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sábado, 12 de março de 2011

Casamentos Morganáticos - Paulo Alexandrovich e Olga Valerianovna Paley

Olga Paley e Paulo Alexandrovich
O grão-duque Paulo Alexandrovich, filho mais novo do czar Alexandre II, sempre tinha levado uma vida calma, seguindo rigorosamente os padrões impostos a um membro da realeza. Quando nasceu, o casamento dos pais já se encontrava, para todos os efeitos, acabado e a sua mãe começava a mostrar os primeiros sintomas de tuberculose, que a obrigavam a passar o inverno longe do clima rigoroso da Rússia. Por este motivo, Paulo passou grandes períodos da sua infância no estrangeiro, principalmente no sul de França e em Hesse-Darmstatd na companhia da mãe, da irmã Maria e do irmão Sérgio. Assim, Paulo tinha uma mentalidade mais aberta ao Ocidente e uma educação mais refinada do que os seus irmãos mais velhos, embora tivesse sido um grande patriota russo ao longo da sua vida.

Paulo Alexandrovich em criança
Por ter sido criado longe da Corte, Paulo tornou-se muito tímido e pouco dado à pompa e circunstância desta. A sua adversão por cerimónias e formalidades seria uma constante ao longo de toda a sua vida. O facto de ter herdado a constituição e saúde fracas da mãe ajudavam ao seu isolamento. Depois da morte da mãe em 1880, quando Paulo tinha 20 anos, a grã-duquesa Olga Constantinovna, sua prima em segundo grau, sugeriu que ele devia trocar o sul de França pela Grécia. Tal como a imperatriz Maria, Paulo tinha problemas de pulmões que o forçavam a refugiar-se do inverno rigoroso russo e, por isso, aceitou a sugestão.

Embora já conhecesse a sua prima Alexandra da Grécia das visitas que esta tinha feito à família na Rússia, foi durante as suas estadias na Grécia que Paulo a começou a conhecer melhor e foi lá que ele a viu crescer. Nas suas primeiras visitas ela era ainda uma criança de 10 anos, mas à medida que crescia, Alexandra foi-se apaixonando pelo seu primo Romanov e ele viu-se subitamente a sentir o mesmo. No entanto, antes de começar a nutrir sentimentos pela sua prima grega, corriam rumores em São Petersburgo de que Paulo estava apaixonado pela nova esposa do seu irmão Sérgio, a grã-duquesa Isabel Feodorovna, principalmente porque ele tinha ido com o irmão e a cunhada na sua lua-de-mel. Estes rumores nunca foram confirmados, mas é provável que tenham tido um fundo de verdade.
Paulo e Sérgio com o grão-duque Luís III de Hesse-Darmstadt e as suas primas Isabel e Irene
Paulo e Alexandra casaram-se no dia 17 de Junho de 1889 e tiveram um casamento extremamente feliz e harmonioso. Sérgio e Isabel continuaram a ser uma constante na vida de Paulo, já que os dois casais passam a maioria do tempo juntos e viviam em palácios próximos. Mesmo quando Sérgio foi nomeado Governador-geral de Moscovo na primavera de 1891, Paulo e Alexandra continuaram a visitar o casal muito frequentemente.

A primeira filha do casal, a grã-duquesa Maria Pavlovna, nasceu nove meses e um dia depois do casamento. Foi muito desejada e mimada pelos pais e pelos tios que ainda não tinham tido filhos. Menos de 6 meses depois do nascimento de Maria, Alexandra estava novamente grávida.

Quando estava no sétimo mês de gestação, Sérgio e Isabel convidaram Paulo e Alexandra para passar férias em Moscovo com eles na companhia da filha Maria. Durante um passeio pelos jardins, Alexandra decidiu saltar directamente da margem para um barco que estava atracado no lago e caiu. A principio nada aconteceu, mas no dia seguinte, durante um baile dado em sua honra, Alexandra desmaiou e pouco tempo depois deu à luz o seu segundo filho, Dmitri, prematuramente. O bebé sobreviveu, mas Alexandra entrou em coma e morreu seis dias depois.

Paulo com a sua primeira esposa, Alexandra
Paulo ficou muito afectado com a morte da esposa. No dia do funeral tentou atirar-se para dentro da cova quando o caixão estava a ser enterrado, mas foi impedido por Sérgio, pelo grão-duque Constantino Constantinovich (tio de Alexandra) e outros membros da família. Depois do golpe, a família decidiu enviar Paulo para a Criméia para descansar enquanto que os seus filhos foram deixados com os tios em Moscovo. A estadia durou quase um ano, mas quando regressou Paulo parecia ter recuperado parte da sua vitalidade.

