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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nicolau II - A biografia (2ª parte)

Com a formação da Terceira Duma, Nicolau começou a ter mais confiança no seu sistema. “Esta Duma não pode ser novamente vista com uma tentativa de lhe retirar o poder e não há qualquer tipo de necessidade de o fazer.” Disse a Stolypin em 1909. Infelizmente os planos do Primeiro-Ministro foram interrompidos pelos conservadores da corte. Reaccionários como o príncipe Vladimir Orlov nunca se cansavam de dizer ao czar que a própria existência da Duma era um golpe à autocracia e que Stolypin era um traidor e um revolucionário secreto que se estava a esforçar, com a ajuda da Duma, para roubar os poderes que Deus tinha dado ao czar. Witte, o ex-Primeiro Ministro, também se envolvia frequentemente em intrigas contra Stolypin. Apesar de este não estar de forma alguma implicado na queda de Witte, ele culpava-o por isso. Stolypin tinha também, sem saber, enfurecido a imperatriz Alexandra quando ordenou uma investigação a Rasputine e a entregou ao czar. Stolypin, com a sua própria autoridade, tinha ordenado ao monge que deixasse São Petersburgo. Alexandra protestou veemente, mas Nicolau recusou ir contra o seu ministro que, na altura, tinha uma maior influência junto do czar. Pouco antes de Stolypin ser assassinado por Dimitri Bogrov, um estudante (e informador da polícia) num teatro em Kiev no dia 18 de Setembro de 1911, o ministro já se tinha cansado dos fardos da sua posição. Para um homem que preferia acções limpas e decisivas, trabalhar com um soberano que acreditava em fatalismo e misticismo era frustrante.

Nicolau por volta de 1911
Por exemplo, numa ocasião, Nicolau devolveu um documento por assinar com uma nota que dizia: “Apesar dos argumentos extremamente convincentes a favor de adoptar uma posição positiva neste assunto, uma voz interior continua a insistir cada vez mais para que eu não aceite a responsabilidade dele. Até agora a minha consciência não me enganou. Por isso pretendo que este caso seja esquecido. Sei que também tu acreditas que 'um coração de czar está nas mãos de Deus'. Que assim seja. Tenho uma grande responsabilidade perante Deus antes de ditar qualquer lei, e estou preparado para discutir sobre a minha decisão a qualquer altura.” Alexandra acreditava que Stolypin tinha prejudicado a saúde do seu filho, quando decidiu afastar Rasputine, e odiava-o por isso. Em Março de 1911, num momento de raiva, afirmou que ele já não merecia a confiança imperial e então Stolypin pediu para que fosse dispensado da sua posição. Dois anos antes, quando ele tinha levantado essa hipótese durante uma conversa informal, Nicolau disse-lhe que, “Isto não é uma questão de confiança ou falta dela. É a minha vontade. Lembra-te de que vivemos na Rússia e não no estrangeiro… e por isso não vou considerar a possibilidade de qualquer demissão."

Nicolau, Alexandra e Alexei
Para além da vida política, Nicolau II enfrentava também problemas graves na sua vida pessoal, principalmente devido ao grave problema de sucessão. Alexandra tinha dado à luz quatro filhas, Olga em 1895, Tatiana em 1897, Maria em 1899 e Anastásia em 1901, antes de o seu filho Alexei nascer no dia 12 de Agosto de 1904. O jovem herdeiro começou a mostrar desde cedo os primeiros sintomas de Hemofilia, uma doença genética que impede o sangue de coagular normalmente, que, na altura, era não tinha cura e, normalmente, levava à morte.

Sendo  neta da rainha Vitória, Alexandra era portadora do mesmo gene que afectou várias famílias reais europeias como a espanhola e a prussiana, um facto que fez com que a doença fosse chamada de "doença real”. Alexandra acabou por passar esse gene ao seu filho.

Nicolau com o seu filho Alexei
Devido ao período conturbado que a sua autoridade atravessava na altura, Nicolau e Alexandra escolheram não divulgar a doença de Alexei a ninguém fora do circulo real mais próximo. De facto, havia muitos membros dentro da própria família real, incluindo a mãe do czar, o seu irmão Miguel e a irmã Xenia, que não sabiam ao certo de que doença sofria o czarevich.

Numa primeira fase, Alexandra virou-se para médicos russos para tratar de Alexei, contudo os seus tratamentos falharam e a czarina começou a virar-se cada vez mais para o misticismo e para os chamados “homens santos”. Um deles, Gregório Rasputine, pareceu ter algum sucesso na cura do seu filho.

