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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Jorge V do Reino Unido e o exílio dos Romanov - Primeira Parte

Jorge V e Nicolau II
"Chegaram más notícias da Rússia," escreveu o rei Jorge V do Reino Unido no seu diário a 13 de Março de 1917, dois dias antes de o seu primo direito, o czar Nicolau II da Rússia, ter abdicado do trono, dando início à Revolução Russa, "praticamente que rebentou uma revolução em Petrogrado e alguns dos regimentos de guardas fizeram motins e mataram os seus oficiais. Este levantamento é contra o governo, não contra a guerra". A 15 de Março, já tinha recebido mais informações: "temo que a responsável por tudo isto seja a Alicky e o Nicky foi fraco (...) estou em desespero".

Era quase o único que se sentia daquela forma. Por todas as ruas do império, desde Moscovo até Tiflis, o fim da autocracia foi celebrado foi sinos, canções, vivas e bandeira. Os símbolos do poder imperial, as insígnias e estátuas, foram arrancados de edifícios e pedestais. Em França e na Grã-Bretanha, a queda do czar foi recebida com alívio. Os excessos do regime tinham-se tornado embaraçosos e havia a esperança de que, com uma democracia, a Rússia tivesse menos vontade de fazer acordos com a Alemanha. Os EUA, que tinham acabado de entrar na guerra, reconheceram o novo governo com entusiasmo logo uma semana depois da abdicação. Lloyd George [primeiro-ministro do Reino Unido], que se estava a esforçar por combater o cansaço da guerra com a ideia de que os sacrifícios da Entente eram a favor da grande causa da Liberdade e da Democracia, enviou um telegrama a dar os parabéns pela revolução, "a melhor coisa que o povo russo fez até agora na defesa da causa pela qual os Aliados estão a lutar". Demonstrava "a verdade fundamental de que esta guerra é, no fundo, uma luta pelo governo do povo, tanto como o é pela liberdade. Mostra que, ao longo da guerra, o princípio da liberdade, que é a única garantia de paz no mundo, já conquistou uma vitória arrebatadora". 

Lloyd George
Jorge V odiou o telegrama e não conseguiu compreender que este tinha sido escrito tanto para consumo interno como para o novo governo russo (que, como se viria a constatar, incluía um número significativo de novos membros que eram muito mais favoráveis às tradições políticas britânicas do que qualquer pessoa do regime czarista). Stamfordham [secretário particular do rei] recebeu instruções para se queixar que o telegrama era "um pouco forte", principalmente tendo em conta que vinha de um governo monárquico. Lloyd George recordou o secretário do rei que a própria constituição britânica tinha surgido graças a uma revolução - a revolução sem sangue de 1688.

Jorge decidiu então enviar a sua própria mensagem de apoio a Nicolau: "os eventos da semana passada deixaram-me profundamente perturbado. Estou sempre a pensar em ti e serei sempre um verdadeiro e dedicado amigo tal como sabes que já fui no passado". O ministro dos negócios estrangeiros do governo provisório, Pavel Miliukov, um antigo membro da Duma que reverenciava Sir Edward Grey [ministro dos negócios estrangeiros do Reino Unido entre 1905 e 1916] e admirava as tradições liberais da Grã-Bretanha, disse a Buchanan [embaixador do Reino Unido na Rússia] que a carta não podia ser entregue ao destinatário. O novo Soviete começava a mostrar uma vontade preocupante de executar o czar. O clima político em Petrogrado era de tal forma instável que o telegrama de Jorge apenas serviria para piorar a situação. A única solução que Miliukov via era retirar o czar da Rússia o mais rapidamente possível. Quando, a 21 de Março, Buchanan avisou que "qualquer violência exercida sobre o imperador e a sua família teria um efeito deplorável e chocaria a opinião publica neste país", Miliukov perguntou-lhe se a Grã-Bretanha estaria disposta a dar asilo aos Romanov. Quando reportou o pedido do ministro dos negócios estrangeiros, Buchanan acrescentou a sua opinião de que o pedido deveria concedido.

Sir George Buchanan, embaixador da Grã-Bretanha na Rússia
Nesse mesmo dia, o antigo imperador e a família foram colocados em prisão domiciliária. Os soldados tinham chegado a Czarskoe Selo uma semana antes, tinham cercado o palácio e cortado o fornecimento de água. Alexandra não soube nada de Nicolau durante três dias. Alexei estava com sarampo e em grande sofrimento. A czarina quase desmaiou quando soube da abdicação, depois reagiu com o seu fatalismo característico: "é o melhor. É a vontade de Deus. Deus vai garantir que a Rússia fica a salvo. É só isso que interessa". O governo provisório disse aos seus prisioneiros que aquela medida era apenas uma precaução para os manter em segurança. Disseram-lhes que o plano era levá-los até à fronteira marítima da Finlândia, que ficava a apenas algumas horas de distância, e colocá-los a bordo de um navio britânico, onde viajariam até à Inglaterra. Nicolau, que recebeu permissão para deixar Stavka antes de regressar a Czarskoe Selo, disse ao representante militar britânico que tinha a esperança de se retirar para a Crimeia, mas que, "se isso não for possível, prefiro ir para a Inglaterra do que para qualquer outro sítio".

Nicolau, Alexandra e as filhas Anastásia, Olga e Maria por volta de 1916-17
Lloyd George não gostava muito da ideia de dar abrigo ao autocrata de todas as Rússias que tinha perdido todo o crédito, mas, quando pediu a opinião do antigo conselheiro do rei Eduardo VII, Sir Charles Hardinge, e a Stamfordham, concordou que "a proposta (...) não pode ser recusada". Stamfordham acrescentou que Buchanan devia "dar a entender" que o governo russo deveria atribuir um rendimento ao ex-czar para ele viver. Quando Lloyd George sugeriu (sem dúvida de forma provocatória) que o rei [Jorge V] podia emprestar "uma das suas casas", o ministro respondeu rispidamente que o rei "não tem casas, excepto Balmoral", que não tinha quaisquer condições. 


Lloyd George (esq.) com o rei Jorge V e o futuro rei Eduardo VIII
Nicolau chegou a Czarskoe Selo nesse mesmo dia, fazendo o seu caminho da desgraça por entre as divisões cheias de soldados curiosos que, agora, não tinham qualquer motivo para se colocar em formação ou fazer a saudação. Quando chegou aos aposentos privados da família, perdeu a compostura e começou a chorar. Um cortesão disse que ele parecia "um velho". Quando tentou sair para ir dar uma volta a pé, foi cercado por seis soldados que o mandaram afastar-se com a ponta das suas espingardas. "Não pode ir para aí, Gospodin Polkovnik [Sr. Coronel]", disseram eles. "Afaste-se quando o mandam, Gospodin Polkovnik". Nicolau deixou-se ficar, pequeno, em silêncio e sem qualquer expressão no rosto. Mais tarde, nessa mesma noite, chegaram três carros armados cheios de soldados demasiado entusiasmados de Petrogrado que anunciaram que iam levar o ex-czar para a fortaleza de São Pedro e São Paulo - outro sinal que mostrava como o controlo que o governo provisório tinha sobre os soldados era ténue. Eventualmente, conseguiram convencer os soldados a ir embora, com a condição de que poderiam ver o czar. Pouco depois da meia-noite, outro grupo de soldados assaltou a campa de Rasputine no parque imperial, exumaram o corpo e queimaram-no.


