre tinha dado início aos procedimentos necessários para começar as discussões que iriam levar a uma reforma constitucional. Constantino era um dos principais impulsionadores e, na categoria de Presidente do Conselho de Estado, ajudou a preparar a proposta para a criação de uma assembleia eleita limitada que Alexandre iria aprovar precisamente no dia em que morreu. Para Constantino e os seus colegas reformadores, a esperança acabou poucos meses depois da ascensão do novo czar. Inicialmente, parecia que Alexandre III poderia dar continuidade às políticas do pai, mas, atrás das costas deles, dava ouvidos ao conservadorismo do seu antigo tutor e redigiu um manifesto no qual acabou com todas as esperanças de conseguir reformas. Quando os reformadores o ouviram, não tiveram outra escolha senão demitir-se. Para Constantino, o dilema era tanto pessoal como político, uma vez que o novo czar era o "Sasha-Patas-de-Urso", o sobrinho de quem ele não gostava e que tinha humilhado. Aquele incidente distante na Polónia deve ter sido apenas um entre muitos e Alexandre III deixou bem claro que o seu tio já não era bem-vindo na corte. Foi gentil com Alexandra, mas recusou os pedidos que ela lhe fez para perdoar o seu filho Nicolau, uma vez que era da opinião de que também não podia confiar no primo. A sua vigilância foi novamente reforçada e Nicolau foi transferido para Pavlovsk, antes de ser finalmente condenado ao exílio no interior do império, em Tashkent. O desdém que Alexandre sentia pelo grão-duque Constantino e pelo seu filho foi notado e fez com que se espelhasse pelas cortes europeias o rumor de que Constantino estaria envolvido no assassinato do seu irmão.

Constantino Nikolaevich
Sem mais nada para fazer, o grão-duque retirou-se para Pavlovsk. Os seus problemas de xadrez foram publicados em jornais internacionais, mas isso nunca poderia substituir a posição que ele tinha ocupado no centro dos assuntos de estado. Em 1883, visitou a sua filha Olga e a família dela na Grécia e estava ansioso pela visita deles à Rússia: adorava os seus netos gregos e costumava diverti-los pregando partidas a criados distraídos. Alguns já estavam tão habituados aos truques do grão-duque que deixaram de reagir, mas Constantino ficava exultante se os conseguisse fazer dar um salto ou gritar, um sinal do seu aborrecimento e do agravamento do seu mau-feitio.

Constantino Nikolaevich
Constantino sofreu uma pequena apoplexia no casamento da sua neta, a princesa Alexandra da Grécia, com o seu sobrinho, o grão-duque Paulo Alexandrovich, no verão de 1889 e, um segundo ataque pouco tempo depois, deixo-o paralisado da cintura para baixo e sem a capacidade de falar. As suas tentativas para comunicar traduziam-se numa série de barulhos incompreensíveis. Agora dependente do cuidado de outros, o grão-duque passou a ser da responsabilidade da sua esposa, que aproveitou esta época para se vingar de certa forma da sua infidelidade. Anna Kousnetsova e os seus filhos ainda viviam numa casa perto do palácio, que Constantino lhes tinha oferecido, mas Alexandra Iosifovna certificava-se de que os seus criados nunca o lavavam até lá e ele não podia ir sozinho. O seu neto, o príncipe Cristóvão da Grécia, testemunhou as consequências de uma das tentativas que o grão-duque fez para os ir visitar: depois de ser trazido para casa por um dos criados que sabia que já não seguiam as suas ordens, Constantino agarrou a sua esposa pelos cabelos e começou a bater-lhe com a bengala até surgir alguém para os separar. Deve ter sido uma situação miserável para ambos.

Alexandra Iosifovna
Em Janeiro de 1892, o grão-duque Constantino Nikolaevich morreu em Pavlovsk. Nos seus últimos anos de vida, tinha-se tornado numa figura misteriosa, suspeito do envolvimento em todo o tipo de conspirações dos quais nunca se teria aproximado ao longo de toda a sua vida, uma vez que, apesar de ser um homem difícil, e muitas vezes desagradável, tinha-se esforçado sem pausas para ajudar o seu irmão e o seu país. No entanto, poucas pessoas se lembram do seu contributo.


Texto retirado do livro "Romanov Autumn" de Charlotte Zeepvat

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