Como governador absoluto (e pai de quatro filhas até ao nascimento do czarevich), até 1905, Nicolau tinha total liberdade para alterar as Leis de Sucessão do Império Russo para que uma das suas filhas pudesse suceder ao trono. Estas leis foram instauradas na época de Paulo I após a morte da sua mãe, a imperatriz Catarina, a Grande, mais como uma vingança contra ela do que para organizar a sucessão. Estas leis impediam que uma mulher subisse ao trono, a não ser que não houvesse homens na linha de sucessão. Por razões nunca conhecidas, Nicolau optou por não mudar ou abolir estas leis.

Nicolau com a sua filha mais velha, Olga. Muitos acreditavam que, se Alexei não sobrevivesse à infância, Nicolau teria alterado as leis de sucessão de modo a permitir que a sua filha mais velha se tornasse czarina da Rússia. O seu breve noivado com Dmitri Pavlovich em 1913, pouco depois de Alexei sofrer uma grave crise de Hemofilia em Spala que o colocou entre a vida e morte, parece indicar essa intenção. No entanto, essa alteração acabaria por nunca ser feita.

Nicolau foi descrito como um pai atencioso e afável para com todos os seus filhos que raramente castigava sem, no entanto, se descuidar em criá-los da forma mais simples possível para que estes não ficassem demasiado fascinados com a fortuna de que dispunham.

Segundo relatos da altura, de todos os seus filhos, aquela que se parecia mais consigo tanto física como psicologicamente era a sua terceira filha Maria que alguns diziam ser a sua favorita, embora fosse muito próximo de todos.

Nicolau com três das suas filhas: Anastásia, Tatiana e Olga

Quando o arquiduque Francisco Fernando da Áustria foi assassinado por Gavrilo Princip, um membro da associação nacionalista servia conhecida por “Mão Negra”, em Sarajevo do dia 28 de Junho de 1914, Nicolau vacilou relativamente à posição que a Rússia deveria tomar. O país tinha assinado vários tratados de protecção com a Sérvia e, por isso, tornava-se difícil aceitar o ultimato proveniente do Império Austro-Húngaro para cortar relações com o país, mas o czar também não desejava provocar uma guerra total. Numa série de cartas trocadas com o seu primo, o kaiser alemão (a chamada “correspondência Willy e Nicky), os dois proclamaram o seu desejo de manter a paz e cada um tentou fazer com que o outro desistisse. Nicolau pôs em marcha medidas drásticas em seu favor, mobilizando as suas tropas para a fronteira Austríaca, na esperança de prevenir a guerra com o Império Alemão.

Nicolau com o kaiser Guilherme II da Alemanha em 1894
Os russos não tinham planos alternativos para uma mobilização parcial e, no dia 31 de Julho de 1914, Nicolau deu um passo em falso, confirmando a ordem para uma mobilização geral que incluía a invasão da Alemanha, apesar de ter sido aconselhado vivamente para não o fazer. Como a Alemanha e o Império Austro-húngaro tinham acordos mútuos de defesa, isto levou quase imediatamente à mobilização alemã, à declaração de guerra e, inevitavelmente, ao rebentar da Primeira Guerra Mundial. A guerra era um grande perigo para a estabilidade da dinastia Romanov. O conde Witte disse ao embaixador francês que, do ponto de vista russo, a guerra era uma loucura, a solidariedade para com a Servia não fazia sentido e a Rússia não podia esperar ganhar alguma coisa com o conflito.

O rebentar da guerra no dia 1 de Agosto de 1914 destacou a falta de preparação militar russa. Tanto o país como os seus aliados depositaram a sua fé no seu famoso “Esmagador Exército Russo”. A sua mobilização  antes da guerra era de 1,400,000 homens aos quais foram acrescentados 3,100,000 homens de reserva após o inicio propriamente dito das hostilidades, isto além dos milhões de homens que o país tinha disponíveis para começar a combater assim que fossem chamados. Em todos os outros aspectos, no entanto, a Rússia não estava minimamente preparada. A Alemanha tinha dez vezes mais caminhos-de-ferro por quilómetro quadrado, ou seja, enquanto um soldado russo tinha de percorrer, em média 1,290 quilómetros para chegar à frente de combate, um soldado alemão tinha apenas de percorrer um quarto dessa distância. A indústria pesada russa era ainda demasiado insuficiente para equipar os seus gigantescos exércitos e as suas reservas e munições eram extremamente diminutas. Com o mar báltico ocupado por barcos alemães e os Dardanelos cercados pela sua antiga aliada Turquia, a Rússia apenas podia receber ajuda através de Arcangel, uma cidade que se tornava quase mortalmente gelada no Inverno, ou então por Vladivostok, que se encontrava a mais de 6400 quilómetros da frente de combate. O Alto Comando Russo estava cada vez mais enfraquecido pelo mútuo ódio entre Vladimir Sukhomlinov, Ministro da Guerra, e o temido e gigantesco guerreiro grão-duque Nicolau Nikolaievich que comandava os exércitos em campo. Apesar de tudo isto, um ataque imediato foi ordenado contra a província alemã da Prússia Oriental. Os alemães mobilizaram-se lá com grande eficácia e derrotaram completamente os dois exércitos russos que os tinham invadido.