Nicolau II no verão de 1917, no Palácio de Alexandre
Miliukov garantiu a Buchanan que o governo russo iria pagar o exílio do czar, mas pediu-lhe que não revelasse que o pedido de santuário tinha vindo da parte do governo, uma vez que temia enfurecer a opinião pública e o Soviete de Petrogrado. Parecia claro que levar a família às escondidas para a Finlândia não seria tão simples como parecia. Entretanto passou uma semana. A Inglaterra e Jorge ocupavam claramente os pensamentos da família imperial. Nicolau escreveu no seu diário que estava a planear começar a escolher as coisas que levaria consigo para Inglaterra, Alexandra começou a falar constantemente das memórias que tinha de Osborne e os seus filhos começaram a perguntar aos tutores como seria a sua vida em Inglaterra.

Tatiana e Anastásia com soldados no verão de 1917
Em Londres, Jorge começou a ter sérias dúvidas se seria boa ideia trazer o seu primo para Inglaterra. A 30 de Março, Stamfordham escreveu ao antigo primeiro-ministro, Arthur Balfour, que Lloyd George tinha escolhido para ministro dos negócios estrangeiros:
"O rei tem pensado muito na proposta do governo para que o imperador e a família venham para Inglaterra. Como, sem dúvida, sabe, o rei tem uma amizade pessoal muito profunda com o imperador e, por isso, teria todo o prazer em fazer qualquer coisa para o ajudar nesta crise. No entanto, Sua Majestade não consegue evitar certas dúvidas, não só no que diz respeito aos perigos da viagem, mas também, de um modo mais geral, em termos de conveniência, se seria aconselhável a família real passar a residir neste país".
Balfour enviou uma resposta sem compromissos. Miliukov tinha acabado de enviar outro telegrama a pedir que o czar deixasse a Rússia de uma vez e o antigo primeiro-ministro era da opinião que "embora os ministros de Sua Majestade compreendam as dificuldades aludidas na sua carta (...) são da opinião que, a não ser que haja uma mudança de posição, neste momento já não é possível retirar o convite que foi enviado, e, por isso, esperam que o rei concorde com o convite original, que foi enviado seguindo o conselho dos ministros de Sua Majestade".

A 3 de Abril, duas das damas-de-companhia de Alexandra, Lili Dehn e a odiada Anna Vyrubova, foram presas e levadas para Petrogrado para serem interrogadas. O casal imperial recebeu também ordens para viver em separado enquanto a questão da traição de Alexandra era investigada. 


Alexandra com a sua dama-de-companhia Lili Dehn e a filha Tatiana
A 6 de Abril, Stamfordham escreveu a Balfour a insistir para que o convite fosse retirado:
"A cada dia que passa, o rei preocupa-se cada vez mais com a questão da vinda do imperador e da imperatriz para este país. Sua Majestade recebe cartas de pessoas de todas as classes sociais, pessoas que lhe são ou não conhecidas, nas quais lhe dizem que o assunto está a ser muito discutido, não só nos clubes, mas também pelos trabalhadores, e que os membros do partido trabalhista na Câmara dos Comuns estão-se a mostrar adversos à proposta (...) tenho a certeza que sabe como tudo isto será estranho para a nossa Família Real, que tem relações de parentesco tão próximas tanto com o imperador como com a imperatriz (...) o rei quer que lhe pergunte se, depois de se reunir com o primeiro-ministro, não devermos contactar Sir George Buchanan, no sentido de pedir ao governo russo que arranje outro local para estabelecer a futura residência de Suas Majestades Imperiais?"
Algumas horas depois, enviou outra carta: 
"O rei pede-lhe que faça ver ao primeiro-ministro que, tendo em conta tudo aquilo que ele tem ouvido e aquilo que lê na imprensa, o público iria ressentir fortemente a vinda para este país do ex-imperador e imperatriz e, sem dúvida alguma, iria comprometer a posição do rei e da rainha, de quem, de um modo geral, as pessoas já acham que veio o convite. (...) Buchanan tem de receber instruções para dizer a Miliukov que a oposição à vinda do imperador e da imperatriz para este país é tão forte que temos de retirar o consentimento que foi dado à proposta do governo russo inicialmente".
O rei Jorge V, acompanhado da mãe, a rainha Alexandra, a tia, a imperatriz Maria Feodorovna, e a esposa, a rainha Mary do Reino Unido
A 10 de Abril, Stamfordham encurralou LLoyd George em Downing Street para "lhe transmitir a opinião do rei de que o imperador e a imperatriz da Rússia não deveriam vir para este país e que (...) seria muito injusto para o rei se Suas Majestades Imperiais viessem para aqui quando o sentimento popular contra eles é tão pronunciado". Depois voltou a queixar-se a Balfour, dizendo-lhe que tinha visto um telegrama de Buchanan que "evidentemente achou que a vinda do imperador e da imperatriz estava garantida e que era apenas uma questão de tempo". O rei era da opinião que Buchanan já deveria ter retirado o convite.  

Os argumentos de Stamfordham tiveram efeito no governo. LLoyd George sabia que proteger os Romanov não seria bem visto na Grã-Bretanha e não queria fazer nada que afastasse o governo russo que ia ficando cada vez mais instável. Temia que acabassem por sair da guerra de repente, deixando a frente ocidental vulnerável a um ataque alemão em larga escala. Balfour achava que o rei estava "numa posição complicada". Ninguém iria acreditar que o convite não tinha sido feito pela corte. Talvez fosse melhor enviar os Romanov para o sul da França? O Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado: "o governo de Sua Majestade não irá insistir na oferta de hospitalidade que colocou anteriormente à família imperial". Balfour enviou um telegrama a Buchanan e disse-lhe para não falar mais no convite. O embaixador obedeceu com era seu dever. Miliukov já não referia o assunto há alguns dias, parecia óbvio que a questão se estava a tornar numa batata quente para o governo russo e, obviamente, se houvesse "algum perigo de criar um movimento anti-monárquico", então a Inglaterra não era o melhor lugar para colocar o czar e era melhor pedir a opinião dos franceses. Mas, em casa, segundo a sua filha, era óbvio que o embaixador estava profundamente perturbado.

Anastásia e Nicolau rodeados de soldados no parque de Alexandre no verão de 1917
Texto retirado do livro "The Three Emperors - Three Cousins, Three Empires and the Road to World War One" de Miranda Carter

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A Regência de Alexandra Feodorovna em 1915-17

Alexandra Feodorovna no Palácio de Alexandre, no outono de 1916
Durante a Primeira Guerra Mundial, Nicolau II poderia ter assumido o papel de líder civil, coordenando o governo, garantindo que o exército estava bem equipado, fazendo os possíveis para garantir que os feridos eram tratados, os refugiados apoiados, e que o país continuava a funcionar. No entanto, Nicolau, tal como Guilherme II na Alemanha, sentia um grande fascínio pelo lado romântico do exército, tinha má opinião da administração civil e sentia-se demasiado sobrecarregado com as falhas no governo para saber sequer por onde devia começar. (...)

A sua solução para a crise foi assumir o comando supremo do exército em Setembro de 1915. Num momento de optimismo exacerbado, Nicolau tinha-se convencido de que essa seria a decisão que iria remediar todos os problemas da Rússia: se fosse ele a assumir o comando, Deus salvaria a Rússia e os camponeses que prestavam serviço no exército iriam lutar com ainda mais vontade. Nicolau adorava a ideia de lutar ao lado dos seus soldados e de fugir às intrigas e cabalas e "pouco interesse pessoal" que havia em São Petersburgo - que tinha sido rebatizada de Petrogrado para a afastar das suas origens alemãs. "Na frente de batalha," confidenciou o czar a Pierre Gilliard, tutor do seu filho, "só se pensa numa coisa: na determinação de vencer."