Passou a viver com os filhos em São Petersburgo, algo que entristeceu Sérgio que se tinha afeiçoado aos sobrinhos. Lá a família vivia calmamente. Paulo foi forçado a contratar amas e governantas, mas fazia questão de tomar todas as refeições na companhia dos filhos. Durante muitos anos ninguém acreditava que o grão-duque se fosse voltar a casar ou sequer encontrar uma amante apesar do encorajamento para tal por parte do seu irmão Vladimir Alexandrovich de quem se tinha aproximado após a morte da esposa.

Paulo com os filhos Maria e Dmitri, o irmão Sérgio e a cunhada Isabel
No entanto, os acontecimentos começaram a mudar rapidamente quando, em 1895, o grão-duque Vladimir Alexandrovich contratou um novo ajudante-de-campo chamado Erich von Pistohlkors que Paulo conheceu durante uma visita ao palácio do irmão. Erich gostou tanto do grão-duque que, algum tempo depois, durante uma parada militar em São Petersburgo, fez questão de o apresentar à sua esposa e mãe dos seus três filhos, Olga Valerianova von Pistohlkors.

Olga era filha de um médico proeminente de Czarskoe Selo e tinha-se casado com o General von Pistohlkors em 1884, tornando-se uma figura conhecida entre a sociedade aristocrática de São Petersburgo pela sua inteligência e personalidade alegre, descontraída e extrovertida. Todos pensavam que tinha um casamento harmonioso com o marido, mas a verdade era que, como muitos outros homens da sua época, Erich tinha amantes e a própria Olga gostava de correr riscos ao seduzir vários homens da aristocracia e nobreza para se vingar do marido. Entre os homens com quem tinha namoriscado inocentemente incluía-se o próprio grão-duque Vladimir que esteve apaixonado por ela durante um breve período. Mas com Paulo foi diferente.

Olga Valerianovna com o seu primeiro marido Erich

Olga gostava da simplicidade de Paulo, das suas conversas inteligentes, do charme da sua timidez natural e, acima de tudo, do amor e fidelidade com que recordava a sua esposa Alexandra. Em resumo, era o completo oposto do seu marido. Paulo, por seu lado, gostava de Olga porque ela era o seu completo oposto: era positiva, adorava a vida em sociedade e era extrovertida, no entanto receava que um envolvimento com ela fosse uma ofenda para Erich.

No entanto, o seu irmão Vladimir diminuiu a importância que o seu irmão queria dar à moralidade do caso. Quando percebeu que Paulo estava finalmente interessado em ter um caso com uma mulher mais de quatro anos depois da morte da sua esposa, não só o apoiou como encorajou, revelando que Erich também tinha as suas amantes e que o casamento era uma fachada. Na altura Vladimir queria apenas que o irmão se distraísse e talvez um caso amoroso sem importância lhe desse vontade suficiente para que ele começasse a procurar uma segunda esposa entre as casas reais europeias.
Olga Valerianovna
O caso acabou por acontecer. Paulo e Olga começaram a encontrar-se discretamente e, durante muito tempo, nem o marido dela desconfiou do que estava a acontecer, apesar de Paulo nunca ter gostado da ideia de a sua amante continuar casada. Vladimir tinha esperado que o romance durasse apenas alguns meses, mas quando ao fim de um ano continuava e que Paulo era cada vez menos cuidadoso, começou a ficar preocupado.

As suas preocupações ainda se tornaram maiores quando, em Janeiro de 1897, Olga deu à luz um filho que todas as circunstâncias indicavam ser de Paulo. Foi a partir daí que o grão-duque se cansou de esconder. Assim que soube do nascimento da criança, trouxe os dois consigo para o seu palácio de São Petersburgo e o escândalo rebentou. A criança foi chamada de Vladimir, em honra do tio através do qual os seus pais se tinham conhecido, mas como Olga continuava casada, a lei obrigou a que ele recebesse o apelido do marido dela. Paulo ficou indignado.

Vladimir, o primeiro filho de Paulo e Olga
Pouco tempo depois do nascimento, Paulo foi falar com o seu sobrinho, o czar Nicolau II e informou-o do caso que tinha mantido e do seu filho, pedindo-lhe que permitisse um divórcio entre Olga e o marido. O czar ficou chocado e recusou-se a fazê-lo. Paulo não aceitou a resposta.