Nicolau II rodeado de oficiais durante a Primeira Guerra Mundial
As baixas totais sofridas na Primavera e Verão de 1915 eram de 1,400,000 mortos ou feridos, e 976,000 prisioneiros de guerra. No dia 5 de Agosto, com a retirada do exército, Varsóvia caiu em mãos alemãs. As pesadas derrotas na frente traziam desordem no seio do país. Inicialmente,  os alvos eram os alemães e, durante três dias em Junho, as lojas, padarias, fábricas, casas privadas e terrenos que pertenciam a pessoas com nomes alemães foram saqueados e/ou queimados. Depois as multidões zangadas viraram-se para o governo, declararam que a imperatriz (nascida na Alemanha) deveria ser enviada para um convento, o czar destituído e Rasputine enforcado.

Nicolau não ignorava de todo este descontentamento. Foi marcada uma sessão de emergência com a Duma e foi criado um Concelho de Defesa Especial, constituído por membros da Duma e ministros do czar.

Em Julho de 1915, o rei Cristiano X da Dinamarca, primo direito do czar, enviou Hans Niels Andersen a Czarskoe Selo com uma oferta para servir de mediador entre os vários países. Fez várias viagens entre Londres, Berlim e Petrogrado e, em Julho, encontrou-se com a sua tia e mãe do czar, Maria Feodorovna. Andersen disse-lhe que deveriam concluir o processo de paz, mas Nicolau optou por recusar a oferta do primo.

Maria Feodorovna (mãe de Nicolau) com o seu sobrinho e primo de Nicolau, o rei Cristiano X da Dinamarca

O energético o e eficiente General Polivanov substituiu Sukhomlinov como Ministro da Guerra. A situação não melhorou e as retiradas continuaram a suceder-se. Influenciado por Alexandra, que o convenceu de que aquele era o seu dever e que a sua presença iria inspirar as tropas, o czar Nicolau II decidiu comandar o seu próprio exercito directamente contra os conselhos da sua família e governo. Assumiu a posição de comandante-em-chefe depois de dispensar os serviços do seu primo, o respeitado e experiente grão-duque Nicolau Nikolaevich em Setembro de 1915, a seguir à perda da Polónia. Este foi um erro fatal, uma vez que ele passou a ser culpado directamente pelas batalhas que se continuaram a perder. Além disso, o czar permaneceu “escondido” num quartel em Mogilev, muito longe tanto da frente de combate como da capital do país onde o governo passou a ser chefiado pela sua inexperiente esposa.

Nicolau com o seu primo, o grão-duque Nicolau Nikolaevich


Sendo  alemã, Alexandra era extremamente odiada. A Duma estava constantemente a pedir reformas políticas e a instabilidade continuou ao longo de todo o período de guerra. Distanciado da opinião pública na capital, Nicolau recusou-se a ver o cansaço que população em geral sentia da sua dinastia e o quanto as pessoas odiavam a sua mulher. Tinha sido repetidamente avisado em relação à influência destrutiva de Gregório Rasputine, mas tinha falhado na tentativa de o afastar. Nicolau recusara censurar a imprensa e os rumores selvagens e acusações contra Alexandra e Rasputine apareciam quase diariamente. Alexandra foi até acusada de traição devido às suas raízes alemãs. Zangados com a inércia de Nicolau relativamente ao grande mal que Rasputine estava a causar à família e ao país, um grupo de nobres liderados pelo príncipe Yussupov e pelo grão-duque Dmitri Pavlovich, primo do czar, conseguiu assassinar o monge siberiano do dia 16 de Dezembro de 1916.