Nicolau II durante a Primeira Guerra Mundial
Já há vários meses que Alexandra tentava convencer o marido a tomar esta decisão, afirmando que ele era o salvador da Rússia e que Deus o iria proteger. Era uma ideia tão má que, quando Nicolau a anunciou ao seu Conselho de Ministros, todos ficaram em silêncio. "É tão horrível," escreveu Sazonov [Sergei Sazonov, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia entre 1910 e 1916], "que a minha cabeça está um caos". Outro ministro afirmou secamente que esta decisão "reflecte completamente as suas crenças espirituais e a forma mística como vê o seu chamamento imperial". Depois de vários anos de lutas internas, o Conselho de Ministro tomou a decisão nunca antes vista de se unir para escrever uma carta em conjunto ao czar onde lhe pediam para não seguir em frente com aquela decisão. Até Goremykin [Ivan Goremykin, primeiro-ministro da Rússia em 1906 e, mais tarde, entre 1914 e 1916], que concordava sempre com o czar, assinou a carta. Até a mãe e a irmã de Nicolau [Olga Alexandrovna] acharam que seria uma catástrofe. Apesar de todos os pedidos, o czar decidiu avançar com a sua decisão de qualquer das formas. Sem qualquer experiência em estratégia ou em batalhas, não demorou muito até todos no quartel-general passarem a ver Nicolau como alguém irrelevante. A decisão teve o resultado já esperado de fazer com que ele fosse mais culpado do que nunca pelos desastres militares que se iam sucedendo.

Nicolau II
Quando Nicolau deixou São Petersburgo e o governo civil, Alexandra sentiu-se na obrigação de ocupar o seu lugar. Deixou a sua cama de inválida e decidiu dar à Rússia aquilo que acreditava ser uma grande lição em autocracia. Começou a dispensar ministros a uma velocidade estonteante logo quatro dias depois da partida de Nicolau. Todos à sua volta percebiam que, para ela, a política era "um assunto de sentimentos e personalidades". O esforço que o governo estava a fazer para sobreviver durante a guerra foi substituído por uma luta pessoal entre aqueles que Alexandra considerava estarem a seu favor e aqueles que achava estarem contra ela. Os ministros que tinham pedido ao czar para não se tornar comandante supremo do exército foram sistematicamente descredibilizados e dispensados. Qualquer pessoa que sugerisse algum tipo de colaboração com a Duma era dispensada. Qualquer pessoa de quem ela não gostasse, se tivesse oposto a alguma das suas decisões ou criticasse Rasputine - a quem a imperatriz procurava cada vez mais para obter conselhos políticos e que, tal como Pierre Gilliard observou, se limitava a confirmar aquilo que ela queria ouvir - era dispensada. Até o velho Goremykin perdeu as boas graças da imperatriz.

Nicolau e Alexandra
As cartas que escrevia a Nicolau - ainda em inglês - estavam cheias de referências ao "Nosso Amigo" e de pedidos para a remoção de ministros. "Quem me dera poder enforcar o Rodzianko [presidente da Duma]", escreveu ela, "é um homem horrível e insolente". Também o incentivava a ser assertivo e autocrático. Entretanto, em São Petersburgo, ia mudando de ministros a uma velocidade quase cómica, nomeando e dispensando quatro primeiros-ministros - cada um deles mais conservador e menos eficaz do que o anterior - num período de dezasseis meses, tentando desesperadamente encontrar aquele ministro "leal", o homem que odiasse suficientemente a Duma e que respeitasse suficientemente Rasputine. O primeiro-ministro de quem mais gostou foi Protopopov, um antigo representante da Duma que se tinha tornado admirador de Rasputine e que quase todos achavam ter algum tipo de problema mental, enquanto que outros eram da opinião que era completamente louco. A imperatriz promoveu-o, apesar de reconhecer que ele era "extremamente nervoso e muitas vezes perde a linha de raciocínio", só porque "ouvia" Rasputine e, segundo ela, "tem uma grande devoção por nós!". Segundo relatos da época, é possível que, a esta altura, Protopopov sofresse de sífilis terciária em estado avançado.

Alexandre Protopopov
Pierre Gilliard, que simpatizava completamente com a agonia que Alexandra sentia devido à doença do filho, temia que ela estivesse a enlouquecer: "muitas vezes passava por períodos de êxtase místico nos quais perdia por completo a noção da realidade". Entretanto, a visão obsessivamente polarizada que a imperatriz tinha do mundo levou-a a favorecer Rasputine em público, ao mesmo tempo que ignorava a forma cada vez mais aberta com que ele se aproveitava da sua posição privilegiada. Havia figuras que serviam na corte há vários anos, como Mossolov [chanceler da corte russa entre 1900 e 1916), que viam como o governo se tornava cada vez mais caótico sem poder fazer nada para o impedir. As nomeações e sinecuras eram cada vez mais preenchidas pelos amigos e clientes de Rasputine e parecia não haver nada a fazer senão aceitar o que estava a acontecer. O governo, que já estava em dificuldades, tornou-se ainda mais ineficaz, ridículo e corrupto. Em comparação, a Duma e o movimento dos Zemstvo pareciam cada vez mais eficazes e apelativos. Juntamente com o facto de Nicolau ter assumido o comando do exército, o efeito deste período na reputação do casal imperial foi devastador.

Alexandra Feodorovna
Já há muitos anos que as classes altas da Rússia não gostavam de Alexandra, mas, depois de assumir o governo, não demorou muito até começar a ser odiada veemente. Nicolau dava a impressão de ser um homem falhado e fraco. Ao ressentimento sentido pelas exigências da guerra, começaram a juntar-se as histórias de corrupção, caos e até de traição que se desenrolavam nas posições mais importantes do governo. Tendo em conta os desastres que se iam sucedendo na frente de batalha e a aparente indiferença e incapacidade do governo para resolver os problemas mais básicos, não é de admirar que os rumores relativos à suposta simpatia de Alexandra pelos alemães e à sua relação bizarra com Rasputine se tenham começado a espalhar além da elite e chegado ao resto do país e ao exército que estava cada mais insatisfeito. Em 1916, muitos acreditavam que Rasputine e os seus comparsas eram agentes alemães que tinham como objectivo entregar a Rússia à Alemanha e que a imperatriz de origem alemã estava a trabalhar com eles.

Alexandra Feodorvna
A relação entre Nicolau e Alexandra e a família (tanto a mais próxima, na Rússia, como os parentes mais afastados em Inglaterra e na Alemanha) começou também a ser afectada devido às más políticas e suspeitas da guerra. A correspondência entre Nicolau II e o seu primo direito, o rei Jorge V do Reino Unido, que sempre tinha sido cordial, começou a encher-se de coisas por dizer e explicações não requisitadas. "Tenho estado muito ocupado com algumas mudanças de ministros, das quais deves ter ouvido falar," escreveu Nicolau depois de a Rússia ter batido em retirada várias vezes em meados de 1915. "Relativamente à retirada na Galicia (...) teve de ser feita para salvar o nosso exército - única e exclusivamente devido à falta de munições e espingardas. E este motivo é muito doloroso. Mas o meu país compreendeu-o bem e todos estão a trabalhar para colmatar as necessidades do exército com energia redobrada (...) falta pouco para se completar um ano desde que esta guerra terrível rebentou e só Deus sabe quanto tempo poderá durar - mas vamos lutar até ao fim!". A resposta de Jorge pegou noutra crítica implícita: "posso garantir-te que aqui na Inglaterra estamos a fazer todos os possíveis para produzir as munições e armas necessárias e estamos a enviar tropas dos nossos novos exércitos para a frente de batalha o mais rapidamente possível". Entretanto, Minny [Maria Feodorovna, mãe do czar), cuja relação com Alexandra se tinha deteriorado gravemente desde que a imperatriz começou a dispensar ministros, - "está a arruinar-se a ela e à dinastia", disse a Kokovtsov - contava histórias dos seus excessos à irmã, a rainha-mãe de Inglaterra. "Tenho a certeza que se acha a imperatriz Catarina deles," escreveu a rainha Alexandra ao seu filho Jorge- A opinião que a família real britânica tinha de Alexandra piorava cada vez mais.