Para chamar as atenções do sobrinho, começou a passear publicamente com Olga, os filhos do primeiro casamento e o novo bebé, escandalizando ainda mais a sociedade de São Petersburgo e, durante um baile no Palácio de Inverno que tinha sido organizado pelo czar e pela esposa, resolveu aparecer com Olga, ainda casada, pelo braço. O casal foi educadamente convidado a sair pela imperatriz e no dia seguinte Paulo foi chamado ao palácio. Nicolau concordou em dar o divórcio a Olga, mas apenas com a condição de que o tio não se casaria com ela. Paulo deu a sua palavra, mas tinha todas as intenções de quebrá-la.

Paulo e Olga com o grão-duque Alexei Alexandrovich
Pouco tempo depois de Olga se ter divorciado oficialmente e de Paulo ter enviado os seus dois filhos do primeiro casamento para casa dos tios, o casal fugiu da Rússia com o filho Vladimir. Durante dois anos os três andaram de hotel em hotel por toda a Europa, na esperança de que Nicolau lhes desse permissão para casar, mas tal nunca aconteceu.

Finalmente, no verão de 1902, o casal cansou-se de esperar e casou-se numa igreja em Itália. Assim que a notícia chegou aos ouvidos do czar, Paulo perdeu todos os seus títulos e posições militares assim como o direito de viver na Rússia permanentemente. Durante este período o grão-duque ainda tentou obter a custódia da sua filha Maria, mas a sugestão foi recusada. Os seus dois filhos do primeiro casamento passaram a viver permanentemente com os tios.

Paulo com a filha Irina
Depois do casamento Paulo comprou uma casa em Bologne-sur-sein e passou a viver lá com a sua nova família. Pouco mais de um ano depois do casamento nasceu uma filha que o casal chamou de Irina. Um ano depois dela Olga deu à luz outra menina chamada Natália.

A vida em Paris era calma e idealista. O casal tornou-se a sensação da cidade e por isso tinha uma vida social muito activa. Mesmo assim a família tomava todas as refeições junta, rezava e quase todos os dias conviviam durante uma hora antes de ir dormir, costumes muito raros da aristocracia e nobreza da época. Paulo ressentia-se por estar longe da Rússia e dos seus dois filhos mais velhos, por isso começou a afastar-se cada vez mais da política e a refugiar-se na sua vida familiar.

Paulo com a esposa Olga, os seus três filhos Vladimir, Irina e Natália e os três filhos do primeiro casamento de Olga: Alexandre, Olga e Mariana
Paulo só voltaria à Rússia em 1905 aquando da morte do seu irmão Sérgio. Queria assistir ao funeral dele em Moscovo, mas o czar proibiu-o por temer novos ataques contra grão-duques. Mais uma vez quis levar a sua filha Maria consigo para Paris, mas o czar não permitiu que tal acontecesse, visto que Maria pertencia à coroa e não ao pai. Mais tarde, durante esta visita, Paulo percebeu que Dmitri em particular não queria deixar a tia, uma vez que após a morte do tio Sérgio, sentia que era sua responsabilidade protegê-la. Maria também nunca se separaria do irmão, por isso Paulo acabou por aceitar a decisão do czar.

Quatro anos depois, Paulo descobriu através de uma carta de Maria que esta se encontrava noiva do príncipe Guilherme da Suécia sem que a sua autorização tivesse sido pedida. Paulo ficou furioso e viajou propositadamente à Rússia só para falar pessoalmente com o czar que jurou não ter tido nada a ver com o assunto. O casamento tinha sido arranjado numa colaboração entre Isabel Feodorovna e a sua irmã mais nova, a princesa Irene de Hesse-Darmstadt. Depois de falar com o pai, Maria chegou a considerar pensar melhor na união, mas numa carta Irene disse-lhe que se ela desistisse do casamento iria matar a sua tia Isabel e, por isso, decidiu seguir em frente com a união.

Paulo ameaçou não estar presente se a sua esposa e filhos não o pudessem acompanhar, mas depois de uma conversa com a filha acabou por aparecer. O casamento revelou-se um desastre. Embora tivesse tido um filho, Maria viria a separar-se do marido pouco mais de 3 anos depois, passando a viver com o pai e os meios-irmãos em Paris. O divórcio foi oficializado em 1914.

Paulo com os filhos Dmitri e Maria
1914 foi também o ano em que Paulo finalmente regressou à Rússia com a esposa e os filhos. Depois de uma onda de remorso por ter apoiado o casamento de Maria sem pedir a opinião de Paulo, a imperatriz Alexandra Feodorovna convenceu o marido a perdoar o tio em 1912. Assim que soube da notícia, Paulo comprou um terreno no Parque de Alexandre, em Czarskoe Selo e começou a construir um palácio para a família.