Nicolau II com o filho Alexei e o primo, o grão-duque Dmitri Pavlovich, um dos assassinos de Rasputine

Na Primavera de 1917, a Rússia estava prestes a entrar em colapso. O exército tinha levado 15 milhões de homens do campo, o que fez com que houvesse menos mão-de-obra e os preços aumentassem. Um ovo custava quatro vezes mais do que em 1914 e a manteiga, cinco vezes mais. O Inverno severo desse ano destruiu muitos troços de caminho-de-ferro, o que atrasou a distribuição de mantimentos e munições para o exercito. Como golpe final, o país tinha começado a guerra com 20,000 locomotivas, das quais apenas 9000 estavam em serviço em 1917, enquanto que o número de vagões tinha diminuído de meio milhão para 170,000. Em Fevereiro de 1917, 1200 locomotivas foram bombardeadas e quase 60,000 vagões foram imobilizados. Em Petrogrado as reservas de farinha e combustível esgotaram-se completamente.

Em Fevereiro de 1917, na capital do Império Russo, uma combinação de tempo frio severo aliada a um corte nas reservas de comida nos armazéns, fez com que a população começasse a partir janelas de lojas para conseguir pão e outras necessidades. Nas ruas apareceram faixas vermelhas e as multidões gritavam: “Abaixo com a mulher Alemã!”, "Abaixo com Protopopov!”, “Abaixo com a guerra!” A policia começou a disparar contra a população dos telhados, o que provocou vários motins. As tropas em Petrogrado estavam pouco motivadas e os seus oficiais não tinham razões para ser leais ao regime. Estavam zangados e cheios de fervor revolucionário e rapidamente se juntaram à população. O governo implorou a Nicolau para que regressasse a Petrogrado e que abdicasse voluntariamente. A 800 quilómetros de distância, o czar, mal informado pelo seu general Protopopov, de que a situação estava controlada, ordenou que fossem tomadas medidas drásticas contra os manifestantes. Em Petrogrado havia 170,000 recrutas, rapazes do campo ou homens mais velhos dos subúrbios de classes trabalhadoras para manter o controlo na cidade sob o comando dos oficiais inválidos da frente de combate, e cadetes das academias militares. Muitas unidades com falta de oficiais e munições, nunca chegaram a ter qualquer tipo de treino. O General Khabalov tentou pôr as ordens do czar em prática na manhã de 11 de Março de 1917. Apesar dos grandes cartazes que ordenavam às pessoas para se afastarem das ruas, grandes multidões juntaram-se e apenas se começaram a separar depois de cerca de 200 pessoas terem sido abatidas a tiro, apesar de o regimento de Volinsky ter disparado para o ar e não para a multidão e uma companhia de Pavlovsky ter morto o oficial que tinha dado a ordem para disparar. Quando informado da situação, Nicolau ordenou o reforço das tropas na capital e a dissolução da Duma.

Revolução de Fevereiro de 1917
Era tarde demais. No dia 12 de Março, o regimento de Volinsky revoltou-se e foi rapidamente seguido de quase todos os outros, incluindo a legendária Guarda Preobrajensky, o mais antigo e consistente regimento do czar, fundado por Pedro, o Grande. O arsenal foi pilhado, o Ministério do Interior, o edifício do Governo Militar, esquadras de polícia, tribunais e muitos outros centros de poder foram queimados. Ao meio-dia, a Fortaleza de Pedro e Paulo, com a sua artilharia pesada, estava nas mãos dos revoltosos. Quando caiu a noite, 60,000 soldados já se tinham juntado à revolução. Instalou-se a confusão e membros da Duma formaram um Governo Provisório para tentar restaurar a ordem, mas era impossível mudar o curso da revolução. Já a Duma e os Sovietes tinham formado os núcleos de um Governo Provisório e decidido que Nicolau II deveria abdicar. Confrontado com esta exigência, que foi repetida por todos os seus generais, desprovido de tropas leais, com a sua família firmemente nas mãos do Governo Provisório , o medo crescente de uma guerra civil e a abertura do caminho para uma conquista alemã, Nicolau não teve outra escolha senão aceitar. No final da “Revolução de Fevereiro” de 1917 (Fevereiro de acordo com o antigo calendário russo), no dia 2 de Março (15 de Março do calendário gregoriano), Nicolau II foi forçado a abdicar. Na sua primeira carta, Nicolau abdicou em nome do seu filho Alexei, mas depois acabou por mudar de ideias ao ouvir os conselhos dos médicos que afirmavam que o herdeiro não poderia sobreviver por muito tempo longe dos pais que teriam de ser exilados. Assim, o czar assinou uma nova carta onde nomeava o seu irmão, o grão-duque Miguel, como o novo imperador de todas as Rússias.

O grão-duque Miguel recusou-se a aceitar o trono até que as pessoas fossem autorizadas a votar através de uma Assembleia Constituinte para saber se a população queria permanecer sob um regime monárquico ou preferia enveredar por uma república. Ao contrário do que se pensa, Miguel nunca abdicou, simplesmente atrasou a posse do poder.