Nicolau II (dir.) com o primo Jorge (esq.) e o tio, o rei Eduardo VII de Inglaterra (centro).
Até Sir George Buchanan [embaixador do Reino Unido na Rússia] começou a acreditar nos rumores de que Alexandra tinha simpatias alemãs. Estava convencido de que a imperatriz estava a afastar os políticos moderados favoráveis à Inglaterra como Sazonov, que foi dispensado em 1915, para os substituir por conservadores favoráveis à Alemanha que queriam afastar a Rússia da Entente. O embaixador questionou-se se ela estaria a conspirar contra a aliança, mas, no final, decidiu que a imperatriz não passava de um fantoche de Rasputine. No entanto, Buchanan estava completamente errado. O casal imperial estava completamente dedicado à guerra. Era o seu país que se começava a revoltar contra ela. Nicolau não conseguia sequer pensar em mais derrotas para a Rússia. Alexandra tinha renunciado o seu país-natal que, segundo contou a Pierre Gilliard, se tinha tornado "um país que não conheço e que nunca conheci". Segundo o embaixador francês, a imperatriz apresentava-se como um mulher inglesa "tanto no seu aspecto exterior, na sua pose, como numa certa inflexibilidade e puritanismo". Ninguém acompanhava os acontecimentos do exército britânico com mais devoção. Quando o seu irmão, Ernesto Luís de Hesse-Darmstadt, tentou entrar em contacto com ela através de um antigo empregado que vivia na Áustria, Alexandra recusou-se a fazê-lo.

Alexandra e Ernesto Luís
Texto retirado em parte do livro "The Three Emperors - Three Cousins, Three Empires and the Road to World War One" de Miranda Carter

domingo, 9 de outubro de 2011

Diário de André Vladimirovich

André Vladimirovich, filho mais novo do grão-duque Vladimir Alexandrovich

Nesta entrada do diário de André Vladimirovich, primo direito do czar Nicolau II, o grão-duque descreve uma visita que Alexandra Feodorovna fez à sua mãe, a grã-duquesa Maria Pavlovna, na companhia de Olga e Tatiana.

Alexandra, Helena Vladimirovna, Maria Pavlovna e Nicolau II

Petrogrado, 19 de Setembro de 1915

Há alguns dias a Alix e as duas filhas mais velhas foram tomar chá com a mamã em Czarskoe Selo. Há que notar que foi a primeira vez em vinte anos que a Alix foi visitar a mamã sozinha sem o Nicky. Mas o mais interessante de tudo foi a conversa.

Alexandra, Olga e Tatiana em 1915

A Alix queixou-se amarguradamente que tudo o que faz é criticado, principalmente em Moscovo e Petrogrado. Toda a gente está contra ela e, por isso, está com as mãos atadas. “Ainda agora,” disse ela, “soube que as irmãs da Cruz Vermelha alemã me querem visitar. Pelo bem da causa devia recebê-las, mas não posso fazer isso sabendo que acabará por ser usado contra mim.” A mamã perguntou se era verdade que ela e a corte estavam a pensar mudar-se para Moscovo. “Oh, até a senhora já ouviu falar disso! Não, não tenho intenções de me mudar, mas “eles” estavam com esperanças que o fizesse para que pudessem vir “eles” para aqui.” (É claro que com “eles” a imperatriz queria dizer o grão-duque Nicolau Nikolaevich e as montenegrinas [esposa e cunhada do grão-duque]) “Mas,” prosseguiu a imperatriz, “felizmente soubemos disto a tempo e foram tomadas as medidas necessárias. Ele [o grão-duque Nicolau] agora vai para o Cáucaso. Já não é possível aguentar isto. O Nicky não sabia nada sobre o que se estava a passar na guerra. “Ele” não lhe dizia nada, nunca lhe escrevia. O poder do Nicky estava a ser-lhe roubado por todos os lados. Tiraram-lhe tudo o que havia para ser tirado. É intolerável. Estamos numa altura em que é preciso que haja uma mão forte e segura no meio desta autoridade desgovernada. Implorei ao Nicky que não dispensasse o Goremykin desta vez. É um homem honesto e leal, com convicções firmes e princípios sólidos. Não é correcto afastá-lo das pessoas que lhe são devotas, que ficariam com ele até ao fim.”

Grão-duque Nicolau Nikolaevich
No que diz respeito ao facto de o Nicky ser o chefe supremo do exército, a imperatriz disse que agora o marido se encontra muito bem-disposto. Saber o que está a acontecer deu-lhe uma nova vida e um novo entusiasmo.

Este episódio na vida da nossa família é muito importante porque nos dá a oportunidade de compreender a Alix. Desde que ela está connosco [na Rússia], sempre se escondeu numa espécie de névoa impenetrável através da qual a sua personalidade se tornou obscurecida. Ninguém a conhecia realmente ou sequer a compreendia e isto explica os quebra-cabeças e palpites que se foram transformando em lendas à medida que o tempo passava. Quem tem razão, é difícil dizer. É uma pena, pois a personalidade da imperatriz devia ser adorada por toda a Rússia, ela devia ser vista e compreendida. Não sendo assim, fica no pano de fundo e perde a tão necessária popularidade. Claro que a conversa de que falo acima com a minha mãe não pode remediar tudo o que aconteceu nestes últimos vinte anos, mas devo dizer que para nós, pessoalmente, foi muito importante. Conseguimos vê-la noutra perspectiva; vemos que muitas das lendas que se formaram em torno dela não são verdadeiras, vemos que ela está no caminho certo. Se ela não disse mais nada, se fez o que fez, devemos assumir que o fez com bom senso. Mas era mais do que evidente que ela fervilhava de dor e tinha necessidade de confessar alguma dela com a minha mãe.

Alexandra

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Biografia - Olga Alexandrovna


A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna da Rússia nasceu no dia 13 de Junho de 1882 e foi a última Grã-Duquesa da Rússia Imperial durante o reinado do seu irmão mais velho, Nicolau II. O seu pai era o Czar Alexandre III da Rússia e a sua mãe era filha do rei Cristiano IX da Dinamarca, Maria Feodorovna. Criada no Palácio de Gatchina nos arredores de São Petersburgo, a jovem Grã-Duquesa era mais próxima do seu irmão “Misha”, o Grão-Duque Miguel Alexandrovich. Era uma talentosa pintora e criou mais de 2000 quadros.