As obras ficaram concluidas no final de 1913 e a família mudou-se na Primavera de 1914. Os primeiros meses foram muito calmos e alegres. Vladimir, que já se tinha mudado para a Rússia em 1912 para começar a sua carreira militar, fez grande sucesso na família devido aos seus inúmeros talentos como poeta, pintor e músico e as duas filhas mais novas foram muito bem recebidas pela sua graciosidade. Olga teve mais dificuldade em ser aceite, mas aos poucos foi conseguindo ganhar o respeito da família.

No entanto os dias de felicidade acabaram com o rebentar da Primeira Guerra Mundial no verão.

Palácio Paley em Czarskoe Selo
Vladimir foi imediatamente enviado para as trincheiras, mas Paulo não pôde juntar-se ao filho devido aos graves problemas de saúde que o afligiam na altura. Olga abriu uma oficina no salão de baile do palácio patrocionado pela imperatriz Alexandra que confeccionava sacos-cama e outros produtos de primeira necessidade para os soldados russos.
Paulo não aguentou muito tempo em casa. Logo em 1916 quando começou a melhorar foi nomeado General de um regimento e partiu para a guerra.

Vladimir Paley durante a Primeira Guerra Mundial
Quando rebentou a Revolução Russa em 1917, os Paley foram das últimas famílias Romanov a ser abordada pelo governo de Kerensky. O novo líder chegou a decretar a prisão domiciliária da família em Junho de 1917, mas graças à intervenção de Mariana, filha de Olga, que conhecia os oficiais mais importantes do regime, foram libertados poucas semanas depois.

No entanto, quando rebentou a revolução bolchevique em Outubro desse ano, os dias de calma acabaram. Muitos aconselharam Paulo e Olga a fugir da Rússia enquanto tinham tempo, mas nenhum dos dois reconheceu a gravidade da situação até ser tarde demais. Logo no mês seguinte apareceu um anúncio do jornal que convocava todos os grão-duques e príncipes Romanov para que estes se apresentassem na sede da Cheka em São Petersburgo para se registarem nos seus cadernos. Na altura o grão-duque Paulo estava gravemente doente com uma úlcera no estômago, por isso a sua esposa apareceu em seu nome. Os oficiais da Cheka não ficaram satisfeitos e exigiram que no dia seguinte Vladimir se apresentasse mesmo apesar de não ser um Romanov.

Quando Vladimir se encontrou com os oficiais, estes apresentaram-lhe dois documentos. Num deles era pedido que Vladimir Pavlovich negasse a paternidade do grão-duque Paulo, o outro era uma ordem de exílio. O príncipe escolheu o segundo e partiu para Volodga, na Sibéria em Março de 1918. Foi a última vez que viu a família.

Paulo em 1916, uma das suas últimas fotografias
Paulo conseguiu escapar às primeiras vagas de detenção de membros da família imperial devido ao seu delicado estado de saúde, mas não por muito tempo. A última vez que foi visto em público livremente foi no baptizado do seu neto, Roman Sergeievich Putiatin, filho do segundo casamento da sua filha Maria Pavlovna, no dia 18 de Julho de 1918. A família não fazia a minima ideia que nessa mesma noite Vladimir seria assassinado na Sibéria.

O grão-duque foi preso em Agosto. Olga fez tudo ao seu alcance para o conseguir libertar, passando todo o tempo que podia em São Petersburgo a visitar o marido ou a tentar encontrar-se com oficiais bolcheviques. Os seus esforços acabaram por ser em vão. Em Janeiro de 1919, extremamente débil, Paulo foi fuzilado como um prisioneiro comum. Na altura estava tão fraco que foi alvejado quando estava deitado numa maca.

Olga Paley depois da morte do marido
Olga nunca recuperou do choque da morte do marido. Depois da sua morte fugiu para a Finlândia onde já se encontravam as suas filhas onde descobriu que tinha um cancro de mama. Conseguiu recuperar, mas quando ainda estava em convalescença recebeu outra notícia que a deixou de rastos: em Setembro um grupo de soldados do exército branco descobriu o corpo de Vladimir juntamente com outros membros da família.
Apesar dos seus esforços, os corpos não puderam seguir para Paris, por isso Olga não pôde assistir ao funeral do filho. Olga passou os restantes dez anos da sua vida em Paris, junto das filhas. Irina casou-se em 1924 com o seu primo, o príncipe Feodor Alexandrovich Romanov e Natália em 1927 com o estilista Lucien Lelong. 

Olga morreu em 1929, em Paris, de cancro.

Olga Paley com a filha Natália

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