O grão-duque Miguel Alexandrovich, irmão de Nicolau
No dia 22 de Março de 1917, Nicolau, já deposto, juntou-se à sua família no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo. Toda a família e todos os criados que os desejassem acompanhar foram condenados a prisão domiciliária pelo Governo Provisório. Rodeados pelos seus guardas, presos nos seus aposentos, a família imperial foi rudemente inspeccionada na primeira noite em que Nicolau chegou. O ex-czar permaneceu calmo e digno e até insistiu em rever as lições dos filhos. Continuou a acompanhar os desenvolvimentos da guerra através dos jornais, mas ficou chocado com a forma alegre e luxuosa como a imprensa contava histórias sobre Rasputine e a imperatriz através das “confissões” de antigos criados e das histórias sobre as vidas privadas dos proclamados “amantes” das suas quatro filhas.

Em Agosto de 1917, o governo de Kerensky evacuou a família para Tobolsk, nos Montes Urais, alegando estar a protegê-los do crescente perigo que uma nova revolução lhes poderia trazer. Lá, os Romanov viveram com grande conforto.

Nicolau II durante o seu período de prisão no Palácio de Alexandre
Depois de os bolcheviques chegarem ao poder em Outubro de 1917, as condições da sua detenção passaram a ser mais rigorosas e várias vozes se levantavam a favor de levar Nicolau a julgamento. O ex-czar seguiu os acontecimentos com interesse, sem, no entanto, se alarmar excessivamente. Continuou a subestimar a importância de Lenine, mas já começava a compreender que a sua abdicação tinham feito mais mal que bem à Rússia. Entretanto ele a família ocupavam o seu tempo a tentar manter-se quentes numa região onde as temperaturas chegavam a atingir os 55.6 graus negativos. O domínio soviético significava agora restrições cada vez mais ridículas. O czar estava proibido de usar epaulettes e os sentinelas desenhavam desenhos rudes nas paredes para ofender as filhas. No dia 1 de Março de 1918, a família foi obrigada a comer apenas o que sobrava dos soldados que tinham de partilhar entre si e os 10 servos que continuavam com eles.

Nicolau II com os filhos em Tobolsk
À medida que a contra-revolução do Movimento Branco ganhava força, levando a uma guerra civil de grande escala no Verão, Nicolau, Alexandra e a sua filha Maria foram levados em Abril para Ecaterinburgo. Alexis estava demasiado doente para acompanhar os seus pais e permaneceu por mais um mês em Tobolsk com as suas irmãs Olga, Tatiana e Anastasia. A família foi presa com os poucos criados que restavam na Casa Ipatiev (conhecida como a “Casa Para Fins Especiais”), um posto de comando bolchevique fortemente militarizado.

Nicolau, Alexandra, os seus filhos, o médico e os três criados que restavam, foram acordados e levados para a cave da casa onde seriam executados às 2:30 da manhã do dia 17 de Julho de 1917. Um anúncio oficial apareceu na imprensa nacional dois dias depois, informando que o monarca tinha sido executado por ordem do Presidium do Soviete da Região Ural. Agora é do conhecimento geral que Lenine tinha ordenado pessoalmente a execução de toda a família. Apesar de vários terem colocado a responsabilidade da decisão naquele Soviete, o diário de Trotsky é bem claro quanto ao facto de o assassinato ter decorrido sob a ordem de Lenine:

A minha outra visita a Moscovo decorreu depois da queda de Ecaterimburgo. Durante uma conversa com o Sverdlov, perguntei-lhe de passagem, 'Ah sim, e onde está o czar?' 'Está por todo o lado,' respondeu ele. 'Ele foi morto.' 'E onde está a família?' 'A família morreu com ele.' 'Todos eles?', perguntei eu, pelos vistos um pouco surpreendido. 'Eles todos', replicou o Sverlov. 'O que tem?' Ele estava à espera de ver a minha reacção. Eu não disse nada. 'E quem tomou essa decisão?', perguntei. 'Decidimos aqui. O Ilyich (Lenine) achou que não os devíamos deixar vivos, especialmente com os Brancos tão perto, tendo em conta as circunstâncias.'"


Os corpos do czar e da sua família seriam apenas descobertos em 1979 por dois investigadores russos e apenas veriam a luz do dia após a queda do regime comunista 10 anos mais tarde. O funeral seria realizado no dia 18 de Julho de 1998, 80 anos depois da execução ainda sem os corpos de Alexei e Maria.

Última fotografia conhecida de Nicolau II

Nicolau II morreu com 50 anos de idade, afirmando no dia do seu aniversário, dois meses antes, que estava surpreendido por ter vivido tanto tempo.

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