Olga (no colo da mãe) com os irmãos

Nascida no dia 13 de Junho de 1882 no Palácio de Peterhof, Olga era a filha mais nova de Alexandre III e a única a nascer durante o seu reinado. A sua mãe, seguindo o conselho da sua irmã, a futura rainha Alexandra do Reino Unido, decidiu contratar uma governanta inglesa e então Elizabeth Franklin chegou à Rússia. Sobre ela, Olga disse mais tarde:

“A Nana foi a minha protectora e conselheira durante a infância e a minha leal companheira nos anos que se seguiram. Não faço ideia do que teria feito sem ela. Tudo o que ela fez por mim permitiu-me sobreviver durante o caos dos anos de revolução. Ela era eficaz, corajosa e perspicaz; estava lá para ser a minha ama, mas a sua influência chegou até aos meus irmãos e irmã.”

Olga durante a infância

A Grã-Duquesa foi criada longe do perigo de São Petersburgo, no Palácio de Gatchina e sempre se referiu aos seus tempos de infância como os melhores da sua vida. Contudo, Olga Alexandrovna e os seus irmãos não estavam habituados a um estilo de vida demasiado sumptuoso durante os seus anos de infância e juventude, uma vez que os seus pais, governantes e tutores lhes exigiam disciplina e rigidez.

Olga disse sobre Gatchina:

“Como nos divertimos lá! A Galeria Chinesa era perfeita para jogar às escondidas! Bastava encolher-nos atrás de um vaso chinês enorme qualquer. Havia tantos, alguns que tinham o dobro do nosso tamanho. Suponho que valiam imenso, mas não me lembro de algum de nós alguma vez os estragar.”

A avó paterna das crianças, Maria de Hesse e do Reno, tinha introduzido costumes ingleses na corte russa. Olga comentou:

“Crescemos todos com uma dieta rigorosa. Para o lanche tinhamos geleia no pão e manteiga e bolhachas inglesss – bolo era servido muito raramente. Gostávamos da forma como a nossa papa-de-aveia era cozinhada – a Nana deve-os ter ensinado a fazê-la. O nosso jantar de marca parecia ser bife com ervilhas e batatas assadas, ou então costeletas, mas nem a Nana me conseguiu fazer gostar delas, principalmente quando estavam demasiado assadas!

Havia pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e ceia – todos servidos de acordo com as normas rigorosas do palácio e algumas nem sequer tinham mudado desde os tempos de Catarina, a Grande, como os pequenos bolos de manteiga suecos que eram servidos todas as noites durante a ceia. Eram do mesmo tipo daqueles servidos em 1788."

Olga Alexandrovna

Olga na Galeria Chinesa

O sistema educacional pelo qual a Grã-Duquesa e os seus irmãos foram educados era de grande exigência. Os tutores imperiais ensinavam as disciplinas principais como Russo, Literatura, Matemática, História e Línguas com grande profundidade. Embora todos os irmãos tivessem as suas aulas na mesma sala, a “sala das crianças”, o irmão mais velho de Olga, Nicolau, estava a ser ensinado a um nível superior. Nicolau estava a aprender outras disciplinas e matérias que lhe seriam mais úteis como futuro Czar. As actividades físicas como as equestres também começavam a ser ensinadas cedo, o que, eventualmente, tornou os jovens Romanov em cavaleiros experientes.

A jovem Grã-Duquesa passava as férias em Olgino, uma propriedade na província de Voronezh no Sudoeste da Rússia. Aí ela praticava e exemplificava a sua fé, a Igreja Ortodoxa Russa, criando ícones religiosos e abençoando os habitantes e edifícios da aldeia. Foi aí que ela pintou e desenhou muitos dos seus trabalhos originais que, mais tarde, vendeu aos seus amigos e vizinhos em Ontário no Canadá. Outras das actividades preferidas em Oligno eram cavalgar, montar e nadar. A Grã-Duquesa tinha uma forte relação com os habitantes da aldeia, mas essa relação foi-se tornando mais amarga à medida que aumentavam os descontentamentos que levaram à Revolução Russa.

Olga com os irmãos Jorge e Miguel durante as férias em Olgino

A Grã-Duquesa foi descrita como sendo muito simples e indiferente a pedras preciosas e jóias caras que continuam a ser consideradas uma imagem de marca dos Romanov. Mesmo assim, durante a sua vida, a mais jovem irmã do Czar acumulou uma colecção de pedras preciosas inestimável que foi, na sua maioria confiscada pelos revolucionários russos.

A sua infância foi muito feliz. O seu pai, Alexandre III, apoiava-se muito nela e no seu irmão Miguel que eram os mais novos dos cinco filhos e os que passavam mais tempo em casa devido às suas idades. Eles costumavam dar grandes passeios nas florestas que cercavam o Palácio de Gatchina nos quais Alexandre ensinou Olga e Miguel a fazer fogueiras e a escolher cogumelos. Estas caminhadas davam a Alexandre uma rara pausa nas suas responsabilidades como Imperador da Rússia e criaram uma ligação especial entre os três. Os dois irmãos guardaram boas recordações destes passeios que ambos preservaram durante as suas vidas e Olga sempre se referiu a estes momentos como os mais felizes da sua vida.

“O meu pai era tudo para mim. Mesmo quando estava imerso no seu trabalho, ele tirava sempre meia-hora do dia para estar connosco. Quando cresci, os meus privilégios aumentaram. Lembro-me do primeiro dia em que me deixou colocar o selo imperial num dos muitos envelopes que se espalhavam pela secretária dele. Era um selo pesado de ouro e cristal, mas senti-me muito orgulhosa e feliz nessa manhã. Eu ficava espantada com a quantidade de trabalho que o meu pai tinha todos os dias. Acho que o Czar era o homem que mais trabalhava na Terra. Para além das audiências e funções de estado, todos os dias ele tinha de analisar montanhas de editoriais, decretos de lei e relatórios que, depois, tinha de assinar. Muitas vezes o meu pai escrevia os seus comentários furiosos nas margens dos documentos: “Idiotas! Lerdos! Que besta que este é!…” Uma vez mostrou-me um album velho cheio de projectos de uma cidade imaginária chamada Mopsopolis, habitada por cães. Mostrou-me isto em segredo e eu fiquei encantada por ele ter partilhado o seu segredo de infância comigo.

(…)

O meu pai tinha a força de Hércules, mas nunca a mostrava quando outras pessoas estavam presentes. Costumava dizer-nos que conseguia dobrar ferraduras e pratos com muita facilidade, mas não se atrevia a fazê-lo porque a nossa mãe ficaria furiosa. No entanto, uma vez, quando estávamos no escritório, ele dobrou um limpador de cinzas feito de ferro e depois voltou a endireitá-lo. Lembro-me de que, enquanto o fazia, manteve sempre os olhos presos na porta para o caso de alguém entrar!”

Miguel Alexandrovich e Olga Alexandrovna Romanov


Em finais de 1888, Olga deixou Gatchina pela primeira vez quando toda a família imperial foi visitar o Cáucaso. No dia 29 de Outubro o longo comboio imperial estava a viajar a grande velocidade para Kharkov na Ucrânia. Um dos passageiros recordou o que aconteceu:

“Por volta da uma da tarde o comboio estava a aproximar-se da cidade de Borki. O Imperador, a Imperatriz e quatro dos seus filhos estavam a almoçar no vagão-restaurante. Estavam a trazer o pudim quando o comboio começou a estremecer violentamente e, depois, estremeceu novamente e todos caíram ao chão. Dentro de um segundo ou dois, o vagão-restaurante estava revirado com o pesado tecto de ferro cravado a apenas alguns centímetros das cabeças dos passageiros. (…)

“A explosão tinha separado as rodas e o chão do resto do vagão. O Imperador foi o primeiro a rastejar de debaixo do tecto. Depois disso, segurou-o alto o suficiente para que  a sua mulher, filhos e outros passageiros pudessem sair em segurança. Foi um esforço verdadeiramente herculeano da parte do Alexandre e, apesar de ninguém se ter apercebido disso na altura, custou-lhe a sua saúde."


Olga (entre os pais) com a família

Alexandre III morreu quando Olga tinha apenas 12 anos. Ela ainda era uma criança e sofreu muito com a perda do pai. Assim que recuperou da morte prematura do marido, Maria Feodorovna viu-se num dilema para encontrar uma forma de compensar a falta de um pai durante as adolescências de Olga e Miguel. Naturalmente virou-se para o seu filho mais velho, o novo Imperador, para que fosse ele a assumir esse papel. Afinal agora era ele o “chefe” da família Romanov. Talvez Nicolau tivesse feito o melhor que podia, mas ele tinha as suas próprias preocupações e responsabilidade com o seu novo cargo, mulher e filha. Mesmo que tivesse tempo, não haveria hipótese de que Olga e Miguel tivessem visto o seu irmão mais velho como um substituto para o seu pai. Ele e Nicolau eram completamente diferentes em aspecto, humor e personalidade.

Maria era, até certo ponto, uma mãe fria e distante. Ela sabia-o e isso incomodava-a. A sua falta de afecto não significava que não gostasse dos filhos, muito pelo contrário: era uma questão de prioridades. O mais importante para Maria era cuidar do seu marido, a seguir estava o seu papel como Imperatriz da Rússia e o resto da família  vinha apenas depois disso. Isto devia-se ao facto de Maria se sentir um tanto desconfortável junto dos seus filhos. Ela achava difícil falar com eles e mantinha-os segregados no estilo de cida que tinha escolhido para eles. Maria via os seus filhos todos os dias, mas, ao contrário da sua irmã Alexandra, nunca teve lutas de almofadas com eles. O “habitat natural” dela era o mundo da aristocracia de São Petersburgo onde havia danças, entretenimento e conversas inteligentes. A Imperatriz brilhava na sociedade, movendo-se entre os seus círculos com uma facilidade inigualável. Apesar de ser baixa, ela movia-se de forma a que ninguém duvidasse da sua força e perseverança. Era uma mulher forte e até rígida. Maria estava habituada a ter tudo feito à sua maneira. Depois da morte do marido, isso tornou-se ainda mais evidente, uma vez que ninguém podia (ou se atrevia) a contrariar os seus desejos. Os criados achavam-na dura e difícil de servir.

Olga com a mãe e os irmãos Miguel e Jorge

Maria gostava de ter Olga ao pé de si e tratava-a cada vez mais como uma criada à medida que ela ia crescendo, ao mesmo tempo que esperava dela o amor e devoção de uma filha. Era natural que Olga, uma adolescente a crescer, preferisse a companhia da sua governanta, do cão e dos tutores à da sua mãe. Isto magoava Maria, mas encaixava-se com a sua inclinação de ter outras pessoas a educar a sua filha.

Olga com a sua governanta Elizabeth Franklin

A Grã-Duquesa começou a pintar muito cedo, mas foi apenas durante os seus últimos anos de adolescência que o seu talento começou a prosperar. Ela também tinha um lado benevolente, fundando programas de caridade na aldeia de Olgino que funcionavam junto à propriedade dos pais e ajudou a melhorar as opções básicas de medicina e educação dos habitantes locais. Também contribuía ou era dona de muitas organizações e estabelecimentos de caridade desde muito nova. Contribuía principalmente para orfanatos, casas da misericórdia e escolas de raparigas. Deu uma ajuda considerável aos artistas pobres, mas talentosos e alguns tornaram-se famosos graças a si.

Olga Alexandrovna
Olga durante a adolescência

O seu benefício na aldeia rural de Olgino inspirou muitas fundações que começaram os seus trabalhos de caridade por todo o Império Russo. Chegou mesmo a haver uma ocasião em que Olga substituiu a professora da escola de Olgino com dinheiro do seu próprio bolço, fundou e visitou o Hospital Nacional da aldeia e continuou a dar consideráveis contribuições às famílias mais pobres das regiões que cercavam a sua aldeia de férias. No hospital, ela aprendeu a administrar tratamento médico e a tratar de doentes do médico local. Através do seu treino na medicina mais tarde, ela conseguiu tornar-se numa enfermeira, uma capacidade que lhe seria muito útil mais tarde. A Grã-Duquesa continuou o seu apoio à Igreja Ortodoxa Russa e aos serviços religiosos realizados em Olgino. Mesmo quando estava de férias, Olga queria continuar a ter as suas lições diárias que eram, normalmente, completadas com aulas de desenho e pintura.

“Mesmo durante as minhas lições de geografia e aritmética, o professor deixava-me ficar sentada com o pincel na mão. Conseguia prestar muita mais atenção quando estava a desenhar flores selvagens num canto.”

Olga durante a adolescência (Nicolau II e Alexandra na direita)

Durante a sua vida, Olga criou uma vasta colecção de arte do seu tempo na Rússia, Dinamarca e, mais tarde, Canadá, que, eventualmente, reunia mais de 2000 exemplares. Na Rússia e na Dinamarca preferia desenhar coisas relacionadas com a Natureza como flores e paisagens. A Grã-Duquesa também descobriu que os seus quadros podiam ser uma boa fonte de rendimento e começou a vendê-los em Copenhaga, na Dinamarca. Olga também elogiava a paisagem da sua pequena vila no Canadá numa série de cartas que enviou para a sua amiga dinamarquesa, Alexandra Iskra:
“Tudo era maravilhoso, tudo cheirava muito bem. Na floresta cheirava mesmo como a Rússia com as bétulas e outros tipos de arvores a florescer. Depois, quando estávamos a passear de carro pelas casas e jardins de alguns amigos, vimo-los e depois saímos do carro. Que lindo jardim que temos! Lírios do vale, lilás e todos os tipos de cheiros de plantas no ar. Caminhamos pelos jardins que rodeiam a casa e do outro lado vimos uma ravina funda toda coberta de plantas. Conseguimos ver a paisagem até muito longe



Pinturas de Olga

Olga conhecia os Oldenburg, uma das famílias aristocráticas mais ricas da Rússia, há muitos anos. Eles tinham um filho, Peter que era um atraente oficial. Peter era bonito, sofisticado… e homossexual. Para o espanto de muitas pessoas, um dia ele pediu a Maria Feodorovna a mão da sua filha Olga em casamento. A razão pela qual Maria aceitou é desconhecida. Talvez quisesse manter Olga por perto e era melhor casar com um homossexual do que com um estrangeiro que a levaria para longe. Na carta que escreveu ao filho mais velho, Nicolau, a contar a novidade, Maria escreveu:

“Tenho a certeza que não vais acreditar no que acabou de acontecer. A Olga está noiva do Petya e ambos estão muito felizes. Eu consenti, mas foi tudo feito tão rapidamente e inesperadamente que ainda não consegui acreditar. Mas o Petya é simpático, eu gosto dele e, se Deus quiser, eles serão muito felizes.” Depois assinou a carta com “A tua agitada, Mamã”.

Nicolau respondeu à carta da mãe ainda mais incrédulo:

“Não posso acreditar que a Olga esteja realmente noiva do Petya. Provavelmente estavam os dois bêbados ontem e hoje não se lembram do que disseram um ao outro ontem. O que pensa o Misha disto? E como ficou a governanta? Nós os dois (Nicolau e Alexandra) rimo-nos tanto a ler a tua carta que ainda não conseguimos recuperar. O Petya acabou de entrar de rompante e contou-nos tudo. Agora temos mesmo de acreditar. Mas vamos acreditar que tudo corre bem. Tenho a certeza que vão ser felizes, mas parece-me tudo muito precipitado"

Olga Alexandrovna com o noivo na festa de noivado

Olga era completamente ingénua em relação a assuntos sexuais e provavelmente não fazia ideia do que era um homossexual. Ela não tinha razões para se opor à proposta. Afinal significava que ela finalmente poderia abandonar a casa da mãe e ter a sua própria vida com o marido a seu lado. Então casou-se com o Príncipe Peter Oldenburg numa bonita cerimónia recheada com o brilho Romanov que se realizou no dia 9 de Agosto de 1901, quando Olga tinha 19 anos. As prendas que receberam foram magníficas. O seu novo marido cobriu-a de pedras preciosas e roupas caras e o casal mudou-se para um complexo de palácios em Czarskoe Selo, perto do Palácio de Alexandre onde vivia o irmão mais velho de Olga, Nicolau, com a sua família. Para comemorar o seu casamento, o irmão de Olga deu-lhe o seu próprio regimento de soldados.


O marido de Olga era submisso e atencioso em público, mas reservado e distante em privado. O casamento nunca foi consumado. Estando perto do palácio do seu irmão e sendo muitas vezes ignorada pelo seu marido que passava a maior parte do tempo com os seus amigos, Olga tornou-se numa visita regular no Palácio de Alexandre e desenvolveu uma ligação com Nicolau muito mais próxima do que quando era uma criança. Também se tornou amiga da sua esposa Alexandra de quem gostava muito e vice-versa.


Em 1903 ela conheceu o Coronel Nikolai Alexandrovich Kulikovsky através do seu adorado irmão Miguel, durante uma inspecção militar em Pavlovsk. Pouco tempo depois começou um romance entre o coronel e a Grã-Duquesa. Nesse mesmo ano, com 22 anos, ela enfrentou o seu marido e pediu-lhe o divórcio imediato. O seu irmão, o Czar Nicolau II, acreditou que a relação de Olga com Kulikovsky não passava de um romance passageiro e aceitou ceder o divórcio no prazo de 7 anos. Contudo, Oldenberg contratou o Coronel como seu ajudante e permitiu-lhe viver na mesma casa da Grã-Duquesa. Para aqueles que sabiam, a relação de Olga com Kulikovsky era mantida em segredo, especialmente para os patriarcas da família Romanov. Contudo, muitos membros influentes da família souberam da relação e não fizeram nada para mostrar a sua desaprovação.

Vivendo em Czarskoe Selo, Olga tornou-se também muito próxima das suas sobrinhas e sobrinho, as filhas e filho do seu irmão Nicolau. Ela criou uma ligação especialmente com a sua sobrinha mais nova, Anastásia, a quem chamava “Shvibzik"

Olga Alexandrovna com a sobrinha Anastásia

Olga viu as suas sobrinhas crescer desde bebés até jovens mulheres e, ao observar as suas vidas e rotinas no Palácio de Alexandre, viu muitas das mesmas tendências que a tinham deixado tão pouco preparada para a vida real. Ela preocupava-se com o futuro das grã-duquesas e do efeito que o clima sufocante da ala das crianças. Elas não tinham ninguém que as preparasse para a sociedade, uma vez que fora a mãe que as criara virtualmente sozinha. Como Alexandra se refugiava da sociedade, repelindo festas e bailas, Olga sentiu que era a única que poderia ter essa função. Com o objectivo de alargar o circulo de amigos das Grã-Duquesas e introduzi-las gradualmente no mundo real, Olga costumava levá-las todos os Sábados de Czarskoe Selo até São Petersburgo de comboio. Aí elas iam até ao palácio da avó onde se organizavam festas especiais para elas, com danças e outras pessoas jovens para elas conhecerem. Olga fazia isto com muito cuidado, sem alarmar os seus pais demasiado protectores. Ela era a única pessoa em quem Nicolau e Alexandra confiavam as suas filhas.

Com o rebentar da Primeira Guerra Mundial as festas acabaram.

Olga Alexandrovna com as sobrinhas Maria, Olga e Anastásia

Durante a Guerra, o amante de Olga, Kulikovsky, foi nomeado para comandar o regimento de Akhtyrsky na linha da frente do Sudoeste da Rússia. Com o conhecimento prévio  em medicina aprendido em Olgino, Olga começou a trabalhar como enfermeira no seu próprio regimento em Proskurov. Ao mesmo tempo as tenções internacionais na Rússia começaram a acumular-se à medida que os revolucionários ganhavam força. Durante o primeiro ano da guerra, a Grã-Duquesa esteve num local fortemente bombardeado por austríacos. Era raro as enfermeiras trabalharem tão perto da linha de fogo e, por isso, Olga recebeu a Ordem de São Jorge pelas suas acções heróicas.


Em 1916, o Czar Nicolau II anulou oficialmente o casamento entre Olga e Peter Oldenburg, permitindo-lhe casar-se com o Coronel Nikolai Alexandrovich Kulikovsky no dia 14 de Novembro de 1916 na Igreja de São Nicolau em Kiev. Entre os que participaram no casamento estavam a sua mãe Maria Feodorovna, a sua irmã mais velha Xenia, o cunhado Alexandre, alguns oficiais do regimento de Kulikovsky e colegas enfermeiras do hospital de Kiev fundado pela Grã-Duquesa.

Olga com Nikolai Kulikovsky no dia de casamento


Depois da revolução que depôs o seu irmão Nicolau II no inicio de 1917, muitos dos membros da família Romanov foram presos e mantidos nas suas casas. Isto aconteceu com a família do irmão, primeiro no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo. Maria Feodorovna, a Grã-Duquesa Xenia e a Grã-Duquesa Olga conseguiram fugir para a Crimeia onde viveram durante algum tempo antes de também serem presas numa das suas casas.



Olga em Czarskoe Selo com o sobrinho Alexis e as sobrinhas Maria e Anastásia em 1914
No dia 12 de Agosto de 1917, Olga deu à luz o seu primeiro filho, Tikhon Nikolevich Kulkovsky que nasceu em prisão domiciliária durante o domínio do Governo Provisório na Rússia. Olga deu-lhe o nome do santo padroeiro de Oliginio, Tikhon de Zadonsk. Apesar de ser neto de um Imperador e sobrinho de outro, como o seu pai fazia parte do povo, o bebé não recebeu nenhum título e usou o apelido Kulikovsky com orgulho durante toda a sua vida, assim como o seu irmão mais novo Guri. Devido aos problemas de comunicação que a Rússia começou a sofrer e a censura oficial impelida aos Romanov, sabia-se pouco sobre o destino do destino de Nicolau e da sua família.

Olga com o seu filho Tikhon

Enquanto estavam na Crimeia, a família da Grã-Duquesa tinha sido condenada à morte pelos conselhos revolucionários de Sevastopol e Yalta. Durante a confusão política entre as duas fracções, o Poder Central da Alemanha avançou na Crimeia, mas quando chegaram em Novembro de 1918, os soldados souberam da derrota do seu país na guerra. Pouco depois da breve ocupação alemã, o Exército Branco de soldados leais ao czar, restaurou temporariamente a segurança na área, dando tempo à Grã-Duquesa e à família para fugir para o estrangeiro. O rei Jorge V enviou um navio de guerra britânico para retirar a sua tia, Maria Feodorovna, as suas primas e outros membros da família Romanov da instável Crimeia. Foi feito um acordo entre a antiga imperatriz e o rei Jorge V para permitir a evacuação de um grande número de cidadãos russos nesse navio. O bloqueio de comunicações que a família tinha sofrido na Crimeira levantou-se relativamente pelos marinheiros britânicos a bordo. Foi dada a notícia do assassinato confirmado de Nicolau II e das supostas mortes da restante família. O destino do  irmão e companheiro de infância de Olga, “Misha”, Grão-Duque Miguel Alexandrovich da Rússia, aquele que quase se tornou Imperador da Rússia, também era incerto. Na altura não se sabia que ele tinha sido assassinado pela Checa em Perm, na Rússia no dia 12 de Junho de 1918 para garantir que não sobravam descendentes Romanov para subir ao trono.

Olga e Miguel

A Grã-Duquesa Olga e o marido recusaram-se a abandonar a Rússia ao mesmo tempo que a restante família. Os dois decidiram ir para a região de Kuban, na altura ainda livre de bolcheviques e viveram na cidade de Novominskaya, a cidade natal do guarda-costas de Maria Feodorovna. Na Primavera de 1919, nasceu o Segundo filho do casal, Guri Nikolaevich, numa quinta alugada. O segundo filho do casal recebeu o nome de um grande amigo de Olga durante a Primeira Guerra Mundial, Gury Panayevich, um grande herói de batalha que tinha morrido em 1914 a defender o seu regimento.Pouco depois do nascimento do Segundo filho, os circulos internos do Exercito Branco abordaram a Grã-Duquesa com propostas para se declarar oficialmente como Imperatriz da Rússia. Olga recusou diplomaticamente a oferta. Sendo a última herdeira legitima ao trono russo, Olga tornou-se num alvo para o Exército Vermelho.

Olga Alexandrovna com o marido e os filhos em 1920

A família começou então aquela que seria a sua última viagem pela Rússia. Fugiram para Rostov-on-Don, refugiamdo-se na residência do Cônsul Dinamarquês, Thomas Nikolaevich Schtte, que os informou sobre a chegada segura deMaria Feodorovna à Dinamarca. Depos de uma breve estadia, a família foi para a ilha de Büyükada no estreito dos Dardanelos perto de Istambul, Turquia. Depois foram para Belgrado onde Olga foi visitada pelo regente Alexandre Karageorgevich que mais tarde seria o Rei Alexandre I da Jugoslávia. O regente recomendou que a Grã-Duquesa e a família vivessem permanentemente num dos estados reais do antigo Império Austro-Húngaro, mas a sua mãe pediu-lhe para se juntar a ela na Dinamarca. A Grã-Duquesa aceitou imediatamente e a família mudou-se novamente para a Dinamarca. A Dagmar Imperatriz Maria Feodorovna morreu no seu país natal no dia 13 de Outubro de 1928, 9 anos depois.



Com a morte da sua mãe, a casa de Hvidore foi vendida e Olga conseguiu comprara a quinta Knudsminde, a alguns quilómetros de Copenhaga com a sua parte da herança. A sua quinta tornou-se no centro dos monarquistas russos exilados na Dinamarca e um local de passagem de muitos emigrantes russos. Ela manteve sempre o contacto com soldados e oficiais do seu regimento, com a família imperial e com os seus primos da família real dinamarquesa. Ela começou a vender os seus próprios quadros que estiveram em esposição em Copenhaga, Londres, Paris e Berlim. Uma parte do rendimento que a Grã-Duquesa fazia com a pintura ia para varias instituições de caridade russas.

No dia 9 de Abril de 1940, a Dinamarca neutra foi invadida pela Alemanha Nazi e consequentemente tornou-se num país ocupado durante a Segunda Guerra Mundial. Os armazéns de comida, comunicações, censura e fecho de transportes resultaram num grande grupo de dinamarqueses pobres. Os seus filhos, Tikhon e Guri serviram no Exército Dinamarquês antes de a Dinamarca ser invadida e, por serem dois Romanov, foram presos num campo de concentração mais liberal.


A sorte dos Romanov mudou para melhor quando a Alemanha se rendeu aos Estados Unidos, Reino Unido e União Sovietica no dia 5 de Maio de 1945. Quando as condições económicas da Dinamarca se recusaram a melhorar, o General Pyotr Krasnov escreveu à Grã-Duquesa alertando-a para as baixas condições de vida dos cidadãos na Rússia e dos emigrantes russos que viviam na Dinamarca. Olga escreveu imediatamente ao Principe Alex da Dinamarca a falar-lhe da luta económica da Rússia e ele prometeu ajudar os pobres russos, especialmente os Cuzacos.

Estaline controlava rudemente a Rússia. Ele provou ser um vizinho perigosos para a família Romanov quando enviou uma carta ao governo dinamarquês acusando a Grã-Duquesa e um bispo católico dinamarquês de conspiração contra o governo soviético. Quando as tropas soviéticas se aproximaram das fronteiras dinamarquesas após a II Guerra Mundial, o medo de uma tentativa de rapto ou assassinato contra os Romanov cresceu. Então a Grã-Duquesa decidiu mudar novamente a sua família para o outro lado do oceano, na segurança do Canadá rural.

Olga Alexandrovna nos seus últimos anos

Quando a quinta que compraram no Canadá se tornou cada vez mais num fardo, Olga, o marido e os filhos mudaram-se para uma pequena casa em Cooksville, Ontário, um subúrbio de Toronto. Os vizinhos e visitantes da região ganharam um grande interesse nos rumores sobre “a última Romanov” que vivia no Canadá e visitavam-na frequentemente. Dignitários estrangeiros e membros das famílias reais também visitavam a sua confortável casa com um grande jardim. Esses visitantes incluíram a Princesa Marina, Duquesa de Kent, filha da Grã-Duquesa Elena Vladimirovna da Rússia. Outros convidados notáveis incluíram a Princesa Tatiana Constantinovna e o Príncipe Vassily Alexandrovich. Uma das maiores visitas ocorreu quando a Reinha Isabel II, o Principe Filipe e o Príncipe Carlos foram a Toronto e convidaram a Grã-Duquesa para o almoço a bordo do Iate Real, HMY Britannia. Em 1951, antigos soldados do regimento de Olga reuniram-se em sua casa para celebrar o 300º aniversário da criação do mesmo. Pouco depois ela tornou-se presidente da Associação de Cadetes da Rússia Imperial no Canadá.


Depois da morte do marido em 1958, Olga ficou demasiado doente para tomar conta de si e mudou-se para a casa de amigos russos emigrados no Canadá que ficava em cima de um salão de beleza em Toronto. Aí ela podia ouvir a confortável língua da sua infância e cheirar e provar a comida da sua infância. Ela morreu no dia 24 de Novembro de 1960 com 78 anos de idade. Foi enterrada ao pé do marido no Cemitério York em Toronto, Ontário, Canadá. No funeral da última Grã-Duquesa da Rússia participaram muitos emigrantes bem como muitos amigos que ela tinha feito no seu novo país. Os Cadetes Imperiais Russos fizeram uma vigília e uma guarda de honra que durou dois dias. O “New York Times” fez manchete da sua morte nos obituários, mas, em vez de colocarem a sua fotografia, colocaram a da sua sobrinha Olga Nikolaevna. Muitas pessoas foram ao funeral, mas nenhum Romanov.

Olga é lembrada na cidade pelas instituições de caridade que fundou.